Bezoar

 

Janeiro de 1998

A dor em seu peito era lancinante e obrigou Severus a se apoiar contra a parede do velho depósito. Precisava resistir. Ginevra viria a qualquer momento. Tinha importantes informações a transmitir a ela, e precisava estar alerta para protegê-la.

Provavelmente perdera a consciência por alguns instantes, pois de repente sentiu alguém tocar-lhe o ombro e abriu os olhos, quase em pânico.

- Severus!

Tranqüilizou-se ao ver que era Ginevra. Ele estava sentado no chão, as costas apoiadas à parede, e Ginevra estava ajoelhada a seu lado.

- Não é nada - disse ele, tentando tranqüilizá-la. Ela nunca o havia chamado pelo primeiro nome antes; devia estar chocada com sua aparência.

- Como, nada? Você está sangrando. Venha cá.

Ele tentou resistir, mas estava muito fraco. Ela sentou-se a seu lado e o fez deitar a cabeça em seu colo. Então ela começou a abrir os botões de cima de suas vestes. Ele tentou segurar-lhe as mãos.

- Não é preciso. Eu mesmo posso curar.

- Shh. Você sabe muito bem que está fraco e que seus feitiços de cura não estão funcionando. Se estivessem, você já teria fechado a ferida. - Ela abriu três botões, e seu rosto se transfigurou em horror. - O que foi isso?

- Um auror me viu perto da estação de trem onde aparatei vindo da reunião dos Comensais. Eu vacilei, não o quis ferir, e ele lançou um feitiço sobre mim. Eu lancei um feitiço defensivo que amorteceu o dele em parte, e então lancei Petrificus Totalus nele.

- Mas que feitiço ele lançou contra você?

Ele deu um sorriso irônico.

- Sectumsempra. O meu próprio feitiço.

- Meu Deus, a que ponto chegamos. Está cada vez mais difícil saber quem são os mocinhos e quem são os vilões nesta guerra.

- Não há preto nem branco numa guerra. Apenas tons diferentes de cinza.

- Ainda bem que você conseguiu amortecer o feitiço. Você tentou curar a ferida depois?

- Sim. No entanto, como você observou, meu feitiço não foi potente o bastante para me curar.

Ela afastou com cuidado os dois lados das vestes de Severus, e ele deu um grito abafado de dor.

- Eu vou fechar o corte - disse ela, com suavidade. - Depois você vai ser um bom menino e passar ditamno para tirar as cicatrizes, não?

Ele deu um sorriso torto.

- Claro.

- Agora fique quieto, sim?

Ela aproximou a varinha de seu peito e entoou um feitiço de cura que Severus jamais imaginara que ela pudesse saber. Ele fechou os olhos, e uma sensação de paz e calma o invadiu.

Quando abriu os olhos, a dor havia passado. Ela estava afastando os cabelos de seu rosto, e fitava-o de um modo que o fez estremecer.

- Hoje é meu aniversário - disse ele, sentindo-se um tolo por ter dito aquilo.

- Seu aniversário!

Os olhos dela se encheram de lágrimas.

- Não tem problema - ele apressou-se em dizer, não querendo que ela tivesse pena dele.

Ele ainda estava deitado com a cabeça no colo dela. Ela pronunciou um feitiço de limpeza para remover o sangue, depois fechou-lhe os botões com delicadeza. O contato das mãos dela com a pele de seu peito era quase uma carícia.

- Eu lhe trouxe algo. - Ela tirou algo do bolso de suas vestes. - Se eu soubesse que era seu aniversário, teria lhe trazido mais alguma coisa.

Era um bezoar. Ele o pegou nas mãos, e segurou a mão dela com a sua por algum tempo.

- Obrigado - disse ele, perguntando-se se ela entenderia que não era apenas pelo presente que estava agradecendo.

 

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Ptyx, Julho 2006