BAPHOMET II
Ptyx


BAPHOMET II - A Missão

Parte I - Ninguém Pode Matá-lo Se Você Já Está Morto

Capítulo I - Arrolhando a Morte

 

Sirius Black era um homem morto, mas ele estava acostumado. Depois de doze anos em Azkaban, dois anos foragido e um ano trancado em Grimmauld Place, ter de ficar na casa de Remus Lupin - a única pessoa, além de Albus Dumbledore, para quem ele não estava morto - não devia ser tão terrível.

Apesar da irrealidade da situação de ambos, Remus estava ajudando-o a voltar ao mundo real, a aprender a se comunicar novamente com um outro ser humano. Remus fora o primeiro a tocá-lo e a se deixar tocar por ele. Não havia sido fácil, mas Remus havia sido infinitamente paciente.

Acima de tudo, ele precisava ajudar Remus a suportar a vida que estava levando. Dumbledore mandara Remus infiltrar-se entre os lobisomens, para espioná-los e ganhar a confiança dos mais acessíveis. Remus só podia voltar para casa à noite, em segredo, e parecia mais deprimido a cada dia.

Como Remus, Sirius aceitara as orientações de Dumbledore, e cada vez mais se perguntava se agira corretamente ou não.

O pior de tudo havia sido deixar Harry sozinho. Mesmo que tudo o que estivesse fazendo fosse para salvar Harry, Sirius se sentia culpado. Não só fora ele o causador das mortes de James e Lily, como agora abandonara o filho deles e seu afilhado.

- Sirius.

Sirius sentiu um toque em seu ombro e se virou na cama na direção do responsável pelo toque. Remus era muito sensual com a cara amassada e os cabelos revoltos. Sirius passou um braço possessivo ao redor da cintura do amante.

- Remus. Ainda é cedo. Pode dormir mais um pouco.

- E você, porque está aí, ruminando?

- Eu? Nada. Ou melhor, o de sempre.

- Agora temos de tocar em frente. Arrependimentos não nos levarão a lugar algum.

- Eu sei.

Remus se aconchegou mais junto a Sirius.

- Ah, se eu pudesse ficar aqui a manhã toda, em vez de ter de ir conversar com a minha espécie...

- Não fale assim, Remus. Você é mais humano do que todos nós.

Remus deu um sorriso torto.

- Se todos pensassem como você...

- O mundo seria insuportavelmente louco.

Remus riu.

- Lá isso é verdade.

Sirius fingiu se zangar e beliscou o traseiro de Remus.

- Aahhh! Você vai me pagar por isso - Remus ameaçou.

- Quero só ver.

Remus rolou para cima dele, e eles se embolaram em uma confusão de pernas, braços, bocas, mãos...

Era assim em quase todas as noites e todas as manhãs. Eles conversavam, trocavam provocações, faziam amor. Era só isso o que mantinha Sirius realmente vivo. Durante o resto do dia, Sirius não conseguia deixar de pensar no que Remus tinha de passar junto aos lobisomens, enquanto ele próprio precisava se enfronhar nos lugares mais sujos e falar com as pessoas mais repulsivas para conseguir pistas sobre a família Gaunt e o maldito anel de Slytherin.

Não, estar morto não era a melhor das experiências de sua vida, e só a companhia de Remus ajudava a atenuar a angústia que sentia por estar afastado de Harry.

~* ~* ~

As aulas do dia haviam acabado e Severus estava corrigindo ensaios quando Albus irrompeu na lareira.

- Albus!

O Diretor estava segurando o braço, e sua mão estava fumegante. Severus correu para ele.

- Acho que vou sobreviver, Severus. Mas se você conseguir interromper esse feitiço, eu agradeceria.

Severus segurou-lhe a mão, ergueu a varinha e pronunciou o feitiço de cura mais poderoso que existia.

Paradoxalmente, esse feitiço era o Avada Kedavra. Sim, porque o Avada Kedavra era, originalmente, um feitiço de cura, feito para a destruição não da pessoa, mas da doença. Severus se concentrou no feitiço que deveria combater e lançou o Avada Kedavra sobre ele. Um brilho verde envolveu o braço de Dumbledore.

Albus respirou fundo, claramente aliviado. Mas sua mão estava preta, quase carbonizada. Severus encostou a varinha nela e começou a entoar um feitiço restaurador. Albus se encostou a ele, e Severus o amparou. Ao terminar de entoar o feitiço, Severus levou Albus até o sofá e fez com que sentasse.

Albus segurou a própria mão ferida e a observou.

- Obrigado, Severus. Você conseguiu interromper o processo.

Severus o encarou com ar de dúvida. A mão de Albus, a mão com que ele segurava a varinha, jamais se recuperaria. E provavelmente a saúde de Albus estava comprometida também. Severus sentiu lágrimas aflorarem-lhe aos olhos. Tudo o que sabia de medicina mágica lhe dizia que Albus não teria muitos meses de vida.

- Ora, ora, Severus, não fique assim. Eu já estou velho. Mais cedo ou mais tarde, tinha de acontecer.

- O que foi isso, Albus? Como esse feitiço o atingiu?

Albus abriu a mão ressecada e mostrou um anel de ouro com uma pedra negra rachada ao meio.

- O anel de Salazar Slytherin.

- Mas... quem o enfeitiçou? E como você o obteve?

- Isso demandaria uma longa explicação, meu caro. E acho que você concorda que este não é o melhor momento para isso, não?

Severus não sabia se ficava com raiva, pena, ou se apenas desesperado.

- Tem razão. Você precisa ir para a enfermaria. Pomfrey tem lá as poções que podem ajudar na sua recuperação. Vou acompanhá-lo até lá.

~* ~* ~

À noite, Harry foi procurá-lo em seu escritório, usando a capa. Era a primeira vez que o via a sós após a noite que haviam passado na Sala da Requisição. Harry o abraçou, e Severus se sentiu confortado. A afinidade mágica às vezes era o melhor dos feitiços curativos.

- O que aconteceu? O castelo todo está comentando que Dumbledore teve de ir para a ala hospitalar. E você não está bem, eu sinto.

Severus ficou fitando Harry olhos nos olhos, perguntando a si mesmo se contava ou não. Não adiantava tentar esconder nada dele. Harry era agora um Legilimente poderosíssimo. Não era tão bom em Oclumência, mas Severus iria lhe ensinar tudo o que sabia e...

Era engraçado. Quando estava com Harry, Severus ficava estranhamente otimista. Precisava tomar cuidado com essa tendência.

- Dumbledore se feriu gravemente. Tive de aplicar-lhe um feitiço curativo muito forte. Mas você sabe como ele é teimoso; não quis ficar na ala hospitalar.

Antes de se sentar no sofá, Harry foi até o viveiro de Ceci e a pegou no colo.

- Eu não sabia que você era tão bom em cura de feitiços das trevas - Harry comentou, sentando-se ao lado de Severus.

- Albus me ensinou muitas coisas, além de Oclumência. Você não acha que ele me mandaria espionar Voldemort sem antes ter me preparado da melhor maneira possível, acha?

- Eu nunca havia pensado nisso.

- Você não confia nele.

Harry deu de ombros.

- Ele é um velho manipulador.

Severus não gostava quando Harry criticava Albus. Impaciente, levantou-se.

- O que você veio fazer aqui, afinal?

Harry franziu o cenho.

- Vai ficar zangado só porque eu não gosto de Dumbledore? Eu estava preocupado com você, e com saudade. Só isso.

O garoto se levantou, evidentemente zangado, deixou Ceci em seu cercadinho, pegou a capa de invisibilidade e seguiu para a porta. Severus foi ao seu encalce e o agarrou por trás, passando ambos os braços ao redor de seu tórax.

- Shh. - A magia começou a fluir entre ambos novamente. - Não vá.

Harry se virou em seus braços.

- Você está tenso por causa de Dumbledore? Acha que ele não tem cura?

- Temo que não.

- Deixa eu... ficar com você esta noite?

- No meu quarto?

- É.

Não seria prudente, mas Severus não tinha forças para resistir. Não depois do que acontecera com Albus. Seria muito bom não passar sozinho aquela noite.

 

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Ptyx, Setembro/2005