Uma Pitada de Loucura

 

Abril de 2000

I

 

A lua cheia, que caiu na terça-feira da semana da Páscoa, havia atrapalhado seus planos de que Harry passaria a semana inteira em sua casa. Nos dias antes da lua cheia, seria impossível para eles receberem Harry de modo adequado. Além do exaustivo trabalho com a Wolfsbane, Severus e Ginny precisavam se revezar para cuidar de Julia. Assim, eles haviam conversado pelo Flu com Harry e combinado que ele chegaria na quarta-feira de manhã e ficaria até domingo à noite.

Na quarta-feira, Ginny acordou cedo, apesar do cansaço do trabalho no dia anterior. Virou-se para Severus na cama e encontrou-o já acordado, o que não era habitual. Provavelmente ele estava ainda mais nervoso do que ela. Ginny passou um braço ao redor da cintura do marido e aconchegou-se junto a ele. Ele a abraçou também, em silêncio.

Ginny tentava se convencer de que tudo daria certo, mas estava preocupada. Seu casamento não era perfeito, mas Ginny estava feliz com o que eles tinham - um casamento perfeito seria algo muito monótono! Eles haviam passado por um período delicado após o nascimento de Julia, porque Ginny perdera a libido completamente durante um mês e meio. Depois eles haviam recomeçado, devagar. Severus fora muito compreensivo, e também prestativo, fazendo poções para que ela se sentisse melhor, dividindo tarefas e aturando Molly, que praticamente se mudara para a casa deles para ajudar.

Harry era, para os dois, uma feliz e sedutora expectativa. Mas, e se quando a expectativa se realizasse, ela se revelasse um completo desastre? Havia tantas coisas que poderiam sair errado.

Ela dissera a Severus que ele devia ficar no comando porque ele era o mais ciumento, o mais possessivo. No fundo, sabia que não era bem verdade. Harry era muito ciumento também. A diferença era que Harry não tinha nada a perder, enquanto Severus e Ginny eram um casal e precisavam pensar na família. Era uma equação complexa, difícil de equilibrar. Se Severus percebesse que estava no comando, ele se sentiria melhor.

- Preocupado? - perguntou ela, enfim.

Ele levou alguns segundos para responder.

- De certa forma.

- Nós já conversamos bastante sobre isso. Acho que estamos preparados.

- Conversar é uma coisa. Ver acontecer diante de nós é outra totalmente diferente - sentenciou Severus.

- Vai dar tudo certo. Relaxe. Afinal, se não der certo, nós sempre teremos um ao outro.

- Sim. E a Julia.

- Sim, Julia, nosso bem mais precioso e nosso maior tormento! - brincou Ginny, não sem uma certa exasperação. Afinal, embora as coisas estivessem melhorando aos poucos, não era fácil cuidar de um bebê. - Você faz o café enquanto eu dou de mamar a ela?

~*~*~

Ginny estava sentada em uma das cadeiras da cozinha, amamentando Julia, enquanto Severus mexia a omelete. O chá já estava no bule, e a mesa, posta.

Severus era tão sexy, em sua versão doméstica. Ginny se acostumara a ver o jeito caótico de sua mãe na cozinha - era inacreditável que tudo acabasse dando certo para Molly, pois ela fazia as coisas voarem para todos os lados - e ver a calma e a organização de Severus era repousante, mesmo em uma manhã tão cheia de ansiedade quanto aquela.

Severus desligou o fogo e, ao voltar-se para ela, seus olhos se encontraram.

- O que foi? - perguntou ele.

- Nada. Eu amo você, só isso.

Ele largou a espátula sobre um prato, parecendo atrapalhado. Então fez um gesto ainda mais inesperado: ajoelhou-se junto a ela e Julia, e cobriu a mão com que ela segurava o bebê.

- Você nunca disse isso... Quando não estamos na cama, quero dizer.

- É porque você nunca diz, também.

- Mas você sabe que eu a amo! - disse ele, em tom de protesto.

- Claro que eu sei. Mas ouvir isso na sua voz... faz muita diferença.

Ele ergueu as duas sobrancelhas, como se ela houvesse dito um absurdo. Mas ela cultivava uma secreta esperança de que aquilo funcionasse, que ele pensaria no que ela havia dito e talvez tentasse demonstrar um pouquinho mais suas emoções verbalmente.

Julia se cansou de mamar e começou a se remexer em seu colo.

- Não quer mais?

- Nnnhhh - engrolou o bebê.

Severus se ergueu e pegou Julia no colo. Ginny ajeitou o sutiã, fechou os botões de suas vestes e foi preparar a cadeirinha alta para Julia. A cadeirinha era uma novidade para o bebê, que só naquela semana mostrara que conseguia se sentar com firmeza.

- Olha o seu sapinho, Julia - disse Ginny, entregando nas mãos da filha o sapo de pano que era, no momento, o brinquedo preferido de Julia. - Papai e mamãe vão tomar café.

~*~*~

Hedwig chegou depois do café - eles haviam combinado que Harry a enviaria antes de partir. Severus a levou para o pequeno alpendre que havia construído nos fundos da casa.

Ginny colocou Julia na sala, em seu carrinho, para que ela pudesse estar por perto quando seu padrinho chegasse.

Ainda estava conversando com Julia quando ouviu alguém bater à porta e correu a atender. Lá estava Harry, com seu baú.

- Oi, Ginny!

- Oi! - Ela ficou olhando para ele, querendo abraçá-lo, mas o baú estava no caminho. - Entre!

Severus juntou-se a eles no pequeno hall de entrada e pegou o baú das mãos de Harry. Ginny aproveitou para abraçar Harry. Este, a princípio, ficou tenso, mas Ginny insistiu em segurá-lo contra si, e ele finalmente passou os braços ao redor dela e enterrou o rosto na curva de seu pescoço.

- Ginny...

Era muito gostoso sentir o calor e o cheiro do corpo de Harry contra o seu.

Severus voltou, depois de se livrar do baú de Harry, e aproximou-se para cumprimentá-lo. Ginny vibrou por dentro quando os dois se abraçaram. Eles eram tão perfeitos juntos. Harry crescera bastante; sua cabeça agora estava à altura dos ombros de Severus. Para a surpresa de Ginny, Severus segurou o rosto de Harry entre as mãos e capturou-lhe os lábios em um beijo terno. Harry fechou os olhos por alguns segundos, e Ginny achou que os dois fossem derreter, mas foi tudo muito rápido. Depois do beijo, Severus bem dentro dos olhos de Harry por um instante e então se voltou para Ginny.

O coração de Ginny estava disparado. Sabia que Severus estava procurando a sua aprovação, e o único jeito que ela encontrou de dá-la foi aproximar-se dos dois e abraçar a ambos ao mesmo tempo. Assim, eles trocaram um abraço a três, meio desajeitado.

- E a Julia, onde está? - perguntou Harry.

- Vamos para a sala - disse Ginny. - Ela está lá, brincando em seu carrinho.

Ginny conduziu Harry porta adentro, e eles puderam ver e ouvir Julia sacudindo um chocalho. Harry se aproximou do carrinho.

- Puxa, Julia, você está lindinha, e como cresceu!

Julia olhou para ele com cara de assustada.

- É o Harry, Julia. Teu padrinho - explicou Ginny. - Ela entrou naquela fase em que os bebês ficam tímidos diante de estranhos.

- Dadada - disse Julia, começando a se soltar, talvez reconhecendo o Harry que via na fotografia do seu quarto.

Ela estava usando um macacão curto, cor-de-rosa, que deixava suas pernas livres. Harry fez cócegas no pé dela, e ela deu uma gargalhada e chutou com os dois pés, energicamente.

Harry riu e repetiu a brincadeira. Julia riu e chutou ainda mais.

- Pegue ela no colo e vamos sentar para conversar - disse Severus.

- Agora que ela consegue ficar sentada com um apoio, ela adora ficar sentada no colo da gente enquanto a gente conversa - explicou Ginny. - E ela adora conversar, também!

~*~*~

II

 

Harry estendeu os braços para Julia e ficou orgulhoso ao vê-la estender os braços para ele também. Levantou-a por baixo dos braços e segurou-a contra o peito. Severus tocou o ombro de Harry e guiou-o até o sofá. Harry sentou-se no sofá, ao lado de Ginny, e ajeitou Julia para que ficasse confortável em seu colo. Severus os observava da poltrona em frente com uma expressão vigilante e protetora.

- Então, Harry, conta pra gente. Como vai Hogwarts? - perguntou Ginny.

Harry não tinha notícias muito animadoras a dar.

- O clima lá está péssimo.

- Ron me contou que o ano passado era como se a guerra continuasse dentro da escola, com Slytherin e Gryffindor brigando a todo momento. Ele e Hermione penaram para controlar a turma como monitores chefes - contou Ginny.

- Imagino que deva ter sido um pesadelo para eles. Creio que a situação não melhorou, apesar de um ano ter se passado. - Harry buscou o olhar de Severus. - O pessoal de Slytherin está ainda mais vingativo e rancoroso do que na época em que você era Chefe da Casa.

Severus ergueu o queixo.

- Eles foram muito humilhados. Nem todos apoiaram Voldemort, mas todos são tratados como a escória da sociedade.

- Eu sei - disse Harry. - Eu tentei me aproximar deles. Juro que tentei.

- O que aconteceu? - perguntou Ginny.

- Nada. Eles não quiseram conversa, e os Gryffindors me chamaram de traidor. Aí eu me isolei. As únicas pessoas com quem eu converso são de Ravenclaw e Hufflepuff. Especialmente Luna e, por estranho que pareça, Zacharias Smith.

- Zacharias! Mas vocês se odiavam! - exclamou Ginny.

Harry sorriu e deu de ombros.

- As coisas mudam.

Severus olhou para ele de um jeito desconfiado. Harry ficou vaidoso ao pensar que talvez ele estivesse com ciúmes. Mas logo Severus se recompôs e disse:

- Smith lutou bravamente na última batalha.

Harry assentiu.

- Eu me lembro. Pois é, isso faz toda a diferença. Agora não há mais ninguém lá dentro que tenha realmente participado da guerra. Luna e Zacharias são as exceções. Acho que é isso o que explica que só eles sejam meus amigos.

- E os professores? - perguntou Ginny.

- Esses não mudaram quase nada! McGonagall... Oh! Eu me esqueci! Ela enviou uma carta a você, Severus. - Harry remexeu em um bolso interno das vestes e tirou um envelope, que Julia logo tentou pegar. Mas Harry driblou-a e estendeu-o a Severus. Quando Julia ameaçou chorar, Harry começou a mexer em seus pezinhos. Julia ficou quietinha, rindo e chutando sempre que sentia cócegas. - McGonagall, Flitwick, Slughorn, Sprout, Trelawney, Hooch... continuam os mesmos - continuou Harry.

Harry não ia dizer que sentia falta de Hagrid. Harry imaginava que, se para ele era penoso relembrar as perdas da guerra, devia ser ainda mais para Ginny, que perdera os irmãos. Também não poderia mencionar que, sem Dumbledore, por mais que McGonagall fosse uma diretora competente e calorosa, Hogwarts perdera parte de seu brilho.

Severus abriu o envelope e retirou um pergaminho impecavelmente dobrado. Enquanto lia, diversas emoções pareceram cruzar a expressão do mago mais velho. Quando ele terminou de ler, havia um brilho diferente em seus olhos.

- O que foi, Severus? Conte pra gente - pediu Ginny, esgueirando-se à beirada do sofá.

- Ela está me convidando para um chá, na semana que vem. Disse que todos sentem a minha falta. - Severus ficou pensativo. - É claro que é mentira, quer dizer... ela sente a minha falta. Talvez Flitwick e Sprout também... Nós tínhamos um bom relacionamento.

- Claro que eles sentem a sua falta! - exclamou Ginny. - E é ótimo que ela o tenha convidado.

- Não sei se quero voltar lá - declarou Severus.

- Eu entendo como você se sente - falou Harry. - Aquele lugar guarda muitas lembranças ruins... Mas acho que você deveria ir. McGonagall realmente gosta de você. Ela ficou radiante quando eu disse que viria passar os feriados na sua casa. Ficou emocionada mesmo. E depois, quando me entregou essa carta antes de eu partir, ela foi bastante enfática. Só faltou dizer que tiraria 50 pontos de Gryffindor se eu esquecesse de lhe entregar a carta!

Ginny riu, e Julia riu com ela.

Severus deu um sorriso irônico.

- Não creio que ela goste tanto assim de mim.

- Mas você vai responder a ela, não? - perguntou Harry.

- Claro.

- Babababa... - disse Julia.

- E vai aceitar o convite? - insistiu Harry, testando a paciência de Severus.

- Não seria Slytherin recusar o convite de uma pessoa tão poderosa quanto a diretora de Hogwarts - declarou Severus.

- Não ligue pra ele, Harry. Ele está borbulhando de felicidade por dentro - disse Ginny.

A imagem de Severus borbulhando fez Harry rir, e Julia bateu palmas.

Severus cruzou os braços e fuzilou Julia com os olhos.

- Et tu, Iulia? Isso está me parecendo uma conspiração contra mim. - Então ele estreitou os olhos para Harry. - Vamos falar assuntos sérios: Harry, qual é a sua programação de estudos para esta semana?

- Programação? Bem, eu trouxe todo o material. Já fiz as lições de Transfiguração e Defesa contra as Artes das Trevas, mas ainda preciso fazer as de Poções e Feitiços. Preciso também continuar estudando todas as matérias para os NIEMs, e praticar todos os tipos de feitiços.

- Como é Shacklebolt como professor de Defesa? - perguntou Ginny.

Harry fez um gesto com a mão para indicar "mais ou menos".

- Parece que o Ministério praticamente o obrigou a assumir, para controlar a situação em Hogwarts - comentou Severus.

- Mesmo? Não me surpreende. Ele é competente, mas não tem nenhuma paciência com os alunos - disse Harry, e quase mordeu a língua ao se lembrar de com quem estava falando

Severus franziu o cenho para ele.

- Vocês, alunos, deveriam se preocupar em aprender e não em julgar seus professores.

- Er...

- Ora, você já foi aluno um dia - interveio Ginny. - Não me diga que não criticava seus professores.

Severus arqueou uma sobrancelha.

- Só os incompetentes. Mas vamos voltar à sua agenda de estudos - insistiu Severus, olhando para Harry fixamente. - Precisamos ver como acomodar a sua agenda à agenda da casa. Clara... a sra Attwell, a nossa balconista da farmácia... é uma velha senhora de Hufflepuff, uma pessoa de confiança, por isso não nos preocupamos com o atendimento aos clientes. Normalmente eu faço as poções encomendadas durante a manhã. Hoje foi uma exceção.

- Por minha causa? Oh, desculpe. E obrigado.

- O movimento está calmo agora, por causa dos feriados - explicou Severus. - Mesmo assim, vamos manter a farmácia aberta até quinta-feira. Ginevra cuida de Julia e da casa de manhã. À tarde nós nos revezamos. Dificilmente sobra tempo para fazermos pesquisas, como fazíamos antes de Julia nascer, mas aos poucos isso vai melhorar.

- Dadadada...

- Bem, eu posso ajudar vocês a cuidar de Julia enquanto estiver aqui - disse Harry, olhando para a garotinha, que parecia muito feliz em estar no colo dele e conversando com os mais velhos.

- Nada disso - falou Ginny. - Você precisa estudar.

- Ah, mas eu não consigo estudar o tempo todo sozinho, fechado no quarto. Eu posso ler os livros no quarto de Julia enquanto ela brinca.

Ginny fez uma cara de dúvida.

- Você é que sabe - disse Severus. - Mas se eu perceber que você não está estudando...

- Vai me colocar em detenção - completou Harry.

- Não. Vou puni-lo fisicamente.

A declaração de Severus despertou em Harry uma curiosa mescla de divertimento, medo e tesão. Entretanto, Harry percebeu que Severus estava falando sério: estava mesmo decidido a fazê-lo estudar enquanto permanecesse em sua casa.

- Está bem, sir - disse Harry, tentando manter o espírito brincalhão da conversa.

- Sobre a parte prática do seu treinamento - acrescentou Severus -, eu me disponho a auxiliá-lo. Podemos ir praticar no gramado perto da Floresta Proibida, para não causar estragos pelas redondezas. Proponho que façamos isso após as cinco horas, que é o horário de fechamento da farmácia.

- Você vai treinar comigo? Vou ser massacrado, já vi tudo!

- Vai ter de se esforçar, não tenha dúvidas - declarou Severus. - Quanto aos horários de refeição da casa, são bastante semelhantes aos de Hogwarts, então creio que se adaptará com facilidade. Tomamos café por volta das oito da manhã, almoçamos entre o meio-dia e a uma, tomamos chá às cinco da tarde (proponho que esse horário seja adiantado para as quatro enquanto você estiver aqui, para que possamos treinar a partir das cinco), e jantamos às oito.

- E Julia, quais são os horários dela? - perguntou Harry, curioso, porque não sabia nada do comportamento de bebês.

- Nos últimos tempos Julia tem dormido a noite toda direto, sem dar problemas - disse Ginny. - Passamos por maus bocados nos primeiros meses. Ela simplesmente não tinha horário. Severus e eu quase ficamos loucos. Mas agora está uma beleza. Às vezes ela tira sonecas durante o dia, principalmente depois do meio-dia. De manhã ela mama assim que acorda, e depois, de quatro em quatro horas. Ou seja, ela acompanha, mais ou menos, os nossos horários, e sempre mama antes das nossas refeições. Ela vai completar seis meses no domingo de Páscoa. A partir da semana que vem, nós vamos começar a introduzir outros alimentos na dieta dela: cereais, frutas... Uma coisa de cada vez.

- Você parece muito bem. Aliás, todos vocês - disse Harry.

- Badabada...

- Especialmente você, pequena - disse Harry, baixando os olhos para Julia. - Ah, eu estava esquecendo! Eu trouxe um presente pra você. Você fica sentadinha no sofá enquanto eu vou pegar?

- Passe ela pra cá - disse Ginny.

Harry transferiu Julia para o colo de Ginny, depois olhou ao redor e encontrou o baú onde Severus o deixara, sobre uma mesinha ao lado do sofá, atrás de Ginny e Julia. Foi até o baú, abriu-o com um toque de sua varinha e retirou o grande pacote. Depois sentou-se ao lado de Julia e começou a ajudar Julia a abri-lo, já que Julia ainda não tinha habilidade para fazê-lo sozinha.

- Desta vez o seu padrinho trouxe algo bem grande pra você! - disse Ginny.

- Tadabadabadata!

- Você ouviu isso, Ginevra? - perguntou Severus. - Ela já está usando três sílabas na mesma frase! Essa menina é um fenômeno.

- Claro que ela é um fenômeno. É nossa filha!

Harry sorriu enquanto abria o pacote: Severus e Ginny eram os típicos pais-coruja. Conseguiu, enfim, se livrar do papel de presente, e abriu o Tapete Mágico de Atividades que comprara para Julia. Era como um cercadinho circular inflável revestido em algodão, com estampas coloridas, bichos de pelúcia e objetos mágicos destacáveis (grudados com velcro), e também alguns acessórios de pendurar em arcos infláveis.

- Nossa, Julia, quanta coisa pra você brincar! - exclamou Ginny.

- Tadatabata! - exclamou Julia, cheia de entusiasmo, arrancando do tecido uma pequena lesma multicolorida, que piscava para ela e mexia as antenas.

Severus se levantou para ajudar Harry a colocar o tapete no chão, e Ginny depositou Julia no centro dele.

- Muito obrigada, Harry - disse Ginny. - Ela vai ter muito com que se divertir!

- Foi um presente inteligente - disse Severus, lançando um olhar de aprovação a Harry.

- Quem sabe assim eu posso ficar tomando conta dela e estudando ao mesmo tempo! - observou Harry, com otimismo. - Eu trouxe um presente para vocês também. - Harry andou novamente até o baú e retirou uma garrafa de Armagnac, entregando-a a Severus.

- Oh... Château de l'Aulne. É o melhor Armagnac do mundo. É feito pelos druidas - comentou Severus. - Obrigado. Vamos abrir esta noite, depois do jantar.

Harry se perguntou se não havia esquecido de nada, e de repente se lembrou de que estava faltando alguém ali.

- E o Arnold?

Um silêncio espectral baixou na sala. Ginny e Severus trocaram um olhar significativo cujo significado Harry não conseguiu decifrar, e até Julia parou de brincar com seus novos brinquedos para olhar para Ginny, em expectativa.

- Er... - disse Ginny. - Espero que você não se importe de dividir o quarto do sótão com ele. Nós tentamos fazer ele ficar com Julia, mas...

- Baba!

- ... Julia não sabe ainda controlar seus movimentos muito bem, e quando ela agarrou o Arnold, bem... ela não chegou a machucá-lo... muito... Severus o salvou. Mas agora Arnold está traumatizado, morre de medo de Julia e entra em pânico só de vê-la.

Harry balançou a cabeça, controlando a vontade de rir.

- Pobre Arnold!

~*~*~

Ginny levou Harry até o andar de cima e mostrou-lhe o quarto do casal (Harry reparou que a cama era bem espaçosa), o escritório (onde Ginny garantiu que Harry poderia estudar sempre que quisesse), o quarto de Julia (que estava na maior bagunça) e o banheiro. No corredor, Harry avistou o relógio de Julia. O único ponteiro estava passando de "chorando" para "brincando com papai". Harry sorriu e seguiu Ginny escada acima, rumo ao sótão, onde havia apenas um quartinho com uma cama de solteiro e um guarda-roupas, e um lavabo. No quarto, sobre um piso acarpetado, havia também algumas almofadas, e sobre uma delas estava Arnold, que foi logo subindo no ombro de Ginny.

- Tadinho - disse Ginny, acariciando o bichinho. - A gente mal tem tempo pra você agora.

Harry largou o baú sobre o carpete. Ginny mostrou-lhe a janela, que dava para a rua onde eles moravam, com seus velhos chalés, e para os campos verdes que se estendiam até a Floresta Proibida.

- Sinta-se à vontade, Harry. O quarto é seu.

- Obrigado. - Harry se sentou na cama. - Você tem um tempinho pra conversar?

- Claro. Severus está com Julia lá embaixo, e ainda é cedo para fazer o almoço.

Ginny se sentou sobre uma das almofadas, com Arnold ao colo.

- Eu... não sei como dizer isso, mas... você tem certeza de que isso vai dar certo? - perguntou Harry.

- Como assim? Você diz... nós três?

- É. Isso não pode criar problemas para vocês e Julia, se alguém descobrir?

- Por quê? Ah, você está pensando nisso por causa das leis e costumes dos Muggles?

- Eu não sei como são essas coisas entre os bruxos. Ninguém jamais fala nesse assunto.

- Exato. Entre os bruxos não há leis contra homossexualismo, poligamia ou poliandria, nada disso. Só há problema quando há discussões de herança ou paternidade. Aí normalmente quem ganha os processos são os casais casados oficialmente. Mas... não creio que você não vá nos processar, não é? - Ginny ergueu a sobrancelha exatamente como Severus faria.

- Não, claro que não. - Harry ficou pensativo. - Mas... se não é proibido, porque tudo isso é feito às ocultas?

Ginny deu de ombros.

- Talvez seja influência das idéias Muggle... Afinal, o nosso Ministério é ligado ao deles. Mas acho que não é só isso. No Mundo Mágico, esse tipo de relacionamento não é considerado... digamos... normal.

- Dando uma de advogado do diabo, sendo assim não seria o caso de tratar essas pessoas medicamente?

- Oh, os bruxos estão tão acostumados com a excentricidade que não acham que seja necessário fazer algo a respeito dela. É mais ou menos assim: se outros bruxos souberem que você está num relacionamento desse tipo, vão achar que você é excêntrico. Alguns vão rir de você, outros vão ficar espantados, e outros ainda vão dar de ombros.

- Entendo. Não é muito agradável, ser considerado um excêntrico, mas pelo menos não há perseguições ou prisões.

- O truque é não falar no assunto. Severus me contou que entre os homossexuais é assim que é feito.

Harry não parava de se surpreender com o que estava acontecendo e com a conversa que estava tendo com Ginny.

- Ele conta esse tipo de coisa pra você?

- Oh, não. Quer dizer, não espontaneamente. Severus é muito reservado. Mas eu tenho o meu jeito de arrancar dele o que quero saber.

Harry ficou olhando para ela, cheio de admiração. Ela se levantou, parecendo prestes a sair, e ele se levantou também. Sentiu-se atraído para ela como um inseto pelo fogo... Ele passou o braço ao redor de seus ombros e a beijou.

~*~*~

III

 

Julia começou a chorar assim que Ginevra e Harry se afastaram. Severus sentou-se no centro do tapete, junto com ela.*

- Veja só, Julia. Aqui, no seu tapete, tem todos os bichos que representam as Casas de Hogwarts.

- Tada?

- É, Casa - disse Severus. Sabia que Julia só começaria realmente a falar dali a cerca de seis meses, mas era impressionante que ela já conseguisse dar uma certa inflexão às suas frases. - Veja. O leão, aqui, é o símbolo de Gryffindor, a Casa da mamãe e do padrinho Harry.

- Dadadada - disse Julia, pegando o leão na mão e acariciando-lhe a juba.

Só Julia poderia fazê-lo esquecer um pouco o pensamento que ameaçava tirar-lhe a tranqüilidade: Harry e Ginny estavam a sós lá em cima há alguns minutos.

Severus se concentrou na esperta garotinha que era o centro de seu universo e prosseguiu, mostrando a ela a águia de Ravenclaw, a toupeira de Hufflepuff e a cobra de Slytherin. Julia escutava-o com atenção. Para ela, ele era, também, o centro do universo - naquele e em muitos outros instantes.

Alguns minutos mais tarde Ginevra desceu, dizendo que Harry estava arrumando suas coisas no sótão e que ele iria estudar um pouco até o almoço. Ginevra foi para a cozinha, e Severus ficou com Julia até a hora da mamada.

~*~*~

Depois do almoço, Harry levou Julia, levitando o tapete como se fosse um tapete voador, para o escritório, onde pretendia estudar. Severus brincou com ele que aquela era uma atividade ilegal e que ele poderia ir para Azkaban, já que tapetes voadores eram proibidos no Mundo Mágico. Severus achou que Julia estava tão excitada que provavelmente não dormiria depois do almoço, como costumava fazer, e que não deixaria Harry em paz nem por um segundo. Mas Harry não era mais criança. Teria de aprender a lidar com seus problemas...

Severus foi para o "O Caldeirão Fervente" para substituir Clara no atendimento aos fregueses para que Clara pudesse almoçar. Apenas dois clientes apareceram durante os cinqüenta minutos que ele passou atrás do balcão. Quando Clara voltou, Severus foi para o porão confeccionar as duas poções que haviam sido encomendadas.

Cerca de uma hora depois Severus terminou as poções. Precisava deixá-las esfriar antes de engarrafá-las. Subiu até o escritório e encontrou Harry deitado no tapete de Julia*, lendo o Teoria Mágica Avançada, o livro de Feitiços de Adalbert Waffling para o sétimo ano, enquanto Julia e - surpresa - Arnold dormiam a seu lado - um de cada lado.

Severus sorriu intimamente. Retirou-se sem fazer nenhum ruído e foi procurar por Ginevra.

Encontrou-a na cozinha, fazendo sonhos para o chá, e ofereceu-se para atrapalhá-la dando-lhe beijos tão apaixonados que ela ficava sem fôlego.

- Tudo isso é só porque Harry está aqui? - perguntou ela, quando ele lhe deu chance de respirar.

- Você está sempre ocupada com Julia. Agora que ele está com ela, resolvi aproveitar.

Ela o olhou com uma cara desconfiada, e ele soube que, mesmo sem legilimência, ela sabia o que se passava dentro dele.

~*~*~

IV

 

Com um par de óculos mágicos que funcionavam como binóculos (uma das criações da finada Gemialidades Weasley), Ginny conseguia ver, da janela do quarto de Julia, Harry e Severus treinando Defesa contra as Artes das Trevas nos verdes campos junto à Floresta Proibida. Eles lutavam seriamente. Severus não dava folga, mas Harry era um adversário respeitável. Harry não era mais um menino franzino. Embora não fosse tão alto quanto Severus, suas pernas eram longas, e seus movimentos eram ágeis e flexíveis.

De vez em quando falcões esvoaçavam por ali atrás de pássaros menores e até uma águia vermelha passou bem perto deles.

Severus havia dito que eles treinariam durante uma hora, mas eles já estavam duelando há quase uma hora e meia. Quando um dos feitiços de Harry jogou Severus ao chão, Ginny ficou preocupada, mas respirou aliviada ao ver Harry ajudar Severus a se levantar. Harry aproveitou para puxar Severus para si e beijá-lo. Severus respondeu empurrando Harry contra o tronco de um amieiro e...

Ginny não pôde ver mais nada além das costas de Severus, mas estava certa de que Severus não estava retirando folhas secas do ombro de Harry. Não era época de folhas secas. As novas folhas estavam começando a brotar: mil luzinhas verdes despontando no amieiro

~*~*~

V

 

A chegada da noite fez com que a ansiedade de Harry aumentasse.

Depois da última mamada do dia, Julia se recusou veementemente a ir dormir em seu quarto, abrindo o maior berreiro. O único jeito de acalmá-la foi colocá-la na cadeirinha alta para que ela ficasse com eles durante o jantar.

O jantar foi agradável: carne assada, batatas, ervilha, cenouras, molho de carne e uma garrafa de vinho tinto fabricado pelos elfos. Eles colocaram as novidades em dia. Na verdade, não havia acontecido nada de especial desde o Natal. Harry achava que isso era bom, porque, depois de todos os traumas da guerra, o que eles mais queriam era tranqüilidade. O período heróico chegara ao fim. O mundo continuava cheio de problemas, no entanto, e Severus e Ginny estavam construindo algo - era algo simples e rotineiro, mas que nem por isso deixava de ser belo.

Depois do jantar, eles foram para a sala de estar. Severus serviu o Armagnac em três taças de conhaque, e eles ficaram degustando a bebida. Julia, enfim, dormiu no colo de Ginny, e Ginny a levou para o quarto.

Assim que Ginny saiu, Severus, que estava sentado na poltrona, levantou-se e estendeu a mão para Harry. Harry hesitou um pouco, mas deu a mão a Severus. Este a segurou com firmeza.

- Vamos para o quarto.

Segurando a mão de Severus, Harry se levantou. O coração de Harry estava disparado. Sem nunca largar sua mão, Severus seguiu na frente rumo à escada.

~*~*~

VI

 

Severus entrou no quarto, esperou que Harry entrasse e o agarrou, com o quarto ainda às escuras e a porta aberta para que Ginevra entrasse. Seus lábios se encontraram em um beijo lento e delicado. Severus aspirou profundamente o cheiro de Harry, absorveu-lhe o calor e deliciou-se com a sensação do corpo de Harry contra o seu.

Quando seus lábios se separaram, Severus viu que Ginevra estava deitada na cama sobre o acolchoado marrom, as mechas flamejantes de seus cabelos caindo-lhe pelos ombros iluminadas pela luz da vela que ela acendera à cabeceira da cama. Parecia cansada, ao final de um dia exaustivo. Não estava fazendo nenhuma pose sensual, e nem tirara ainda suas vestes, mas vê-la assim, tão natural, tão ela mesma, evocava em Severus um forte sentimento de afeto e proteção.

Severus levou Harry consigo para a cama e o fez deitar-se entre Ginevra e ele próprio. Ginevra se inclinou e beijou Harry suavemente nos lábios. Quando Harry virou-se para abraçá-la, Severus aconchegou-se por trás dele, passou um braço ao redor de seus ombros e distribuiu mordidinhas pela curva de seu pescoço. Depois insinuou a língua por dentro de sua orelha e brincou com o lóbulo.

Harry gemeu e se contorceu para a frente e para trás, como se seu corpo não soubesse a qual dos dois amantes voltar sua atenção. Com um suspiro de frustração, Harry vociferou:

- Certo. Qual dos dois eu devo atacar primeiro?

Severus olhou para Ginevra por sobre o ombro de Harry e viu-a sacudir a cabeça.

- Temos planos diferentes para você - disse ela.

- A resposta mais apropriada seria "nenhum" - confirmou Severus, quando Harry se virou para trás para saber da resposta dele.

Ginevra segurou a barra das vestes de Harry e ergueu-as. Severus ajudou-a a terminar de livrar-se daquela incômoda barreira entre eles e o corpo de seu jovem amante. A garganta de Severus secou quando seus olhos pousaram sobre a pele clara e macia e os músculos não muito definidos mas visíveis de Harry. Ginevra desceu a mão lascivamente até o tornozelo de Harry e depois subiu pela parte de dentro da canela. Não contente em devorá-lo com os olhos, Severus resolveu experimentá-lo de verdade, e se inclinou para abocanhar um dos róseos e convidativos mamilos do jovem bruxo.

- Oh, Deus - murmurou Harry, segurando a cabeça de Severus no lugar e erguendo os quadris diante de fosse lá o que fosse que Ginevra estava fazendo lá embaixo (e Severus sabia que ela podia deixá-lo louco, se quisesse).

Curioso, enquanto contornava o delicioso mamilo com a língua, Severus insinuou os longos dedos entre as pernas de Harry e, além de descobrir que Ginevra já o libertara do confinamento das cuecas, encontrou os macios cabelos de Ginevra bem ali.

Severus achava que estava sendo muito generoso, mas não iria deixar Ginevra se divertir sozinha lá embaixo...

Severus foi descendo pelo centro do corpo de Harry, parando no umbigo para algumas explorações de língua antes de descer ainda mais e roçar o nariz sobre os pêlos bem negros do púbis do bruxo mais jovem.

Então Severus ergueu a cabeça e viu Ginevra passando a língua devagar por toda a extensão do pênis ereto de Harry. Severus sentiu o próprio pênis pulsar diante daquela cena e, não conseguindo se conter, ergueu a cabeça de Ginevra - com cuidado, mas com firmeza -, e a beijou devagar, introduzindo a língua bem dentro de sua boca e provando o sabor de Harry mesclado a embriagantes traços de Château de l'Aulne.

Severus cobriu-lhe os seios por sobre as vestes, e Ginevra deu um gemido baixinho.

- Ei, vocês - reclamou Harry, meio em tom de brincadeira, meio em total frustração. - E eu?

- A paciência é uma grande virtude - declarou Severus, vendo Ginevra escorregar para cima.

Ela tomou um dos mamilos por entre os belos dentes brancos e deu-lhe uma puxadinha, depois roçou os dentes sobre o botão róseo numa simulação de mordida. Harry jogou a cabeça para trás e arquejou.

Severus abriu um sorriso perverso e cobriu a ponta úmida do pênis do jovem com os lábios. Fazia mais de dois anos que ele não transava com um homem. Ele não gostava muito de chupar, mas mais de um de seus amantes lhe havia dito que ele era bom nisso. Esperava que fosse verdade, porque ele queria mesmo que Harry gostasse. Assim, começou a sugar e a bombear, movendo a cabeça no mesmo ritmo que a mão. Quando parou um pouco para ver como Ginevra estava se saindo lá em cima, viu-a descendo pelo corpo de Harry, espalhando mordidinhas por onde passava. Ela olhou para ele, deu-lhe um sorriso cúmplice e lascivo e chegou mais perto. Severus ergueu a cabeça e deixou que Ginevra assumisse seu lugar. Ginevra segurou a base da ereção de Harry e lambeu ao redor da ponta. Severus se inclinou para ela, o desejo incendiando-lhe as veias, e juntou seus lábios aos dela. Eles se beijaram, as línguas dançando ao redor da coroa do pênis de Harry.

- Caracoles! - exclamou Harry, levando uma mão à nuca de cada uma de suas cabeças. - Não parem.

Severus e Ginevra começaram a se revezar, cobrindo e sugando o pênis de Harry alternadamente. Harry projetava os quadris para cima a cada vez que um deles descia por seu pênis. Após alguns instantes, Severus sentiu um tremor percorrer o corpo de Harry, e continuou chupando. O sêmen de Harry encheu-lhe a boca, e ele o engoliu com prazer.

Quando Harry havia se exaurido completamente, Ginevra roçou os lábios no rosto de Severus e ele tomou-lhe os lábios em um beijo ávido.

Severus e Ginevra permaneceram de joelhos sobre a cama e olharam para Harry, que aos poucos se recobrava do orgasmo e fuzilava-os com os olhos.

- Isso foi jogo sujo da parte de vocês.

- É assim que você agradece, jovem insolente? Há uma dama esperando - disse Severus, em tom de desafio, tirando cuidadosamente as vestes de Ginevra, deixando-a de sutiã e calcinhas.

Harry reagiu ajoelhando-se na cama para acariciar os seios de Ginevra por sobre o sutiã. Uma cena deslumbrante se desenrolou diante dos olhos de Severus: Harry, nu, abrindo o gancho do sutiã de Ginevra e depois cobrindo-lhe os seios com delicadeza, quase reverência.

Ginevra rolou por sobre Harry e trocou um longo beijo apaixonado. Impaciente, Severus resolveu explorar as costas daquela mulher cujos segredos ele conhecia tão bem. Valendo-se daquele conhecimento, Severus passou lábios e dedos nas áreas que faziam Ginevra estremecer e gemer de prazer: a curva do pescoço, a base da espinha... Sem conseguir resistir, ele baixou-lhe a calcinha, acariciou o traseiro firme e redondinho e espalhou algumas mordidas estratégicas.

Enfim, Ginevra ergueu a cabeça e olhou para ele com desejo e urgência.

- E você, não vai tirar essas vestes? - Ginevra ajoelhou-se na cama. - Harry, me ajude aqui.

Severus fingiu se zangar quando Ginevra segurou seus braços presos sobre sua cabeça e Harry levantou-lhe as vestes. Um fogo brotou nos olhos de Harry ao avistar o corpo de Severus e acariciar-lhe os pêlos do peito. Mas Severus não conseguia se concentrar apenas em Harry, pois Ginevra estava tirando-lhe a cueca, e provavelmente as intenções dela não eram nada inocentes.

- Ginevra, não. Venha cá - disse Severus, estendendo-lhe a mão.

Obediente, Ginevra veio deitar-se a seu lado. Severus enlaçou Harry com um braço e Ginevra com o outro, e eles rolaram uns por sobre os outros. Severus se deliciou com a sensação de pele sobre pele, mas os sinais eram claros para ele: não resistiria muito tempo.

- Eu vou prepará-la para você - murmurou ele, no ouvido de Harry. Depois se voltou para Ginevra. - Você quer, assim?

Ela fez um gesto rápido de cabeça, concordando, e se deitou, lânguida e convidativa. Harry se inclinou para acariciá-la. Era um belo quadro, diante do qual os olhos de Severus se refestelavam: os dois jovens nus, Harry cobrindo a parte superior do corpo de Ginevra. Harry estava dedicando muita atenção ao pescoço, e Ginevra estava claramente gostando.

Severus separou as pernas de Ginevra com as mãos e esfregou o nariz em seu doce tufo de pêlos ruivos. Oh, ele adorava lambê-la. Introduziu a língua dentro dela, sondando-a, explorando-a, depois separou-lhe as dobras para encontrar o clítoris. Provou de seus fluidos e deliciou-se ao encontrá-la tão excitada. O clítoris estava intumescido e parecia apontar em sua direção. Ele sabia que ela era sua, mas dessa vez ele teria de ser generoso e compartilhá-la com Harry.

- Agora é com você - disse Severus, em uma voz irreconhecivelmente rouca.

O olhar que Harry lançou a ele mesclava desejo e hesitação, mas a hesitação durou apenas um segundo. Severus admirou a elegância com que Harry desceu pelo corpo de Ginevra traçando uma trilha de beijos até chegar aos pêlos arruivados do púbis e depositar ali um beijo terno.

Severus remexeu na gaveta da mesinha de cabeceira, pegou o lubrificante e começou a cobrir o pênis com ele. Ginevra e Harry se viraram para ele e ficaram observando. Severus sentiu o sangue subir ao rosto. Não estava acostumado a ter platéia... Então ele experimentou provocá-los, fechando os olhos como se estivesse quase gozando, suspirando e descendo a mão lentamente por toda a sua extensão.

Harry engasgou, e Ginevra tinha os olhos arregalados quando ele abriu os olhos.

- O que foi? - perguntou Severus, arqueando uma sobrancelha.

- Tesão - disse Harry, sonhador.

- Exibicionista - disse Ginevra.

- Se vocês querem ação, por que não começam? - perguntou ele, olhando para Harry enquanto se posicionava por trás dele.

Percorreu os ombros de Harry com as palmas, então se inclinou para mordê-lo ao longo da espinha, umedecendo as marcas vermelhas dos dentes com golpes de língua e dedicando um tempo maior àquela dobra de pele macia em que as coxas de Harry se encontravam com seu traseiro.

Harry virou-se para trás, um tanto trêmulo.

- Você vai...

- Você não quer? - perguntou Severus, vendo-o indeciso.

- Não, não é isso! Tudo bem.

- Você já fez isso antes, suponho.

- Já, claro - disse Harry.

- Não se preocupe. Eu vou ser cuidadoso. Afinal, minha mulher vai estar embaixo de você.

Harry deu um sorriso tímido. Depois se virou novamente para Ginevra e acariciou-lhe as coxas languidamente antes de deslizar para dentro. Ginevra arquejou, mas Harry foi um bom menino, e esperou, todo trêmulo, que ela se acomodasse e relaxasse.

Ver o traseiro de Harry se flexionar ao mover-se para dentro e para fora de Ginevra foi o bastante para estimular Severus a agir. Cobriu os dedos com lubrificante e massageou suavemente aquela fenda apertada onde logo ele pretendia se alojar. Harry emitiu alguns ruídos apreciativos. O jovem parecia estar se divertindo, ali, ensanduichado por seus dois amantes, e Severus achou melhor não demorar muito: removeu os dedos, posicionou o pênis e penetrou-o em um suave mas decisivo impulso.

O peso de Severus sobre as costas de Harry fez Ginevra gemer de prazer. Harry enterrou o rosto no ombro de Ginevra, retesando os músculos das nádegas. Ele era tão gostoso, tão apertadinho, tão perfeito! Severus procurou com a mão o ponto em que Harry e Ginevra estavam conectados e sentiu-o deslizando para dentro dela. Beijando a parte de trás do pescoço de Harry, Severus segurou-lhe o traseiro com firmeza e imprimiu um ritmo acelerado. Quando Ginevra passou as pernas ao redor de ambos, a sensação de seus pés macios pressionando-lhe as nádegas levou Severus à loucura.

Ele estava prestes a explodir, mas não queria fazer isso antes que Ginevra gozasse. Em uma manobra esperta, Severus deu uma estocada profunda e Ginevra gemeu, arqueando as costas enquanto o rubor do orgasmo se espalhava por seu corpo.

Ele estremeceu diante da beleza daquela visão. Depois recuou e mudou o ângulo antes de mergulhar de novo até o fundo. Sentiu Harry retesar-se a seu redor e mordeu-lhe o ombro com força enquanto seu corpo vibrava sob o impulso de ondas e ondas de prazer.

Tombaram os três sobre a cama em um emaranhado de pernas.

A muito custo, Severus conseguiu sair de baixo de um braço, um seio e uma perna para pronunciar um feitiço geral de limpeza. Um sorriso saciado iluminava o sorriso de Harry, e Ginevra convidou os dois a juntarem-se a ela embaixo dos lençóis, um de cada lado.

 

Fim

Notas:
* Embora Severus e Harry fossem aparentemente muito grandes para caber no Tapete Mágico de Atividades de Julia, como se trata de um artefato mágico, o espaço é mágico também. Vejam no Lexicon um interessante comentário a respeito.

 

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Ptyx, Setembro 2006