Parte I

 

Logo o castelo todo estava sabendo da nova profecia de Sybill Trelawney, e as especulações mais estapafúrdias eram tecidas por professores e alunos. Minerva sabia que teria de convocar uma reunião com os professores para discutir o assunto, mas preferiu primeiro conversar - não com seu Vice-Diretor, que era o bom e velho amigo Filius -, mas com Severus Snape, que só não era seu Vice-Diretor porque o casamento com Harry o impedia de exercer um cargo que o colocasse em posição de liderança em relação ao marido.

- Severus - disse Minerva, recebendo Severus em seu escritório e convidando-o a sentar-se diante de sua escrivaninha -, o que você acha disso tudo?

- Você sabe o que eu penso de Sybill e de seus dons.

- Sem dúvida. Nesse ponto, como em vários outros, sempre estivemos de acordo. Mesmo assim, creio que é uma situação delicada - Minerva suspirou. - Afinal, por duas vezes as profecias de Sybill se revelaram genuínas.

- Discutível. Albus sempre dizia que a profecia envolvendo o Lord das Trevas só se cumpriu porque Voldemort acreditou nela - replicou Severus.

- Seja como for, sou responsável pelo bem-estar e integridade dos alunos, funcionários e patrimônio de Hogwarts. Não posso simplesmente ignorar uma profecia relativa a um roubo, pois, se ocorrer tal roubo, serei crucificada - disse Minerva com certa impaciência. - Todos estão dizendo que o Graal será roubado. Você sabe a importância simbólica que tem o Graal para todos nós...

- Você tem razão. Se o Graal cair nas mãos de um Bruxo das Trevas, ele poderá se valer disso para arregimentar seguidores. Já passamos por tudo isso e não queremos passar de novo! Creio que devemos reforçar a guarda sobre a Câmara dos Segredos e sobre a Sala do Graal* - disse Severus, pensativo.

- Certo. Isso será feito - disse Minerva.

- Sugiro, também, que a Sala Precisa seja bloqueada. Não é possível termos segurança se não bloquearmos o acesso a essa Sala. Quase todos os alunos já sabem de sua existência, e aquilo está se transformando em uma fonte de baderna. Sugiro também que bloqueemos as seis passagens secretas já não tão secretas que ainda não foram bloqueadas. De resto, devemos continuar fazendo o que sempre fizemos: ficar de olhos bem abertos e vigilantes.

- Perfeito. Vou pensar em outras providências para aumentar a segurança do castelo, especialmente à noite. Posso contar com a sua colaboração e a de Harry para a vigilância sobre a Câmara dos Segredos?

- De minha parte, sim. Quanto a Harry, creio que não devemos sobrecarregá-lo, já que deve estudar para seus NIEMs.

- Oh, sem dúvida, Severus, mas... ele é o único que tem acesso ao local.

- Vou conversar com ele.

~*~*~

Uma semana depois, Minerva, após o café da manhã no Grande Salão, entrou em seu escritório e dirigiu-se à escrivaninha para iniciar mais um dia de trabalho. Logo percebeu que não iria ter um dia de trabalho normal, contudo: a espada de Gryffindor, que costumava ficar em uma caixa de vidro em um armário junto à escrivaninha, desaparecera.

Ela ergueu os olhos para os retratos.

- Albus? Armando? Phineas? Fortescue? Everard? Vocês viram quem tirou a espada de Gryffindor desta sala?

Os retratos a fitaram com ar espantado e sonolento.

- Minerva - disse o retrato de Albus Dumbledore -, sinto lhe dizer que não vi nada. Mas não fique agitada. Tenho certeza de que tudo irá se resolver da melhor maneira possível.

Ela teria de suspender as aulas e chamar uma reunião imediata com todos os professores. Afinal, só os professores tinham a senha daquela sala.

~*~*~

Os treze professores de Hogwarts estavam reunidos com Minerva na Sala dos Professores.

- Senhoras e senhores - iniciou Minerva -, infelizmente ocorreu algo de muito grave neste castelo. A espada de Gryffindor foi roubada da Sala da Diretoria.

Um murmúrio de surpresa se espalhou pela sala.

- Num é possivi! - exclamou Hagrid, sacudindo a grande cabeça cabeluda. - Num dá nem pra acreditá! A espada de Gryffindor. Quem ia fazê uma coisa dessa?

Então todos começaram a falar ao mesmo tempo - exceto Binns, que olhava ao redor com uma expressão de estranheza, como se fosse o único são no meio de um bando de loucos.

- Por favor, vamos manter a ordem - disse Minerva. - Eu os chamei aqui porque só vocês tinham, ou só vocês deveriam ter, a senha da Sala da Diretoria. Se alguém tem alguma informação importante a este respeito, peça a palavra. - Minerva estremeceu ao ver Sybill pedir a palavra, mas não podia impedi-la de falar. - Professora Trelawney?

- A profecia se cumpriu! Nem todos aqui presentes acreditaram, e nem todos tomaram providências para que essa fatalidade não viesse a ocorrer - sentenciou ela.

- Se era uma fatalidade - disse Severus, erguendo uma sobrancelha -, não vejo como poderíamos tê-la impedido. Nós cometemos um erro: pensamos que a profecia se referisse a outra relíquia que se encontra no castelo e centramos nossas defesas ao redor dela. Mas nem por isso deixamos o castelo desabrigado. O que ocorreu aqui foi uma quebra de confiança. A Diretora confiou em todos os que estão nesta sala, e alguém traiu essa confiança.

- Ora, se há alguém que não pode falar em traição, é você, Snape - disparou Vector. - Até agora muita gente não sabe de que lado você estava nas duas últimas guerras.

- É verdade, mas Severus não é o único aqui com um passado obscuro - comentou Wyrd, olhando para Sinistra, depois para Slughorn, depois para Remus e, enfim, para Fence.

Rolanda deu uma cotovelada em Pomona e disse algo baixinho em seu ouvido. Fence parecia incomodado.

- Pessoal, vamos manter a objetividade - disse Remus. - Este não é o momento para esse tipo de discussão.

- Acalmem-se - disse Minerva. - Não os chamei aqui para discutirmos nossas divergências e expormos nossos rancores pessoais. O que eu quero saber é se alguém viu ou ouviu algo que possa nos conduzir à espada de Gryffindor ou ao culpado por esse roubo.

Fez-se silêncio no recinto, até Vector pedir a palavra.

- Pode falar, Professora Vector - disse Minerva.

- Não sei nada a respeito desse roubo. Mas é uma ocorrência muito grave, e sugiro que o Ministério da Magia seja informado imediatamente.

- A minha esperança é que possamos resolver o caso entre nós - respondeu Minerva. - Vou suspender as aulas de hoje. Como já vínhamos fazendo, só com a minha autorização alguém poderá sair, entrar, enviar cartas pelas corujas ou ativar o sistema de Flu para comunicações externas.

- Oh, que pena! - exclamou Slughorn. - Eu ia receber esta noite a visita da adorável Melinda Bobbin. Não sei se vocês sabem que a família dela é dona de uma cadeia de farmácias...

Pomona empertigou-se.

- Uns exploradores, é o que eles são. Sabe o quanto eles cobram por um bobotuber? É uma vergonha.

- Por favor, Professora Sprout. Sinto muito, Professor Slughorn. Tudo isso vai ter de esperar - disse Minerva. - Os Chefes das Casas serão encarregados de revistarem as dependências e dirigirem as investigações em Casas que não sejam as suas. O professor Snape revistará Gryffindor; o professor Lupin revistará Slytherin; o professor Flitwick, Hufflepuff; e a professora Sprout, Ravenclaw. Se isso não der resultado, e se até o final do dia não tivermos recuperado a espada nem descoberto quem a roubou, avisarei o Ministério.

~*~*~

Minerva viu seus planos naufragarem poucos minutos depois, quando Scrimgeour entrou em contato com ela pelo Flu.

- Diretora, fomos informados de que a espada de Gryffindor foi roubada. Esse é um assunto de extrema gravidade. Estamos enviando de imediato uma Comissão de Investigação ao castelo.

Minerva sentiu o sangue subir-lhe à cabeça. Alguém havia dado com a língua nos dentes. Outra traição. E agora o Ministro não lhe pedia licença, apenas a informava de sua decisão, como se Hogwarts tivesse de se submeter às decisões dele.

- Rufus, não creio que seja um assunto tão grave que seja preciso mobilizar o Ministério. Esse é o tipo de problema da competência da administração de Hogwarts, e creio que podemos resolvê-lo sem a interferência do Ministério.

- Infelizmente, precisaremos intervir. Recebemos graves denúncias, que precisam ser investigadas de imediato.

- Que denúncias são essas? E quem foi que as fez? - perguntou Minerva.

- Essas informações são absolutamente sigilosas.

Minerva suspirou. Aquilo era uma arbitrariedade. Mas o que ela poderia fazer? Enfrentar o Ministério? Talvez fosse melhor não resistir, por hora. Quando eles chegassem, ela tentaria obter mais informações.

~*~*~

A Comissão de Investigação era formada por quatro Aurors, chefiados pelo sr. Neil Nulligan.

Minerva os recebeu com fria polidez e mostrou-lhes o local do crime.

- Vocês aí - Nulligan se dirigiu bruscamente aos retratos. - Quais de vocês estavam acordados quando o roubo ocorreu?

- Er... - disse um dos retratos da parede dos fundos, no canto direito superior. - Eu estava.

Minerva franziu o cenho. Skocpol não era de falar muito, mas nunca lhe criara problemas. Por que não lhe dissera antes que vira o culpado?

- Muito bem - disse Nulligan. - E você viu quem roubou a espada?

- Vi.

- Ora, Skocpol, por que não disse logo? Quem foi? - perguntou Minerva.

Um silêncio sepulcral se fez no recinto enquanto os quatro Aurors e Minerva esperavam que o velho magrinho, de cabelos grisalhos e nariz curvo falasse.

- Foi... foi a senhora, Diretora McGonagall!

- Isso não é possível! - exclamou Minerva.

Nulligan estreitou os olhos para ela, depois se voltou novamente ao retrato.

- Descreva as ações dela.

- Ela entrou na sala, no meio da noite. Aí ela se aproximou da caixa de vidro contendo a espada, levantou-a, colocou-a embaixo do braço e saiu da sala carregando a caixa. Foi só o que vi.

- Isso é um absurdo - disse Minerva. - Não sei o que está acontecendo aqui. Só o que posso dizer é que não fui eu quem roubou a espada de Gryffindor.

- Tem certeza de que foi a Diretora que você viu? - insistiu Nulligan.

- Ora, tenho! - respondeu Skocpol. - Eu a vejo todos os dias! Era ela.

~*~*~

As aulas foram retomadas, porque Nulligan achava que era melhor manter os alunos ocupados enquanto as investigações prosseguiam. Para manter controle sobre as aulas externas (era preciso revistar todos os que saíam do castelo), Nulligan mandou chamar mais dois Aurors, apenas para a vigilância. Minerva foi expulsa de sua residência e escritório e voltou a seus antigos aposentos no primeiro andar, que ninguém ainda ocupara, e que foram minuciosamente revistados antes de sua volta.

A Comissão de Investigação se instalou confortavelmente no castelo, com seus ocupantes ocupando quartos e escritórios para poderem desenvolver seus trabalhos, e eram eles agora que cuidavam das comunicações e da proteção de Hogwarts, inclusive das diversas senhas usadas dentro do castelo.

O castelo todo foi revistado à procura da espada ou de pistas que levassem ao ladrão. Ao final do primeiro dia de buscas, pelo que Minerva observou, aparentemente nada significativo havia sido encontrado. Era um grande mistério. Desde a nova profecia de Trelawney, Minerva havia dado ordens expressas para que todas as vassouras do castelo fossem guardadas no armário de vassouras à noite. Todas as noites, ela contava as vassouras e aplicava um feitiço inviolável sobre o armário. Na manhã após o roubo, quando ela abrira o armário, as vassouras estavam todas lá dentro. As portas do castelo também eram seladas pela própria Minerva à noite, e pela manhã ela removia o feitiço. Quanto às sete passagens já não tão secretas que levavam para fora do castelo e a Sala Precisa, todas haviam sido bloqueadas.

Ou seja, ou a espada ainda continuava dentro do castelo, ou o ladrão saíra do castelo por uma passagem ou um meio realmente secretos.

Na verdade, quando se dizia que todo o castelo fora revistado pela Comissão do Ministério, isso não era uma informação exata. Naturalmente, a Câmara dos Segredos era inacessível a eles. A Comissão precisou confiar na revista efetuada por Harry Potter. Harry afirmou haver percorrido cada centímetro da Câmara, entrando, inclusive, na Sala do Graal, e ter encontrado tudo em perfeita ordem - sem nenhum sinal da espada de Gryffindor.

Além da Câmara dos Segredos, havia um objeto que não fora revistado: o baú do novo professor de Estudos Muggle, Jonathan Fence. Esse baú já era famoso entre os professores, funcionários e alunos do castelo, pois o professor se recusava a abri-lo, afirmando que ali estava guardado um objeto encantado, que lhe conferia um poder especial, mas que, se retirado do baú, poderia matar a todos as pessoas que se encontrassem em um raio de cinco quilômetros. Jonathan não só não permitia que ninguém se aproximasse do baú como resolvera montar guarda sobre ele, não saindo mais de seu quarto. Esse detalhe deixara Nulligan muito irritado, certamente porque atrapalhava suas investigações, mas o Ministério, obviamente, não podia correr o risco de provocar uma catástrofe daquele porte. A solução havia sido manter o professor sob a vigilância de um Auror.

Minerva já havia repetido todos os detalhes de que se lembrava dos últimos dias, diversas vezes, para a Comissão de Investigação. Mas naquela noite, em seus aposentos particulares, como soubesse que não conseguiria dormir, pegou um pergaminho e uma pena e começou a listar os suspeitos e seus possíveis motivos, lembrando-se de seus últimos encontros com eles.

Até onde ela soubesse, apenas os professores tinham a senha da sala da Diretoria. E a própria sala não deixaria um intruso entrar - havia proteções especiais para isso. Isso reduzia os suspeitos aos professores e aqueles a quem eles pudessem ter revelado a senha. Nem todos os professores eram suspeitos, contudo. Hagrid não dormia no castelo, e Minerva havia visto ele e Olympe seguindo para sua cabana na hora em que Minerva fora fechar as portas do castelo, à noite. Em seguida, Minerva passara por seu escritório, e a espada, com certeza, estava no lugar de sempre. Quanto a Binns, sendo um fantasma, não tinha condições de roubar uma espada. Minerva listou metodicamente os suspeitos em ordem alfabética de sobrenome. Em nome da completude, incluiu seu próprio nome, mesmo sabendo que não era culpada.

Jonathan Fence
Filius Flitwick
Rolanda Hooch
Remus Lupin
Minerva McGonagall
Aurora Sinistra
Horace Slughorn
Severus Snape
Pomona Sprout
Sybill Trelawney
Septima Vector
Hildr Wyrd

 

A maioria dos professores de Hogwarts não era casada, ou seus cônjuges não residiam no castelo, mas havia dois cônjuges morando no castelo e que, por serem de sua confiança, conheciam a senha também:

Sirius Black
Harry Potter

 

Minerva suspirou. A inclusão de Harry Potter no rol dos suspeitos tornava o caso ainda mais explosivo. Os jornais adoravam estampar manchetes com o nome do Menino Que Sobreviveu.

Mais uma razão para ela tentar se concentrar e relembrar tudo o que pudesse ajudar a esclarecer aquele mistério.

O que mais a intrigava era o fato de o retrato dizer que havia sido ela a autora do roubo. Isso era ridículo. Obviamente, alguém havia se feito passar por ela. Não poderia ter sido uma mera Transfiguração. Um bom transfigurador consegue copiar alguns elementos - o nariz, o cabelo -, mas não o corpo todo de uma pessoa. É claro que o retrato poderia não ser muito observador, mas, mesmo assim, Minerva não conhecia ninguém entre os suspeitos que fosse um transfigurador assim tão bom - com a exceção de Sirius Black, talvez. Um Metamorphmagus poderia tê-lo feito, mas Tonks era a única Metamorphmagus que ela conhecia. Mesmo que Tonks fosse a culpada, ela precisaria ter um cúmplice dentro do castelo - um dos professores teria de ter-lhe contado a senha. Era uma hipótese fantástica demais.

O mais provável era que alguém houvesse usado Polissuco. Nesse caso, os professores de Poções, Severus e Slughorn, seriam os maiores suspeitos. Severus e Slughorn trabalhavam de modo totalmente independente - cada um tinha sua sala de aula própria; Minerva teria de conversar com cada um separadamente. No entanto, todos os professores na lista de suspeitos eram capazes de fabricar uma Poção Polissuco, tendo os ingredientes. Obter um fio de cabelo ou algum outro item corporal de Minerva não seria nada difícil, também. Afinal, ela tinha contato próximo com todos os seus comandados e sempre os recebia em sua sala.

Minerva tentou se lembrar das conversas que tivera com cada um dos suspeitos no dia anterior e atentar para qualquer detalhe estranho que houvesse lhe passado despercebido.

Havia passado um longo tempo conversando com Rolanda sobre Quadribol em seu escritório, mas isso não era nada estranho - as duas eram boas amigas e fãs do esporte.

Vector viera incomodá-la querendo licença e patrocínio para participar de um Congresso de Aritmânticos na Ucrânia. Ela havia negado, pois esse congresso aconteceria em plena época de aulas, e Hogwarts não tinha um professor substituto para aquela matéria. Os alunos não podiam ficar sem aulas. Os Aritmânticos que escolhessem melhor as datas para seus congressos! Vector ficara zangada, e ela era uma pessoa bastante estranha. Mas daí a achar que ela roubaria a espada de Gryffindor... havia uma longa distância.

Severus e Remus, fora de seus períodos de aula, haviam passado toda aquela semana revezando-se, juntamente com Sirius, na proteção ao Graal. Minerva não tinha queixas a esse respeito: o Graal, segundo Harry, continuava onde deveria estar - o que era uma grande ironia, considerando-se que, o tempo todo, eles haviam pensado que era o Graal que estava sob ameaça. Minerva não conseguia se lembrar de nada estranho no comportamento de Severus, Remus, Harry ou Sirius. Mas é claro que um bom investigador não os inocentaria automaticamente.

Slughorn havia dado uma de suas festinhas em seus aposentos. Minerva dera uma rápida passada na festa para provar do vinho - Slughorn sempre servia os melhores vinhos! Durante a festa, Sybill, totalmente bêbada, esbarrara nela e ficara lhe falando sobre algo que vira em sua bola de cristal - um cometa que iria passar, prenúncio de grande catástrofe, é claro. Minerva estava pensando, seriamente, em mandar interná-la no departamento de reabilitação alcoólica de São Mungo por uns tempos: Sybill estava começando a se tornar inconveniente. Como se Sybill não bastasse, Sinistra também a importunara, insistindo mais uma vez em seu pedido de novos telescópios para as aulas de Astronomia. Minerva ficara de analisar a questão - como sempre fazia. Mas nada disso representava uma quebra de rotina: Slughorn sempre promovia festinhas, Sybill sempre estava bêbada e prevendo catástrofes e Sinistra sempre lhe fazia pedidos impossíveis.

Além do mistério do roubo da espada, havia ainda um outro a atormentá-la: quem havia informado o Ministério e, ainda mais misterioso, como? As comunicações em Hogwarts haviam sido completamente bloqueadas assim que Minerva soubera do roubo: o Flu estava desativado para comunicações externas a partir de Hogwarts, e Filch cuidava para que nenhuma coruja fosse enviada sem a permissão expressa da Diretora.

Minerva estava cansada e não se lembrava de mais nenhum detalhe fora do comum a respeito dos outros professores. Todas aquelas reflexões não a haviam levado a lugar algum. Ela achou que era melhor pegar um livro e ir para a cama, à espera do improvável sono.

~*~*~

Como o Ministério não podia mandar prender Minerva apenas com base no depoimento de um retrato que a vira retirar a espada do escritório, a Comissão deixou que Minerva retomasse seus afazeres como diretora. No entanto, como a sala da Diretoria estava interditada e vigiada dia e noite, Minerva tinha de se contentar em usar o velho escritório - sem ter acesso aos arquivos da escola. Além disso, as investigações continuavam, em pleno castelo, com professores e funcionários sendo interrogados, vigiados e tendo suas vidas escrutinadas.

No segundo dia após o roubo da espada, à tarde, Severus entrou na sala de Minerva sem bater nem pedir licença. Ela entendeu que ele agia assim porque queria aproveitar um momento em que ela não estava sendo vigiada. Severus fechou a porta e aproximou-se da escrivaninha onde ela estava sentada.

- Harry me contou que Slughorn ensinou a Poção Polissuco há uma semana. Slughorn disse aos alunos que, embora essa poção houvesse sido ensinada no sexto ano, era bom revê-la, pois ela costuma ser tema dos NIEMs. A poção ficou a semana toda na sala dele de poções, sem nenhuma proteção especial. Qualquer um poderia ter retirado uma garrafa do caldeirão e acrescentado o ingrediente pessoal.

- Severus, você está fazendo uma investigação pessoal do caso? Eu preferia que você não se envolvesse.

Ele lançou-lhe um olhar intenso, como que lhe dizendo que não a iria abandonar.

- Preciso ir. Falo com você assim que tiver novidades - disse ele, antes de dar um de seus giros dramáticos e sair da sala.

Minerva não pôde deixar de sorrir. Severus era um amigo fiel.

~*~*~

O quarto dia foi marcado por uma notícia bastante exótica: apesar de a sala da Diretoria estar sendo vigiada dia e noite, na noite anterior um estranho objeto surgira junto ao local onde costumava ficar a espada de Gryffindor: um nenúfar pairando, imóvel, nos ares. O pessoal da Comissão de Investigação tentara retirá-lo dali, mas não conseguira. Ao que tudo indicava, um Feitiço Paralisante Permanente havia sido aplicado a ele. O Auror ficara tão assustado que pedira para ser removido da função. Nada disso havia sido informado pela Comissão; não obstante, todo mundo no castelo comentava o caso em detalhes. Os boatos pareciam ser procedentes, pelo que Minerva observou, pois o Ministério realmente substituíra o Auror e colocara dois outros em seu lugar.

~*~*~

No quinto dia, um novo boato se disseminou pelo castelo: apesar de a vigilância do castelo ter sido redobrada, um velho elmo aparecera na Sala da Diretoria. Um dos Aurors de plantão no escritório teria dito que era como se o elmo houvesse surgido do nada e ficasse pairando no ar junto ao nenúfar, sem que ninguém conseguisse tirá-lo dali.

Minerva foi até a galeria de armaduras do terceiro andar e verificou a falta de um elmo. Comunicou o fato a Nulligan, que admitiu a ela as aparições do nenúfar e do elmo, além de revelar-se extremamente irritado pelo fato de todo o castelo estar comentando aquilo quando eles, da Comissão, não haviam divulgado nada.

Outro boato que se espalhou pelo castelo naquele dia foi o de que o pai de Sinistra havia apoiado Grindelwald, e de que ela poderia ter vínculos com grupos ligados às Artes das Trevas. Minerva se surpreendeu com a informação, mas refletiu que, provavelmente, Albus sabia disso quando contratara a professora de Astronomia. Se Minerva pudesse entrar em seu escritório, perguntaria isso ao retrato de Albus. Como não podia, Minerva limitou-se a registrar mentalmente esse novo dado. A verdade era que vínculos com grupos das Trevas não bastavam para explicar o que estava acontecendo. Ninguém conseguia explicar, por exemplo, como era possível fazer coisas aparecerem na Sala da Diretoria. Minerva não estava gostando nada daquilo. Ela, na verdade, sabia de alguém que podia entrar na Sala da Diretoria quando quisesse. Mas era uma pessoa da qual ela preferia não suspeitar.

~*~*~

No sexto dia, sábado, o boato que correu pelo castelo foi o de que a pluma do elmo havia se juntado ao elmo na Sala da Diretoria. As misteriosas aparições eram o único assunto discutido nos corredores do castelo.

À tarde, Filius bateu à porta do escritório provisório de Minerva. Ela disse-lhe que entrasse. Ele não se sentou, nem ela insistiu para que se sentasse: ele era baixinho demais para que pudessem conversar sentados com uma escrivaninha entre eles!

- Você parece preocupado - comentou ela, para estimulá-lo a falar.

- Eu estava pensando... O pessoal da Comissão de Investigação mudou a senha da Sala da Diretoria e não a contou a nenhum de nós. Como é que esses objetos estão aparecendo lá dentro?

- Isso é o que todos estão se perguntando. Você tem alguma idéia?

- Minerva, você e eu sabemos que há modos de se ficar invisível...

- Oh, Filius, eu nunca dominei essa habilidade! O velho Albus tinha esse dom, mas... não conheço mais ninguém que o tenha.

- Uma pessoa que disponha de uma Capa de Invisibilidade poderia escutar a senha e usá-la mais tarde para entrar lá dentro.

Minerva franziu o cenho.

- A única pessoa que conhecemos que possui uma... está acima de suspeitas, não está?

Filius suspirou.

- Acho que tem razão. Desculpe por importuná-la com minhas conjecturas inúteis.

- Não fique assim. Todos estamos nervosos. Vamos até a cozinha ver se eles nos preparam uma soda com xarope de cereja?

O rosto de Filius se abriu num sorriso esperançoso.

- Com gelo e um guarda-sol?

~*~*~

No domingo, o sétimo dia desde o roubo, até os elfos-domésticos estavam comentando sobre a bela tapeçaria, mostrando um lago com um bote e salgueiros à margem, que fora pregada em uma das paredes da Sala da Diretoria. Diziam os boatos que o próprio Nulligan estava de guarda na sala quando a tapeçaria "aparecera", mas não conseguira agarrar o suspeito.

Um minucioso exame no castelo - por parte da Comissão de Investigação e testemunhado por Minerva - revelou que a famosa tapeçaria em que Barnabás, o Amalucado, ensinava trolls em tutus a dançar havia desaparecido do local onde costumava ficar, no sétimo andar. Minerva teve de conter um riso entre divertido e histérico.

Nulligan, já sem o mesmo ânimo e altivez dos primeiros dias, resmungava pelos cantos.

- Que significado pode ter isso? Será um ato terrorista de um grupo anti-trolls? Ou algum preconceito contra dançarinos?

O professor Fence continuava não desgrudando de seu baú; à noite, colocava-o sob sua cama. Minerva destacara um elfo-doméstico para levar-lhe as refeições no quarto e distribuíra os horários de aula dele por todos os outros professores com algum conhecimento do mundo Muggle.

Ao final do dia, Minerva foi até as dependências que estavam sendo ocupadas pela Comissão de Investigação. Nulligan a recebeu no escritório, onde estava reunido com um de seus assessores - um homem forte, sorridente e de nariz vermelho, chamado Tadg Fortescue.

- Então, senhores? - disse Minerva, aproximando-se da escrivaninha de Nulligan. - Já estamos no sétimo dia de investigações. Fizeram algum progresso?

Nulligan soltou um suspiro audível.

- É um caso muito complicado. Eu estava justamente comentando aqui com o sr. Fortescue... Não é só a espada, veja bem. Temos um nenúfar, um elmo, uma pluma, uma tapeçaria... A não ser que alguém esteja querendo nos pregar uma peça, não vejo como juntar todos os elementos deste caso.

- E eu estava respeitosamente discordando - disse Tadg Fortescue, com um brilho vivo nos olhos negros.

- É mesmo, sr. Fortescue? O senhor tem uma teoria? - perguntou Minerva.

- Oh, sim. Há algo em comum entre esses elementos. Vejam bem: um nenúfar deve estar sobre as águas, certo?

- Certo - disse Minerva.

- Da mesma forma, um elmo deve ser colocado em uma cabeça; uma pluma deve estar em um pássaro, e uma tapeçaria deve estar em uma parede - declarou Fortescue, triunfante. - Concordam?

- Com efeito - disse Minerva, sem saber o que pensar.

Nulligan parecia estar perdendo a paciência.

- Tadg, vá logo ao ponto, sim?

- Águas, cabeça, pássaro e parede. A entrada para a Câmara dos Segredos é por uma pia com uma serpente esculpida na torneira. Ora, me parece claro que a espada de Gryffindor deve estar escondida em uma pia com uma torneira de cabeça de pássaro, pregada a uma parede.

Minerva teve de conter o riso.

- Muito engenhoso, sr. Fortescue, muito engenhoso... Mas por que o criminoso nos enviaria pistas da localização da espada?

- Ah, se a senhora soubesse quantos criminosos gostam de desafiar a lei com charadas! - exclamou Fortescue. - É impressionante!

- Nesse ponto Fortescue tem razão, Diretora. Há muitos criminosos que não conseguem simplesmente cometer o crime: precisam ficar cutucando os agentes da lei, provocando-os. É exatamente aí que eles se perdem!

- Senhores - disse Minerva, cansada -, até agora não me deram uma explicação satisfatória da sua presença em Hogwarts. Quando chegaram, vocês eram quatro; agora são sete, mas até agora não vejo resultados práticos da sua investigação. Os alunos, professores e funcionários estão cansados de serem interrogados e revistados. Se os senhores não resolverem este caso até amanhã à noite, eu vou me queixar ao Ministro e pedir a retirada da Comissão de Hogwarts.

~*~*~

Minerva foi acordada na madrugada do domingo para segunda-feira por um som hediondo. Era como um trovão tão penetrante que dilacerasse a própria alma. Assim que acordara, sua primeira idéia fora que devia ter tido um pesadelo, mas sentiu as paredes do quarto ainda vibrando com aquele som. Levantou-se de chofre e, ainda de camisola, abriu a porta. Remus estava se aproximando de seu quarto.

- Venha comigo, por favor, Minerva. Estamos reunindo todos na Sala da Diretoria. Severus tem algo muito importante a dizer.

- Espere um segundo.

Minerva vestiu um manto por sobre a camisola e acompanhou Remus, entre irritada por não ter controle sobre o que acontecia no castelo, preocupada e curiosa.

~*~*~

Quando chegaram diante da gárgula no sétimo andar, Fence, Filius, Harry, Rolanda, Sirius, Sybill, Vector e Wyrd já estavam lá, e Severus estava chegando com Pomona, Sinistra e Slughorn.

- Diretora - disse Severus, parecendo agitado, os cabelos caindo-lhe sobre o rosto -, peço-lhe que me acompanhe. Explicarei tudo lá dentro.

- Mas... Nós nem sabemos a nova senha! - replicou Minerva.

Severus postou-se diante da gárgula e pronunciou:

- Losango.

A gárgula afastou-se, e todos adentraram a escada giratória.

O fato de Severus saber a nova senha da Sala da Diretoria deixou Minerva ainda mais preocupada.

~*~*~

 Nota: *Após a batalha final de "Baphomet II", o Graal foi devolvido ao altar de Slytherin, na Câmara dos Segredos, e a sala passou a ser chamada de "Sala do Graal".



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Ptyx, Março / 2007