CAPÍTULO 6 - Atravessar a Caverna do Leão

 

- Harry...

Harry ergueu a cabeça e pestanejou. Devia estar sonhando. Severus Snape estava ali, diante dele, fitando-o com preocupação. Só podia ser um sonho.

- Harry, como você está?

Não era um sonho! Harry se ergueu. Aproximou-se de Severus cambaleando e deixou-se cair em seus braços.

- Severus... Você está mesmo aqui.

- É óbvio que estou. Tods estão procurando-o desde ontem. Um dia inteiro se passou desde que você desapareceu. Não sabíamos se estava aqui ou não. A Sala não estava deixando ninguém entrar. No entanto, como você pode ver, eu entrei...

- Será que isso significa que você era o único que realmente precisava de mim? Ou talvez isso tenha ocorrido porque você era a única pessoa que eu queria ver. - Harry o abraçou com força. - Severus, por favor. Nunca mais me deixe só!

- Harry, você precisa me dizer o que você quer. Quero dizer, além do meu sangue... do meu corpo... e da minha lealdade... - acrescentou ele, em tom irônico. - Não sei se posso lhe dar o que você quer.

- Eu quero o seu ódio - disse Harry, fitando-o com olhos de paixão. - Sei que posso contar com ele. É uma das poucas coisas com que posso contar. É ele que dá sentido à minha vida.

Um sorriso amargo estampou-se no rosto do professor.

- O meu ódio. Você quer o meu ódio. Acho que... isso eu posso lhe dar!

- Mas eu não quero que me odeie porque sou filho de James Potter. Eu não sou como meu pai. Pelo menos não como aquele cara podre que vi na penseira.

Snape fez uma careta horrível. Depois suspirou e relaxou um pouco, roçando os lábios nos de Harry.

- Eu não o odeio mais por ser como James Potter. Agora eu odeio por *não* ser como James Potter. Por ter me enganado todo esse tempo, me fazendo pensar que era. Agora eu odeio por ser Harry Potter.

- Sim, mas não pode ser porque eu tenho essa cicatriz, porque derrotei Voldemort com um ano de idade e porque uma maldita profecia diz que sou o único que poderá derrotá-lo definitivamente. Porque nada disso tem nada a ver comigo, eu não fui responsável por nada disso, não escolhi nada disso.

Snape passou o dedo devagar pela cicatriz de Harry, depois acariciou-lhe a face com os nódulos da mão.

- Eu não o odeio mais por nada disso. Agora eu o odeio porque... porque você não me deixa mais respirar, porque você me incendeia. Porque você vai ser a minha ruína. Eu o odeio muito, Harry Potter.

Os olhos verdes ostentavam nítidos raios vermelhos.

- Para além dos umbrais da morte.

Snape empalideceu.

- Harry... Temos um pequeno problema. Eu não menti a você. Eu não sou um vampiro. Você não foi transformado.

- Pare com isso! Sabe que não é verdade! Eu sinto o meu sangue borbulhar!

- Onde estão as suas presas, então? Se você tivesse sido transformado, teria presas.

- Não é possível, o que eu senti não pode ser alucinação!

- Você não está bem. As pressões sobre você são muito fortes, e você não tem ninguém que lhe dê um apoio efetivo. Creio que Dumbledore errou muito em relação a você.

Harry desvencilhou-se de Snape e o fitou de olhos arregalados, finalmente compreendendo que ele dizia a verdade.

- Você... você é que me usou, então! Deixou que eu acreditasse que era um...

Snape o interrompeu, com o sangue afluindo-lhe às faces.

- Não me venha com essa! Você colocou essa idéia na cabeça e por mais que eu negasse você não aceitava a minha palavra.

- Você foi muito esperto! Negava, mas sempre dando a entender que... que na verdade era verdade.

- Vamos sair daqui. Você precisa comer alguma coisa e descansar. Depois pense a respeito de tudo e então, se quiser brigar comigo, venha me procurar.

Vencido pelo cansaço, Harry acompanhou Snape, que o conduziu até a escada da torre de Gryffindor.

 

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Ptyx, Fevereiro/2004