Capítulo VII - O Great Glen



Na noite anterior, quando haviam conversado com Dumbledore, este havia dito que iria visitá-los no dia seguinte. Nem haviam terminado o café da manhã quando a cabeça do velho mago apareceu na lareira.

- Cavalheiros, poderiam me receber para uma conversa? - perguntou ele, os olhos cintilando.

- Claro, Albus - apressou-se em responder Remus. - Venha tomar um chá conosco.

Dumbledore materializou-se na sala e cumprimentou a todos com um aceno de sua mão esquerda - a direita parecia mais negra e mirrada do que nunca. Remus puxou uma cadeira para o Diretor e ele se sentou.

- Com leite? Açúcar? - perguntou Sirius.

- Só açúcar, por favor. Bastante açúcar.

Sirius serviu a xícara para Dumbledore. Severus parecia impaciente, como sempre que Dumbledore estava por perto. Harry estava apenas curioso.

- Desculpem ter vindo tão cedo, mas é que acabo de receber um chamado dos gigantes, dizendo que gostariam de conversar comigo ainda esta manhã. Preciso ir; vocês sabem como é difícil a nossa situação em relação a eles. Assim, tive de adiantar o meu encontro com vocês.

- Nós entendemos - disse Remus.

- Hmm, eu já tomei café, mas vou experimentar um desses bolinhos, se me permitirem.

Remus sorriu.

- Fique à vontade!

Dumbledore pegou um bolinho e deu uma mordida. Depois tomou um gole de chá.

Severus estava cada vez mais irrequieto.

- Você veio conversar conosco sobre a Horcrux de Ravenclaw.

- Exato. Já há alguns meses, desde o desaparecimento de Fortescue e Ollivander, eu venho seguindo uma linha de investigações, na esperança de que se revelasse frutífera. Espero que não se importem se eu ocupar seu tempo contando-lhe uma longa história...

- Claro que não, Albus. Estamos aqui para ouvi-lo - disse Remus.

- Muito bem. Tudo começou em meados da década de 40, quando Tom Riddle concluiu seus estudos em Hogwarts e foi trabalhar como ajudante na Borgin and Burke's. Naquela época, o sr. Ollivander e o sr. Fortescue pertenciam a uma seita de magia tradicionalista, que propugnava a volta do Mundo Mágico a costumes antigos, medievais.

- Eu ouvi falar desse grupo - comentou Sirius. - Meu pai também foi ligado a ele por uns tempos. O Centro de Tradição Medieval.

- Isso mesmo! É verdade, eu ouvi falar que o sr. Black também chegou a associar-se a eles - comentou Dumbledore.

- Oh, meu pai sempre quis ser o mais conservador dos conservadores!

- Black, as filiações ideológicas de seu pai não estão em discussão. Deixe o Diretor continuar - reclamou Severus.

Sirius franziu o cenho e balançou a cabeça.

- Snape, eu não digo o que estou pensando em respeito ao Diretor.

Dumbledore abafou uma risadinha.

- Eu não preciso ser Legilimente para saber! - Dumbledore meneou a cabeça. - Como eu ia dizendo, tanto Fortescue quanto Ollivander eram apaixonados pela história e as práticas da magia na Idade Média e as estudaram em profundidade. Durante algum tempo, Tom Riddle freqüentou os mesmos círculos que eles, e deve ter feito parte do Centro de Tradição Medieval. Os três, Riddle, Ollivander e Fortescue, costumavam se reunir, após o trabalho, no Hog's Head, onde, como vocês sabem, meu irmão é balconista. Pois este meu irmão, Aberforth, me revelou que corria um boato, na época, de que os três haviam localizado o esplumeor de Rowena Ravenclaw, no Great Glen. Pouco tempo depois, Riddle desapareceu do mapa, e só retornou como Lord Voldemort. Aparentemente, Ollivander e Fortescue nunca mais conversaram com ele.

- O ex-plu o quê? - perguntou Harry

- Esplumeor. Era o nome dado à morada de Merlin, que jamais foi localizada. Ninguém sabe exatamente o que significa. Parece que, originalmente, significava "gaiola" - explicou-lhe Severus.

- Então Rowena tinha um esplumeor, como Merlin?

Severus arqueou uma sobrancelha e olhou inquisitivamente para o Diretor.

- É o que parece - disse Dumbledore.

- Você acha que o recente desaparecimento de Ollivander e Fortescue tem relação com as suas atividades naquela época, e com o esplumeor de Rowena? - perguntou Remus.

- É este o grande mistério que precisamos desvendar - respondeu Albus.

- Segundo me contaram, a sorveteria de Fortescue foi totalmente destruída. A loja de varinhas de Ollivander permaneceu intacta, mas Ollivander nunca mais foi visto. Isso parece indicar que Ollivander desapareceu por vontade própria - comentou Sirius.

- Não temos nenhuma pista. Nossa única esperança é encontrar o esplumeor de Ravenclaw - declarou Dumbledore.

- Mas por onde começar? - perguntou Harry.

Dumbledore mexeu sua varinha e um baú apareceu em seu colo.

- Aqui dentro estão reunidos os principais livros sobre Rowena Ravenclaw que consegui encontrar na Biblioteca de Hogwarts. Eu mesmo pretendia fazer essa pesquisa, mas a conjuntura atual me obriga a ter de me deslocar constantemente. Eu levaria tempo demais para obter resultados, e o tempo é cada vez mais precioso para nós.

- Nós faremos a pesquisa - declarou Sirius, decidido.

Dumbledore assentiu.

- Eu não gostaria, contudo, que essa atividade atrapalhasse os contatos de Remus entre os lobisomens. Ele deve permanecer junto a eles o máximo possível.

- Não tem problema - disse Harry. - Sirius e eu podemos fazer a pesquisa.

Severus lançou-lhe um olhar ofendido.

- Er, Severus também - emendou Harry.

- Com certeza, mas Severus precisa estar disponível para atender aos chamados de Riddle - observou Dumbledore.

- E fazer a Wolfsbane para Remus - acrescentou Sirius.

Severus olhou para o teto.

- Avisem-me quando tiverem decidido a minha agenda, sim?

Dumbledore se levantou.

- O chá e o bolinho estavam deliciosos, mas tenho outros compromissos bem menos agradáveis.

~*~*~

Dumbledore se foi, e logo em seguida Remus também. Sirius e Harry retiraram a louça da mesa enquanto Severus abria o baú para dar uma olhada nos livros.

Quando Sirius e Harry voltaram da cozinha, Severus havia colocado todos os cerca de vinte livros sobre a mesa e estava folheando um deles. Ao ver os dois chegarem, Severus se levantou.

- Vou lá para o alpendre começar o preparo da Wolfsbane.

- O que vai fazer com esse livro? - perguntou Sirius.

- Jogar no caldeirão, Black.

Sirius fez uma careta para Severus.

- Não vá se distrair com o livro e cometer algum erro.

Severus fez que não ouviu e dirigiu-se a Harry:

- A poção exige cuidados, mas há momentos em que não há nada a fazer exceto esperar. Vou aproveitar esses momentos para ler o livro e fazer anotações.

Severus saiu rumo aos fundos da casa. Sirius abriu um armário e retirou pergaminhos e penas. Harry sentou-se à mesa e começou a folhear um dos livros.

~*~*~

Às onze horas, Sirius foi para a cozinha preparar o almoço enquanto Severus e Harry praticavam magia conjunta. A Wolfsbane estava descansando tranqüilamente no caldeirão, segundo Severus, e só teria de receber novas atenções dali a duas horas.

Depois do almoço, Severus voltou à Wolfsbane. Harry e Sirius passaram o dia lendo e fazendo anotações.

Às cinco horas, Sirius preparou o chá. Harry foi até os fundos levar uma bandeja com uma xícara de Earl Grey e torradas para Severus.

À noite Remus voltou, exausto, e eles cearam.

Essa rotina se repetiu de modo praticamente igual nos dois dias seguintes. No terceiro dia de pesquisas, a Wolfsbane ficou pronta; Remus tomou um copo assim que chegou em casa. A noite seguinte seria de lua cheia.

No quarto dia, Severus juntou-se a Sirius e Harry na sala. Enquanto Sirius e Harry liam sentados à mesa, Severus lia no sofá. Remus chegou à tarde, fez um lanche, tomou a Wolfsbane e foi direto para o alpendre. Sirius despediu-se de Harry e foi atrás de Remus.

Harry se sentou ao lado de Severus no sofá, e lançou-lhe um olhar cheio de desejo.

- Eles vão ficar lá atrás. Será que podemos dormir juntos essa noite?

- Fizemos uma promessa - disse Severus.

- Mas... eu não agüento mais. Já faz quatro dias que você não me deixa nem encostar em você.

- Acha que é fácil, para mim?

Harry não queria, não podia aceitar aquela situação.

- O que nós prometemos foi que não iríamos tocar um no outro enquanto estivéssemos aqui dentro. E se fôssemos a outro lugar?

- Eu já lhe disse que você deveria ter sido colocado em Slytherin?

Harry fingiu ofender-se, mas sem conseguir ocultar o sorriso.

- Isso quer dizer que você aceita? Por que não vamos dar um passeio na praia? Estou cansado de ficar aqui dentro.

- E se Black voltar e não nos vir? Ele ficará preocupado.

- Não sabia que você se preocupava com os sentimentos dele...

Severus fez um gesto impaciente.

- Não ligo a mínima para os sentimentos dele. O que me preocupa é o caos que ele pode criar quando perde a calma.

- A gente deixa um bilhete pra ele.

~*~*~

Sirius começou a despir Remus para que suas roupas não rasgassem quando ele se transformasse. Remus estava lhe contando como fora seu dia entre os lobisomens.

- Hoje tive certeza de que Louis está vacilando. Eu estou quase convencendo-o de que Voldemort não é a melhor solução para nós.

- Estou começando a ficar com ciúmes desse Louis. Você parece empolgado, e passa o tempo todo com ele.

- Tolinho. Você sabe que isso é apenas trabalho.

Sirius sorriu.

- Isso também não é verdade. Você acredita no que está fazendo.

Remus suspirou.

- O pior é que acredito. É isso o que torna tudo mais árduo. Quando penso no que pode acontecer se falharmos...

Sirius abraçou o amante, agora completamente nu.

- Shh. Não pense bobagem.

Remus emitiu um murmúrio, algo entre um gemido e um uivo.

- Está começando.

Sirius sentiu um estremecimento percorrendo o corpo de Remus, e soube que era hora. Segurou-o contra si para que ele não se machucasse durante o doloroso processo de transformação.

Pêlos macios brotaram sob seus dedos, e Sirius os acariciou com ternura, sentindo o lobo relaxar e emitir um suave rosnado de prazer.

~*~*~

O céu era azul-escuro e salpicado de estrelas, apesar do brilho da lua cheia ofuscar quase tudo o que estava a seu redor. As ondas brancas quebravam na praia, e uma suave brisa soprava. Já era tarde, quase meia-noite.

Um momento de perfeita beleza. O céu, o mar, a areia sob seus pés, a brisa trazendo o cheiro do mar. O corpo de Severus comprimido ao seu, as mãos apertando-lhe os quadris. Seus próprios gemidos somando-se aos dele. O cheiro de Severus.

A textura dos lábios de Severus, o gosto de sua boca.

Ternura e paixão se combinavam em suas carícias. Eles ficaram ali, apenas se beijando e sentindo o corpo um do outro durante um longo tempo. O mundo parecia haver desaparecido. Só havia Severus e ele. Não havia pressa nem violência, e todas as sensações eram compartilhadas.

Devagar, corações batendo cada vez mais forte, eles se moviam juntos, despertando um no outro desejos novos e cada vez mais intensos.

Havia um rochedo ali atrás, não muito longe. Severus empurrou Harry e apertou-o contra ele.

Severus levantou as vestes de Harry e acariciou-lhe o tórax com a ponta dos dedos, acompanhando a linha das costelas e brincando com os mamilos já rígidos. Harry sentiu seu pênis ficar ereto. Severus comprimiu-o contra o rochedo, enfiando uma coxa por entre as dele e movendo os quadris numa dança sinuosa, roçando pênis contra pênis em movimentos precisos. Harry fechou os olhos quando Severus insinuou uma das mãos por entre seus corpos e cobriu-lhe o pênis com dedos firmes, enquanto capturava-lhe os lábios novamente. Harry gemeu em meio ao beijo, e puxou as vestes de Severus para cima até conseguir insinuar a mão por dentro de sua cueca e encontrar o pênis de Severus, ereto e já úmido.

Quando Harry abriu os olhos novamente, o luar iluminava o corpo de Severus, tão pálido, tão belo, encaixando-se perfeitamente ao seu.

- Severus... deixa eu ver você me tocando?

Severus se afastou um pouco, sempre segurando os dois pênis juntos. Harry olhou para baixo, maravilhado. Os dedos de Severus brincaram por sobre as duas pontas, misturando os fluídos e provocando sensações deliciosas. Os dois gemeram juntos, compartilhando as mesmas sensações. A mão de Harry juntou-se à de Severus e ele recolheu com a ponta do dedo um pouco de seu sêmen combinado para levar aos próprios lábios, depois aos de Severus, que lhe lambeu o dedo com uma expressão enlevada.

Severus impulsionou-se com mais força contra Harry, ritmando os movimentos.

Harry o abraçou como se quisesse fundir o corpo de Severus ao seu e entregou-se ao espasmo de prazer que percorria ambos os corpos ao mesmo tempo.

~*~*~

De manhã, quando Remus acordou, nu embaixo das cobertas que Sirius colocara sobre ele e completamente exausto pela dor e o esforço da transformação, Sirius o abraçou, vestiu e pegou no colo para levá-lo para o quarto.

Snape ainda estava dormindo no sofá quando Sirius passou pela sala. Nenhum sinal de Harry.

Chegando ao quarto, Sirius depositou Remus sobre a cama, deitou-se a seu lado e puxou as cobertas.

- Durma de novo, amor. Você precisa descansar.

Remus adormeceu outra vez. Sirius esperou algum tempo; só quando teve certeza de que Remus adormecera profundamente, levantou-se, desceu as escadas e foi preparar o café da manhã.

Depois do café, Sirius, Snape e Harry se reuniram na sala para fazerem um balanço de suas pesquisas. Sirius e Harry estavam sentados no sofá; Snape, numa poltrona.

- Quantos livros faltam para terminarmos? - perguntou Sirius.

- Três - responderam Harry e Snape em coro.

Era algo que estava ficando cada vez mais comum, Harry e Snape falarem ao mesmo tempo. A princípio, aquilo irritara Sirius. Agora Sirius começava a se conformar com a idéia de que seu afilhado e seu antigo desafeto possuíam uma relação especial e compartilhavam magia e pensamentos.

- Então vamos conversar sobre o que já descobrimos até agora e ver se temos alguma pista ou não. Eu estou cansado de ler sempre as mesmas coisas, e não creio que tenha achado nada de muito importante.

- Receio ter de concordar com você, Black. É sempre a mesma coisa: Rowena Ravenclaw nasceu na região do Great Glen, na Escócia. Era ainda muito jovem quando conheceu Helga Hufflepuff. Tornaram-se grandes amigas. Alguns anos mais tarde, reuniram-se a Salazar Slytherin e Goddric Gryffindor e fundaram Hogwarts. Ela era muito inteligente e criativa e valorizava alunos com essas mesmas qualidades. Foi a principal responsável pela arquitetura do castelo, com seus andares mutáveis.

Harry suspirou.

- É isso mesmo. Não encontrei nada além disso.

- Vamos dividir esses últimos três livros entre nós e terminarmos logo essa chateação - disse Snape.

~*~*~

O livro que coube a Harry, Hogwarts, Os Fundadores, de Aloysius Pensick, continha as biografias dos quatro fundadores de Hogwarts. Assim, Harry precisava ler apenas cerca de um quarto do livro, a parte referente a Ravenclaw. E ele a estava terminando quando...

- Ei, está faltando uma folha aqui! A folha final da biografia de Rowena!

Severus e Sirius se levantaram ao mesmo tempo e se aproximaram de Harry, um de cada lado.

- "Ao final de sua..." É verdade - disse Sirius. - Falta o resto da frase.

- A numeração passa de 52 para 55 - observou Severus.

- Isso deve ser importante. Precisamos ver se encontramos esse livro em algum outro lugar - declarou Sirius.

Severus anotou o nome e o autor do livro em um pedaço de pergaminho.

- Eu vou até a Floreios & Borrões agora mesmo.

~*~*~

Severus retornou três horas mais tarde, cansado e de mãos vazias. A busca em Floreios & Borrões se revelara infrutífera. Severus fora também até a Editora Obscurus, que havia editado o livro alguns séculos atrás, mas lá lhe haviam informado que a edição estava esgotada há muito tempo e que eles não possuíam nenhum exemplar no depósito.

O desânimo se abateu sobre todos. Harry havia terminado o livro que Severus deixara por ler e também não havia encontrado nada de novo, assim como Sirius no último livro que lhe coubera.

Remus, que se reunira a eles na sala e parecia recuperado, franziu o cenho.

- Sirius... você disse que seu pai era ligado ao Centro de Tradição Medieval...

- Será? Será que ele teria esse livro? - Sirius se levantou, agitado, e ficou andando de um lado para o outro na sala.

Severus, que continuava em pé desde que chegara, dirigiu-se à lareira e jogou um punhado de pó de Flu lá dentro:

- Escritório de Dumbledore, Grimmauld Place número 12.

Harry se aproximou de Severus e viu o rosto de Dumbledore surgir na lareira alguns segundos depois.

- Severus! A que devo o prazer?

- Albus, está faltando uma folha em um dos livros que você deixou conosco. Acreditamos que possa haver um outro exemplar na biblioteca de Grimmauld Place. Você poderia verificar para nós?

- Sem dúvida! Qual é o nome?

- Hogwarts, Os Fundadores, de Aloysius Pensick.

Enquanto esperavam a volta de Dumbledore, ninguém conseguiu fazer nada. Severus esperava junto à lareira, impassível. Remus sentou-se no sofá. Sirius continuava andando de um lado para o outro, pensativo. Harry esperou atrás de Severus, apoiando o peso ora num pé, ora no outro.

Enfim, o rosto de Dumbledore surgiu por entre as chamas.

- Aqui está.

Dumbledore esticou a mão e entregou o livro nas mãos de Severus.

Enquanto Severus agradecia, Sirius puxou o livro das mãos dele e rapidamente folheou até chegar à página 53.

- Sirius, traga aqui na mesa para todos poderem ver! - pediu Harry.

Sirius atendeu ao pedido de Harry. A primeira coisa que Harry leu foi um poema contido em uma nota de pé de página:

Rainha dos ares,
Da torre entre as nuvens,
Como águia mergulhas
Rumo ao calmo Glen
Onde a sorveira-brava
Oculta a queda d'água
Além da rocha cinza,
Da escarpa vermelha,
E do lago verde.

Então ele voltou ao início da página, onde havia apenas uma frase:

"Rowena Ravenclaw retirou-se ao seu esplumeor, no Great Glen, onde permaneceu até seu falecimento, no ano de 1033."

Havia um asterisco ao final da frase, remetendo a uma nota que atribuía a informação a esses versos do poeta Winnoc de Worthen, em seu poema L'Aquila.

Harry tentou entender o que acabara de ler.

- Então essa é a descrição do lugar onde ela morava. Deve ser um lugar com uma torre. E provavelmente ela era um Animagus, e se transformava em uma águia.

Severus sacudiu a cabeça.

- Mas as indicações são muito vagas! Deve haver trilhões de sorveiras-bravas no Great Glen.

- Hmm... A descrição segue o caminho da casa dela até o Great Glen. Portanto, se partirmos do Great Glen, teríamos de encontrar uma cachoeira. Deve haver dezenas de cachoeiras por lá. Mas após a cachoeira, deve haver um lago verde. Talvez não haja muitos lagos verdes - disse Remus, esperançoso.

- Acho que teremos de ir até lá para descobrir - disse Sirius. - O problema é que nem sabemos o que é que vamos procurar! Quer dizer, eu sei que queremos encontrar o esplumeor de Rowena. Mas o que vamos procurar lá?

- Eu andei pensando sobre isso, e acho que tenho uma idéia a respeito - disse Remus. - Digam-me se acham que faz sentido: até agora temos, como Horcrux de Hufflepuff, uma taça; e como Horcrux de Slytherin, o medalhão e o anel. Pelo que Dumbledore nos contou, Voldemort queria fazer uma Horcrux com a espada de Gryffindor. Ora, esses são os naipes do baralho. A taça é Copas; a espada é Espadas; o medalhão e o anel... bem, eles são de ouro, não? Vou considerá-los como sendo de Ouros. Seguindo essa lógica, a Horcrux de Ravenclaw deve ser algo de Paus.

- Puxa, Remus, isso é brilhante. Mas o quê de Paus? - perguntou Harry.

Remus deu um sorriso enigmático.

- Não temos como ter certeza, mas por que não a varinha de Rowena?

- Proponho que aparatemos amanhã de manhã no Great Glen e iniciemos as buscas - disse Sirius.

- Poderíamos ir em duas duplas, levando nossas vassouras conosco - sugeriu Remus. - Uma dupla começaria de Inverness, no extremo norte, e seguiria para o sul; a outra começaria de Fort William, no extremo sul, e seguiria para o norte. A dupla que encontrasse uma cachoeira com um lago verde por perto enviaria um Patronus para a outra, e todos nos reuniríamos novamente.

- Perfeito. Eu vou com Harry - declarou Sirius.

- Por que você? Eu tenho muito mais condições de proteger Harry do que você - reclamou Severus.

- Ei, quem falou que eu preciso de proteção? - protestou Harry.

Severus olhou para Harry com uma cara de quem havia sido profundamente ofendido, e Harry conseguiu ler muito claramente a mensagem "Se você prefere ir com Black, é problema seu. Faça bom proveito" estampada na mente de Severus. Harry suspirou em alto e bom som enquanto tentava transmitir a Severus a mensagem de que ele estava sendo um idiota.

- Ele é meu afilhado. Sou responsável por ele - insistiu Sirius.

- Não vamos discutir por assuntos de menor importância - disse Remus, impaciente. - Tanto faz quem vai com quem, mesmo porque, na verdade, estaremos sempre sobrevoando rios e lagos, e cada um terá de ir por uma das margens.

~*~*~

Na manhã seguinte, Sirius tirou todos da cama às cinco e meia da manhã; Remus preparou um café da manhã às pressas e às seis e quinze, depois de todos se protegerem com feitiços da Desilusão para que os Muggles não pudessem vê-los, eles estavam prontos para partir.

Sirius fez uma Aparatação Acompanhada com Harry e lá estavam eles, na extremidade norte do Caledonian Canal, onde o rio Ness encontra o Moray Firth, junto à cidade de Inverness. O céu estava azul, com apenas algumas nuvens brancas esparsas. Era um belo dia.

- Escolhemos o pior trajeto. O sol vai bater direto em nossos rostos. - Sirius transfigurou os óculos de Harry em óculos escuros e pegou um par semelhante para si mesmo num bolso interno de suas vestes.- Você segue pelo lado esquerdo do rio e eu pelo lado direito; quando um de nós avistar uma cachoeira ou um lago verde ou qualquer outra coisa que pareça interessante, envia um sinal para chamar o outro. Faíscas vermelhas, o que você acha? O rio não é muito largo, mas quando chegarmos ao lago Ness, ficaremos a mais de um quilômetro de distância. Tudo bem?

- Tudo bem - respondeu Harry.

Eles decolaram, o sol incidindo à sua frente, à esquerda. Os 30 quilômetros entre Inverness e Drumnadrochit transcorreram sem nenhum incidente. Ao passar sobre Drumnadrochit, Harry resolveu voar a uma altura mais elevada, pois era uma cidade bastante povoada.

No trecho seguinte, Harry chegou ao famoso Loch Ness, sempre pela margem esquerda. Em certo momento, Harry avistou faíscas vermelhas vindas do lado direito - era o sinal de Sirius para que Harry se aproximasse dele. Harry foi até Sirius, que, na verdade, só queria lhe mostrar as ruínas do castelo de Urquhart. Eles desceram até perto do solo para observar a estranha e fascinante construção, com suas sinuosas muralhas de pedra e suas quatro torres.

A seguir, separaram-se de novo, mas poucos minutos depois Harry encontrou uma região cheia de cachoeiras e chamou Sirius. Sirius lhe explicou que estavam chegando perto de Invermoriston, na região média do Great Glen, e que era exatamente ali que o rio Moriston "despencava" sobre o lago Ness, formando várias cachoeiras. Isso os obrigou a irem juntos e mais devagar: eles precisavam examiná-las uma a uma, procurando lagos verdes nas redondezas. Para não se perderem um do outro, removeram o feitiço de Desilusão.

Estavam sobrevoando uma mata de bétulas entremeada por sorveiras-bravas cujas florzinhas cor-de-creme resistiam ao início do verão quando Sirius gritou:

- Espere! Acho que avistei uma cachoeira oculta pelas árvores.

Harry deu meia-volta e rumou na direção indicada por Sirius. Era verdade. Havia uma cachoeira ali, mas as árvores praticamente a encobriam. Um velho moinho abandonado guardava suas margens, e lavandiscas, mergulhões e um ou outro martim-pescador esvoaçavam por ali.

Harry empinou a vassoura e foi subindo pela cachoeira até encontrar o rio correndo lá em cima, sobre um platô na montanha, ladeado por outras montanhas e sempre cercado pelas bétulas. Sirius passou por ele, acompanhando o rio. Em determinado momento, Harry viu Sirius desviar do rio e seguir um pequeno riacho que saía dele. Harry foi atrás de Sirius, e eles foram dar em um lago cercado pelas árvores. A cor do lago era inconfundível.

- É verde - gritou Sirius.

- Mais verde impossível! - respondeu Harry, exultante.

- É tão verde quanto um Slytherin - brincou Sirius.

- Vou chamar Severus e Remus.

- Certo. Enquanto isso eu procuro a maldita escarpa vermelha.

Harry lançou imediatamente seu Patronus. Enquanto esperava que eles chegassem, Harry alçou vôo e traçou alguns círculos em torno do lago para ganhar altura e poder observá-lo melhor.

Severus e Remus chegaram em menos de um minuto. Assim que eles removeram seus feitiços de Desilusão, Sirius gritou, de longe, em provocação:

- Seus molengas, pensei que vocês fossem chegar aqui primeiro.

- Teríamos chegado, se o seu amigo não tivesse insistido em ir inspecionar as cachoeiras do lago Arkaig. Eu disse a ele que o lago Arkaig era fora da nossa rota, mas ele teimou. Isso fez com que nos desviássemos e perdêssemos muito tempo.

- Severus, deixe de ser ranzinza - disse Remus. - Veja só, eles acharam o lago verde.

Severus ignorou Remus e voltou-se para Harry, devolvendo-lhe o olhar intenso que ele lhe lançava. Harry se aproximou. Queria muito abraçá-lo... Por um momento, os dois pararam um diante do outro, a magia fluindo entre ambos. Harry fechou os olhos e sentiu como se Severus o estivesse abraçando. Nesse momento, contudo, Sirius chamou-os outra vez.

- Achei a escarpa vermelha!

Severus, Harry e Remus contornaram o lago para ir atrás de Sirius, que se havia embrenhado por entre as árvores e não era visível de onde eles estavam.

Sirius acabara voltando ao rio e encontrando um local, em seu lado esquerdo, onde a margem se elevava em uma escarpa vermelha, bastante alta. O rio ali era bastante turbulento, pois a descida era íngreme. Devia ser uma visão amedrontadora, lá de cima do precipício.

- Certo. Essa é a escarpa vermelha. Agora falta pouco. Só precisamos achar a rocha cinza - comentou Harry.

Sirius montou em sua vassoura.

- Vamos lá para cima de novo.

Enquanto subia, Harry observava como Severus manejava a vassoura com elegância. Harry não se lembrava de tê-lo visto voar - a não ser no dia do jogo de Quidditch que Severus arbitrara, no primeiro ano de Harry, quando Harry não se preocupara nem um pouco em observá-lo.

Severus notou que Harry o estava observando e deu um sorriso vaidoso. Eles agora já estavam acima das montanhas, seguindo por sobre o rio. Sirius, que estava fazendo loopings e ziguezagues, aproximou-se dos dois pela esquerda em uma curva arrojada, passando rente a Severus.

- Querem parar de ficar olhando um para o outro e prestar atenção no caminho?

Severus empertigou-se ainda mais.

- Você só está irritado porque fica fazendo piruetas mirabolantes para atrair a atenção de Harry, mas ele não está nem um pouco interessado.

- Gostou das minhas piruetas, Snape?

- Black, se eu gostasse desse tipo de exibição, iria a um circo Muggle.

Sirius olhou para Severus com curiosidade.

- Circos Muggle! Acho que eles estão em extinção. Desde que saí de Azkaban nunca mais soube de nenhum.Você ia a circos Muggle quando era pequeno?

- Fui uma vez. Meu pai era Muggle, como você sabe.

- É mesmo, Sev? - perguntou Harry, deixando escapar o apelido carinhoso que só usava intimamente com Severus.

- Sim. Os seus amigos Marotos costumavam zombar de mim por isso. Eles eram de sangue puro, e eu era um reles meio-a-meio.

Harry não entendia mais nada. Severus, que era de Slytherin, era meio-a-meio, e os Marotos, de Gryffindor, eram de sangue puro e zombavam dele por ser meio-a-meio? O mundo parecia estar de cabeça para baixo.

- Não era assim, Harry. Remus também é meio-a-meio; nós nunca tivemos preconceitos contra meio-a-meios. É que Snape ficava louco se a gente falasse que ele era meio-a-meio, então sabe como é... - explicou Sirius. - Snape também não era nenhum anjo. Ele descobria os nossos pontos fracos e jogava em cima de nós.

Nesse momento, Remus se aproximou deles.

- Desculpem interromper esses momentos de felizes recordações, mas se aquilo não é uma rocha cinza eu sou um Comensal da Morte.

À margem direita, um pouco mais adiante, havia uma montanha que parecia ser feita de ferro.

- Salazar! - exclamou Severus. - Há muitas rochas cinza nessa região, mas essa é especialmente cinza. Nem parece natural.

Eles voaram até lá e pousaram no topo da rocha cinza.

- Aqui estamos. Seguimos todas as pistas que tínhamos. E agora? - perguntou Sirius.

- Agora precisamos de mais alguma pista - disse Severus.

Harry olhou para todos os lados lenta e cuidadosamente. De um lado, o rio, de onde eles tinham vindo. Dos outros lados, mais montanhas.

- Acho que devemos seguir o rio - disse Harry. - Até agora, ele não nos decepcionou.

Sirius deu de ombros.

- Vamos lá, então. Mas acho melhor alguns de nós irem a pé. Não sabemos o que estamos procurando.

Severus e Sirius seguiram voando; Remus e Harry, a pé.

O sol já estava alto. Uma leve brisa soprava por entre as bétulas. Entre as bétulas e sorveiras-bravas, alguns pinheiros se sobressaíam, seus troncos avermelhados sob a luz do sol. Eles caminhavam por sobre as pedras cinzas que cobriam a margem do rio.

De repente, uma águia (amplas asas, penugem marrom, bico curvo) voou à sua frente, da esquerda para a direita, e desapareceu por entre as árvores.

Harry estancou.

- Er...

- Vamos atrás dela - gritou Sirius lá de cima.

Harry e Remus montaram em suas vassouras e subiram, virando à direita junto com Severus e Sirius. A águia subiu até o topo de uma alta montanha e... desapareceu.

- Há algo lá em cima, no topo da montanha - disse Severus.

- Parece um cubo - sugeriu Harry.

- Vamos até lá - disse Sirius.

 

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