O Feitiço de Istfy

 

Parte I

 

Capítulo 1

Severus Snape saiu bastante preocupado do escritório do Lord das Trevas, no quartel-general dos Comensais da Morte. Precisava voltar a Hogwarts o mais rápido possível. Lucius Malfoy encontrara, entre os objetos de magia negra que mandava seus elfos adquirirem nos lugares mais obscuros do Mundo Mágico, um pergaminho egípcio, e mandara um especialista em hieróglifos decodificá-lo. Tratava-se, simplesmente, da receita do Feitiço de Istfy: uma poção para escravizar sexualmente um mago a outro. Lucius, que sempre fora um dos maiores aduladores de seu Mestre e se tornara ainda mais subserviente após ter sido libertado de Azkaban por um grupo de Comensais da Morte, não perdera tempo: procurara seu Lord e lhe sugerira que mandasse Severus preparar a poção, a fim de que Harry Potter pudesse ser escravizado pelo Lord das Trevas. Obviamente, a idéia insana agradara à mente megalomaníaca e pervertida de seu Mestre.

Severus estudara o pergaminho e sua tradução com cuidado. A poção parecia difícil, pois a base eram vários óleos e ungüentos egípcios de longo e complexo preparo, mas Severus sabia onde adquiri-los. Sua mãe era de origem egípcia e certa vez ela o levara ao País de Punt, um local misterioso e secreto, isolado do resto da comunidade mágica mundial. Severus ainda costumava voltar lá de vez em quando, para adquirir óleos e ervas, mas também para recordar o que talvez houvesse sido o único período feliz de sua vida. Na verdade, Severus sabia até ler hieróglifos, mas não iria dizer isso ao Lord das Trevas. Não iria dizer, também, que a tradução que ele conseguira era terrível.

Como quase todas as poções das Trevas da antigüidade, a poção era também baseada no sangue. Em sua fase final, Severus precisaria de uma pequena quantidade do sangue de Harry Potter e do Lord das Trevas.

Segundo o pergaminho, o efeito era imediato, e extremamente intenso. Se a pessoa escravizada não tivesse uma relação sexual com seu Mestre em menos de vinte e quatro horas, ela enlouqueceria e acabaria se ferindo até a morte, em desespero. E se alguém mais tentasse possuir o escravizado, o corpo do "intruso" ao vínculo se consumiria em chamas instantaneamente ao primeiro toque dos seus órgãos genitais com o "escravo".

Severus não ousara perguntar a seu Lord se pretendia ou não possuir Potter sexualmente. Se o Lord das Trevas fosse inteligente, não o faria - simplesmente deixaria Potter morrer. Mas se o ato sexual fosse consumado, ainda assim o feitiço não se esgotava. O escravo precisava ser possuído por seu mestre ao menos uma vez a cada vinte e quatro horas.

Obviamente, Severus não podia fazer essa poção. Pelo menos não do modo correto. Mas se ele falhasse, o Lord das Trevas não o perdoaria. A única coisa que Severus pudera fazer, naquele momento, fora ganhar tempo. Dissera, então, ao Lord das Trevas e a Lucius que a poção era extremamente complexa e requeria um mês de preparo. Mentira da grossa. Tendo os ingredientes em mão - o que Severus conseguiria fazer em um ou dois dias -, a poção levaria apenas meia hora para ser completada. O Lord das Trevas concordara que Severus preparasse a poção em Hogwarts, mas exigira que o ritual do feitiço fosse executado na Mansão Riddle, em sua presença. Era a sua forma de garantir que seu sangue não fosse usado para nada além daquele feitiço.

Severus esperava, sinceramente, que Dumbledore tivesse uma solução para o problema.

~* ~* ~

- Severus, isso é muito grave - disse Dumbledore, diante de uma cópia do pergaminho e da tradução que Severus havia estendido sobre a mesa do Diretor. - Esse ritual é extremamente poderoso. Flamel me falou sobre ele, certa vez, dizendo que era uma bênção para a humanidade que essa receita houvesse sido perdida.

- Sendo uma poção, provavelmente podemos descobrir um antídoto - ponderou Severus.

- Não tenho dúvida, especialmente com a sua habilidade. Mas... haverá tempo para isso? Não podemos nos arriscar - insistiu Dumbledore.

- Temos um mês pela frente.

- Sim, mas e se Riddle desconfiar que você o está ludibriando, ele pode contratar outro especialista em poções para completá-la, e poderá terminar a poção em menos de um dia, segundo você mesmo me explicou.

Isso era verdade. Se bem que os outros "especialistas em Poções" disponíveis no Mundo Mágico eram todos uns charlatães, e provavelmente não saberiam onde adquirir os óleos. Se fossem tentar fabricá-los eles mesmos, a poção levaria cerca de dois anos para ser completada. Mas ainda assim o risco para o Garoto de Ouro era muito grande porque, com seus poderes e seus muitos aliados, talvez o Lord das Trevas conseguisse encontrar alguém que entendesse de poções egípcias e lhe indicasse o caminho de Punt.

- Diretor... Há uma forma de se impedir que se forme o vínculo escravatício entre o Lord das Trevas e Potter. Isso, contudo, não tornará a situação... agradável para Potter.

- E qual seria essa forma?

- Seria usarmos o Feitiço de Istfy em Potter antes, ligando-o a outra pessoa. Assim, poderíamos manter Potter sob proteção, e se o Lord das Trevas tentasse possuí-lo, ele é que morreria.

Dumbledore franziu o cenho.

- Mas isso... é inaceitável.

- Não se essa outra pessoa for o senhor, Diretor.

- Eu, escravizar sexualmente meu pupilo? Severus, às vezes as suas idéias me preocupam.

- Diretor, melhor o senhor do que o Lord das Trevas!

- Não, Severus. Eu sou um símbolo da resistência, não posso correr o risco de ser desmoralizado. - O Diretor acariciou a longa barba. - Precisamos pensar em outra pessoa. Talvez uma mulher, não?

Severus arqueou uma sobrancelha.

- Pelos olhares que tenho visto o seu Garoto de Ouro trocar com o sr. Smith, creio que as preferências dele vão em outro sentido.

- Zacharias Smith, de Hufflepuff? - Os olhos de Dumbledore cintilaram. - Interessante.

Severus não gostava quando Dumbledore fazia aquela cara. Um mau pressentimento o dominou.

- Diretor, talvez seja melhor perguntar a ele por quem ele gostaria de ser escravizado sexualmente, não?

- Severus, eu vou refletir melhor a respeito disso tudo antes de tomar uma decisão. Pesquise tudo o que puder a respeito do Feitiço de Istfy, sim?

- Como quiser, senhor.

~* ~* ~

Capítulo 2

 

Quando Severus foi chamado novamente ao escritório de Dumbledore no dia seguinte e encontrou Harry Potter já lá dentro, sentado diante da escrivaninha e pálido como um cadáver, Severus praguejou intimamente.

A voz do velho mago tentava aparentar calma, mas havia também um cansaço profundo pontuando suas palavras.

- Severus, Harry já foi informado a respeito do Feitiço de Istfy.

Severus viu Potter virar a cabeça para ele e encará-lo com uma expressão de ódio. O imbecil certamente o estava culpando por aquilo também. Severus estava cansado de ser o bode expiatório do Garoto de Ouro. Cumprimentou-o com um gesto de cabeça, tentando manter a frieza.

- Em que posso ajudá-lo, Diretor?

- Você conseguiu descobrir mais alguma coisa a respeito do feitiço?

- Tive muito pouco tempo. Estou apenas listando os ingredientes e estudando a ação individual de cada um na composição geral.

- Expliquei a Harry toda a situação, Severus. Inclusive a respeito da... alternativa que cogitamos.

- E então? - Severus não estava gostando do rumo que aquela conversa estava tomando.

Nesse momento, Potter se levantou, o rosto subitamente ganhando cor.

- Eu não vou deixar que nenhum de meus amigos seja envolvido nisso. Não quero que eles corram nenhum risco por minha causa!

- Muito nobre de sua parte - disse Severus. - Mas isso de nada adiantará se você morrer e o Mundo Mágico ficar sem o seu salvador.

- Calma, calma, meus meninos - disse o Diretor. - Sentem-se, por favor. Não se exaltem.

Potter se sentou com evidente relutância. A última coisa que Severus queria era se sentar e ficar ali. Mas ele era escravo de Dumbledore, mesmo sem Feitiço de Istfy, e teve de obedecer.

- Diretor, gostaria que me dissesse logo por que fui chamado aqui.

- Severus, Harry escolheu a você como seu Mestre.

As palavras não pareciam fazer sentido. Severus sentiu uma súbita vertigem e teve de apoiar-se à escrivaninha de Dumbledore. Tudo escureceu a seu redor. Então sentiu um toque delicado em seu ombro. Ergueu a cabeça e viu o rosto preocupado de Albus Dumbledore fitando-o.

- Está se sentindo mal, Severus?

Severus recordou as palavras que o haviam feito perder contato com a realidade por um instante: Harry escolheu a você... Severus se ergueu de chofre.

- O quê? Ele enlouqueceu? Ele decide ser meu escravo porque eu não sou amigo dele? Qual é a lógica disso? E o senhor, Diretor? Vai concordar com esse absurdo? Ele é meu aluno!

Severus virou-se para encarar Potter, mas este parecia em estado de choque.

- Se ele se fizer escravizar por um amigo, a pressão emocional será ainda mais forte sobre ele, porque ele se sentirá culpado por forçar esse amigo, de certa forma, a escravizá-lo. É melhor para ele que não haja um envolvimento emocional - declarou Dumbledore.

- Não haja envolvimento emocional? Mas se ele me odeia mais do que ao Lord das Trevas!

- Não fale assim, Severus. Nós confiamos em você.

Severus não conseguiu conter um murmúrio de escárnio. O que será que Dumbledore fizera para convencer Potter daquilo? Era absurdo demais. Não podia estar acontecendo.

- Diretor, e a minha situação junto ao Lord das Trevas?

- Você vai continuar com a comédia toda, de que a poção levará um mês para ser completada. Quando esse prazo se esgotar, nós divulgaremos a notícia da morte de Harry, e ele será colocado em Grimmauld Place. Por sorte, as aulas já terão terminado, e Harry terá concluído seus estudos.

Sim, era uma sorte que o Lord das Trevas sempre resolvesse entrar em ação em junho, pensou Severus, não sem uma dose de auto-sarcasmo.

- Ele é meu aluno! - Severus meneou a cabeça. - Não espera seriamente que eu...

- Não temos outra solução! Tudo será mantido em sigilo. Apenas nós três saberemos o que está acontecendo. Madame Pomfrey também terá de saber de alguns detalhes, mas não tudo. E ninguém mais.

- Não espera que ele - Severus indicou Potter com um gesto de cabeça - não conte a seus amiguinhos, espera?

Severus viu Harry cerrar os punhos e Dumbledore caminhar na direção de seu aluno.

- Harry guardará segredo.

Sim, dessa vez é provável que guarde mesmo. Imagine só como ele se sentiria humilhado se os amigos soubessem que ele foi transformado em escravo sexual do seboso professor de Poções.

De repente, a idéia de ter Harry Potter sob seu domínio não lhe pareceu mais tão negativa. Severus se viu dividido. Parte dele rejeitava a idéia como absolutamente revoltante - ter relações sexuais com um aluno, quase uma criança? Mas outra parte de seu ser já antegozava a bela oportunidade de se vingar de todas as humilhações que sofrera, tanto por parte do Garoto de Ouro, como por parte do pai dele e de seus amigos. Olhou para Albus Dumbledore com ódio. Como ele o forçava, agora, a conviver novamente com seu lado mais negro? Não era ele mesmo que não queria deixá-lo dar aula de Defesa Contra as Artes das Trevas porque temia que Severus se deixasse seduzir novamente?

Então Severus percebeu que, enquanto ele se perdia nessas divagações, Dumbledore continuara falando.

- ... vocês terão de passar todas as noites juntos...

- O quê? - Severus acreditava cada vez menos no que ouvia.

- É necessário. Você sabe disso, Severus. Vocês ficarão em um quarto especial no castelo, um quarto sob Fidelius. Diremos a todos que Harry está tendo pesadelos e que corre o risco de ser dominado por Riddle, por isso ele deverá dormir em um quarto especial na enfermaria, sob a vigilância de Madame Pomfrey. Mas Harry não ficará nesse quarto; ele usará o Flu para ir ao quarto sob Fidelius. E você, Severus, irá direto dos seus aposentos para lá, assim que soar o toque de recolher no castelo.

Mais uma vez, Severus não pôde fazer mais do que menear a cabeça, enquanto o Diretor continuava a falar:

- Você disse que um dia é suficiente para você adquirir os ingredientes. Seria bom, nesse caso, que você o fizesse amanhã, e preparasse a poção no sábado. Harry estará de folga e poderá ir encontrá-lo ao final da tarde no seu laboratório. Então você explicará a ele exatamente, e com todo o cuidado, tudo o que irá acontecer.

Sim, claro. Ele, Severus, teria de contar todos os detalhes escabrosos do que iria acontecer entre eles. Severus torcia para que, pelo menos, Potter não fosse virgem.

- Depois - continuava o Diretor - vocês irão, com o pó de Flu, para o quarto reservado a vocês. Vocês nem precisam saber onde fica, basta que eu lhes diga o nome a invocarem quando forem usar o Flu. Dei ao quarto o nome de "Sekhet-Aanru". Significa "Campos de Paz", Harry.

Severus quase deu uma risada histérica. Que poético, dar ao inferno onde ele e Potter passariam suas noites o nome do lugar mítico, do Paraíso dos antigos egípcios.

- O senhor tinha tudo planejado, não é? - indagou Potter, a voz vibrando em fúria.

- Você precisa entender, Harry, que a sua segurança está nas minhas mãos.

Severus cerrou o punho e cravou as unhas em sua própria palma. Precisava descarregar a raiva impotente que sentia em alguém, nem que fosse em si próprio.

~* ~* ~

Entre os ingredientes que Severus iria precisar para a poção estavam os Sete Óleos Sagrados. Severus procurou antigos manuscritos para verificar quais eram exatamente esses óleos: óleo Festival, feito de olíbano fresco e seco, sementes de abeto e outros aromáticos; Hekenu, feito de nedjem*, alcatrão de madeira, acácia, olíbano fresco e seco e outros; Sefet, baseado em semente de freixo; Nekhemet, feito de alcatrão de madeira e pinho, além de outros aromáticos; Tewat, semelhante ao Festival, com o acréscimo de resinas e ervas; Óleo de Cedro Especial, feito de nedjem, lótus e olíbano branco; Óleo do Líbano Especial, feito de alcatrão de madeira e flores. Havia muitos ingredientes não identificados em todos esses óleos, e apenas alguns magos no Egito sabiam fabricá-los. O Hekenu, por exemplo, era de fabricação delicada e levava quase um ano solar para ser completado.

Resignado, Severus seguiu até o portão do castelo para aparatar no Grande Mercado de Punt.

O Grande Mercado de Punt ficava dentro de um gigantesco templo semidestruído. Era um caos, mas para quem conhecia ervas como ele, um antro de perdição. Severus tentou se concentrar na tarefa e ignorar as seduções que lhe surgiam no caminho, pois não tinha muito tempo. Parou na tenda de um vendedor de ervas e comprou bálsamo, ládano, óleo de lírio e bdélio (um tipo de mirra).

Encontrou os Sete Óleos Sagrados na tenda de um mago de meia idade, com uma peruca e nenhum tipo de pêlo em todo o corpo, como era moda entre os magos do País de Punt. Além dos Sete Óleos, Severus encontrou ali um outro óleo necessário para a poção, o de Madjet, composto de nedjem, lótus e olíbano, além de resina e semente de pinho, ciperáceos, junípero, canela e mirra. A receita desse óleo se baseava em gordura animal e levava dois anos para ser completada. Muitos desses óleos não eram, na verdade, óleos, e sim pastas ou ungüentos. Os frascos eram todos em mármore ou alabastro - caríssimos. Severus tentou barganhar, mas não tinha jeito. Era inútil tentar pechinchar com egípcios; eles sempre levavam vantagem. Mas Dumbledore garantira que os custos seriam todos pagos pela Ordem da Fênix. Quanto a quem exatamente financiava a Ordem da Fênix, Severus jamais perguntara.

Faltava, no entanto, o "Ungüento Secreto de Min", dedicado ao deus Min-Amun. A receita desse ungüento incluía cálamo, sementes de pinho, junípero e outras ervas obscuras, mas o mais interessante é que minerais como lápis-lázuli, cornalina, jaspe vermelho, turquesa, ouro e prata eram acrescentados à poção. Era um preparado multicolorido, exótico e bastante caro. Severus precisou indagar e procurar bastante, até encontrá-lo em um canto mais escuro do enorme templo.

O mago que o vendia era mais velho do que a maioria por ali. Cercado por estatuetas do deus Min, mostrando sempre o falo ereto que é característico do deus da sexualidade e fertilidade, o velho fitou Severus com um ar desconfiado.

- Você não é da região. Espero que saiba o que está fazendo - disse, em egípcio.

Severus retribuiu-lhe o olhar de desconfiança e respondeu também em egípcio:

- Por que diz isso?

- Porque muitos encantos são difíceis de serem desfeitos.

- Você tem conhecimentos... especiais... a respeito de encantos que envolvem esse óleo?

- Oh, eu trabalhei a vida toda estudando os segredos de Min, mas ainda não passo de um aprendiz!

- Você está sempre por aqui?

- Todos os dias, das 8 às 18 horas, inclusive aos domingos.

- Muito bem. Eu vou levar o ungüento.

Severus pegou o belo pote de alabastro e saiu do templo, pensando que talvez devesse voltar lá um outro dia e pagar um vinho àquele velho.

Aparatou junto ao portão de Hogwarts e, esgotado, caminhou de volta ao castelo.

~* ~* ~

Severus dormiu muito mal naquela noite, véspera do dia em que teria de preparar a poção para o feitiço de Istfy.

A idéia de que teria de fazer sexo com um garoto inexperiente e que sentia nojo e ódio por ele o perturbava bastante. E a idéia de que ele mesmo não rejeitava a idéia com a veemência com que deveria era ainda mais perturbadora.

O rígido controle que Severus exercia sobre si próprio teria de ser reforçado ainda mais, se não quisesse se ver novamente no inferno de que saíra dezesseis anos atrás.

Às vezes ele se perguntava se Albus Dumbledore não era ainda mais dark do que o Lord das Trevas.

~* ~* ~

Capítulo 3

 

Harry não conseguiu dormiu à noite. Passou a manhã agitado, sem querer ver ninguém. Pegou sua Firebolt e foi passear em volta do lago.

Só comeu alguma coisa no almoço porque Hermione não iria deixá-lo em paz se não o fizesse. Ron ficou olhando para ele, preocupado. Ele lhes contara a mentira oficial, de que teria de dormir todas as noites na enfermaria, sob a vigilância de Pomfrey. Harry não sabia dizer qual dos dois ficara mais preocupado. Hermione queria saber detalhes; Ron parecia querer simplesmente apagar o problema de suas mentes e de suas vidas. Se eles ficavam preocupados com aquilo, imagine se soubessem da verdade!

Que humilhação seria, ter de implorar para ser possuído por aquele verme! Harry não queria nem pensar. Por que ele não podia levar uma vida normal? Por que todas aquelas coisas estranhas e horríveis sempre tinham de acontecer com ele? E justo agora, que, pela primeira vez desde que descobrira sua preferência por membros do seu próprio sexo, Harry encontrara alguém que se interessava por ele: o jeito como Zacharias olhava para ele não deixava dúvidas, nem para um adolescente tão inexperiente quanto Harry.

Chegara a pensar em pedir a Zacharias para ser seu Mestre, mas seria embaraçoso demais. Zacharias não tinha nada a ver com a luta contra Voldemort, e provavelmente não aceitaria o encargo. De qualquer forma, mesmo que aceitasse, seria horrível. Harry não queria depender de um amigo daquela forma. A pessoa que o escravizasse teria de ficar à sua disposição todas as noites. Dumbledore tinha razão, infelizmente. Snape era a única pessoa disponível.

Às quatro horas, Harry foi tomar banho, rangendo os dentes de raiva. Pensar que estava fazendo o possível para ficar apresentável para o morcego seboso lhe dava engulhos. Pensar que aquelas mãos amareladas o iriam tocar, que... Não. Harry não queria pensar.

Às cinco horas da tarde, como havia sido combinado, o coração batendo a mil por segundo, Harry bateu à porta do escritório de Snape.

O ex-Comensal da Morte abriu a porta, em seus trajes negros habituais.

- Potter - disse ele, com aquele tom de desprezo, como se cuspisse a palavra.

Harry não disse nada, apenas entrou no escritório.

- Acompanhe-me até o laboratório. A poção já está em seus estágios finais. Vou explicar-lhe... os procedimentos - dizendo isso, o Mestre de Poções deu o seu tradicional giro de calcanhares e saiu, as vestes esvoaçantes, na direção da outra sala.

Canalha. Ele devia estar antegozando a humilhação a que iria submeter Harry.

Harry o seguiu, sem pressa alguma, e entrou no laboratório quase arrastando os pés. Notou que Snape estava usando um caldeirão de ouro para a poção, que exalava um aroma embriagante. Harry tossiu.

- Não fique aspirando os vapores, ou irá desmaiar. Essa poção é muito tóxica. Não é para ser tomada, é apenas uma poção ritual. A magia moderna baniu essas poções, mas nos tempos antigos elas eram bastante populares.

- Dumbledore me falou que será preciso usar o meu sangue?

- Naturalmente. É um ritual de sangue. - Snape estava olhando para ele com aquele olhar que parecia transpassá-lo. Harry sentiu-se encolher. - Não pense que estou satisfeito com a situação, Potter.

Harry achou que fosse morrer de embaraço. Não sabia onde esconder a cara. Tentou reunir forças para reagir.

- Vamos em frente, sim? Não adianta nada ficarmos nos lamentando.

Snape pegou a espátula para mexer a poção.

- Assim que acrescentarmos o sangue, a poção estará pronta. Eu direi os encantamentos e... o vínculo estará formado.

Harry engoliu em seco e esperou que Snape continuasse. Snape o encarou com firmeza, mas sua mão, que segurava a espátula, não parecia muito firme.

- Você se sentirá irresistivelmente atraído por mim. A sensação ficará cada vez mais intensa e insuportável. Se em cerca de vinte e quatro horas eu não o possuir, você não resistirá. O seu impulso será o de se submeter a mim sexualmente. Como um escravo.

O sangue afluiu ao rosto de Harry, que se odiou por isso. Queria ser tão frio quanto Snape estava demonstrando ser. Isto é, exceto pelo tremor nas mãos...

- Você já fez sexo antes, Potter? - perguntou Snape, de chofre.

Harry cerrou os punhos. Por que é que ele precisava agüentar aquilo?

- Responda, garoto.

- Não - disse Harry, por entre os dentes.

Snape suspirou audivelmente, deixando Harry ainda mais irritado. Então Snape pegou uma faca em sua mesa de trabalho, e fez um corte em seu braço esquerdo, logo acima da Marca Negra. O sangue afluiu, e ele deixou pingar algumas gotas dentro do caldeirão. Depois tocou o braço com a varinha e murmurou um encanto. O corte se fechou.

- Agora você. Venha cá.

Trêmulo, Harry se aproximou e estendeu-lhe o braço. Foi tudo muito rápido: uma dor lancinante, o sangue quente jorrando. Snape puxando-lhe o braço para cima dos vapores, que o deixavam tonto, e depois puxando-o de volta e fechando-lhe o corte.

O corte ainda doía um pouco, e Harry estava levemente inebriado pelos vapores. Snape murmurou, com a varinha erguida sobre o caldeirão:

- mk thw m bak y**

Harry sentiu seu corpo todo estremecer, o sangue ferver e uma força como que magnética ligá-lo a Snape.

Snape... Snape parecia envolto em uma aura brilhante, multicolorida... o coração de Harry se encolheu. Snape abaixou a varinha, os longos braços se estendendo junto ao corpo, como se estivesse esperando por ele, com ar inquisitivo. O corpo de Harry reagia a cada movimento de Snape.

- Venha, Potter.

Snape se virou e andou na direção da lareira. Harry sentia um vazio aumentando à medida que Snape se afastava, e lançou-se atrás dele, procurando se aproximar e diminuir aquela sensação. Snape estendeu a mão para ele, para lhe entregar o pó de Flu, e quando aquela mão o tocou Harry a segurou sofregamente. Snape suspirou, e o puxou contra si, como que se resignando à situação. Ergueu-o no colo e jogou ele mesmo o pó na lareira.

- Sekhet-Aanru.

Harry agarrou-se a Snape e encostou a cabeça em seu peito. Oh, o cheiro de Snape, o corpo de Snape rígido contra o seu... Só então Harry percebeu que seu pênis já estava ereto, e pulsando. Ele não conseguia pensar em mais nada. Nem sequer via o que estava a seu redor.

Ficou feliz porque Snape o depositou sobre a cama, porque não achava que fosse conseguir ficar em pé. Mas quando viu que Snape ia se afastar, ele entrou em pânico, e agarrou-o com todas as suas forças.

- Não! Não me deixe.

Snape segurou-lhe os braços com firmeza e o empurrou contra o colchão.

- Preciso verificar se o quarto está devidamente protegido.

- Eu não... não agüento isso.

- A força do encanto vai diminuir, depois que... fizermos o que tem de ser feito.

Harry abraçou a si mesmo, sentindo-se sem forças ao ver Snape se afastar. Snape verificou as portas, pronunciou alguns encantos com sua varinha, e depois caminhou lentamente de volta para Harry. Todo o corpo de Harry parecia projetar-se na direção do outro mago.

- Por favor...

Snape se sentou na cama, sobre os cobertores roxos.

- Quer que eu o toque? - perguntou Snape, em um tom formal e seco.

Harry deixou um gemido escapar da garganta e fez que sim com a cabeça, sentindo-se miserável. Então Snape o olhou de um jeito estranho, como que surpreso pela sua reação, e fez um gesto para que ele se aproximasse.

De repente, Harry estava no colo de Snape.

~* ~* ~

Capítulo 4

 

Potter era puro desejo. Não havia repulsa, não havia ódio. Só desejo. E Severus estava tocando-o. Tocando aquele garoto que o irritara desde a primeira vez em que o vira; aquele garoto cheio de si, irresponsável, e diante de quem todos estendiam tapetes e faziam salamaleques. E o fato de que ele era o Garoto de Ouro e o filho de James Potter não parecia ter a importância que Severus esperava que tivesse.

Talvez o vínculo não funcionasse apenas dele para Potter; talvez Potter também despertasse algo nele através do vínculo? Aquilo era estranho; os pergaminhos não mencionavam nada a respeito.

Talvez fosse apenas aquele olhar de veneração que o garoto lhe lançara, e o modo como cada um de seus toques arrancava do garoto uma resposta imediata e intensa. Severus nunca se sentira assim, como se fosse um deus para uma pessoa. Conhecia o prazer de se sentir temido, mas não o de se sentir venerado.

Sentado de lado em seu colo, Potter se comprimia contra ele, tentando conseguir tanto contato quanto possível. Seus olhos estavam fechados agora, talvez de repulsa, mas talvez apenas de vergonha. Severus se via dividido entre o desejo de protegê-lo e o de dominá-lo. Apertou-o contra si e enterrou o rosto em seu pescoço.

Aquilo era errado, pensou. Ele não amava esse garoto que agora estava gemendo e se contorcendo em seus braços. Não precisava acariciá-lo como estava fazendo. Precisava apenas possuí-lo. Era isso o que devia estar fazendo.

Sentia em si os primeiros efeitos da excitação. Para complicar tudo ainda mais, ele percebeu que estava captando as sensações do garoto. Era como se estivesse em sintonia com as sensações dele. Com um grunhido, virou Potter de costas para si, passando os braços ao redor de sua cintura. Potter recostou a cabeça em seu ombro, gemendo baixinho. Severus sentia a dor e o desejo excruciante que ele sentia. Era melhor que o fizesse gozar de uma vez. Depois eles fariam o que precisava ser feito... com mais calma.

Potter continuava tremendo e se contorcendo. Severus respirou fundo e tentou se concentrar. Insinuou uma das mãos por dentro das vestes do garoto e as levantou. A cueca branca de Potter não conseguia esconder-lhe a ereção. Os quadris de Potter se ergueram de súbito na direção da mão de Severus.

- Calma - disse Severus, com aspereza, enquanto sua mão deslizava para dentro da cueca e cerrava os dedos ao redor do membro ereto do garoto.

A pontinha já estava molhada com gotas prematuras de sêmen. A ereção de Severus pulsou quando seus dedos deslizaram por toda a extensão da carne macia e sedosa do garoto.

O desejo sexual mesclou-se à vergonha pelo que estava fazendo. O garoto estava ali apenas por causa de um feitiço. Potter o odiava e, se estivesse em suas condições normais, estaria vomitando de repulsa. Que patético era ele, Severus Snape, por estar se aproveitando daquelas circunstâncias. Mas a vergonha não o impedia de bombear ritmicamente o pênis rígido do garoto, nem de se deliciar com os gemidos de prazer que ele dava.

Severus segurava o garoto com firmeza, mas a fricção do traseiro dele contra sua virilha ameaçava seu controle.

O corpo de Potter se retesou, ele deixou um quase grito escapar e gozou na mão de Severus, que, sem conseguir se conter, continuou comprimindo-se contra seu traseiro. Severus enterrou o rosto na curva do pescoço de Potter, agora relaxado em seus braços, e gozou apenas com um leve ofegar, sufocado em sua garganta. Segurou o garoto contra si um pouco mais enquanto seu pênis ainda pulsava.

Severus lançou um encanto de limpeza sobre si mesmo, depois sobre Potter, e deitou Potter novamente na cama. Então se levantou e olhou em volta do quarto. A cama, com aqueles cobertores ridiculamente roxos, ficava encostada na parede dos fundos. Havia um banheiro no lado onde Severus estava e, do outro lado, um armário em mogno. Severus o abriu; com alívio, encontrou uma garrafa de Firewhisky e copos. Voltou-se para Potter.

- Quer um drinque?

- Quero - disse o garoto, em voz rouca e trêmula.

Severus serviu dois copos e levou um para Potter.

- Está melhor?

- Estou. Mas...er... nós não vamos ter que...

- Sim. Mas vamos com calma. Tome seu drinque.

~* ~* ~

Capítulo 5

 

Harry nunca se sentira tão embaraçado em toda a sua vida. Snape... fizera-o gozar. Em sua mão. Em seu colo.

Mas ele gozara também. Harry sentira, porque ele estava absurdamente sintonizado com todos os sentimentos de Snape. Por alguma razão, o fato de que Snape gozara também fazia Harry se sentir melhor. Então começou a compreender. Aquilo devia ser efeito do vínculo, também. O vínculo era para dar prazer ao Mestre, e não a ele! Era por isso que ele se sentia relaxado agora, porque Snape gozara.

Mas aquele rápido gozo não era o bastante. Eles precisariam ir até o fim. Snape precisava gozar dentro dele. A idéia devia ser totalmente repugnante, mas o vínculo fazia com que fosse o que mais Harry desejava no mundo. Sentado na cama com um copo na mão, Harry ajeitou suas vestes amassadas sentindo-se confuso e ridículo.

O Firewhisky parecia ser seu único aliado, já que Snape se mantinha distante, parecendo incapaz sequer de encará-lo.

Snape o desejara. Ele até o acariciara. Segurara-o contra si enquanto gozava. Só de pensar nisso, o desejo voltava com força. Oh, Merlin. Nem dez minutos haviam-se passado desde que gozara e Harry já estava excitado outra vez. Tudo o que ele queria era aqueles dedos longos e hábeis percorrendo-lhe o corpo. Sua mão estava tão trêmula que ele precisou largar o copo sobre a mesinha de cabeceira.

Quando seus olhos se ergueram e encontraram os de Snape, Harry achou que não conseguiria agüentar mais um minuto sequer.

- Por favor... - murmurou ele, baixinho.

Snape franziu o cenho, depois assentiu. Harry viu Snape esvaziar o copo e ficou olhando para aquelas mãos, totalmente fascinado. Snape largou o copo e veio em sua direção. O coração de Harry disparou.

- Sr. Potter, vou me esforçar para aliviá-lo dessa tortura o mais rápido possível.

Snape tirou-lhe as vestes, depois baixou-lhe a cueca, revelando seu pênis ereto. Um calor abrasador concentrou-se nessa região. Os movimentos de Snape não eram delicados, mas também não eram ríspidos. Eram apenas... calculados, metódicos. Como se ele tivesse um objetivo, e se concentrasse nele. Snape tirou um frasco de um bolso em suas vestes; sim, Snape continuava totalmente vestido. Harry mordeu o lábio, envergonhado por estar exposto diante de Snape daquela forma. Snape insinuou um joelho por entre suas pernas, e Harry gemeu.

Snape abriu o frasco e espalhou bastante do produto por seus dedos.

Ao primeiro toque de dedos, o corpo de Harry pareceu se consumir em fogo, e ele projetou os quadris violentamente para cima. Snape o segurou apertando-o contra o colchão com a mão esquerda.

- Calma. Fique quieto.

Harry queria ter raiva, mas a voz rouca de Snape só o eletrizava ainda mais. Que tortura! Harry queria, precisava daquele toque, e de mais, muito mais. Um daqueles dedos mágicos estava penetrando-o, massageando-o suavemente, distendendo-o. Harry sabia que precisava ter paciência ou iria se machucar, mas o desejo o fazia mover-se contra o dedo, tentando forçá-lo mais para dentro.

Ouviu Snape suspirar de modo entrecortado e insinuar um segundo dedo. Snape estava nervoso também, Harry podia sentir isso através do vínculo. Aquele outro dedo não era o bastante, e só parecia atiçar-lhe ainda mais o desejo.

- Por favor... Mais...

- Controle-se, ou sairá machucado.

A voz de Snape soara tão fria, mas Harry sabia que aquilo não passava de uma máscara. Snape estava lhe dando mais um dedo, e entrando bem fundo. Doía, mas a dor não diminuía o desejo de ter mais.

Então Snape removeu os dedos, e Harry segurou-lhe o braço, tentando trazê-los de volta.

- Potter, controle-se. Preciso me preparar.

E Harry viu Snape abrir a parte de baixo das vestes e tirar para fora seu pênis - longo e completamente ereto. Por Harry. Para Harry.

Snape abriu novamente o frasco e espalhou o produto cuidadosamente por toda a extensão de seu pênis. Um instante depois, Snape virou-o de bruços, e Harry sentiu algo quente e firme pressionar o espaço entre suas pernas.

Sabendo que era exatamente daquilo que ele precisava, Harry ergueu os quadris para ir de encontro a ele. Snape gemeu e o penetrou devagar. O corpo de Harry teimava em resistir àquilo que ele mais desejava, mas Snape não se deixou deter. Quando Harry o sentiu dentro de si, uma sensação de completude tomou seu corpo e alma.

Com cuidado, Snape preencheu-o, retirou-se outra vez, e depois penetrou mais fundo, e impôs uma cadência lenta. Harry percebeu o quanto ele estava se contendo. Quando o ritmo ficou mais forte, Snape tomou o pênis de Harry na mão e Harry gozou, agarrando-se ao lençol com força e dando um grito agudo de prazer. Mas o vínculo o mantinha totalmente sintonizado a Snape, que agia como se estivesse apenas tentando se livrar logo daquele encargo. O desapontamento atingiu Harry com força. Não podia nem mesmo ver a expressão de Snape. Algumas estocadas mais e o corpo de Snape se retesou. Harry sentiu o sêmen quente o preencher. Snape gozou, mais uma vez apenas com um leve ofegar. Um breve instante depois, Snape retirou o pênis de dentro de Harry. Harry ainda o escutou pronunciar um encanto de limpeza antes que ele lhe desse as costas e fosse para o banheiro.

Harry ficou olhando para as paredes, sentindo-se vazio. Acabara o seu primeiro dia de tortura. Ele devia estar feliz e aliviado. Puxou um cobertor para se abrigar do frio e da vergonha, e se encolheu todo em um dos lados da cama.

Poucos minutos depois, Snape saiu do banheiro.

- Potter, vou voltar aos meus aposentos nas masmorras. Assim não precisaremos continuar mais tempo nessa situação vexaminosa e desconfortável. Boa noite.

Harry nem se preocupou em responder.

~* ~* ~

A segunda vez não foi muito melhor.

Harry passara o dia sentindo-se letárgico e distante de tudo. À medida que anoitecia, o vínculo começara a ser novamente ativado, fazendo-o desejar Snape loucamente. Harry já estava a ponto de bater a cabeça na parede quando o toque de recolher soou. Sem perder tempo, Harry foi até o quarto atrás da enfermaria, jogou pó de Flu na lareira e viu-se, a sós, em Sekhet-Aanru.

Para passar o tempo e ganhar coragem, Harry serviu-se de um copo de Firewhisky.

Dera apenas dois goles quando um clarão verde iluminou o quarto, e Snape apareceu, em toda a sua glória. Harry quase se ajoelhou a seus pés. O vínculo o atraía inexoravelmente para o outro mago; Harry se aproximou e o abraçou.

Snape afastou-o com firmeza e empurrou-o pelos ombros até a cama, deitando-o de bruços. Tirou-lhe as vestes e a cueca, com os mesmos gestos metódicos da noite anterior. Snape colocou um travesseiro sob Harry e separou-lhe as pernas. Um dedo, dois dedos, três dedos - Snape seguiu o mesmo ritual, sem dizer nada. Harry ardia em desejo. Logo, a carne firme e quente de Snape rasgava-o por dentro, e de novo Harry não podia nem mesmo ver a expressão de Snape ao penetrá-lo.

- Não vai demorar muito, Potter. Seja paciente - resmungou ele.

E uma sensação gelada se espalhou pelas entranhas de Harry mesmo enquanto ele gozava, novamente na mão de Snape. Snape não mentira - de fato, muito pouco depois, Snape estava também gozando dentro de Harry, e retirando-se a seus aposentos.

Sem tocá-lo. Sem falar.

Porque... era assim que devia ser. Era assim que Harry devia querer que fosse: o mínimo de contato possível. Afinal, ele escolhera Snape para aquela... tarefa... porque o odiava.

E Snape o odiava também, por isso queria também que fosse assim, com o mínimo de contato possível.

Então por que aquela sensação de profunda infelicidade o acometia?

~* ~* ~

Durante toda aquela semana, Snape manteve o mesmo comportamento. Aquilo estava levando Harry à loucura. Nada era mais humilhante do que ter que implorar para Snape possuí-lo e sentir que Snape o rejeitava. Harry queria ver Snape reduzido à mesma situação que ele. E isso não parecia impossível, pois, de alguma forma, Harry sentia que Snape estava se contendo. Quando Snape olhava para ele durante a aula, ou nos corredores, era um olhar possessivo que lhe dirigia. Snape o devorava com os olhos. No entanto, em vez de se apossar dele quando tinha a oportunidade de fazê-lo, ele assumia aquele comportamento mecânico. Tudo o que Harry queria era que Snape se soltasse.

Harry estava mais abatido do que nunca. Ron e Hermione ficavam atormentando-o com perguntas.

- Você está horrível, Harry. O que está acontecendo? - perguntou Hermione na quinta-feira.

- Nada. São só os pesadelos.

Ron arregalou os olhos.

- Com Você-Sabe-Quem?

- É. Mas não quero falar nisso, sim?

Na noite de sexta, depois que Snape se retirara de Sekhet-Aanru, Harry sentiu-se tomado de raiva e impotência. Aquilo não podia ficar assim. E foi então que Harry teve uma idéia bastante arriscada...

Notas:
* nedjem - misterioso ingrediente, até hoje não identificado pelos especialistas. Alguns dizem tratar-se de uma erva semelhante à alfarroba, enquanto outros dizem ser a acácia.

** "Eis que sois meu servo." Em hieróglifos:

Continua na Parte II

 

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Ptyx, Junho/2005