CAPÍTULO 7 - Meu Dever, Ser Salvo pela Luz

 

Dois dias depois, à noite, Harry vestiu sua capa de invisibilidade e desceu às masmorras. Snape o convidou a sentar no mesmo sofá em que eles haviam feito amor, e serviu-lhe um copo de Firewhisky. Posicionou, então, uma de suas poltronas de frente para Harry.

- Eu não sei mais o que pensar - disse Harry. - Não sei nem mais como chamá-lo. Quem é você? O que foi que aconteceu? Você disse que não jogava mind fucking, mas se isso não foi mind fucking, não entendo mais nada.

Snape baixou os olhos, em um gesto nada característico.

- Nada mudou, não é? Nós continuamos nos odiando um ao outro, como você queria. E nossa vida continua sendo decidida por Dumbledore e pelo Dark Lord. Nós somos duas faces da mesma moeda.

Harry largou o copo sobre a mesinha subitamente, num acesso de raiva, e se empoleirou na beirada do sofá.

- Chega de enrolação! Me diga o que sente, o que quer!

Snape ergueu os olhos para ele, surpreso com a intensidade do menino.

- O que eu sinto? O que quero? O que posso dizer? Eu sinto quão poderosa e complexa é a sua magia. Sinto o seu poder. Como já lhe disse, não há só magia branca em você."

A sua magia me atrai como as chamas atraem a mariposa, pensou Snape. E o seu fogo irá me consumir por inteiro.

- Mas eu não sou necrófilo não, viu? Eu vi no dicionário. Eu nunca quis... você sabe... com um cadáver.

- Tem certeza? Nem em sonhos? Você tem uma fascinação mórbida pela morte e pelos mortos.

- Er, em sonhos? Olha, eu nem sei mais quando estou sonhando e quando estou sendo possuído ou vendo o que Voldemort está vendo. - Harry estremeceu. - De qualquer forma, você mentiu para mim o tempo todo, não só nisso. Por quê?

- Eu nunca menti para você, menino irritante. - Snape meneou a cabeça. - Você e seus planos sórdidos. Como se sentiu, quando o feitiço se voltou contra o feiticeiro?

- Você é um canalha!

- Grande novidade, vindo de você. - Os lábios de Snape se curvaram em um sorriso amargo. - Quando você estava sozinho naquela sala branca, enfrentando o tormento eterno, oh, talvez você tenha sentido... E, no entanto, não é preciso ser vampiro para conhecer aquela solidão que você sentiu, aquela sensação de isolamento de que lhe falei... Não é preciso ser vampiro para conhecer a rejeição, a repulsa. Se você não teve dificuldades para me imaginar como um vampiro, provavelmente é porque eu me pareço muito com um. Ou, pelo menos, com o vampiro dos seus sonhos românticos... Infelizmente, a poção que você imaginou não existe ainda, que eu saiba. A sua idéia, no entanto, é genial. Desde que a escutei, não parei mais de pensar a respeito. Aqueles livros que estão ali em cima da minha escrivaninha... são o início de minha pesquisa.

- Quer dizer... você acha que é possível fazer essa poção?

- Não tenho a mínima idéia.

- E se você conseguir, você aceitaria?

- Ser mordido por um vampiro? - perguntou Snape, fazendo cara de repulsa.

- Se você não quiser, eu poderia ser o primeiro. E depois eu o transformaria - disse Harry, levantando-se.

Um esboço de sorriso insinuou-se nos lábios do professor diante do entusiasmo do garoto. Levantou-se e estendeu a mão para o aluno.

- Combinado.

Em vez de apertar-lhe a mão, Harry a tomou entre as suas, e a levou aos lábios. Snape o fitou, fascinado.

- Harry... você pode contar com o meu ódio. Ele corre fundo em minhas veias e incendeia minha alma.

Snape reclinou a cabeça na direção de Harry e seus lábios se encontram - suave, timidamente a princípio, depois com mais paixão e desejo -, em um beijo que era uma batalha e uma rendição.

Finalmente, Harry recuou um pouco o rosto, e sorriu.

- Severus, nós vamos conquistar a eternidade. Juntos.

Largando-o por um instante, Severus Snape se inclinou, em profunda reverência:

- Sim, meu Lord.

 

FIM

 

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Ptyx, Fevereiro/2004