Triunfo

 

Julho de 1998

Ginny esperou em casa, aflita, a chegada do Patronus de Severus. Naquela tarde, ele iria transmitir-lhe sua última informação decisiva: a localização do esconderijo de Voldemort. A partir daquela informação, a Ordem atacaria, e a guerra teria, provavelmente, um desfecho, para o bem ou para o mal.

Ginny estava apreensiva, mas determinada. Sabia que Severus estava disposto a morrer. Mais do que isso: sabia que Severus não tinha nenhuma vontade de sobreviver àquele dia, não só porque ele sabia que, se sobrevivesse, iria para Azkaban, mas porque ele achava a única remissão para a sua culpa seria a morte.

Ginny estava decidida a tentar convencê-lo a viver.

O belo unicórnio prateado surgiu quase do nada diante dela, com a mensagem indicando o local do encontro. Assim que Ginny terminou de ler a mensagem, o pedaço de pergaminho se desfez nos ares, e o unicórnio prateado também desapareceu.

Ginny sacou de sua varinha e aparatou em uma casa abandonada em Knockturn Alley. A ponta de uma varinha se acendeu, e ela se viu diante de Severus.

- Oi! - sussurrou ela.

- Ginevra.

Ela ainda não se acostumara com a voz grave e sedosa dele pronunciando seu primeiro nome. Cada vez que ele dizia seu nome, o coração dela pulava. Mas fora ele que começara. Quando ela respondera tratando-o por Severus, ele a repreendera, dizendo que ele era muito mais velho do que ela, mas ela fingiu que não o escutava.

- Você vai me dar a informação?

- Vou. Podia tê-la enviado com o Patronus, mas não achei seguro.

Ginny estreitou os olhos para ele - não porque o local estivesse totalmente às escuras, a não ser pela luz da varinha de Severus, mas porque aquela era a desculpa mais esfarrapada que Severus já lhe dera. Se ele a chamara só para lhe passar um endereço, é porque ele quisera vê-la.

- Então... esta é última vez que nos veremos, antes do Dia D.

- Esta é a última vez que nos veremos - disse ele, em tom sombrio.

Ele estava tão perto. Ela estendeu a mão para ele, e segurou-lhe o ombro.

- Não, Severus. Não fale assim.

- Escute, Ginevra, eu quero que você fique em casa com sua mãe, no dia do ataque da Ordem.

Ginny suspirou, mas não o largou.

- As mulheres devem ficar em casa? É isso o que você pensa?

Ele se desvencilhou de sua mão com um gesto brusco de corpo.

- Você ainda é uma criança.

Oh, aquilo era um golpe baixo. E doeu. Mas ela manteve a cabeça erguida.

- Vou atingir a maioridade em duas semanas. Fui criada junto com seis meninos. Mais do que isso: eu convivi com Fred e George e consegui sobreviver. Aos onze anos, fui possuída por Tom Riddle, e sobrevivi, outra vez.

Severus segurou ambos os seus ombros com força.

- E até agora você não aprendeu, não é? Você precisa ter cuidado. Não pode se arriscar assim.

- Se eu não me arriscasse, eu não estaria aqui agora.

- Eu sei. Não precisa jogar isso na minha cara.

- Depois do que aconteceu com o diário de Tom Riddle, eu achei que nunca mais fosse confiar em ninguém. Mas algo dentro de mim dizia que eu precisava continuar vivendo, que eu não devia me fechar em minha concha, que precisava confiar na vida e nas pessoas.

Severus afrouxou o aperto, mas continuou segurando-lhe os ombros.

- Ginevra...

- Agora eu vejo que eu tinha razão. Eu me sinto recompensada por ter confiado em você.

Ele tomou-lhe o rosto nas mãos e aproximou o rosto. Os lábios dele roçaram levemente nos dela. Severus ia beijá-la, pela primeira vez! Ginny se lembrou de como era ser beijada, mas essa lembrança se esvaiu por completo assim que os lábios de Severus se moveram sobre os dela. O sabor de Severus, o cheiro de Severus, o calor de Severus... Não havia nada ali além de Severus. E aquele beijo, o primeiro, talvez fosse também o último. Ginny passou os braços ao redor da cintura dele e escutou um gemido gutural vindo de Severus. Ginny comprimiu-se contra ele e entreabriu os lábios. Uma língua quente encontrou a sua. O beijo se tornou cheio de paixão e desespero. Ela sentiu um estremecimento percorrê-la, como se algo que há muito tempo desejasse estivesse acontecendo. Ele acariciou-lhe os ombros com ternura, apertando-o contra si.

Quando seus lábios se descolaram, ele a fitou intensamente, depois a puxou novamente para si e sussurrou-lhe ao ouvido:

- Fique em casa. Por favor.

- Eu tenho de ir. O futuro de Harry vai ser decidido. - Ela o sentiu ficar tenso e tentar se afastar, mas segurou-o com firmeza. - Meu pai, meus irmãos e meus amigos estarão na batalha também. Mas mesmo que todos eles decidissem ficar em casa, eu iria porque você estará lá. Acha que eu conseguirei ficar em casa, sabendo que você estará em perigo?

- Se eu a vir lá... - A voz dele falhou. - A sua presença vai me fazer vulnerável.

- Eu protegerei você - disse ela, sorrindo, mas decidida. - Aconteça o que acontecer.

- Doce Ginevra... Quer mesmo que eu viva, a esse ponto?

Ele agora a encarava fixo, e tudo o que ela conseguia ver era um brilho que vinha do fundo dos olhos dele.

- É o que mais quero. Que você viva, e que possamos nos ver outra vez.

- Que os céus nos protejam, então. Vou tentar viver. Por você.

Sentindo-se aliviada e vitoriosa, Ginny procurou os lábios de Severus para mais um beijo.

 

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Ptyx, Julho 2006