Conversas

 

Novembro de 2001

 

Severus esperou, pacientemente, o momento certo para falar com Molly. E este surgiu numa tarde de domingo, quando estavam todos na Toca. Arthur, Ginevra, Harry e Julia iam para o galpão dos fundos para brincar com um helicóptero Muggle com controle remoto que Arthur havia comprado, e Molly anunciou que ia para a cozinha preparar o chá. Severus ofereceu-se para ajudá-la.

- O que foi que aconteceu? - perguntou-lhe ela, assim que chegaram à cozinha, revelando que seu estratagema não a enganara.

- Quero falar com você - disse Severus.

- Oh, pelo jeito é uma conversa daquelas! Vamos tomar uma xícara de chá, o que acha?

- Darjeeling?

Molly riu.

- Eu sei que você tem um fraco por darjeeling.

Severus se sentou à mesa enquanto Molly preparava o chá.

- Pode falar enquanto eu trabalho. Estou acostumada. Até raciocino melhor - comentou Molly.

Severus respirou fundo.

- Você sabe sobre Ginevra, Harry e eu. Eu sei que sabe.

- Finalmente você percebeu que eu não sou uma completa idiota! - disse ela, em tom irônico.

- Nunca imaginei que você fosse idiota. Mas a minha experiência me diz que muitas pessoas inteligentes às vezes não vêem o que está diante de seus olhos. Fico feliz que você tenha percebido, pois isso facilitará muito nossa conversa.

- Oh, conte logo! Estou morrendo de curiosidade. Vocês não vão fazer um casamento a três ou algo assim, vão? Não acho uma boa idéia.

- Não, não é isso. Se me deixar falar...

- Até parece que eu o estou amordaçando!

Ele teve de controlar a vontade de rir diante da imagem que as palavras dela lhe evocaram, e decidiu que o melhor jeito de fazê-la escutar era ir direto ao ponto.

- Ginevra está grávida.

Os olhos de Molly se iluminaram.

- Mas isso é maravilhoso! Oh... Espere aí. Vocês sabem de quem é o filho, não sabem? O filho não é de Harry, é?

- Não exatamente. Nós executamos um ritual da Grécia Antiga, o Amphitryon. Ginevra terá gêmeos. Um deles será meu filho; o outro, de Harry.

Molly abriu um sorriso de orelha a orelha.

- Gêmeos! De dois pais! Vocês são inacreditáveis. Mas por que Ginny não me contou? Eu quero dar um abraço nela e...

Severus segurou-a pelo braço.

- Calma. Sente aí e vamos tomar o darjeeling. Você não acha que todos vão aceitar essa situação com esse seu entusiasmo, acha?

- Hmm... É verdade. É uma situação bastante... incomum. Eu nem sei o que Arthur vai achar. É claro que eu tenho meus métodos de convencê-lo, mas você tem razão. Precisamos pensar.

~*~*~

Molly esperou até Arthur estar embaixo das cobertas para puxar o assunto:

- Harry se dá muito bem com Ginevra e Severus. Você não acha que eles formam um belo grupo?

- Harry? Oh, sim! Eles até parecem um casal a três, de tão bem que se dão!

- Oh, querido... Você ficaria chocado se soubesse que... bem, vamos falar hipoteticamente... que eles são um casal a três?

- O quê? Que maluquice é essa? Por que você está dizendo isso?

- Pense, querido, e me diga como se sentiria se isso fosse verdade.

Arthur apoiou o cotovelo na cama e o rosto na mão, e acendeu uma vela.

- Molly, eu conheço você. Essa conversa tem um propósito, não tem?

Molly suspirou e não disse nada. Viu a compreensão estampar-se, aos poucos, no rosto do marido.

- Oh! Isso é... estranho.

- É estranho, sim, querido, mas não é ruim. Eles estão felizes, e se dão muito bem.

- Eu vou ter de me acostumar com a idéia. Argh! Só de pensar...

- Não pense, Arthur. Ou melhor, pense no lado bom. Ginny está grávida.

- Grávida? De novo? Oh, Deus. E... oh, não... quem é o pai?

- Ela vai ter gêmeos. Um é de Severus, e o outro é de Harry.

Arthur arregalou os olhos.

- Como isso é possível?

- Severus descobriu um ritual da Grécia Antiga. Pense só, Arthur, Ginny vai ter gêmeos. E um deles será de Harry. Não é lindo?

- É, sim. Eu fico feliz com isso. Mas não entendo.

Molly apagou a luz e puxou Arthur para a cama.

- Você não entende porque você é como eu: totalmente apaixonada por apenas uma pessoa.

Arthur aconchegou-se junto a ela.

- Deve ser por isso que eu não entendo. Eu é que não ia querer dividir a minha Moliuóli com ninguém!

~*~*~

- Como é que é? - Bill arregalou os olhos. - Severus e Ginny tem um casamento a três com Harry, e Ginny vai ter gêmeos de Severus e Harry ao mesmo tempo? Que insanidade é essa?

- Callma, chéri.

Bill e Fleur estavam jantando em sua casa em Ottery St Catchpole, a cerca de cinco quilômetros da Toca.

- Foi minha mãe quem lhe falou isso?

- Já lhe disse que foi - respondeu Fleur, um pouco irritada.

- Não acredito que minha mãe aceitou essa loucura, assim, sem mais nem menos!

- Qual é o prroblema? Elz son felizs juntos.

- Ah, você e essas suas idéias veelas...

- Oh, Bill, mas você também non é prreconceituoso. Pensei que fosse entenderr.

- Hmpf. Eu não tenho nada contra relacionamentos alternativos, mas... com a minha irmã?

Fleur deu uma risada.

- Vocês ingleses son ton estrranhos!

~*~*~

Clara estava fechando a farmácia quando Ginny entrou.

- Clara, eu tenho uma coisa pra lhe contar.

- Oh, claro - disse a velha senhora, que já estava com a bolsa na mão, pronta para sair, fechando a porta para que elas pudessem conversar em particular.

- Er... Espero que você não fique chocada com o que vou lhe dizer. É sobre Harry, Severus e eu.

- O que é?

- Lembra-se daquele dia em que Severus foi infectado pelo pó de Pogrebin?

- Nunca vou me esquecer daquele dia!

- Pois é... Aquele livro continha a receita de uma poção que permitiu que eu engravidasse de gêmeos. Um filho de Severus; o outro, de Harry.

A velha senhora franziu o cenho.

- Vocês são as pessoas mais fascinantes que eu já conheci! - exclamou ela, por fim. - O que você está me dizendo é que você vai ter gêmeos de dois pais.

- Er... É isso mesmo.

- Ora, isso é realmente incomum. Espero que o professor Snape me conte mais a respeito dessa poção, se eu lhe perguntar. - De repente, Clara pareceu acordar de suas reflexões, e abriu os braços para Ginny. - Meus parabéns!

Ginny a abraçou.

- Obrigada pela compreensão, Clara. O que eu lhe contei deve permanecer, por enquanto, o mais absoluto segredo. Nós vamos precisar da sua ajuda.

- Oh, eu gosto muito de todos vocês. Não contarei a ninguém, e podem contar comigo para o que precisarem.

~*~*~

Arthur achou que o melhor jeito de contar aquilo a Remus e Tonks seria numa mesa de bar. Mas, depois de mais de uma hora de enrolação e hesitação, seus dois amigos já estavam impacientes.

- Diga logo, Arthur. Qual é o problema? É alguma coisa com Bill? - perguntou Remus, sempre preocupado com a condição de Bill como semi-lobisomem.

- Não, não.

- Então é com Ginny - disparou Tonks. Diante do silêncio hesitante de Arthur, Tonks pareceu ganhar segurança. - Eu estava desconfiando que havia algo. Ela tem estado sumida nos últimos dias. Ginny está com algum problema?

- Bem, você sabe que Harry mora com eles, não?

- Claro que sabemos. Mas ele foi embora e voltou uma semana depois, não foi? Isso foi estranho - disse ela.

- Como você sabe desses detalhes? - perguntou Arthur.

- Ora, você não lembra que Robards me encarregou de vigiar Severus?

- Ah, é mesmo. Você nunca reparou nada estranho... entre eles? - perguntou Arthur.

- Severus e Harry? Na verdade... Por que você está perguntando isso?

Remus suspirou alto.

- Vocês estão me deixando tonto, com tantos rodeios.

- Eu vou falar - disse Arthur. - Mas vocês precisam me prometer que vão guardar segredo.

- Pelas barbas de Merlin - disse Tonks.

- Prometo - disse Remus.

- É que... Ginny, Severus e Harry têm um relacionamento a três - disse Arthur, enfim.


Os olhos de Tonks brilharam, e ela abriu um sorriso radiante.

- Ah, mas isso é maravilhoso. Eu estava preocupada com o rumo dessa conversa, exatamente porque já havia notado que havia... faíscas entre Harry e Severus. Se é assim, eu fico mais tranqüila.

Remus franziu o cenho e ficou pensativo.

- Pobre Harry. Ele sente muita falta de uma família - disse ele. - Acho que acabou adotando Severus e Ginny. Mas receio que isso não vá dar certo.

- Oh, vai ter que dar - disse Arthur, decidido. - Ginny está grávida dos dois.

- Como assim? - perguntou Tonks.

- Ela vai ter gêmeos. Uma criança é de Severus, a outra é de Harry.

- Ahn? Isso é possível? - perguntou Tonks.

- Severus encontrou uma poção da Grécia Antiga que faz com que isso aconteça - explicou Arthur.

- Então as coisas mudam de figura - disse Remus. - O problema, nesse caso, vai ser como a sociedade vai reagir a isso, e como eles vão se adaptar à reação da sociedade.

- É exatamente isso o que me preocupa - disse Arthur.

- Nós vamos fazer o possível para ajudar, não vamos, querido?

- Claro - disse Remus.

~*~*~

Hermione, que estava trabalhando como estagiária no Departamento de Cooperação Internacional em Magia, foi encontrar-se com Harry no Caldeirão Furado ao final do expediente.

Assim que se instalaram numa mesa com as duas cervejas amanteigadas que haviam pedido, Hermione colocou Harry contra a parede.

- Então, Harry. Qual é o problema?

- Não é exatamente um problema...

- Então o que é, exatamente? - insistiu ela, com um sorriso encantador e impiedoso nos lábios.

- É... Severus, Ginny e eu.

- Hmm. Vocês resolveram assumir.

- Ahn? Então você sabe?

- Harry... - Ela olhou para o teto. - Eu conheço vocês há quase dez anos!

- Oh, Deus. Então você sabe. O que você acha?

- De vocês assumirem?

- Não, não! Nós não vamos assumir. Não tão cedo, pelo menos. O que você acha da situação toda, quero dizer?

Hermione deu de ombros.

- Isso é problema de vocês. Não interfere em nada com a amizade que tenho com você, ou com Ginny. Nem com o relacionamento amistoso e respeitoso que mantenho com Snape. Minha única preocupação é...

- Ron.

Hermione abriu um sorriso irônico.

- É. Ron.

- Hermione, não é só isso. Ginny está grávida.

- Oh!

- De nós dois.

Hermione ergueu ambas as sobrancelhas.

- Como é que é?

- Superfecundação heteropaterna - disse Harry, querendo impressioná-la.

Ela franziu o cenho, como quem se esforça por lembrar de algo.

- Ouvi falar em uma poção, certa vez. Amphitryon, se não me engano. É, Amphitryon.

- É essa mesmo. Severus encontrou a receita, e nós executamos o ritual.

- Mas isso é fenomenal! Isso é realmente impressionante. E... bem, vocês estão em uma tremenda encrenca, não é?

Harry deu de ombros.

- Para variar.

Hermione sorriu.

- Harry vai ser papai! Parabéns!

- Obrigado. Mas como é que vou contar isso a Ron?

Ela ficou pensativa.

- Imagino que você queira que eu conte.

- Você faria isso por mim?

- O que é que eu não faço por você?

~*~*~

Mais tarde, na sala do apartamento de Hermione, em Londres, Ron recebeu as novidades com uma reação bastante previsível.

- Argh! Quer dizer que Harry está dormindo com Snape? Que eca! E minha irmã no meio? Ah, não. Eles não têm nenhuma noção de... sei lá... bom-senso? Decoro? Estética?

- Ron, não seja preconceituoso! - exclamou Hermione.

- Preconceituoso, eu? Não, não é nada disso. É só que... bem, é Snape, né? Não tenho nada contra Harry ser gay. Quer dizer, é meio esquisito, pensar que o seu melhor amigo de infância é gay...

- Você sente a sua masculinidade ameaçada por essa revelação? - perguntou ela, provocando-o.

- Claro que não. É só... estranho.

- De qualquer forma, é um problema deles. Acho que não devemos julgá-los.

- Mas Ginny é minha irmã!

- E daí? Ela já é maior de idade.

Ron deu de ombros. Hermione via que ele não queria dar o braço a torcer, mas estava totalmente sem argumentos.

- Não vai ser lindinho, você ter sobrinhos gêmeos? - disse ela, tentando mudar de tática.

Ron sorriu.

- Espero que sejam meninos.

- Você não tem jeito mesmo...

- Ora, eles já tem Julia. Eu adoro Julia, mas acho que vou me dar melhor com sobrinhos homens - disse Ron, pensativo.

- Tem certeza de que você não é gay? - perguntou Hermione, e teve de se desviar da almofada que o namorado lhe jogou na cabeça.

 

~Fim~

 

 

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Ptyx, Novembro 2006