Schola Obscura

 

Capítulo I

 

A morte inexplicável de Parejo criara um sério problema para o Ministério, pois o Profeta Diário insinuara que Maverick, em seu afã de interrogá-lo, poderia ter exorbitado de suas funções e causado sua morte. Assim, lá estava Harry, lidando em seu primeiro caso importante desde que começara a trabalhar como Auror, sete meses atrás. O Ministério precisava limpar sua imagem, e Robards escolhera Harry para a tarefa.

Harry sentia ao mesmo tempo a responsabilidade pesando sobre seus ombros e orgulho por haver sido escolhido. Durante duas semanas, ele pesquisou a respeito da Schola Obscura em todas as bibliotecas do Mundo Mágico. Longos dias passados entre os livros produziram, no entanto, poucos resultados: as referências ao local eram escassas.

Uma das menções à Schola Obscura que Harry encontrara fora em uma biografia de Michael Scot, famoso mago que trabalhara na corte de Frederico II da Sicília, o Rei Escarlate, no início do século XIII. Nessa obra, diz-se que Scot aprendera tudo o que sabia na Schola Obscura, situada em uma caverna em Salamanca, Espanha. Outras referências, em livros históricos, mencionavam lendas de que os "anjos negros", chefiados pelo próprio diabo - encarnado em um certo Marquês de Villena, segundo algumas versões - ensinavam os seus segredos, em plena Idade Média, em uma caverna em Salamanca.

Harry enviou uma equipe de Aurors ao local em Salamanca conhecido como la Cueva de Salamanca (a caverna de Salamanca). A equipe retornou dizendo que o local estava fechado e não podia ser visitado. De fato, Harry lera que o local havia sido fechado pelos reis católicos, Fernando e Isabel, no século XVI, mas nunca imaginara que ainda permanecesse fechado. Contrariado mas decidido, Harry enviou uma segunda equipe com instruções expressas de que cuidassem para não serem vistos pelos Muggles, mas que entrassem no local. A segunda equipe retornou dizendo que havia entrado na dita caverna, que esta não passava da cripta de uma igreja em ruínas, e que não havia descoberto nada. Não havia sinal algum da misteriosa Schola Obscura.

Harry já estava pensando em ir passar alguns dias em Salamanca para investigar "in loco" quando Remus Lupin, que passara no Ministério para buscar Tonks, aproximou-se de sua escrivaninha.

- Posso lhe dar um conselho sobre o seu primeiro caso importante?

- Claro, Remus!

- Nós dois conhecemos um bruxo que sabe tudo sobre a história e os segredos da Magia Negra. Eu não iria a Salamanca sem conversar com ele primeiro. Eu sei que ele não é fácil, Harry, mas ele nos ajudou a derrotar Voldemort. Talvez haja uma forma de convencê-lo a ajudá-lo. Vá conversar com ele. Ele prepara a Wolfsbane para mim todos os meses, sabia? É verdade que ele cobra, mas cobra menos do que os outros poucos bruxos que a sabem preparar. É uma poção complexa, e requer muito tempo e trabalho.

- Ele cobra a poção de você? É um canalha mesmo.

- Ele mal consegue sobreviver vendendo suas poções. Severus foi inocentado por falta de provas, mas o Mundo Mágico nunca o perdoará. Ele é um homem estigmatizado.

- Eu já fiz o que podia fazer por ele não indo testemunhar contra ele no julgamento. Se eu tivesse ido e contado o que vi, ele teria sido condenado. Ele está colhendo o que ele próprio plantou.

- Vejo que você ainda guarda muito ódio dele. Não se esqueça de que, se não fosse ele, não teríamos conseguido derrotar Voldemort.

- Eu sei, e isso me faz odiá-lo ainda mais. Ele até pode ter matado Dumbledore sob ordens do próprio Dumbledore. Só que isso não anula o fato de que Snape foi o responsável pela morte de meus pais e de Sirius.

- Harry... Nada é assim tão simples. Precisamos conversar um dia, com mais tempo. Agora preciso ir: Nymphadora finge que está bem, mas está bastante cansada. Ela não devia estar trabalhando ainda, no sétimo mês de gravidez.

- Oh, ela parece muito bem, Remus. Não se preocupe.

Harry procurava tranquilizar Remus, mas sabia que uma das marcas deixadas pela guerra era o temor de perder os entes queridos. Harry ainda não conseguira superar a perda de Ginny. Sentia-se culpado, porque Ginny - como fizera sua mãe, quando ele era pequeno - se colocara à sua frente quando Voldemort lançara o Feitiço Mortal sobre ele. Aquele momento ficaria para sempre marcado na alma de Harry. Ele vencera Voldemort, mas apenas devido ao sacrifício de Ginny.

Seus amigos o haviam ajudado muito, também. Seus amigos e inimigos... Sem Snape, Harry não teria conseguido destruir todos os Horcruxes - Harry reconhecia isso. Mas nem por isso deixara de odiá-lo. Seria algo extremamente penoso ter de ir pedir-lhe ajuda.

Harry ficou três dias enrolando, tentando convencer a si mesmo de que não adiantaria nada, que Snape jamais iria ajudá-lo. Mas no quarto dia, como Robards começasse a revelar impaciência pela falta de resultados, a consciência profissional de Harry venceu.

~*~*~

Harry aparatou ao final de uma rua sombria, junto a uma imensa chaminé, que pairava por sobre a rua como uma espécie de obelisco negro. A rua era ladeada por fileiras e fileiras de casas de tijolos dilapidadas e janelas quebradas. Sentiu-se grato por ter decidido vir de dia, durante suas horas de trabalho - aquela rua, à noite, deveria ser ainda mais lúgubre.

Uma lufada de vento trouxe até Harry o cheiro desagradável do rio pútrido.

Então aquela era Spinner's End, e aquela última casa, igual a todas as outras em seu aspecto de abandono, era a casa de Snape.

Reunindo toda a sua coragem Gryffindor, Harry bateu à porta e esperou.

E esperou.

Bateu à porta novamente, desta vez com mais força.

Nada.

Muito bem, pensou. Se é assim que você quer, é assim que vai ser.

Harry sacou a varinha e apontou-a contra a porta. Mas antes que pudesse lançar qualquer feitiço...

- Expelliarmus!

A varinha de Harry voou para longe, caindo sobre a calçada. Harry lançou um olhar fulminante a Snape, que o observava pela janela com seu ar indecifrável. Harry suspirou e invocou sua varinha.

- Accio varinha.

- Expelliarmus!

A varinha hesitou nos ares por mais de um segundo, rodopiou e então caiu novamente ao chão, mais próxima a Harry.

- Escute - disse Harry por entre os dentes -, eu não vim aqui para brincar. Não sei se você sabe, mas eu sou um Auror.

- Estou impressionado, Potter. Estaria tremendo em minhas botas de pele de dragão, se tivesse botas desse tipo. Se não se retirar, posso até ter um colapso nervoso e morrer. Isso, com certeza, criaria ainda mais problemas para os seus chefes.

- Muito engraçado, Snape, mas eu posso prendê-lo por atrapalhar um Auror no cumprimento de seus deveres.

Snape abriu um sorriso de escárnio.

- Isso é em teoria. Na prática, é algo que você precisaria provar.

Harry mordeu o lábio inferior. Aquilo ia de mal a pior, porque, afinal de contas, Harry fora lá para pedir um favor a Snape.

- Eu só quero conversar. É essa a sua hospitalidade?

- Quando alguém está a ponto de tentar invadir a minha casa, você espera que eu simplesmente fique assistindo?

- Por que não atendeu à porta?

- Porque estava ocupado.

- Tudo bem, mas agora você está aqui. Por que não me convidar para entrar, para que eu possa lhe explicar por que vim?

- Não estou interessado.

- Bem, eu não vou embora até que me receba.

Snape estreitou os olhos e apontou a varinha para Harry.

- Você está desarmado, seu idiota.

- E o que você vai fazer? Me matar?

O coração de Harry bateu mais forte. Snape bem que era capaz de lançar-lhe um Imperdoável.

Snape fez uma careta de impaciência.

- Você continua o mesmo: teimoso e desatento. Entre. A porta está aberta.

Harry ia invocar sua varinha, mas Snape já fizera isso por ele, e estava agora girando-a entre dois dedos.

Maldito morcego seboso. Se Harry não precisasse da ajuda dele, não teria ficado tão vulnerável. E agora estava mais vulnerável do que nunca: na casa de seu inimigo e sem sua varinha.

O lado otimista de Harry insistiu em lhe dizer que ele conseguira o que queria: entrar na casa de Snape. Mas essa não parecia uma vitória que valesse a pena comemorar.

~*~*~

Harry abriu a porta com cuidado e entrou direto em uma minúscula sala de estar. As paredes eram cobertas de livros velhos. Tudo ali era velho, aliás: o sofá, a poltrona, a mesa, a luminária que pendia do teto.

Snape continuava junto à janela.

- Vá falando de uma vez.

- Não vai me convidar a sentar?

- Ousa me cobrar polidez, tendo praticamente invadido minha casa?

- Polidez? Oh, não, longe de mim esperar isso justo de você!

- Potter, tome cuidado. Eu não vou aceitar desrespeito da sua parte.

Harry respirou fundo. Tinha de ser diplomático.

- Tudo bem. Não é só questão de polidez, sabe. É que eu tenho uma história longa a lhe contar, e você mesmo vai ficar mais confortável se puder se sentar.

- Se quiser se sentar, sente-se, mas comece logo. Tenho trabalhos a fazer. Não sou funcionário público, vivendo às expensas da população.

Harry fingiu ignorar o insulto e sentou-se devagar no sofá, temendo que este desabasse - a estrutura não parecia muito firme. Snape sentou-se na poltrona em frente ao sofá desconjuntado.

- Eu vou direto ao assunto, para não tomar seu precioso tempo. - Harry engoliu em seco, pensando que, se se esforçasse ao máximo, talvez conseguisse engolir o próprio orgulho. - Na verdade, vim, em nome do Ministério.

Snape girou a varinha de Harry nos ares, com uma expressão de triunfo.

- Ora, ora. Isso está saindo melhor do que a encomenda.

Harry se esforçou por ignorar a provocação.

- Você leu no Profeta Diário sobre a morte de Alfonso Parejo, imagino.

- Tsc, tsc. Parece que um de seus colegas cometeu um deslize, não foi? Como é mesmo o nome dele? Maverick?

- Parejo estava obtendo vantagens pessoais enfeitiçando as pessoas.

- Que feitiço ele usava? Imperius?

- Era um tipo de feitiço hipnotizante. As vítimas não percebiam que haviam sido enfeitiçadas.

- Interessante...

- Maverick interrogou o sujeito, e ele mencionou que pertencia a uma tal de Schola Obscura.

Snape aprumou-se na poltrona, nitidamente interessado.

- Mesmo? E... o que mais ele disse?

- Mais nada! Quando Maverick tentou saber mais, Parejo caiu ao chão, morto.

- Com certeza ele havia feito um Voto Perpétuo jurando segredo à organização. Quando estava prestes a revelar o segredo, morreu.

- Você conhece essa organização?

- Afinal, o que você quer de mim? - contra-atacou Snape.

- Eu venho pesquisando há mais de duas semanas, e tudo o que descobri é que havia uma Schola Obscura em uma caverna em Salamanca na idade média, e que Michael Scot aprendeu magia negra por lá com os tais de anjos negros, vindos do mundo dos mortos. Enviei equipes para essa caverna, que na verdade parece que é apenas a cripta de uma igreja em ruínas, mas elas voltaram dizendo não haver encontrado nada lá. Pensei que você, como especialista em Artes das Trevas, poderia... me ajudar a desvendar esse mistério.

Os lábios de Snape se curvaram em um esgar.

- Entre todos os Aurors, enviaram justo você para vir me pedir ajuda?

- Er, não. Eu fui encarregado do caso, e fui eu que decidi vir.

- Ah. Encarregaram você desse caso! Você está trabalhando há quanto tempo no Ministério, seis meses?

- Sete meses e meio.

- Sinto lhe dizer, mas seus chefes, além de incompetentes, são loucos. Ou talvez achem que, como você é o Menino-Que-Sobreviveu, tem poderes especiais. Será que eles não fazem idéia do perigo que isso representa? Um grupo de bruxos das trevas em comunicação com o mundo dos mortos?

- Veja, não adianta nada você me dizer isso. Eu sei que...

Snape o interrompeu.

- Eu sei por que escolheram você! Acham que você, com a sua popularidade, vai ganhar a simpatia das pessoas e limpar a imagem do Ministério.

- Não estou preocupado com isso. Quero resolver o caso. Vai me ajudar ou não?

- Provavelmente você acha que eu deveria estar grato a você, por não ter comparecido ao meu julgamento. Nunca entendi a sua ausência, mas tenho certeza de que não foi por preocupação com o meu bem-estar.

Harry tentou se lembrar do motivo pelo qual não fora. A verdade era que, naquele momento, a perda de Ginny fizera com que ele se desinteressasse completamente do Mundo Mágico e dos seus problemas. Durante três meses, ele vivera mergulhado no desespero e na depressão.

- Isso não vem ao caso. Não estou lhe pedindo um favor pessoal.

- Eu não devo nada ao Ministério. Talvez ache que eu deveria estar grato ao Ministério por não estar em Azkaban agora? Com certeza não é assim que vejo a situação. Eles me julgaram publicamente, me espezinharam, cassaram a minha licença de professor, me condenaram a essa existência de pária que eu levo aqui.

Harry não podia dizer que se surpreendia. Na verdade, não esperava nada diferente de Snape. O canalha seboso era tão egoísta que só conseguia ver seu lado da questão. O jeito era tentar barganhar.

- Eu posso tentar... com a minha influência... se você ajudar e se eu conseguir resolver a situação... conseguir uma medalha da Ordem de Merlin para você.

- Ah, a Ordem de Merlin. Primeira classe: não vou me vender por menos. Fico muito emocionado - disse Snape, em tom sarcástico. Então ele parou e pareceu refletir por um instante. - Sabe de uma coisa, Potter? Não tenho nada a perder. Vou resolver esse caso para você. E quando for receber essa medalha, na frente de todos os políticos e jornalistas, eu vou cuspir nela.

Harry franziu o cenho. Depois deu de ombros.

- Se é o que quer fazer...

- Eu tenho uma condição, no entanto.

Lá vem a bomba, pensou Harry.

- Diga.

- Eu vou estar no comando. Você fará tudo o que eu mandar.

- Mas... como assim? O que vamos fazer? Eu preciso saber.

- Nós vamos a Salamanca. Iremos até a Cueva investigar o local. Mas eu conduzirei toda a ação.

- Por que isso?

- Muito simples, Potter: eu não confio em você.

Não era nenhuma surpresa, mas nunca era agradável ouvir algo assim, nem mesmo da pessoa a quem Harry mais odiava no mundo.

- Os sentimentos são recíprocos - retrucou Harry, por entre dentes cerrados.

- Muito bem, então. Devo lhe dizer que a idéia de ser financiado pelo Ministério me desagrada profundamente, mas não tenho condições financeiras para me hospedar em Salamanca. E, com certeza, precisaremos passar no mínimo dois dias por lá.

- Eu vou falar com meu chefe. Eles pagarão a hospedagem.

- Então está combinado. Reserve os lugares em um hotel e volte aqui depois de amanhã, à mesma hora.

- Er... A minha varinha?

- Ah sim. Vou ser tolerante, desta vez - disse Snape, estendendo-lhe a varinha.

~*~*~

Harry não se sentia nada à vontade. Aquela era uma parceria fadada à catástrofe. Obviamente Harry não iria cumprir o acordo de seguir qualquer ordem que Snape desse. Só prometera isso para fazer com que Snape concordasse em ajudá-lo. Mas se Snape quisesse que Harry fizesse algo de que Harry discordasse, é claro que Harry não iria fazer.

Embora soubesse que aquilo tinha tudo para dar errado, Harry não tinha nenhuma outra alternativa. Robards, que estava cada vez mais impaciente, vibrou quando Harry anunciou que iria pessoalmente a Salamanca.

Um problema inesperado se apresentou quando Harry tentou reservar um quarto em algum hotel de Salamanca: estavam todos lotados, devido à Páscoa, que havia sido na semana anterior, e a uma tal de festa das "Lunes de Aguas", na segunda-feira da semana seguinte. Tonks lhe sugeriu que ele tentasse um hotel em alguma vila próxima a Salamanca. Depois de mais três tentativas, Harry conseguiu um quarto (e só um!) na pequena vila de San Isidro, a apenas cinco quilômetros de Salamanca, às margens do rio Tormes.

Na tarde de sexta-feira, Harry colocou um pijama, uma camiseta, três cuecas e três pares de meia na mochila, vestiu um jeans básico, camiseta branca, um suéter feito por Molly por cima e tênis, despediu-se de Hedwig, enviando-a a Hermione, fechou sua pequena casa em Hogsmeade e, na hora marcada, aparatou novamente em Spinner's End.

Desta vez, Snape abriu-lhe a porta prontamente. Harry levou um susto ao vê-lo vestido como Muggle: calças de veludo negro e um pulôver de cacharel felpudo, com gola alta, também preto. Por um instante, Harry não pôde deixar de admirar a elegância de Snape e as linhas esguias de seu corpo.

Snape fitou-o com estranheza e Harry sentiu o sangue subir ao rosto ao perceber que Snape notara o modo como ele o observara.

- Você está pronto? Podemos ir? - perguntou Snape, parecendo impaciente.

- Podemos, mas eu... tenho uma coisa pra lhe dizer.

- O que é?

- É que, como eles têm um feriado local na segunda-feira, eu não consegui lugar em nenhum hotel em Salamanca. Tive de reservar um quarto numa pousada de uma vila próxima, a uns cinco quilômetros.

- E qual é o problema?

- É que eles só tinham um quarto vago.

- Ah. Detesto ser repetitivo, mas... isso é um problema... por quê?

- Ahn, er, não, se você não acha que é problema, tudo bem.

- Você pediu um quarto com duas camas?

- Claro.

- Escute, Potter, se você se sente ameaçado pelas minhas preferências sexuais, eu...

- Não! Quer dizer, por que, você é gay? - Harry notou que a paciência de Snape parecia por um fio. Desta vez, por mais que quisesse, não podia culpá-lo. Harry percebia que estava lidando muito mal com a situação toda e que tudo ficava cada vez pior. - Não, não precisa responder. Não tem nenhum problema.

- Então vamos embora. Você tem um mapa da localização da pousada?

- Tenho. - Harry abriu a mochila e retirou o mapa. - Fica aqui. Em San Isidro de Tormes.

~*~*~

Nota: San Isidro de Tormes é um lugar fictício.

 

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Ptyx, Junho/ 2006