Geléia de Amora

 

Setembro de 1998

Severus ficou feliz em ver que a "rede" Slytherin ainda funcionava: um de seus antigos alunos e dono de uma imobiliária em Knockturn Alley "quebrou um galho" para ele conseguindo trocar sua casa de Spinner's End por um velho chalé em Hogsmeade. Por incrível que parecesse, não havia farmácia em Hogsmeade, e Severus achou que o melhor coisa que ele poderia fazer de sua vida naquele momento seria montar uma. A farmácia ocuparia metade do andar de baixo, e ele moraria no espaço restante. Com o pouco dinheiro que restara em sua conta em Gringotts, Severus pagou pelo transporte de seus móveis e livros de Spinner's End e comprou alguns ingredientes básicos para poções no Slug & Jiggers, em Diagon Alley.

Não foi fácil limpar e arrumar o lugar sozinho, mesmo usando de magia: o chalé estava cheia de bundimuns e doxies. Além disso, Severus precisou fazer uma mini-reforma para separar a farmácia da parte da casa que ele iria habitar. Ele improvisou divisórias para que, da porta principal, o cliente tivesse acesso apenas à farmácia. A pequena sala que restava para Severus e a cozinha ficavam na parte de trás, onde ficava, também, a escada para o andar de cima, onde Severus tinha um quarto, um escritório e um banheiro. Era possível ter acesso a essa parte da casa pela porta dos fundos da casa. No amplo porão, Severus montara seu caldeirão, sua mesa de trabalho e um armário com ingredientes. O sótão, por enquanto, servia de depósito para as coisas que haviam sobrado da mudança e que ele não sabia muito bem se iria aproveitar ou não.

Severus trabalhara duro para abrir a farmácia em pouco mais de uma semana. O fato de que não teria dinheiro para sobreviver o resto do mês se não abrisse logo a farmácia era um poderoso estímulo.

Pretendia trabalhar sobretudo com encomendas, mas preparou algumas poções básicas para ter em estoque - aquelas que ele imaginava que teriam bastante procura.

Severus gravou em uma placa de madeira o nome da farmácia: "O Caldeirão Fervente". Ele achou que parecia nome de restaurante, mas todos os outros nomes em que ele havia pensado eram absolutamente tétricos ou pretensiosos demais.

Na segunda-feira, às nove horas, ele pregou a placa na frente da farmácia e abriu as portas aos eventuais clientes. A manhã passou praticamente em brancas nuvens. Severus não se surpreendeu. Afinal, quem iria querer encomendar poções de um ex-Comensal da Morte? Começou a pensar que havia sido loucura sequer tentar.

A culpa era toda de Ginevra. Aquela maldita promessa que lhe fizera, de que iria sobreviver, ainda o atormentava. Nunca esperara sobreviver à guerra e, pior ainda, ser libertado. Agora aquela louca esperança de que a promessa que fizera a ela tivesse algum significado assombrava seus dias e, principalmente, suas noites.

Era muito penoso pensar em Ginevra. Severus cumprira sua promessa - sobrevivera. Mas a última batalha fora terrível para todos, e marcara a morte dos dois irmãos gêmeos de Ginevra. Apesar de Severus não ter nenhuma culpa imediata daquelas mortes, por alguma razão ele se sentia culpado. Talvez porque não tivesse sido capaz de protegê-los, ou talvez apenas porque ele sobrevivera e eles não. E embora Ginevra tivesse deposto a seu favor no julgamento, salvando-o de Azkaban, Severus não acreditava que ela fosse querer vê-lo outra vez.

A entrada de uma velha senhora o fez voltar à realidade.

- Deseja alguma poção em especial? - perguntou ele, esforçando-se para ser gentil.

- Oh, meu filho, estou com um resfriado terrível. Você tem alguma coisa para isso?

Severus tinha. Havia preparado vários frascos de Poção Reanimadora. Sua experiência no fornecimento de poções para a enfermaria de Hogwarts indicava que a Poção Reanimadora era uma das mais procuradas. A senhora pagou pela poção e Severus embolsou o seu primeiro galeão, além de alguns sicles e nuques. Severus ficou surpreso. Será que a velha não sabia quem ele era? Talvez não o houvesse reconhecido. Ou talvez nunca lesse jornais!

Na hora do almoço, Severus comeu um sanduíche com queijo e presunto, porque não tinha dinheiro para nada melhor e porque não queria fechar a farmácia.

Quase ao final do dia, entrou um senhor que disse morar nas vizinhanças e encomendou uma Poção da Memória. Severus anotou o pedido e disse-lhe que voltasse na manhã seguinte para buscar a encomenda.

Parecia-lhe uma grande perda de tempo, passar o dia ali para vender apenas uma poção e receber uma encomenda, mas não era hora, ainda, de desanimar. Era só o seu primeiro dia.

Estava quase na hora de fechar a farmácia quando ele avistou um vulto entrando. Quando a reconheceu, Severus teve de se convencer de que não eram apenas os seus pensamentos, que não estava sonhando acordado com ela mais uma vez... Ela estava muito pálida e abatida, mas ao vê-lo, um sorriso se estampou em seu rosto. Aquele sorriso e os longos cabelos vermelhos flamejantes o deixaram tonto.

Por um longo instante, nenhum dos dois disse nada. Ele não sabia o que fazer, o que falar. Sentira muitas saudades dela. Não que tivesse algum direito de senti-las. Exceto por aquele momento de loucura em que a havia beijado e prometido viver por ela, o relacionamento entre eles havia sido o de dois soldados se ajudando numa guerra. O fato de aquele soldado ser uma bela jovem com certeza tornara tudo mais complicado. Mas o que realmente fizera a diferença fora que, de algum modo, aquela jovem de aparência frágil fora a única pessoa forte o bastante para acreditar nele.

Severus abriu a portinhola do balcão e andou na direção dela, sem muita certeza do que iria fazer. Ele ainda titubeava quando ela se atirou em seus braços.

- Ginevra...

- Por que não me procurou? - sussurrou ela em seu ouvido, em tom magoado.

Ele não sabia como responder. Mais uma vez, as palavras saíram de sua boca como que por decisão própria.

- Eu não tinha nada a oferecer a você. Ainda não tenho.

Ela recuou um pouco e sacudiu a cabeça.

- Você está tentando reconstruir sua vida - disse, indicando a farmácia a seu redor. - Eu gostaria de ter estado com você desde o início.

- Pensei que você tivesse voltado a Hogwarts.

- Decidi ficar com minha mãe. Ela não está bem. Mas, de qualquer forma, esperava que você me procurasse. Pensei que tínhamos um... pacto.

- Foi só uma semana. Uma semana que eu passei trabalhando como um condenado para montar essa farmácia.

- Você fez um bom trabalho.

Ele se desvencilhou dela.

- Tudo não passa de uma miragem, um castelo na areia. Sabe o que consegui hoje? Vendi uma Poção Reanimadora e recebi a encomenda de uma Poção da Memória. Se isso continuar assim, não dá para pagar nem os ingredientes que comprei, quanto mais o sanduíche de pão amanhecido que almocei.

Ginevra franziu o cenho.

- É seu primeiro dia. E você não fez nenhuma divulgação.

- Ah, sim. Até estou vendo o anúncio no Profeta Diário: "Ex-Comensal inaugura farmácia em Hogsmeade" - disse ele, com amargura. - Aliás, como você me encontrou?

- Er... Tonks está vigiando seus movimentos para o Ministério. Ela me contou.

Severus arqueou uma sobrancelha. As redes de informações femininas eram poderosas.

- Eu vou fechar a farmácia. Preciso preparar a Poção da Memória agora, porque disse ao senhor que a encomendou que ela estaria pronta de manhã, e...

- ... essa poção que precisa ser feita em duas fases, com um tempo de maturação de no mínimo doze horas - completou ela.

- Quem diria, srta. Weasley - disse, em tom professoral - que iria se lembrar do modo de preparo, depois de tanto tempo!

- Eu não ousaria esquecer. Meu professor era muito severo. Era, também, o melhor professor de todos - acrescentou ela, flertando com ele. - Se me deixar, eu posso ajudá-lo a preparar a poção.

Ele a fitou com o canto do olho, como que duvidando de suas capacidades, mas ela empinou o queixo, decidida. Severus sacou da varinha e fechou a porta.

- Venha - disse ele, fazendo um gesto para que ela o acompanhasse e conduzindo-a para trás do balcão e depois por uma estreita escada de madeira, que rangia a cada passo.

Ao chegar ao pé da escada, Severus acendeu as velas, que lentamente iluminaram uma sala relativamente espaçosa. Havia um caldeirão de estanho do lado direito, e outros caldeirões empilhados atrás dele, no canto direito. Uma mesa de trabalho em mármore negro, com garrafas, potes e frascos ocupava o lado esquerdo do porão e, atrás dela, na parede dos fundos, havia um armário.

- Puxa, você tem um bom espaço aqui - comentou Ginevra. - E ainda tem uma boa ventilação, com aquelas janelinhas lá em cima.

Severus abriu o armário e começou a separar os ingredientes para a Poção da Memória.

- Quer que eu faça o suco de romã? - perguntou ela.

- Sim. Enquanto isso, eu limpo as penas de Jobberknoll.

Eles trabalharam em silêncio, concentrando-se no que estavam fazendo. Quando ele terminou de preparar as penas de Jobberknoll, ergueu os olhos e viu-a picando as raízes de margaridas. As mãos dela eram belas e hábeis. Ele se perguntou como Ginevra havia se tornado uma bruxa tão hábil. Como era irônico que houvesse sido a guerra que a fizera desenvolver a maioria daquelas habilidades! As lembranças tristes o despertaram de seus pensamentos. Ele notou que estivera olhando para ela durante um longo tempo, e retomou o trabalho na poção.

Quando todos os ingredientes haviam sido acrescentados, em sua ordem habitual, e o caldo adquiriu a típica cor de avelã, Severus voltou-se a Ginevra.

- Hora de desligar e deixar repousar. Gostaria... de tomar um chá?

Ginevra abriu um sorriso estonteante.

- Claro! Eu até trouxe uma geléia de amora pra você!

~*~*~

Severus levou-a para cima de novo, e ficou feliz ao notar que a cozinha não estava uma bagunça total. Na verdade, tudo o que Severus comera até agora haviam sido sanduíches, por isso não sujara panelas nem louças.

- Sente-se - disse ele, puxando uma cadeira da mesa para ela.

Severus pegou a velha chaleira que pertencera à sua mãe. A não ser pelos materiais de poção, tudo em sua casa era velho, Muggle e em péssimo estado.

- Severus, eu tive uma idéia para a sua farmácia e queria discuti-la com você.

- Pode falar - disse ele, colocando a água para ferver.

- Remus e Tonks são muito amigos de meus pais, e vivem lá em casa. No mesmo dia em que Tonks me contou que você havia tirado licença para abrir a farmácia aqui, escutei Remus falar a meu pai de seu trabalho junto aos lobisomens "sob controle". A vida deles não é fácil, e muitos desistem e se entregam à doença. Ora, eu sei que você é um dos poucos bruxos que sabem preparar a Wolfsbane... De repente essa idéia me ocorreu, e eu conversei com Remus. Acabamos chegando a uma proposta que eu acho que pode lhe interessar.

Ah. Então aquilo era uma visita de negócios? Severus ficou dividido entre o interesse pela proposta e uma certa decepção.

- E qual seria essa proposta?

- Existem cerca de cinqüenta lobisomens integrados ao Mundo Mágico, mas Remus diz que tem contato com apenas trinta. Você poderia fazer um acordo com eles para vender Wolfsbane a eles por um preço inferior ao do mercado e, em troca, eles pagariam uma parte previamente, para que você pudesse comprar os ingredientes, e garantiriam a sua exclusividade no fornecimento.

Era brilhante. Exceto pelo fato de depender de um acordo entre ele e... Lupin.

- Quão inferior ao mercado você tem em mente? - perguntou ele, tirando a chaleira do fogo e preparando o bule.

- Nem eu nem Remus sabíamos de detalhes do custo. Ele me disse que o fornecedor mais barato de Wolfsbane no mercado cobra sete galeões pela dose.

- É um assalto à mão armada! A poção é complexa, mas esses charlatães exploram porque não há concorrência.

Os olhos dela brilharam.

- Exato!

Serviu pôs torradas em um prato e abriu a geléia que Ginevra trouxera. Então serviu chá para os dois e sentou-se à mesa.

- Quanto eles estão dispostos a pagar?

- Remus me disse que se você fizer por quatro galeões, todos aceitarão participar. Por mais que isso, o número de pessoas que aceitarão talvez diminua. Sabe como é, as pessoas não gostam de ter que dar um sinal antes de receberem o produto.

- A bem da verdade, os ingredientes saem por menos de dois galeões. Mas o trabalho é exaustivo. Eu não faria por menos de quatro.

- Então vocês podem chegar a um acordo! - disse Ginevra, parando de passar geléia em sua torrada.

Severus fez alguns cálculos mentalmente.

- O problema é que, durante cerca de três dias antes da lua cheia, eu terei de fazer uma quantidade imensa de Wolfsbane. Wolfsbane para trinta pessoas. Mesmo que eu feche a farmácia durante esse tempo, é muito trabalho só para uma pessoa.

- No primeiro mês você vai penar, com certeza. Mas no segundo mês, você pode contratar um ajudante, com o dinheiro que entrar.

- Loucura. Contratar um ajudante barato para trabalhar em uma poção complexa como a Wolfsbane?

- Não, Severus. O ajudante é para atender na farmácia. Eu ajudo você com a Wolfsbane. A próxima lua cheia é daqui a quinze dias. Até lá, você me ensina.

Severus deu uma mordida em sua torrada com geléia e tomou um gole de chá. Tudo aquilo estava acontecendo rápido demais e ele estava perdendo contato com a realidade. Precisava pensar. O que Ginevra queria? Ser sua sócia? Severus não gostava da idéia de ter um sócio. Ele sempre trabalhara como subordinado e, agora que tinha seu próprio negócio, não queria ter ninguém interferindo em seu trabalho.

- Imagino que vá querer ser minha sócia - disse ele, olhando no fundo dos olhos dela.

Ela franziu as sobrancelhas.

- Sócia? Hmm... Talvez você possa chamar assim. Na verdade, a parceria que eu quero ter com você não se refere a negócios.

Uma alegria totalmente insana brotou dentro de Severus, e ele temeu fazer algo tão idiota como sorrir. Para disfarçar, recorreu à ironia.

- Está querendo me comprar?

Mas assim que Severus falou, ele viu a tristeza voltar à expressão de Ginevra, e percebeu que o que dissera soara agressivo. Ele entendia muito bem o que ela estava fazendo: ela havia encontrado um modo inteligente de fazer com que ele tivesse uma posição digna, para aí, então...

- Não - murmurou ela. - Eu só dei uma idéia. Não vou cobrar nada por ela. Se você não quiser me ver mais, você só precisa falar com Remus e...

Ele precisava fazer alguma coisa, então segurou o rosto dela entre as mãos e calou-a com um beijo. Um beijo com gosto de amora e Darjeeling. Um beijo que começou desajeitado e terminou com um terno roçar dos lábios antes de se separarem.

- Oh - murmurou ela. - Você precisa se decidir, sabe.

Ele respirou fundo.

- Eu aceito.

- Você aceita... o quê? - perguntou ela, arregalando os olhos.

- Qualquer coisa que você quiser de mim. Você é dona da minha vida, lembra-se?

- Mas... você não é assim!

- Não sou? Como é que eu sou?

- Você é difícil, teimoso, cabeçudo...

- Ah. Obrigado. É bom eu saber o quanto você me tem em consideração - disse ele, afastando-se, zangado, e fingindo interessar-se novamente pelo chá e a torrada.

Ela suspirou.

- Está vendo? É assim que você é.

Seria engraçado, se não fosse trágico.

- Muito bem - disse ele. - Então vamos conversar seriamente. Pelo que pude deduzir, estamos falando de casamento. É isso mesmo?

- Acho que sim.

- E se Potter voltar, o que você fará? - atacou Severus, implacável.

Ela girou uma mecha de cabelo em torno dos dedos, pensativa. Severus se sentiu hipócrita. Ele próprio tinha sentimentos inconfessáveis pelo filho de James Potter. Mas eram apenas fantasias absurdas. Mesmo que elas pudessem se realizar... o que havia entre ele e Ginevra era mais importante do que meras fantasias. Talvez o mesmo fosse válido para Ginevra. Talvez, àquela altura, Harry fosse apenas uma fantasia para ela. O fato de que ela não respondia não significava necessariamente, que ela...

A quem ele queria enganar? Na verdade, Severus estava convicto de que, assim que Harry Potter acenasse, Ginevra o deixaria e iria atrás dele. Mas Severus não iria deixar de lutar por Ginevra. Nunca.

- Desculpe. Eu não sei - confessou ela. - Só sei que não quero perder você.

- E seus pais? Acha que vão aceitar que a sua única filha mulher se case com um ex-Comensal da Morte?

- Não quero romper com meus pais, ainda mais nesse momento. Nós perdemos Fred e George. Percy continua rompido com a família. Charlie continua na România. Bill e Fleur se casaram e moram em sua própria casa. Ron voltou a Hogwarts para concluir seus estudos. Eu decidi não voltar a estudar porque não queria deixar minha mãe sozinha agora... é terrível. Mas eu sou maior de idade. Eles vão ter de aceitar. Não terão escolha.

- Está preparada para enfrentar toda a sociedade? Todos vão criticar a sua decisão.

- Que se danem. Nunca liguei para o que pensam de mim. Se você me quer, a única outra coisa que eu preciso saber é se você quer ter filhos. Porque, bem, isso é importante pra mim.

A imagem de uma pequena Ginevra e um pequeno Severus formou-se na mente de Severus, e seu coração bateu mais rápido. Filhos. Era algo que fazia parte de um mundo que Severus há muito tempo achara que perdera para sempre. Uma esposa, filhos, uma família. Era irreal. Parecia um sonho.

- Isso tudo é muito novo para mim, Ginevra. Preciso de um tempo para pensar.

- Tudo bem. Você não precisa decidir agora. Mas sobre a Wolfsbane, posso trazer Remus aqui para vocês combinarem?

- Pode.

- Agora eu preciso ir, senão minha mãe pode descobrir que eu não fui à casa de Bill e Fleur como falei que iria. Eu quero contar a ela sobre nós do jeito certo. Mas amanhã de manhã eu volto. Vou trazer o almoço pra você, e também umas frutas. Não faz bem ficar comendo só sanduíches.

Severus ia protestar, mas o entusiasmo dela por cuidar dele era evidente. Ele ia ter que se acostumar com a idéia de que havia alguém que se importava com ele. Não seria a pior das torturas pelas quais ele já havia passado...

 

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Ptyx, Agosto 2006