Capítulo III - O Diretor Explica

 

Não eram nem seis horas ainda, mas o Diretor os recebeu em seu escritório e, após revelar surpresa pelo inusitado da hora, convidou-os a se sentarem.

Severus relatou a presença inesperada e extremamente não-bem-vinda de Sirius Black em seu espelho de cristalomancia. Não procurou esconder do Diretor o fato de que Harry estava em seu quarto àquela hora da manhã. Severus estava cansado de hipocrisia, e também bastante irritado.

O Diretor coçou a longa barba com sua mão ainda intacta.

- Interessante... Bastante peculiar. Eu jamais poderia ter previsto este acontecimento! O seu espelho entrou em comunicação com um outro espelho, em posse de Sirius Black.

- Sirius Black, ao que eu saiba, está morto.

O Diretor simplesmente ignorou a fala de Severus.

- Harry, o seu padrinho tinha um espelho de cristalomancia em seu poder?

- Sirius? Um espelho de... Oh. Ele me deu um espelho pequeno, para que pudéssemos nos comunicar, e ficou com outro igual. Mas não creio que fosse um espelho como o de Severus.

- Muito interessante! O espelho de cristalomancia que pertenceu a Grindelwald deve ter a capacidade de se comunicar com outros espelhos, também! Então é isso. Confesso que não me preocupei em verificar essas propriedades menos importantes quando estudei seus efeitos.

- Menos importantes? Mas, Diretor - Harry estava trêmulo -, o que está acontecendo? Sirius está vivo?

Severus apoiou a mão sobre o ombro de Harry, tentando transmitir-lhe apoio. O Diretor meneou a cabeça.

- Sinto muito, Harry. Eu sei o quanto foi duro para você. Foi muito difícil para mim, também, ter de afastar seu padrinho de sua vida.

Harry se levantou de chofre.

- Está me dizendo que Sirius está vivo? Que a morte dele não passou de uma das suas encenações? Mais um lance em seu jogo de xadrez?

Severus também se levantou, mais preocupado do que zangado, sem saber o que fazer. Harry parecia à beira de um colapso.

- Por favor, Harry, sente-se. É uma longa história - declarou o Diretor.

Severus puxou Harry de volta para a cadeira pelo braço e se sentou a seu lado.

- Como vocês se lembram, Sirius passou quase um ano escondido em Grimmauld Place, já que era procurado pelos Aurores. E vocês também devem se lembrar que ele não estava nada feliz com a situação.

Severus bufou, mas em seguida viu Harry cerrar o punho, e achou melhor se controlar. Harry estava prestes a explodir. Albus prosseguiu.

- Está fazendo um ano... Em maio, algumas semanas antes do final do ano letivo, Sirius pediu para falar comigo. Ele me disse que não agüentava mais ficar lá sem fazer nada, que queria participar de ações junto com a Ordem. Eu pensei muito e ofereci ele a única alternativa viável. Disse a ele que, se ele estivesse morto, ninguém iria procurar por ele. Disse-lhe mais. Disse-lhe que estava efetuando importantes investigações, nas quais ele poderia me ajudar muito, se estivesse morto. Sirius parecia inclinado a aceitar, e quando lhe contei em que consistiam essas investigações, ele concordou com meu plano.

- E que investigações eram essas, Diretor? - perguntou Severus.

- Mais tarde falaremos sobre isso, Severus. Pois bem. O plano era que Sirius deveria simular sua morte na primeira ocasião em que houvesse um ataque dos Comensais da Morte suficientemente importante para ser noticiado pelos jornais. A ocasião se apresentou, de forma magnífica, quando os Comensais da Morte invadiram o Departamento de Mistérios.

- Então Sirius apenas fingiu cair atrás do véu? - perguntou Harry, em voz trêmula.

- Exato. Ele pronunciou um feitiço não-verbal para aparatar dali diretamente na casa de Remus Lupin, que já havíamos colocado sob o feitiço Fidelius. Naturalmente que ele hesitou em deixar que vocês enfrentassem os Comensais sozinhos, mas garanti a ele que eu chegaria a tempo.

- Um plano perfeito - resmungou Severus. - Exceto pelo fato de que vocês partiram o coração de Harry. Gostaria de saber que necessidade havia de não contar a ele.

- Severus, você sabe muito bem que Harry estava sendo alvo dos ataques de Riddle, que tentava possuí-lo. E as suas aulas de Oclumência, infelizmente, não estavam dando nenhum resultado.

Severus sentiu o sangue ferver nas veias.

- Se você houvesse revelado claramente a Harry o que estava acontecendo, tudo teria sido diferente.

- Eu já pedi desculpas a Harry pelo meu erro. Não adianta procurarmos culpados. O fato é que Harry não havia aprendido Oclumência, e Riddle poderia ler sua mente com facilidade. Não podíamos correr o risco.

Harry meneava a cabeça, em choque. Severus se levantou e se ajoelhou diante dele.

- Harry? Você está bem?

- Estou. E eu estou feliz porque Sirius está vivo. Mas não sei se vou conseguir perdoar isso. Especialmente a ele - disse Harry, indicando Dumbledore com a cabeça.

- A idéia foi toda minha. Não culpe a Sirius. Ele também sofreu muito por ter de se separar de você, e só o fez para ajudá-lo.

- Muito bem, Albus, que investigações são essas que você e Black andaram efetuando?

- É outra longa história, e nada agradável de se ouvir.

- Ainda temos mais de uma hora até que as aulas comecem - disse Severus.

- Eu vou pedir o café da manhã aqui para nós, então.

Severus ia protestar, mas se lembrou de que Harry precisava comer alguma coisa antes de ir para a classe. Não que Harry parecesse mais entusiasmado com a idéia do que ele.

Dumbledore fez um gesto com sua varinha e a escrivaninha se transformou em uma mesa com louça para três e flocos de milho, suco de laranja, ovos mexidos, mingau, pãezinhos, torradas, geléia, leite e, naturalmente, chá.

- Vamos, sirvam-se. Não é bom terem tantas emoções antes do café da manhã!

Visivelmente a contragosto, Harry pegou uma torrada, e Severus serviu-se de uma xícara de chá.

- Pronto, Albus. Conte logo essa história.

- Vocês se lembram de quando Harry destruiu o diário de Riddle? Aquele foi o primeiro sinal que me levou a desconfiar de algo terrível. Riddle havia conseguido embutir um pedaço de sua alma no diário. Isso era magia negra das mais poderosas. Em outras palavras, o diário era uma Horcrux.

Severus quase engasgou.

- Uma Horcrux?

- Exatamente.

- O que é isso? - perguntou Harry.

- É um feitiço extremamente negativo, que exige que a pessoa tenha cometido um assassinato para executá-lo. Por meio desse feitiço, o mago divide sua própria alma e armazena um pedaço dela em um objeto. Assim, ele ganha uma sobrevida. Se esse mago morrer, a alma aprisionada no objeto sobreviverá - explicou Dumbledore. - A existência desse diário-Horcrux e o modo descuidado como Riddle lidara com ele fez com que eu me perguntasse se Riddle não teria criado outras Horcruxes. Assassinatos ele cometera aos montes. E maldade suficiente para fragmentar sua alma outras vezes também não lhe faltava. Comecei a investigar essa possibilidade, pesquisando a respeito da vida de Riddle. Lembra-se de seu antigo professor de Poções, Slughorn? - perguntou Dumbledore a Severus.

- Claro que me lembro.

- Ele havia sido também professor de Riddle. Acabei conseguindo localizá-lo.

- Ah - disse Severus, sem nenhum entusiasmo. Slughorn não era um mau professor, mas era um tipo que se deixava seduzir pelo nome e a fama das pessoas. Como Severus era pobre, feio, mestiço e filho de ilustres desconhecidos, Slughorn sempre o ignorara. - E daí?

- A muito custo, consegui extrair dele a informação de que Riddle, certa vez, mencionara a possibilidade de dividir a alma em sete partes.

- Sete? - Severus estremeceu.

- Um número mágico.

- Albus, mas isso é uma calamidade. Está me dizendo que o Lord das Trevas criou sete Horcruxes? Nós jamais conseguiremos destruí-lo!

O olhar de Dumbledore se voltou diretamente a Harry, que parecia mortificado.

- Era por isso que eu precisava da ajuda de Sirius. Ele tem trabalhado com afinco e, graças a ele, consegui destruir o anel de Slytherin que estava guardado na casa dos Gaunt, a família materna de Riddle. Portanto, já destruímos dois dos seis Horcruxes.

- Seis ou sete? - perguntou Harry.

- O sétimo pedaço de alma está no próprio Voldemort.

- E quais são os outros quatro? - indagou Severus.

- Esse é o maior problema no momento. Nós não sabemos. Temos sólidas pistas a respeito de duas outras Horcruxes, mas a respeito das outras, só podemos especular. Sirius tem todas essas informações, e agora que vocês já estão a par de tudo, creio que o melhor é que conversem diretamente com ele a respeito. Ainda mais que... eu tenho uma outra notícia a lhes dar.

Severus suspirou, e sentiu Harry estremecer. Nenhum dos dois disse nada, contudo.

- Isso deve ser mantido em sigilo absoluto. Eu serei obrigado a fechar Hogwarts em duas semanas. Severus já me informou, há bastante tempo, que Riddle planeja atacar Hogwarts na segunda semana de junho. Iremos realizar os exames na semana que vem, e então mandar as crianças para suas casas. Fui gravemente ferido, e não tenho mais condições de dar a proteção ideal a meus alunos.

Severus baixou a cabeça. Era triste, mas eles precisavam encarar a realidade. Dumbledore estava agindo corretamente.

- E para onde nós vamos? - perguntou Harry, a voz carregada de preocupação.

- Os alunos irão para suas casas; alguns membros da Ordem ficarão em prontidão em Grimmauld Place; eu estarei com eles, e gostaria que Severus ficasse também. Você, Harry, talvez prefire ficar com seu padrinho, na casa de Lupin?

Severus ergueu os olhos para Harry. Mil emoções pareceram passar pelo rosto do garoto em poucos segundos.

- Eu gostaria, sim, de ver meu padrinho. - Harry voltou seu olhar a Severus. - Mas não quero me separar de Severus.

- De fato, eu acho que seria bom vocês continuarem o seu treinamento. Se Severus concordar, eu posso conversar com Remus e Sirius sobre a possibilidade de ele ficar lá também.

- Eu, na casa de Lupin? De jeito nenhum.

- Severus... - O tom de Harry era de súplica.

Severus suspirou.

- Você viu como Black me tratou, não viu?

- Eu conversarei com ele, Severus - disse Dumbledore, em seu tom mais seguro e paternal. - Não tenha receios.

Severus sacudiu a cabeça, desolado. Aquilo iria ser um inferno.

 

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Ptyx, Setembro/2005