Pó de Pogrebin

 

Setembro de 2001

 

I

 

Quando Harry partiu foi como se todas as luzes se apagassem na casa. Julia chorou. Severus se trancou no escritório. Ginny tentou consolar Julia, mas acabou chorando também. Assustada ao ver a mãe chorando, a menininha, que completaria dois anos no mês seguinte, parou de chorar e tentou consolá-la. Ginny segurou Julia contra si e tentou refletir sobre o que acontecera.

Ginny muitas vezes se perguntara se aquele relacionamento duraria, se Harry não iria conhecer e se apaixonar por outra pessoa, se não iria querer ter sua própria família. Sabia que havia algo de incomodamente provisório e instável no relacionamento que haviam estabelecido. Mas Ginny achara melhor não trazer aquele assunto à tona, com medo de contribuir para destruir o equilíbrio que eles estavam conseguindo manter aparentemente tão bem. Agora o sonho acabara.

Precisava conversar com Severus. Talvez houvesse uma possibilidade...

Depois de muito insistir, Ginny conseguiu que Severus lhe abrisse a porta no escritório e a deixasse entrar. Ela se apoiou à escrivaninha onde ele estava sentado.

- Severus, se Harry significa tanto para você, nós não poderíamos fazer um... um acordo diferente com ele? Fazer com que a relação entre nós três seja mais equilibrada?

Severus ficou pálido e cerrou os punhos.

- O que você quer? Ter um filho dele? Como acha que eu me sentiria quando as pessoas começassem a zombar de mim dizendo que minha mulher me traiu com Harry Potter embaixo do meu nariz gigantesco?

- Nós poderíamos dizer a verdade às pessoas.

Severus ficou ainda mais furioso.

- Claro que você tinha de dizer algo assim, como a Gryffindor que é. Eu não teria muito a perder, Ginevra. A minha fama já é ruim o bastante. Mas já pensou no estigma que pesaria sobre nossos, ou quem sabe seus, filhos?

Ginny suspirou. Severus tinha razão. Mas, de algum modo, Ginny estava zangada com ele. Sabia que era egoísmo seu se sentir assim, mas achava que, no fundo, Severus também estava sendo egoísta.

Sem ter mais o que dizer, Ginny saiu, e Severus se trancou novamente no escritório. À noite, antes de ir para a cama, Ginny foi chamá-lo, mas ele não quis abrir a porta. Disse-lhe que estava fazendo uma pesquisa importante e que iria dormir mais tarde. E isso a deixou realmente chateada.

~*~*~

Severus não saía mais do escritório. Só comia quando Ginny levava-lhe comida e ameaçava não sair enquanto ele não comesse. Não falava com ela a não ser quando ela se dirigia a ele e, quando falava, parecia distante. Dizia que dormia à noite, no escritório, mas Ginny não via nenhum sinal disso. Ao contrário: ele tinha os olhos vermelhos e profundas olheiras ao redor deles.

Ginny teve de reconhecer que errara ao não prever aquele desfecho. Se ela fosse a única a sofrer, superaria. Sabia que era forte o bastante para isso. Julia era muito novinha, e acabaria por esquecer, se contasse, como Ginny esperava que contaria, com o amor dos pais. Mas Severus... Severus a preocupava muito.

Na tarde do quarto dia que Severus passou no escritório, Ginny bateu à porta e ele não respondeu. Ginny abriu a porta com um Alohomora e encontrou Severus com a cabeça tombada sobre a escrivaninha. Tentou acordá-lo, mas não conseguiu. Assustada, Ginny correu à farmácia para chamar Clara. Como Clara trabalhara em St Mungo durante vários anos, tinha grande experiência com todos os tipos de doenças. Elas fecharam "O Caldeirão Fervente" e correram para cima.

Clara entrou no escritório e observou Severus com atenção. Tomou o seu pulso, verificou seu batimento cardíaco, escutou seus pulmões. Tirou de baixo de sua cabeça o livro que ele estivera lendo, e o examinou também. De repente, largou o livro apressadamente sobre um banquinho, limpou as mãos com um lenço e olhou para Ginny com uma expressão curiosa.

- Fascinante. Eu apostaria cada um de meus galeões que o professor Snape foi infectado com pó de Pogrebin. Este livro está impregnado com esse pó.

- E o que esse pó faz? Como podemos curá-lo? Devemos levá-lo a St. Mungo? - perguntou Ginny, aproximando-se de Severus e passando o braço ao redor de seus ombros.

- Hmm... Não. Não acho indicado levá-lo a St. Mungo. O pó induz uma profunda depressão. A vítima acredita que todos os seus esforços são inúteis. Ele pode ter uma crise emocional e até impulsos suicidas quando recuperar a consciência. Nesses casos, o melhor que pode ser feito é fazê-lo tomar algumas doses de Euphoria, para contrabalançar os efeitos emocionais do pó, e cercá-lo de um ambiente de carinho e atenção.

- Oh, meu Deus! Mas... ele vai ficar bom?

- O efeito do pó deve passar em cerca de 24 horas, sem deixar seqüelas. O único risco é o de ele tentar se ferir, devido à depressão. O professor Snape é um homem muito reservado, contido, controlado... No momento, ele deve ter entrado em uma espécie de coma pelo excesso de pressão emocional. Mas, assim que ele acordar, a crise será terrível, e será ainda pior pelo fato de que ele se verá impossibilitado de se controlar.

- Eu vou cuidar dele o melhor possível. Mas o que eu faço com Julia? Acho que não deve ser bom para uma criança pequena presenciar um momento desses.

- É complicado. Se, por um lado, a presença dela talvez pudesse ajudá-lo, você tem razão... Nos primeiros momentos vai ser muito difícil contê-lo, e Julia é muito pequena para entender o que está acontecendo. Por que não a deixa com seus pais?

- Vou fazer isso, Clara. Você pode ficar aqui, com Severus, enquanto eu chamo minha mãe pelo Flu e levo Julia até a Toca?

- Fico. Se ele ameaçar acordar, eu lanço um Petrificus Totalus nele. - Clara olhou para Severus com admiração. - Não sou uma bruxa tão poderosa a ponto de poder enfrentar Severus Snape!

~*~*~

Ginny disse a sua mãe que Severus havia pego uma gripe e que eles não queriam passar para Julia. Era melhor que sua mãe não se assustasse, para que pudesse tomar conta de Julia com mais tranqüilidade. Depois Ginny conversou com Julia, disse que ela iria passar um dia com a vovó e arrumou um bauzinho com as coisas dela. Julia estava chorando muito e não queria ir. Só parou de chorar quando Ginny lhe pediu que levasse Arnold consigo e tomasse conta dele. Julia podia ser egoísta e exigente como qualquer criança, mas tinha essa virtude: muitas vezes esquecia de seus próprios problemas para cuidar dos outros.

Ginny levou Julia até a Toca pelo Flu e voltou para casa o mais rápido possível. No escritório, Clara vigiava Severus, que não movera nem mesmo uma pestana durante todo aquele tempo.

- Pronto, Clara, levei Julia para a Toca. E agora, o que devemos fazer?

- Creio que será melhor você dar um banho nele, para retirar as partículas de pó que possam ter aderido à pele.

- Mas... nós encostamos nele também. Não podemos pegar a doença?

- O pó só tem efeito quando se toca o livro diretamente.

- Você tocou no livro!

- O professor Snape já havia absorvido quase tudo, e eu limpei as mãos rapidamente. Mesmo assim, devo confessar que não estou me sentindo muito bem. Estou me sentindo culpada, por exemplo, porque acho que devia estar fazendo alguma coisa. Eu vou ajudá-la a levá-lo para a banheira. Depois, enquanto você cuida dele, eu vou preparar uma garrafa de Euphoria.

- Certo, Clara. Obrigada. Não sei o que faria, sem você!

- Ora, não tem de quê. Eu gosto muito de trabalhar com vocês. Sinto-me como se fosse da família. Mas, se me permite dar uma opinião, creio que vai precisar de ajuda de alguém mais poderoso do que eu quando ele acordar. E tem de ser alguém em quem o professor Snape confie.

Ginny sacudiu a cabeça.

- Você sabe como é Severus. Ele não confia em ninguém.

- Por que não chama Harry?

- Oh, Deus. - Ginny ficou pensativa. - Eu realmente não gostaria de fazer isso, mas acho que você tem razão.

- Chame-o já. O professor Snape pode acordar a qualquer momento. Eu fico com ele mais um pouco.

~*~*~

Ginny jogou pó de Flu na lareira e chamou o quarto de Harry em Hogwarts. Àquela altura as aulas já haviam terminado e, por sorte, Harry estava no quarto.

- Ginny?

- Harry, eu preciso que me ajude. Severus não está bem.

- Como assim, não está bem? Você está tão pálida! O que houve?

- Você pode vir agora? Eu lhe explico quando você chegar.

- Claro. Já estou indo.

~*~*~

II

 

Harry se transportou imediatamente pelo Flu até a sala de estar dos Snapes, onde Ginny o esperava.

- O que aconteceu?

- Ele está desacordado, no escritório. Clara diz que ele absorveu pó de Pogrebin das páginas de um livro - explicou Ginny.

- E isso é muito grave?

- Ela diz que, quando ele acordar, vai ter uma crise de depressão fortíssima e pode até tentar se matar.

- E o que a gente pode fazer? - perguntou Harry, agoniado.

- Clara me aconselhou a dar um banho nele, para eliminar um pouco do pó de seu corpo.

- Vamos lá, então.

Eles subiram até o escritório. Clara estava lá, tranqüilamente sentada em uma cadeira a certa distância de Severus.

- Olá, Harry. Que bom que veio.

- Olá, Clara.

- Vamos levá-lo para o banheiro, então? - perguntou Ginny.

- Eu vou levitá-lo - disse Harry. - Clara, por favor, abra bem as portas do caminho e encha a banheira.

- Até a metade, com água morna - acrescentou Ginny

- Ginny, segure as pernas de Severus quando eu o deitar - pediu Harry. - Eu ficarei junto à cabeça.

Enquanto Clara saía para preparar o caminho e o banho, Harry afastou a cadeira de Severus da escrivaninha. Retirou a varinha de Severus do bolso de suas vestes e a guardou em uma das gavetas da escrivaninha; depois sacou a sua própria varinha e lançou uma feitiço de proteção sobre a gaveta. Em seguida, fez Severus levitar. Assim que ele flutuou nos ares, Harry o deitou, para que ele pudesse ser conduzido de modo mais confortável. Ginny puxava Severus delicadamente pelas pernas, guiando-o, e Harry cuidava da parte superior de seu corpo.

Era assustador. Severus não mexia um dedo, não dava o menor sinal de vida. Harry sentia-se culpado. Não entendia como aquilo podia ter acontecido com Severus: ele jamais seria tão descuidado a ponto de folhear um livro suspeito.

Quando chegaram ao banheiro, Harry e Ginny despiram Severus. Depois, com a ajuda de Clara, desceram o corpo dele até a banheira, fazendo-o sentar-se apoiado à cabeceira. O mais difícil era manter a cabeça dele em pé. Ginny ficou segurando-a enquanto Harry esfregava o corpo de Severus com uma esponja. Clara desceu ao porão para preparar a Euphoria.

~*~*~

III

 

Severus sabia que Ginevra e Harry estavam ali, segurando-o, tocando-o. Não queria acordar. Queria que o deixassem lidar com aquilo sozinho, mas sabia que não o deixariam.

- Severus? - Era a voz de Harry. Severus não sabia quanto tempo estivera sentado ali antes de o rosto de Harry surgir diante dele. - Como está se sentindo?

Virou a cabeça e olhou para Harry, sem conseguir fitá-lo olhos nos olhos.

- Péssimo. Eu magoei Ginevra. Quero morrer.

Seria tão fácil, na verdade. Era só escorregar para baixo e deixar a cabeça submergir. Mesmo estando fraco, isso ele podia fazer.

- Severus! - gritou Ginevra. - Pare com isso. Nós não vamos deixar você fazer nada estúpido. Desista, ou vai se machucar ainda mais.

Ouvir o desespero na voz dela doía ainda mais. Ele continuava magoando-a. Queria desaparecer. O cansaço o dominou.

A voz de Harry se mesclou à nevoa de sua dor:

- Pronto para sair?

Severus havia perdido a noção do tempo. Olhou para baixo e viu que as pontas de seus dedos estavam brancas e enrugadas. Tentou se levantar.

- Não, Severus - disse Ginevra, parecendo alarmada. - Fique quietinho. Nós vamos levitá-lo para o quarto.

Ele ia reclamar que podia muito bem se levantar e caminhar sozinho, mas se sentia fraco. Sentiu seu corpo perder peso e subir.

Harry enrolou uma toalha ao redor dele.

Uma pesada neblina negra de exaustão caiu sobre ele. Harry estava lhe dizendo algo, mas Severus estava cansado demais para escutar.

~*~*~

IV

 

Ginny seguiu na frente, guiando o corpo de Severus, e abriu a porta. Foi até a cama e puxou as cobertas para baixo. Harry entrou logo atrás dela, inclinou-se e depositou Severus com cuidado no centro da cama. Severus parecia uma boneca de pano, a cabeça caída sobre o travesseiro em um ângulo estranho. Harry ajeitou-a para que ele ficasse em uma posição mais confortável.

Ginny estava cobrindo Severus quando Clara entrou com a poção. Eles tiveram de fazer Severus sentar-se novamente para tomá-la. Severus abriu os olhos e virou o rosto para recusar o líquido.

- Deixem-me em paz. Eu não quero nada.

- Severus, por favor - disse Ginny. - Você foi contaminado por pó de Pogrebin, por isso estamos lhe dando Euphoria para contrabalançar os efeitos. Vai fazer você se sentir melhor.

- Não adianta - resmungou Severus. - Tudo isso é inútil.

Ginny aproximou o copo dos lábios de Severus, e ele deu um safanão no copo, derrubando o copo e seu conteúdo sobre as cobertas.

- Larguem-me! Onde está a minha varinha? Eu vou embora daqui - gritou ele, tentando se erguer, mas contido pelos braços de Ginny.

Clara se aproximou e estendeu a Harry outro copo cheio de poção. Ginny estremeceu ao ver Harry sacar de sua varinha e apontar para Severus. Havia uma expressão determinada no rosto dele que Ginny não via desde o final da guerra.

- Imperio - sibilou Harry.

Severus se acalmou de imediato, e seus braços penderam ao longo do corpo, as mãos caídas sobre a cama. Então suas mãos se ergueram mecanicamente e seguraram o copo que Harry lhe estendia. Severus tomou a poção. Depois se deitou e fechou os olhos.

Ginny voltou-se novamente a Harry e viu-o relaxar e baixar a varinha.

- Desculpe, Ginny. Não queria ter feito isso, mas...

- Tudo bem - disse Ginny. - Acho... acho que você fez bem.

Clara observava-os, com uma sobrancelha arqueada. Ao ver Ginny olhando para ela, a velha senhora se recompôs.

- Trouxe uma garrafa cheia de poção. Façam-no tomar um copo a cada oito horas. Eu utilizei uma fórmula que o próprio professor Snape me ensinou, misturando uma poção sonífera à Euphoria. É melhor que ele passe a maior parte do tempo dormindo. Eu... acho que vocês dois saberão cuidar dele. Apenas não o deixem sozinho, nem por um minuto. Se me permitirem, voltarei para minha casa agora. Amanhã de manhã voltarei, para cuidar da farmácia.

- Obrigada, Clara. Mais uma vez, não sei o que faria sem você.

~*~*~

V

 

Ginny pronunciou um feitiço para limpar e secar os lençóis. Severus começou a tremer. Ginny se deitou ao lado dele e o abraçou.

- Oh, Deus. Deve ser efeito do Imperio - disse Harry. - Eu não devia ter feito isso.

- Não vá começar, você também, a entrar em depressão e ter crises de culpa. Será que o pó está afetando você também? Mas você nem encostou no livro! Por que não se deita, também? Acho... que Severus vai gostar de sentir você junto a ele.

Harry fez o que Ginny lhe pedia; deitou-se junto a Severus. Durante toda aquela semana horrível, ele sentira tanta falta de Severus e Ginny, e daquela cama! Não podia deixar de pensar que Severus estava assim por culpa dele. Era muita coincidência que Severus sofresse um acidente poucos dias depois da partida de Harry. E Harry não acreditava em coincidências, ainda mais no que se referia a Severus. Harry imaginava muito bem a culpa e a angústia que Severus estava sentindo. Abraçou-o por trás. Severus tremia tanto que Harry sentiu os tremores passando por seu próprio corpo. Abraçou Severus com força e acariciou-lhe os cabelos, murmurando:

- Estou aqui, Severus. Nunca mais vou deixá-lo.

Os olhos castanhos de Ginny brilhavam com lágrimas. A mão que ela descansava sobre as costas de Severus tremia, e Harry a segurou.

O corpo de Severus relaxou contra o seu. Severus estava exausto, sua energia parecia ter-se exaurido. Os tremores haviam cessado, mas ainda eram perceptíveis.

Eles permaneceram deitados junto a Severus, sem falar, por vários minutos. De repente, Severus começou a falar com Ginny, em voz sonolenta. Era como se falasse enquanto dormia.

- Eu não sei por que você está comigo, Ginevra. Eu sou um monstro. Um Comensal da Morte. Você não faz idéia das coisas horríveis que eu fiz.

- Shh - disse Ginny. - Você não é mais um Comensal. Isso já passou. Você é meu marido, e pai de minha filha.

Severus se sentou de chofre na cama, com uma expressão de pânico.

- Julia. Onde ela está? Não a deixe chegar perto de mim. Eu posso machucá-la.

Ginny se sentou e o abraçou por trás.

- Calma. Eu pedi para mamãe cuidar dela enquanto você não está bem.

- Não permita que ela chegue perto de mim, nunca mais. Ela é tão... frágil... Eu não quero machucá-la.

Harry não conseguiu ver a expressão de Severus ao dizer isso, mas sua voz era entrecortada pela emoção.

- Severus, venha cá. - Ginny o puxou para baixo, e ele se deixou tombar na cama outra vez. - Você é um ótimo pai e um ótimo marido. Você está se sentindo assim por causa do pó de Pogrebin.

Harry passou um braço ao redor de Severus e sentiu-o suspirar antes de cair no sono outra vez.

Enquanto Severus dormia, Harry e Ginny permaneceram com ele. Harry não sentia fome, e Ginny dizia-lhe que também não sentia. Ele apenas desceu à cozinha uma vez e trouxe uma jarra com suco de abóbora e copos.

Depois Harry voltou a se deitar ao lado de Severus e acabou adormecendo.

~*~*~

No meio da noite, Harry acordou com exclamações exaltadas. Quando abriu os olhos, no entanto, nem Severus nem Ginny estavam na cama. Meio zonzo, Harry saiu ao corredor, e viu Ginny à porta do banheiro. Correu para ela.

- O que foi?

- Shh. Calma. Ele precisou vir ao banheiro. Queria vir sozinho, imagine.

Harry ficou aliviado, mas quando viu o rosto de Severus saindo do banheiro não pôde deixar de se preocupar outra vez. Severus estava tão abatido que não conseguia nem reagir com o seu costumeiro sarcasmo e mau-humor.

Quando voltaram para o quarto, Ginny aproveitou para dar outra dose da poção a Severus. Ele não relutou. Depois de tomar a poção, virou-se para Harry, como se, pela primeira vez, tomasse consciência de sua presença ali e do que ela poderia significar.

- Você está aqui para ajudar Ginevra. Obrigado.

- Não... não é só isso - disse Harry. - Estou por você, também.

- Não quero a sua pena, e não a mereço - disse Severus, a voz embargada. - Eu fui o responsável pela morte de seus pais. Não sei como você pôde suportar a minha presença durante todo aquele tempo.

Harry segurou-lhe os ombros com firmeza.

- Você não sabia a quem a profecia se referia. Eu levei muito tempo para entender as suas ações, mas acabei entendendo e perdoando. Agora sou eu que devo lhe pedir desculpas, por ter ido embora daquela forma.

- Você não fez nada de errado - disse Severus. - Nada disso é sua culpa. A culpa é toda minha.

Harry sorriu e acariciou o rosto de Severus com o polegar.

- Cuidado com o que diz. Se eu o conheço bem, amanhã você vai se arrepender muito de tudo o que disse hoje.

Severus fitou-o com olhos vagos. A exaustão era evidente em seu rosto.

- Você precisa descansar - disse Ginny, levando-o para a cama.

Harry assistiu em silêncio enquanto Ginny ajudava Severus a deitar, depois se deitava diante dele e puxava os cobertores por sobre ambos. Então Ginny abraçou Severus e massageou-lhe as costas. Ela sabia como confortá-lo.

~*~*~

VI

 

Severus se sentia perdido. Gostaria de sair correndo e se esconder. Não merecia os cuidados e a atenção que eles lhe dedicavam. Ginevra estava olhando para ele, os olhos cheios de preocupação. Não conseguia encará-la. Sabia que a havia magoado. Ele havia se comportado como um canalha naqueles últimos dias.

De repente, sentiu muito frio. Um calafrio percorreu-lhe o corpo. Sentiu-se tonto e com um pouco de náuseas. Talvez devesse fazer o que Ginevra dissera. Talvez se dormisse, aquilo passasse.

Ginevra puxou um lençol e depois um cobertor por sobre ele Harry e Ginevra aconchegaram-se junto a ele. Ele fechou os olhos.

~*~*~

VII

 

Ginny sabia que Harry não estava zangado com Severus, ou mesmo desapontado com ele. A raiva dele se voltava contra si mesmo. Pobre Harry. Ele também não tinha culpa de nada.

Harry estava observando-a.

- Você está bem, Ginny?

- Estou.

Harry passou um braço ao redor tanto de Severus quanto dela. Apertou-lhe o ombro e disse, em voz baixa:

- Ele vai ficar bem, Ginny.

Ela viu medo nos olhos verdes, apesar das palavras dele.

- Nós não vamos deixar que nada aconteça a ele - disse ela, tanto para ele quanto para si mesma.

~*~*~

VIII

 

Quando Harry acordou na manhã seguinte, Severus estava em sono profundo. Seu rosto estava pálido, mas totalmente relaxado e em repouso. Ginny estava com os olhos abertos, no entanto.

- Bom dia - disse-lhe Harry.

- Ele parece melhor, não? Você não quer voltar a Hogwarts para as suas aulas?

- Não, Ginny, quero ficar aqui com ele. Vou chamar McGonagall pelo Flu e pedir uma licença, só por hoje. O que você acha de eu descer e preparar um café da manhã para nós?

Ginny deu um sorriso pálido.

- Acho que é uma boa idéia, Harry. Vamos ter de acordá-lo para a poção daqui a quinze minutos. Talvez ele possa comer também.

~*~*~

IX

 

A voz de Ginevra parecia vir de uma longa distância.

- Quer comer alguma coisa, Severus?

Ele não abriu os olhos. Pensar em comida ou bebida só era menos insuportável do que pensar que ele magoara Ginevra e Julia. Sem dizer palavra, ele sacudiu a cabeça.

Depois disso, fez-se silêncio por alguns instantes. Provavelmente eles o estavam observando, perguntando-se o que faria ou diria a seguir. Tudo o que ele queria era enfiar a cabeça dentro da terra. Afundou mais dentro dos cobertores. Então sentiu um peso comprimir o colchão junto a si. Harry estava esfregando-lhe as costas. Era gostoso.

- Severus, eu sei que você está se sentindo culpado, envergonhado e impotente. Mas você vai superar isso. Só precisa continuar lutando. Nós vamos estar aqui, com você.

As palavras de Harry ecoaram dentro dele. Menino tolo. Tolo e adorável.

~*~*~

X

 

Depois de tomar a poção da manhã, Severus dormiu outra vez. Harry estava sentado numa cadeira, no quarto, quando Severus acordou novamente, no meio da tarde, e olhou ao redor, parecendo desorientado.

- Harry?

Harry correu para junto da cama.

- Estou aqui, Severus.

Ginny estava dormindo na cama. Severus pareceu notar, mas não fez nenhum comentário. Jogou as pernas para fora da beirada da cama.

- Ei, onde você pensa que vai? - perguntou Harry.

- Ao banheiro.

Harry aproximou-se para ampará-lo.

- Deixe-me ajudá-lo.

Severus se levantou, oscilou um pouco e começou a andar na direção da porta sem dizer nada. Apoiou-se nas paredes enquanto se arrastava pelo corredor e entrou no banheiro. Harry o seguiu.

Severus se virou para ele com uma expressão irritada.

- Posso fazer isso sozinho, obrigado.

Harry recuou, mas permaneceu junto à porta.

Quando Severus terminou e se virou para lavar as mãos, Harry se sentiu mais tranqüilo. Então ajudou Severus a voltar para a cama.

- Está se sentindo melhor?

- Estou. Só estou um pouco mais... sombrio do que o normal. - Severus reclinou-se contra os travesseiros e suspirou. - Detesto causar tantos problemas.

Harry sorriu.

- Você vai ficar bem.

~*~*~

XI

 

- Nós todos vamos ficar bem - disse Ginny, sentando-se na cama.

- Ginevra... Peço-lhe desculpas pelo modo como a tenho tratado desde... desde que Harry partiu.

Ginny ergueu a mão para interrompê-lo.

- Não, Severus, você não precisa pedir desculpas. Por favor, perdoa a si mesmo.

- Eu tive medo. - Severus respirou fundo, então prosseguiu. - Eu tive medo de tê-la perdido também.

Ginny olhou para Severus. Os olhos negros encontraram os dela, e ela sentiu a garganta cerrar-se.

- Isso nunca irá acontecer, Severus. Não há nada que você possa fazer que possa me fazer parar de amá-lo.

Severus a abraçou com força e enterrou o nariz em seus cabelos.

- Eu a amo muito.

Ela esperara tanto para ouvi-lo dizer aquilo, mas naquele momento o que mais a alegrava era que ele estava melhor. Não era ainda o velho Severus, ou não teria feito aquela declaração daquele modo, na frente de Harry. Estava ainda muito frágil e vulnerável. Mas já não falava em se matar.

- Vamos tomar um chá de darjeeling e comer umas torradas com geléia de amora? - perguntou ela.

Ele recuou um pouco e franziu o cenho. Depois afastou-lhe os cabelos do rosto e depositou um beijo terno em seus lábios.

- Darjeeling e geléia de amoras, como no dia em que você me pediu em casamento - disse ele. - Você se lembra?

- Como poderia esquecer?

~*~*~

XII

 

Estavam todos tomando chá no quarto do casal. A tempestade parecia ter passado. Mas, de repente, Severus sobressaltou-se.

- A folha! - Ele largou a xícara sobre a mesa de cabeceira e se levantou da cama.

- O que foi? - perguntou Ginny.

- Preciso ir ao escritório.

- Não, querido, fique aí quietinho. Diga-me o que quer e eu vou buscar.

Mas não houve jeito de contê-lo, agora que ele recuperara parte de suas forças. Severus saiu cambaleando pela porta do quarto e atravessou o corredor rumo ao escritório. Harry correu atrás de Severus e Ginny. Quando entrou no escritório, Severus estava remexendo em tudo, alucinado.

- Não é possível que todo o meu trabalho tenha sido em vão. Ginevra, você não viu uma folha de papel aqui?

- Calma, Severus, você está muito agitado. Vamos voltar para a cama e você explica o que está acontecendo.

- O livro. Onde está o livro? - perguntou Severus, um brilho insano nos olhos.

Harry viu Severus se aproximar do livro que o havia contaminado e quase entrou em pânico.

- Petrificus Totalus!

Severus foi petrificado de imediato. Ginny suspirou.

- Er... Desculpe o mau jeito - disse Harry.

- Tudo bem. Eu também não sabia o que fazer. Vamos carregá-lo para a cama. Com cuidado.

Quando conseguiram colocar Severus novamente na cama, petrificado, Clara surgiu à porta do quarto.

- O que aconteceu? Eu estava terminando de fechar a farmácia quando escutei gritos.

- Acho que ele teve um delírio, Clara. Estava alucinado, procurando por uma folha no escritório. Harry teve de paralisá-lo para impedir que ele pegasse novamente o livro com pó de Pogrebin.

- Uma folha? Oh... Havia uma folha de pergaminho caída ao chão. Quando você saiu para chamar sua mãe para que ela cuidasse de Julia, eu guardei a folha numa das gavetas da escrivaninha. Vou lá pegá-la.

Harry e Ginny esperaram, tentando acalmar Severus com palavras de carinho e otimismo. Por sorte, Clara não demorou a retornar e trazia uma folha de pergaminho nas mãos.

Quando ela a estendeu a Ginny, Ginny não quis nem ler o pergaminho. Apontou sua varinha a Severus:

- Finite Incantatem.

Severus recuperou os movimentos. Seus olhos se encontraram com os de Ginny, e ela estendeu-lhe a folha. Ele a pegou em silêncio e percorreu-a com os olhos. Então soltou a respiração e sentou na cama.

- Já que tudo está de novo sob controle, vou para casa - disse Clara. - Fico feliz em ver que o senhor está bem, professor.

- Obrigado, Clara - disse Severus.

Enquanto Ginny acompanhava Clara até a escada, Severus sentou-se apoiado à cabeceira, ainda segurando a folha nas mãos. Harry pôs um travesseiro às costas de Severus e sentou-se em frente a ele.

Os olhos de Severus encontraram os de Harry.

- Estava falando sério quando disse que voltou para ficar e que não iria mais embora?

- Estava - respondeu Harry.

- Se está dizendo isso só para me animar... - começou Severus, num tom cheio de sarcasmo.

Harry o interrompeu.

- Não. Eu não mentiria a você sobre algo assim.

- Você voltaria, sob as mesmas condições em que vivíamos antes?

- Sim.

- Nesse caso, você é mais louco do que eu pensava.

Harry riu. O velho Severus estava voltando, gradualmente.

- Você vive me dizendo isso.

- Entende que estaria se sujeitando a condições totalmente desiguais?

Harry balançou a cabeça, sem saber o que dizer. Nesse momento, Ginny voltou e se sentou ao lado de Severus na cama.

- Eu não quero perder vocês dois - disse Harry.

Severus virou-se para Ginny.

- Esse tempo que eu passei no escritório, eu estava pesquisando em busca de uma antiga poção sobre a qual li certa vez, chamada Amphitryon*. Eu sabia que essa poção estava em um dos meus livros de Magia Negra, aqueles que eu havia prometido a mim mesmo nunca mais abrir... Trata-se de um feitiço que cria um elo entre dois bruxos e uma bruxa, de modo que, quando a bruxa engravidar, ela terá gêmeos, e cada uma das crianças será filha de um dos outros dois bruxos. É o que os Muggles chamariam de uma superfecundação heteropaterna induzida.

- Uh-huh - disse Harry, irônico, mas com uma insana esperança nascendo dentro da alma.

Severus prosseguiu:

- Depois de três dias de pesquisa na minha biblioteca, finalmente encontrei uma menção ao livro que continha o feitiço, e o próprio Philtrokatadesmus, um livro escrito na Grécia Antiga sobre poções de subjugação erótica. Eu sabia que as páginas desse livro haviam sido impregnadas com pó de Pogrebin; exatamente por isso eu nunca o havia aberto. Dizem que todos os que o abriram, morreram.

- Essa Amphitryon... é uma poção de Magia das Trevas? - perguntou Harry.

- Não. É uma poção inofensiva e bastante simples.

- Por que, então, alguém colocou esse pó? - perguntou Harry.

- Ah, ninguém sabe quem fez isso, nem por que, mas deve ter sido por causa de outras poções contidas no livro!

- Ah, certo...

- Mas você conseguiu copiar a fórmula - Ginny deduziu. - Como conseguiu?

Severus respirou fundo.

- Eu pensei que, se concentrasse meus pensamentos nos meus mais profundos sentimentos positivos, como quando se lança um Patronus, teria o tempo necessário para copiar a fórmula neste pergaminho. Infelizmente, o pó acabou me vencendo, mas consegui copiar a fórmula e... sobrevivi.

- Que loucura, Severus! Você poderia ter morrido!

Harry fuzilou-a com os olhos. Não acreditava que Ginny pudesse estar repreendendo Severus em um momento como aquele

Mas Severus tomou o rosto dela entre as mãos.

- Eu estava zangado e ansioso. Estava mais zangado comigo mesmo do que com qualquer um de vocês, na verdade.

- Tudo bem - disse Ginny. - Eu só não entendo uma coisa. Você estava tão triste, esses dias todos... Como conseguiu pensar em algo que o deixasse feliz?

- Eu pensei na minha alegria no momento em que Julia nasceu e eu a peguei no colo pela primeira vez.

Ginny abraçou Severus, e Harry esfregou os olhos para tentar conter uma lágrima.

Estava na hora da última dose da poção de Severus. Ele a tomou e adormeceu de novo.

~*~*~

XIII

 

Severus acordou sentindo-se tão bem que desconfiou que algo devia estar errado. Estava quase anoitecendo. Levantou-se para ir ao banheiro, e seus dois enfermeiros logo o cercaram.

- Ei, ei, eu estou bem. Querem, por favor, me dar um pouco de intimidade?

Severus sentiu-se triunfante quando, pela primeira vez, eles o deixaram ir a sós ao banheiro. Olhou-se no espelho, e ficou aliviado ao se reconhecer.

A caminho do quarto, olhou para o relógio de Julia. O ponteiro apontava para "ajudando a vovó a fazer o jantar". Severus se sentiu mais tranqüilo e... faminto. Quando entrou no quarto, Ginevra, como se lesse seus pensamentos, disse que ia descer para preparar um jantar rápido.

~*~*~

Jantaram na cozinha. Severus continuou se sentindo bem. Só havia um problema: estava morrendo de saudades de Julia. Já era tarde, no entanto, e Severus vira pelo relógio que Julia já estava dormindo. Ginevra havia conversado com Molly pelo Flu e tranqüilizado-a dizendo que Severus estava bem. No dia seguinte ele veria Julia de novo.

Depois do jantar, Severus se sentou em sua poltrona favorita, e Harry e Ginevra, no sofá.

- E então? - perguntou ele. - Vocês aceitam, fazerem o ritual da Amphitryon?

- Por mim, está ótimo. Sempre quis ter gêmeos. Sei que eles darão trabalho, mas com dois pais para me ajudar... - Ginevra sorriu.

- Eu acho perfeito, também. Mas... não pensei que você fosse aceitar que Ginny tivesse um filho meu. Tem certeza de que se sente confortável com essa idéia?

- Se nossos filhos nascerem ao mesmo tempo, não vejo problema. Há duas condições no entanto. A primeira é que tudo seja decidido entre nós todos, de comum acordo, e que não haja distinções entre nossos filhos. Inclusive Julia.

- Claro! Eu amo Julia como se fosse minha filha - disse Harry.

- E a segunda condição? - perguntou Ginevra.

- Eu faço questão que o nosso pacto seja divulgado amplamente, depois que as crianças nascerem. Proponho que chamemos a imprensa e concedamos uma entrevista. Rita Skeeter e Lovegood. Todo o circo.

- Vai ser um circo, mesmo. Nunca mais vão nos deixar em paz - disse Ginevra.

Harry meneou a cabeça.

- Eu já estou acostumado. Quando eles não têm nada a dizer sobre mim, inventam.

- Vai ser o preço que teremos de pagar. A última coisa que eu desejava era ter de me transformar em porta-voz das minorias sexuais. - Severus suspirou. - Mas, mais cedo ou mais tarde, nosso segredo será descoberto. É melhor que tenhamos uma postura ofensiva e discutamos tudo abertamente.

- Não antes que as crianças tenham pelo menos seis meses - disse Ginevra, inflexível.

- Concordo - disse Severus. - Nesse meio tempo, conversaremos com as pessoas mais próximas, tentando conseguir o apoio delas.

- É só isso que importa, na minha opinião - declarou Harry. - Que tenhamos o apoio de nossos amigos.

Ginevra fez uma careta.

- Minha mãe. Como é que eu vou contar isso a ela?

~*~*~

Naquela noite, Ginevra e Harry decidiram que Severus estava cansado demais das emoções das últimas horas e que eles é que iriam cuidar dele.

Despiram-no devagar - dedos torturante traçando espirais ao redor de seus mamilos, mãos ousadas deslizando-lhe por dentro da cueca, lábios aveludados roçando-lhe as coxas.

Depois de libertado da última peça de tecido que o cobria, Severus foi impiedosamente assaltado por seus dois amantes.

Harry ajoelhou-se entre suas pernas e separou-lhe as coxas.

Ginevra se ajoelhou ao lado de Severus, a luz da vela brincando por sobre seu corpo adorável. Os cabelos ruivos caíam por sobre as coxas de Severus. Ela segurou-lhe a base do pênis e cobriu-lhe - oh, bem de leve - a ponta.

Harry se deitou com a cabeça entre as pernas de Severus e lambeu atrás dos testículos, deslizando a língua por sobre o períneo, depois descendo ainda mais, quente e úmida e suave ao sondar-lhe a abertura.

As mãos de Ginevra cobriram-lhe os testículos e massagearam-nos, tateando-o e rolando-os gentilmente, arrancando um longo gemido do fundo do peito de Severus.

Os lábios de Harry roçaram-lhe provocantemente a fenda, e sua língua pressionou-se de leve contra a borda, lambendo ao redor, de um lado para o outro, depois repetindo o mesmo movimento.

A boca de Ginevra cerrou-se ao redor de seu pênis, e seus lábios macios se moveram devagar para cima e para baixo enquanto Harry introduzia a língua lá dentro, em movimentos serpenteantes, distendo-o, preenchendo-o.

Harry sondava cada vez mais fundo. A fenda de Severus cedia avidamente a suas estocadas, abrindo-se depois cerrando-se ao redor de sua língua como que para retê-la lá dentro.

- Oh, Deus... Tenham cuidado, vocês dois - avisou Severus.

Mas eles não tinham mesmo piedade. Harry o penetrou com mais entusiasmo, deslizando a língua para dentro e para fora cada vez mais rápído. Severus se sentia como se todos os seus nervos se concentrassem em seus testículos, pênis e ânus. Os dedos de Severus mergulharam nos cabelos de Ginevra, cobrindo-lhe a nuca enquanto ela se movia para cima e para baixo. Severus pairava à beira do abismo, o corpo tremendo de desejo. Ele cerrou os músculos internos e projetou os quadris para um lado e para o outro. A caricia suave de Ginevra sobre seus mamilos o incendiou ainda mais. Seu corpo se retesou e, antes que ele tomasse consciência, a primeira onda de seu clímax o tomou, e seu sêmen jorrou dentro da garganta de Ginevra.

Severus ficou estirado na cama por um longo tempo. Quando se recobrou, Harry estava erguendo a perna de Ginevra, colocando-a sobre seus quadris e penetrando-a em um movimento lento mas firme.

Mesmo depois de todo aquele tempo, Severus ainda tinha ciúmes - dos dois. Assim, ele não iria, nunca, ficar ali parado. Afinal, ainda não estava morto...

Severus comprimiu-se a ela por trás e cobriu-lhe um seio com a mão. Ela gemeu e pousou a mão sobre a dele. Ele contornou-lhe o mamilo com a ponta dos dedos, depois rolou-o entre o polegar e o indicador enquanto dava golpes de língua pelo lóbulo de sua orelha. Ela corcoveava, oscilando entre dois prazeres. Mas ele não iria ficar só nisso... Enfiou uma das mãos entre ela e Harry para massagear-lhe o clítoris no mesmo ritmo das firmes estocadas de Harry.

Como Ginevra estivesse prestes a gozar, e como Harry também merecesse sua atenção, Severus passou lubrificante sobre um dedo e, enquanto estimulava Ginevra com uma mão, inseriu o indicador da outra mão na fenda de Harry. Harry gemeu alto e projetou-se para trás, depois para a frente. Severus deu um sorriso perverso: adorava estar no comando.

Severus continuou acariciando o clítoris de Ginevra, roçando e pressionando alternadamente, ora com suavidade, ora com firmeza, até que seu corpo estremeceu, o prazer percorrendo cada um de seus músculos. Ele a segurou firme contra si. Harry continuou impulsionando-se contra ela e Severus o movimento de vai-e-vem com o dedo, no mesmo ritmo de Harry. Após mais algumas estocadas, Harry retesou-se ao redor de Severus, soltou um gemido de prazer e preencheu Ginevra com seu sêmen.

Harry tombou sobre a cama. Depois fuzilou Severus com os olhos.

- Severus, você é um demônio - resmungou Harry. Mas o sorriso em seus lábios revelava que ele não estava mesmo zangado.

- Nosso demônio - murmurou Ginevra, abraçando Severus.

~*~*~

Na manhã seguinte, Molly chegou, trazendo Julia e Arnold. Foi Severus quem recebeu os três na sala - Harry havia voltado a Hogwarts para dar aulas e Ginevra estava preparando o almoço. Severus estendeu as mãos para Julia, mas ela se encolheu e correu de volta para Molly. Ele entendeu que ela estava magoada e ressentida por ter sido afastada deles. Julia segurava Arnold contra o peito e não queria olhar para o pai.

Severus aproximou-se dela novamente, e ela se deixou pegar no colo.

- Julia, eu senti tanto a sua falta! - disse Severus baixinho, no ouvido dela.

Julia passou um braço ao redor do pescoço do pai.

Severus segurou Julia contra o peito e fitou Molly, olhos nos olhos.

- Muito obrigado, Molly.

- Ora, foi um prazer. Fico feliz que você esteja bem. - Molly encarou-o de modo ainda mais fixo do que ele a encarava. - Harry voltou, não foi?

Severus franziu o cenho.

- Creio que sim - respondeu ele.

- Fico feliz que Harry tenha decidido voltar. O lugar dele é aqui, com vocês.

Severus nem precisou de legilimência. Foi como se um raio caísse sobre sua cabeça e o iluminasse. Molly sabia sobre a tríade, e entendia. Severus não conseguiu evitar que seus lábios se abrissem num sorriso.

 

~Fim~

Nota:
* Na mitologia grega, enquanto Amphitryon (Anfitrião, em português) estava longe de casa, na guerra, Zeus dormiu com Alcmena disfarçado como Amphitryon, fazendo com que uma noite durasse tanto quanto três [!]. Amphitryon voltou e, naturalmente, quis dormir com a esposa. Alcmena o atendeu. Em resultado, nasceram gêmeos: Héracles era filho de Zeus e Íficles era filho de Amphitryon.

 

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Ptyx, Outubro 2006