CAPÍTULO 2 - O Mistério Que Me Acorrenta

 

Na tarde seguinte, pontualmente na hora marcada, Snape chegou para a primeira lição. Como não quisessem correr o risco de despertar a ira da dama do quadro, escolheram um cômodo afastado para as aulas. Era uma espécie de sala de visitas, com um sofá em semi-círculo, poltronas e uma sólida mesinha de sicômoro com tampo de vidro.

- Se vamos duelar aqui, vamos ter de empurrar a mesinha para o canto. Senão não vai ter espaço - observou Harry.

- Eu já lhe disse que não vamos duelar. Não se esqueça de que não está autorizado a praticar magia em suas férias. Se aquele Cruciatus de ontem não tivesse falhado, você estaria em maus lençóis.

- Pelo menos você estaria morto.

- Por mais que essa idéia possa lhe parecer atraente, as possibilidades de que se realizassem eram mínimas. Mas não creio que deseje continuar essa conversa, não é? Pode se sentar, Potter - Sentaram-se no sofá semi-circular, a noventa graus um do outro. Snape enfiou a mão dentro do manto e retirou um frasco. - A primeira lição será bastante simples. Esta poção vai ajudá-lo a se concentrar em uma imagem subconsciente. Tome todo o conteúdo do frasco. Usarei também legilimência para auxiliá-lo.

Harry empalideceu. Pegou o frasco com um certo tremor na mão. Abriu-o e, fechando os olhos, tomou a poção.

- Que história é essa de "imagem subconsciente"?

- Logo irá entender. Pois bem, Potter. Você me odeia. Concentre-se nesse ódio. Tente imaginar uma forma de me atacar, de me torturar. Com certeza já imaginou isso algumas vezes, não? Como seria, se me tivesse em suas mãos. Se pudesse fazer o que quisesse comigo, descarregar todo o ódio que sente sobre mim.

Harry se lembrou da imagem que lhe ocorrera alguns dias depois que o falso Moody lhe ensinara os Imperdoáveis, quando Snape fingira ignorar que Hermione precisava ir para a enfermaria porque Draco lhe lançara um feitiço que fazia os dentes crescerem sem parar. Imaginara Snape sob o Cruciatus, caído ao chão de barriga para cima como aquela aranha, debatendo-se e contorcendo-se.

De repente, a imagem se tornava realidade. Snape, caído ao chão, começou a se contorcer horrivelmente, rolando de um lado para o outro, gritando em agonia. Harry observou-o com espanto e um prazer sutil e perverso. Então Snape começou a estremecer e a se debater de forma ainda mais violenta. Horrorizado, Harry levou as mãos ao rosto e saiu correndo da sala. No corredor, vomitou. A dama do quadro começou a gritar:

- Escória das escórias! Sangue impuro em minha casa! Quem permitiu que minha casa fosse conspurcada?

Snape saiu ao corredor, o manto esvoaçando atrás de si, e empurrou a dama para trás da cortina. Então aproximou-se de Harry, que parara de vomitar.

- O que foi, Potter? A cena foi forte demais para a sua sensibilidade delicada? - perguntou, em tom irônico, antes de lançar um feitiço de limpeza no local.

- Não me venha com o seu sarcasmo. Foi horrível! Eu não quero aprender isso.

- Mas você foi muito bem, para uma primeira aula. Da próxima vez será mais fácil.

- Mais fácil! Como pode dizer isso? Como pode ensinar a alguém algo tão horrível?

- Potter, estamos em uma guerra. E você conhece bem o teor da profecia. É matar ou morrer, não há outra escolha possível.

Harry entrou novamente na sala e jogou-se no sofá.

- Não vou fazer isso outra vez.

Snape o seguiu e postou-se diante dele.

- Se está preocupado com a minha integridade, eu lhe asseguro que não sofri nem um arranhão. Tudo isso era apenas uma fantasia. Nada aconteceu comigo. É apenas um instrumento para você aprender a concentrar uma emoção intensa e negativa como o ódio, para facilitar o aprendizado do Cruciatus.

- Não me interessa, eu não quero lançar Cruciatus em ninguém.

- Talvez não precise mesmo lançá-lo, mas é bom que aprenda. Estamos falando de uma luta contra o Dark Lord, Potter.

Harry ficou em silêncio, sem saber como contra-argumentar. Snape respirou fundo e sentou-se em uma poltrona.

- Não precisa se sentir culpado, também. A fantasia induzida pela poção é subconsciente. Nada indica que você quisesse realizá-la conscientemente. Acontece que o consciente perde totalmente o controle do inconsciente, com essa poção.

Depois de uma breve pausa, acrescentou:

- Eu lhe garanto, da próxima vez será mais fácil.

~*~*~

Quando Snape chegou para a segunda lição, Harry o acompanhou até aquela mesma sala no primeiro andar. Assim que entraram, Harry já foi dizendo, com uma polidez forçada:

- Eu pensei muito desde ontem e resolvi que não vou mesmo continuar. Muito obrigado pelo seu esforço, mas eu não estou interessado.

- Sente-se, Potter - Snape esperou que Harry se sentasse no sofá e sentou-se na mesma posição do dia anterior. - Escute, eu reconheço que a primeira aula foi... um tanto pesada. Talvez eu o tenha superestimado.

Harry fez-lhe uma careta, num gesto quase infantil. Uma sobrancelha negra se ergueu.

- Podemos adotar um método mais... leve - sugeriu o professor.

- Por que você está tão decidido a me ensinar? Não consigo entender você.

- Já lhe expliquei isso, mas você insiste em não me dar ouvidos. Agora vamos ao que interessa. - Snape retirou dois frascos de dentro do manto e entregou um a Harry. - Tome tudo.

- Não antes que você me explique o que irá fazer desta vez.

- Se eu explicar, não terá o efeito desejado. Só lhe garanto que... desta vez não haverá violência física envolvida... Pelo menos não como da outra vez. E eu também vou tomar. - Snape pegou o outro frasco, abriu-o e tomou todo o conteúdo. - Portanto, não há porque achar que eu o estou envenenando.

Aquilo não era nada tranquilizador. Afinal, quem garantia que o que Snape havia tomado era a mesma poção que entregara a Harry? Mas a presença de Snape era tão intensa, tão impositiva, que Harry se viu obedecendo.

- Muito bem. Agora você vai prestar atenção no que eu lhe digo, e vai me obedecer. - A voz de Snape era hipnótica. - Não porque você seja obrigado a fazer isso, mas porque é o que você quer. Você quer aprender o que eu tenho a lhe ensinar. Agora você vai se imaginar...

A voz de Snape foi se esvaindo, e Harry se viu no campo de Quidditch de Hogwarts. Trajava o uniforme de Gryffindor, e tinha sob si a sua Firebolt. De repente, avistou o snitch, e lançou-se em sua direção. Do lado oposto, em velocidade vertiginosa, o seeker de Slytherin também se lançava na direção do snitch. Era... Snape! A surpresa em ver o professor como adversário o fez perder preciosos segundos, e Snape arrebatou o snitch.

Harry se viu de volta à sala de Grimmauld Place e deparou-se com o sorriso triunfante de Severus Snape.

- Que diabos...

- Você perdeu, Harry Potter. Slytherin ganhou a Copa. EU peguei o snitch - disse Snape, todo orgulhoso.

- Ora, seu trapaceiro! Você é que criou esse cenário! Isso é roubo!

- Reconheça, Potter, desta vez você perdeu. Mas eu sou magnânimo, e vou lhe dar outra chance. Desta vez, lembre-se: é no ódio que sente de mim, na vontade de me humilhar, que deve se concentrar. Não foi porque eu seja melhor atleta do que você que peguei o snitch, mas porque estava melhor concentrado.

- Concentrado o escambau! Você se aproveitou porque eu não sabia o que estava acontecendo!

- Não seja idiota, menino! O que eu estou lhe dizendo é que a batalha aqui é uma batalha de mentes, não de preparo físico.

- Nada a ver! Você me usou para realizar uma velha fantasia sua. Uma fantasia, aliás, bastante infantil.

- Exatamente. O seu papel, agora, é impedir que eu o humilhe uma vez mais.

Harry fulminou-o com os olhos.

Da segunda vez, Harry perdeu de novo. Mas na terceira, Harry conseguiu vencer o professor e pegou o snitch.

- Não fique achando que conseguiu grande coisa, Potter. Porque, de alguma forma, mesmo subconscientemente, eu queria perder. Afinal, se estou lhe ensinando, é bom que você aprenda alguma coisa.

- Ah, sei. Como você não sabe perder, agora quer que eu acredite que me deixou ganhar.

- Eu não sou obrigado a escutar suas repetidas ofensas. Para tudo há um limite.

- Certo... Desculpe - resmungou Harry, sem saber bem por que é que estava se desculpando.

Snape ergueu uma sobrancelha e não disse nada.

- Por hoje é só. Não foi tão difícil, foi?

- Bem, na verdade não sei o que aprendi. Porque jogar Quidditch eu já sabia.

- Menino idiota. O que você fez não foi jogar Quidditch. Não percebe?

~*~*~

Na aula seguinte, o mesmo ritual se cumpriu: Snape aparatou em Grimmauld Place, os dois foram para a mesma sala, sentaram-se em seus respectivos lugares, Harry e Snape tomaram a poção. Mais uma vez, Snape lhe falou em tom hipnótico:

- Agora vamos unir nossas mentes. Eu vou tentar forçá-lo a cumprir a minha fantasia, e você vai tentar me impedir. Desta vez, não utilizarei a voz para induzi-lo, apenas a força mental. Uma imagem do meu subconsciente, referente a você, irá se materializar. A não ser que você consiga impedir.

De repente, Harry se viu nas masmorras, acorrentado pelos braços e pernas a uma cama. Completamente nu. Com olhos arregalados, viu Snape, também completamente nu, aproximar-se.

Snape retirou-lhe os óculos, depositando-os sobre a mesinha-de-cabeceira, e se deitou sobre o garoto.

- Por que não me chama de Snivellus agora, Potter? Oh, se James pudesse nos ver agora! - um sorriso sarcástico estampava-se no rosto de Snape. - E Black! Que pena que eles estão mortos. Eu iria adorar ver a cara deles agora. Como iriam ficar mortificados ao me virem tirar a inocência de seu precioso menino.

Snape colocou as pernas do garoto sobre seus ombros e, brandindo a varinha, pronunciou o encanto lubrificante. Capturou os lábios de Harry e começou a sugar-lhe a língua, fazendo o amante gemer de desejo. Depois, afastou-se um pouco, posicionou o pênis rígido e ereto e, lentamente, penetrou-o. Aos poucos, Harry se acostumou à sensação, a princípio desconfortável, e conseguiu relaxar. Logo, sentiu uma pontada aguda e lancinante de prazer quando Snape, agora totalmente dentro dele, atingiu-lhe a próstata. Harry gemeu, e Snape comprimiu-lhe o traseiro contra si, fazendo-o agarrar os lençóis com força. O ritmo que Snape imprimia era cada vez mais rápido e enlouquecedor. O tempo todo, no entanto, Snape cuidava para que as correntes não o ferissem e para não machucá-lo de nenhum modo.

Quando estavam a ponto de chegar ao clímax, Snape cravou-lhe os dentes no pescoço, e sugou com violência. Harry se contorceu de prazer. Então Snape ofereceu o pescoço à boca do amante:

- Morda, Harry, e sugue com força.

Harry obedeceu, e viu o sangue jorrar, quente, pulsante, por sobre o corpo de Snape.

- Sev... É tão bom...

- Harry... Goze para eu ver...

As palavras de Snape fizeram com que a última barreira desmoronasse e Harry se lançasse ao clímax, em ondas engolfantes de prazer. Com um brilho de fascínio nos olhos, Snape viu o amante pulsar repetidas vezes antes de se entregar ele também ao êxtase.

Ofegantes, os dois se viram de volta à sala de Grimmauld Place. Por um breve instante, fitaram-se, para logo desviarem os olhos, embaraçados. Snape enterrou o rosto nas mãos, em silêncio. Então se levantou e andou, em círculos, pela sala.

- Eu... Não sei o que dizer. Devo lhe pedir desculpas, mas sei que é inútil. A partir de agora, considere nossas aulas encerradas. - Com uma expressão de derrota, Snape passou a mão pelos cabelos. - Sei que irá contar tudo a Dumbledore. Eu serei demitido. Não o culparei por isso, o que eu fiz não tem justificativa.

Enfim, totalmente confuso e sem saber o que pensar, Harry ousou olhar na direção de Snape.

- Mas... foi só uma fantasia. Ninguém pode ser punido por uma fantasia!

- Eu sou seu professor, e não poderia me deixar...

- Mas você mesmo disse que a poção ativa o subconsciente e que não temos controle sobre a fantasia conscientemente.

- Como eu vou conseguir encará-lo, depois disso?

Harry baixou os olhos, pois também ele tinha dificuldade em encarar Snape.

- Sim, mas isso é outro problema. Não tem nada a ver com Dumbledore. Isso é algo entre você e mim.

- Está dizendo que não vai contar a Dumbledore?

- Estou.

- Potter, pense bem. Não tome uma decisão precipitada.

- Escute, não vou ser eu que vou punir você pelo que aconteceu. Aliás, nada aconteceu!

- Não é bem assim.

- Você mesmo disse que a poção ajuda a realizar fantasias subconscientes, mas isso não indica que a pessoa realmente quisesse realizar aquela fantasia conscientemente. Você mesmo disse. Não é como o Espelho de Ojesed.

- Por que está tentando desculpar o meu comportamento?

- Que comportamento? Você não *fez* nada! Era só uma fantasia! Contra a qual, aliás, eu jamais lutei...

Snape o fitou com olhos arregalados. Um leve tom róseo assomou-lhe às faces pálidas.

- De qualquer forma, não posso mais lhe dar essas aulas.

Harry também sentia a face arder.

- Você... não esperava que algo assim pudesse acontecer?

- Claro que não, Potter. O que você acha que eu sou? Um monstro?

- Eu sei que é embaraçoso... Eu também não consigo aceitar totalmente o que aconteceu na fantasia... Mas... Porque você se sente tão culpado? O que você acha que fez de errado?

- Você não vê? Preciso mesmo lhe responder isso? Depois dizem que os Slytherins é que não têm ética!

- Eu não sei por que você está tendo esse ataque de culpa. Eu entendo que seja embaraçoso para você que eu saiba dessa sua fantasia, assim como é embaraçoso para mim você saber que eu não lutei contra ela. Mas eu não entendo o que você vê de errado nela.

- Não entende? Você não tem mesmo nada dentro do cérebro ou a sua moralidade é mais rasa que a do Dark Lord? Vamos ver se eu consigo fazê-lo entender. Eu sou seu professor. Sou responsável pela sua educação e segurança. E mereço ser respeitado por exercer esse papel. Ora, quando uma pessoa com essa responsabilidade é vista fazendo o que eu fiz na fantasia que você presenciou, tudo isso vai por terra.

- Repito que era só uma fantasia. E mesmo na fantasia, você não colocou a minha segurança em risco.

- Que belo exemplo é esse de um professor que não só faz sexo com o seu aluno, mas o faz com o aluno acorrentado?

- Mas eu queria estar acorrentado! Nada do que você fez foi contra a minha vontade!

Snape estreitou os olhos, balançou a cabeça.

- Você não está em seu juízo perfeito. Amanhã você vai acordar e vai sentir nojo do que presenciou. Vai me odiar ainda mais e vai contar tudo a Dumbledore. Agora deixe-me ir. Gostaria de não vê-lo nunca mais, mas não creio que o destino seja tão clemente comigo.

~*~*~

Como isso fora acontecer? Snape não se conformava. O efeito da poção deveria levá-lo a realizar uma fantasia inconsciente. Ele se concentrara em Potter, em sua vontade de... se vingar de James... de humilhar o Garoto de Ouro... de dominá-lo?

Não era possível exercer um controle sobre a fantasia a não ser através de uma emoção intensa. Como o ódio. Havia sido essa a idéia. O ódio guiaria a fantasia, e eles travariam uma batalha mental pelo controle. No entanto, o que acontecera fora totalmente imprevisível.

Bem, imprevisto, sim, mas talvez não imprevisível. Afinal, o que havia de estranho no fato do ódio assumir uma forma sexual? Severus precisava admitir que não, não havia nada de tão estranho nisso. O fato de jamais haver admitido conscientemente qualquer desejo sexual por Harry Potter é que o levara a não prever aquela possibilidade.

E a fantasia fora longe a ponto de envolver... sangue. Severus não podia se permitir algo assim.

Se, pelo menos, o garoto houvesse reagido! Aquilo também era perturbador. Por que Potter não reagira? Talvez, inconscientemente, o garoto sentisse vontade de ser dominado daquela forma. Lembrou-se das cenas da infância de Harry que presenciara durante as aulas de Oclumência. Sim, Harry fora abusado, tanto quanto ele mesmo. Não era difícil imaginar que o garoto tivesse ficado, de alguma forma, marcado por tudo aquilo.

E isso o fazia sentir-se ainda mais culpado. Ele, que deveria ser um exemplo para o aluno, submetera-o a um comportamento odioso.

Mas o pior, o pior mesmo, é que não conseguia deixar de relembrar a cena. Um arrepio de prazer o percorria e o atingia diretamente em seu membro todas as vezes que a revia. Severus Snape, você é um pervertido. Você é, afinal de contas, um monstro.

~*~*~

Eu não devia ficar pensando nisso assim, o tempo todo, dizia Harry com seus botões. Isso não é normal. Ele me odeia. Ele só tem essa fantasia porque quer me humilhar.
O pênis ereto mais uma vez em suas mãos, e na mente as mesmas imagens: os lábios de Snape esmagando os seus, o pênis de Snape dentro de si, as mãos de Snape bombeando seu pênis. Em seguida, mais uma vez, o alívio físico, o sêmen e o sangue cálido envolvendo-o. Depois, aquela sensação do vazio, do inútil. E mais: a estranha sensação de não reconhecer a si mesmo.

Eu não quero isso. Não posso querer.

 

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Ptyx, Janeiro/2004