Capítulo XV - O Mistério Final


 

Draco entrou no escritório de Albus escoltado por Shacklebolt. Este queria permanecer no escritório, mas Albus pediu-lhe que os deixasse a sós.

Assim que Shacklebolt saiu, Draco sacou a varinha e gritou:

- Expelliarmus!

Severus teve de se segurar para não reagir. Albus o fizera prometer que não faria nada, acontecesse o que acontecesse. A varinha de Albus voou para longe. Severus ficou olhando, sem acreditar. Albus nunca se deixaria pegar com um simples Feitiço de Desarme.

Albus estava muito pálido, mas parecia tranqüilo.

- Boa tarde, Draco.

Draco olhou ao redor rapidamente para confirmar que ele e Dumbledore estavam a sós.

Fez-se silêncio. Dos fundos do escritório, Severus viu Draco ficar olhando para Albus Dumbledore que, incrivelmente, sorriu.

- Eu... Eu tenho uma missão a cumprir - disse Draco.

- Bom, então é melhor você a cumprir logo, meu filho - disse Dumbledore com suavidade. - Draco, Draco, você não é um assassino.

- Como sabe disso? - despejou Draco, parecendo perceber quão infantil haviam sido suas palavras. Severus o viu corar. - Não sabe do que sou capaz.

- Talvez seja melhor você ir em frente - sugeriu Dumbledore. - Como deve ter percebido, há outros membros da Ordem da Fênix aqui, por isso você deve fazer o que veio fazer o mais rápido possível. Você me desarmou... Não posso me defender. Está com medo?

- Não estou com medo! - rosnou Draco, embora não fizesse nenhum movimento para atacar Albus. - É o senhor que devia estar com medo!

- Mas por quê? Não acredito que vá me matar, Draco. Matar alguém não é tão fácil quanto os inocentes acreditam...

Draco parecia estar lutando contra a vontade de gritar ou vomitar. Engoliu em seco e respirou fundo várias vezes, fuzilando Albus com os olhos, a varinha apontada diretamente para o coração do outro bruxo.

Albus fechou os olhos e assentiu com a cabeça, suas pernas claramente fraquejando. Severus segurou sua varinha com força, lutando em silêncio contra a promessa que ele mesmo fizera a seu mentor.

Como que num último esforço, Albus abriu novamente os olhos, lutando para permanecer em pé.

- Você já teve vários minutos. Nós estamos a sós. Estou desarmado e sem defesas, e ainda assim você não agiu...

A boca de Draco se contorceu involuntariamente, como se ele houvesse provado algo muito amargo.

- Por que não discutimos as suas opções, Draco?

- Minhas opções! - exclamou Draco. - Estou aqui, apontando a varinha... Estou prestes a matar o senhor e...

- Meu caro rapaz, vamos acabar com os fingimentos. Se fosse me matar, você já o teria feito.

- Eu não tenho opções! - Draco agora estava tão branco quanto Albus. - Eu tenho de fazer isso. Ele vai me matar! Vai matar toda a minha família!

- Entendo a dificuldade da sua posição - disse Albus. - Se não entendesse, não teria lhe oferecido proteção. Sabia que você seria morto por Lord Voldemort se falhasse em sua missão.

Draco pestanejou ao escutar o nome.

- Nenhum dano foi causado ainda. Posso ajudá-lo, Draco - insistiu Albus.

- Não, não pode - falou Draco, a mão com que segurava a varinha tremendo muito. - Ninguém pode. Ele disse que se eu não fizesse isso, me mataria. Não tenho escolha.

- Venha para o lado do bem, Draco, e nós o esconderemos muito melhor do que possa imaginar. Além disso, posso enviar membros da Ordem a sua mãe agora mesmo e escondê-la também. Seu pai está a salvo no momento, em Azkaban ... quando chegar a hora, podemos protegê-lo também... venha para o nosso lado, Draco... você não é um assassino...

Draco ficou olhando para Albus.

- Sou eu que estou com minha varinha apontada para o senhor. Acha que terei misericórdia?

- Draco - disse Albus calmamente -, é a minha misericórdia, e não a sua, que importa agora.

Draco não disse nada. Sua boca estava aberta, a mão que segurava a varinha ainda tremia. Severus viu-a fraquejar e baixar alguns centímetros.

- Eles... estão esperando o meu sinal para atacar.

- Eu sei, Draco. Dê o sinal - disse Albus.

- Mas... eu devia matá-lo primeiro.

Albus deixou-se tombar sobre uma poltrona.

- Nós dois já sabemos que você não vai fazer isso. Dê o sinal, Draco, e do resto nós cuidaremos.

- E minha mãe?

- Ela estará bem. Eu lhe dou minha palavra - disse Albus, as palavras saindo-lhe a custo da boca.

Albus estava agora mais pálido do que um cadáver. Severus livrou-se da Capa da Invisibilidade e se aproximou dele.

- Você! - exclamou Draco. - O Lord das Trevas me disse que você estaria aqui para me dar apoio. Você vai matá-lo?

- Dê o sinal como o Diretor pediu, Draco. Albus?

- Não se preocupe, Severus. Lance você mesmo a Marca Negra. Eu já removi o feitiço Fidelius. Eles vão pensar que eu já morri.

Severus foi até a janela, apontou a varinha, e o símbolo da caveira com a cobra estampou-se no céu de fim de tarde.

Severus segurou Draco pelo braço e, puxando-o consigo, aproximou-se novamente de Albus. O velho mago sorriu, mas Severus sabia que sua vida estava se esvaindo.

- Seu velho maluco. Você nos transmitiu toda a sua magia e todas as suas forças, não foi isso? Por que fez isso? Por minha causa? Para eu não ter de escolher entre matá-lo ou morrer?

- Não, Severus. Eu estou cansado. Já acumulei conhecimento demais por uma vida. É cada vez mais penoso tomar decisões que ninguém entende e causam sofrimento às pessoas a quem amo.

- Não diga bobagens.

- Não vamos discutir agora. Você precisa enviar Draco para um lugar seguro.

Com relutância, Severus deixou Albus na poltrona e levou Draco até um armário aos fundos do escritório. Abriu o armário e mostrou um castiçal a Draco.

- Esta Chave de Portal irá conduzi-lo a um esconderijo que eu escolhi pessoalmente para você e sua mãe. É um local totalmente protegido. Agora mesmo um enviado nosso está entrando em contato com sua mãe para levá-la para lá. Fique tranqüilo.

Draco assentiu e tocou na Chave de Portal.

Assim que Draco deixou o escritório, Shacklebolt surgiu à porta.

- Tudo certo, Snape? Diretor?

- A Marca Negra foi lançada - disse-lhe Severus. - Avise a todos para ocuparem as posições já definidas.

Shacklebolt se retirou de imediato. A sós novamente com Albus, Severus se ajoelhou junto a ele.

- Não pense que vou deixá-lo a sós.

Albus esboçou um sorriso.

- Pegue a Capa da Invisibilidade e fique de olho em Harry. É ele que precisa de proteção, não eu.

Severus percebeu que Albus havia vencido. Maldito velho manipulador.

~*~*~

O chinês se aproximou de sua mesa e Remus comprou mais um bolinho. "Há um biscoito estragado na padaria", dizia a sorte.

Remus não precisava mais informações além dessa. Saiu do The Crescent e dirigiu-se imediatamente à velha padaria abandonada da Praça do Mercado.

Louis Auger o esperava na porta, com um grupo de seis amigos.

- Alohomora! - gritou Remus.

Greyback foi pego de surpresa, mas reagiu em seu estilo: saltou de imediato sobre Remus. Com os dentes e as garras afiadas como lâminas, rasgou profundos talhos no peito de Remus. O lobo dormente em Remus reagiu à altura. O cheiro do primeiro sangue que conseguiu arrancar de Greyback incendiou-lhe as veias como fogo líquido. Eles rolaram pelo chão como dois animais. A boca de Greyback espumava sangue.

Remus deu um profundo grunhido e cravou os dentes no braço direito de Greyback. Rugindo em agonia, Greyback mergulhou os dentes nas mãos de Remus. Um uivo torturado saiu de dentro de Remus, que tentou enfiar os dentes mais fundo. O sangue jorrava de seus corpos. Garras seguraram Remus pela virilha, e uma dor lancinante o percorreu. Remus socou o estômago de Greyback o mais forte que conseguiu. Então os dentes de Greyback penetraram em seu ombro. Com um urro, Remus tentou se libertar, mas Greyback não o largou. Remus cravou os dentes na garganta de Greyback, rasgando-a. Greyback uivou de dor. O sangue jorrou em cascata.

Greyback estava derrotado. Remus queria chamar o Ministério - Greyback era um assassino procurado há muito tempo, um monstro. Mas Louis e seus amigos não aceitaram. Acharam que aquilo seria uma traição à sua espécie. Remus não quis brigar com Louis - ele se arriscara muito para ajudá-lo. Concordou em manter Greyback amarrado e sob vigilância em um esconderijo até o fim do dia e, então, libertá-lo. O importante era que Greyback não atendesse ao chamado de Voldemort e não reunisse seu grupo para atacar o Quartel-General da Ordem.

~*~*~

Tudo estava silencioso e parecia absolutamente calmo na mansão Black. Severus posicionou-se nas escadas, de modo a poder ver tudo de cima. Mil perguntas o bombardeavam: será que o contato de Remus conseguiria impedir a vinda dos lobisomens? Os esforços de Albus, Hagrid e Madame Maxime para convencer os gigantes a não participarem seriam bem-sucedidos? Teria o Lord das Trevas alguma outra carta na manga que não houvesse revelado na reunião da qual Severus participara?

Logo Severus saberia, pois um ruído vindo da entrada indicava que a porta havia sido estourada. Bellatrix entrou à frente de todos. Atrás dela, Yaxley, os gêmeos Carrow, Avery, Crabbe, Goyle, Dolohov, Jugson, Mulciber, Nott, Rookwood e os dois irmãos Lestranges seguidos por vários Dementadores- estavam todos lá. Não. Não todos. Faltava o Lord das Trevas, e seu rato de estimação. Faltava, também, reconheceu Severus com satisfação, Fenrir Greyback e seus lobisomens. Aparentemente o infiltrado de Remus cumprira sua missão. Não havia também nenhum gigante - o plano de Albus provavelmente funcionara. A atmosfera começou a ficar pesada com a entrada dos Dementadores - centenas deles. Albus os alertara para a probabilidade de isso acontecer, e dissera que eles não deveriam se deixar abater. Todos haviam ganho suprimentos de chocolate. Até Severus pegara a sua parte, a contragosto, e agora estava comendo um pedaço.

O Lord das Trevas não havia entrado ainda, mas Severus sabia que a Ordem não podia esperar mais. Ao sinal de Shacklebolt, os gêmeos Weasley ativaram o Pântano Portátil que haviam espalhado pelo chão, e os membros da Ordem, todos ocultos com um Feitiço de Desilusão, lançaram Incarcerous e Petrificus Totalus sobre os Comensais da Morte. Surpreendidos, alguns invasores lutaram de todas as formas para se desvencilhar das cordas, enquanto outros eram imediatamente petrificados.

Severus sentiu Harry chamando-o mentalmente, e sintonizou sua mente com a dele. Juntos, sem que ninguém soubesse de onde vinha, eles lançaram seu Patronus conjunto de forma não-verbal. O Baphomet surgiu, gigantesco, sobre o salão. Todos pareceram ficar paralisados por um instante, exceto os Dementadores, que recuaram de imediato e deixaram a mansão.

Em meio à confusão, Severus viu que Bellatrix conseguira se desvencilhar das cordas e Sirius tentava contê-la. Severus temeu pelo pior; se houvesse algo que pudesse fazer, ele faria, mas eles estavam muito próximos, e não seria seguro lançar um feitiço na tentativa de atingir um deles. Bellatrix apontou sua varinha para Sirius e gritou:

- Avada Kedavra!

Sirius conseguiu desviar e contra-atacou:

- Scatify!

Severus teve de se conter para não rir ao ver Bellatrix ser coberta de esterco. Era um feitiço quase infantil que Severus havia criado para se defender dos Marotos, e agora, aparentemente, havia sido o primeiro feitiço de que Sirius se lembrara. O feitiço de Severus salvara sua vida. Aproveitando-se do susto de Bellatrix, Sirius lançou-lhe um feitiço petrificante.

Tudo parecia sob controle; os Comensais da Morte dominados, alguns imobilizados por cordas e outros petrificados.

No entanto, Severus tinha consciência de que o pior ainda estava por vir. Como que em resposta a seus pensamentos, as luzes se apagaram, e um ar gelado penetrou na sala. Severus sentiu de imediato que o Lord das Trevas havia chegado.

A ponta da varinha do Lord das Trevas surgiu, iluminando apenas seu rosto cruel. A um brandir de varinha, ele afastou para os lados todos os que estavam no salão - inimigos e aliados, todos foram lançados contra as paredes. Gemidos de dor preencheram o salão. Com horror, Severus viu que, além dele próprio e do Lord das Trevas, apenas Harry Potter continuava em pé, e que o Lord das Trevas estava diante dele.

Severus apontou a varinha para o Lord das Trevas, segurando-a com firmeza.

- Enfim, sós - disse Riddle, sua voz escorrendo sarcasmo.

- Já não era sem tempo - respondeu Harry, sem tremer.

Tudo foi muito rápido. Severus conhecia seu Lord. Sabia que ele não iria perder tempo, desta vez. Sabia, também, que o único mago capaz de derrotar o Lord das Trevas era Harry. Severus não achou que fosse conseguir chegar a tempo, mas de repente Wormtail se transfigurou em sua forma humana ao lado do Lord das Trevas e segurou-lhe o braço, obrigando-o a um gesto para se desvencilhar dele. Nesse ínterim, Severus pulou diante de Harry, exatamente no instante em que o brilho verde saía da varinha do Lord das Trevas.

- Avada Kedavra!

Em meio ao fulgor esverdeado, o Graal surgiu, majestoso, entre ele mesmo e o Lord das Trevas, e absorveu o Feitiço Mortal.

O Lord das Trevas pareceu surpreso por um instante. Então seus olhos adquiriram um brilho de fascínio.

O Graal era fonte de poder infinito. Poucas coisas exerciam um fascínio maior sobre um mago das trevas...

O Lord das Trevas estendeu a mão para o cálice, o brilho de seus olhos vermelhos confundindo-se ao das pedras preciosas.

No instante em que ele tocou o Graal, seu corpo começou a se transformar. A pele começou a enrugar, o corpo a encolher. Os olhos se transformaram em meros buracos, sem nenhum brilho. Severus assistiu, também fascinado, àquela transformação que ocorria diante dele. Tom Riddle largou o cálice e abraçou o próprio corpo. Severus sentiu uma leve ardência em seu braço, e viu que a Marca Negra estava desaparecendo.

Fraco demais para sobreviver, Riddle caiu ao chão ali mesmo. Wormtail se transformou novamente em rato, mas Sirius estava lá para impedir sua fuga, e pegou-o com as próprias mãos.

- Não o mate, Sirius - pediu Harry. - Você viu o que ele fez, não? Ele tentou impedir Voldemort de me matar.

- O canalha fez isso porque tinha uma dívida de vida com você - resmungou Sirius.

- Então agora ele vai ter mais uma - disse Harry, decidido.

Sabendo que estava tudo bem com Harry, Severus livrou-se da Capa da Invisibilidade e subiu correndo em busca de Albus. Encontrou o escritório dele vazio.

Temendo o pior, Severus voltou-se para Harry, que fora atrás dele.

- Albus sumiu.

- Veja! - exclamou Harry, apontando para a janela.

Severus se virou novamente e viu Fawkes voando para longe, as penas vermelhas rebrilhando sob o sol do crepúsculo.

Uma tristeza profunda invadiu Severus.

- Ele se foi. Não sei como, mas ele se foi, e nunca mais irá voltar.

- Como sabe disso?

- Ele morreu, Harry. Se ele não houvesse morrido, eu teria morrido, por causa do Voto Perpétuo que fiz com Narcissa.

Harry o abraçou.

- Lembra-se do nosso pacto? E do que o Graal significa? Vida e morte são apenas duas formas da mesma energia. Você o verá outra vez, um dia.

- Ele estava certo... sobre hoje, e sobre tudo.

- Mas na verdade não fui eu quem venceu Voldemort - objetou Harry.

- O Graal estava carregado com as nossas energias, e você foi o catalisador disso tudo. Albus estava certo. Foi o Amor que derrotou Voldemort.

 

 

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Ptyx, Março/2006