CAPÍTULO 7 - Estratégias e Táticas

 

Harry entrou, atravessou o escritório e foi conversar com Ceci que, rapidamente, lhe contou que havia passado a noite no quarto de Snape! Harry queria pedir maiores detalhes, mas o professor o encarava com expressão de impaciência. Mesmo assim, Harry ainda parou diante do espelho de cristalomancia, pensativo.

- Esses unicórnios não são como os que temos aqui, não é? Os nossos unicórnios não atacam ninfas!

- Esses unicórnios e a ninfa são da mitologia germânica - explicou Snape. - Esse espelho era de Grindelwald. Foi o único objeto que Dumbledore guardou de Grindelwald.

- Por quê?

- Porque não é, necessariamente, um objeto de Magia Negra... Depende de como é... configurado. Ele me deu esse espelho no último Natal. Perguntei a ele por que manteve a decoração, os unicórnios incendiando a ninfa. Ele disse que eles simbolizam a energia vital que há em todos nós.

- Erótica, não é?

Snape arqueou uma sobrancelha.

- É o que simboliza, para você?

- Me parece bastante óbvio.

- Pois bem. Seja lá como for, Dumbledore manteve a decoração, mas alterou os encantamentos, para barrar as energias das trevas. Eu comecei a mudar a configuração, para sintonizá-lo às minhas energias, mas até aquele noite em que você estava aqui, ele não havia me mostrado nada de especial!

Harry olhou do espelho para Snape, com ar intrigado.

- Isso é bom ou ruim? O que significa?

- Não sei se eu quero saber.

Harry olhou para o teto, frustrado.

- Muito bem, Potter, agora chega de embromação. Sente-se. Disse que tinha dúvidas sobre o seu ensaio.

Ambos se sentaram à escrivaninha. Conversaram longamente sobre vários pontos do ensaio de Harry - que Snape, aparentemente, considerara satisfatório, já que não o fustigara com suas habituais críticas corrosivas. Trataram de tópicos gerais - como, por exemplo, que poções eram consideradas estritamente, de Magia Negra - e específicos - como o uso das penas do Jobberknoll em importantes poções de controle da mente, como o Veritaserum e a Poção do Esquecimento. Ao final, Harry comentou:

- Sabe, acho que entendo por que me mandou fazer esse ensaio. Por que eu, er, devia prestar mais atenção nas aulas, já que são elas que vão me dar uma base para estudos mais avançados.

Um brilho inédito surgiu no fundo dos olhos de Snape, que normalmente lembravam a Harry um túnel escuro.

- Quem diria, Potter. Estou surpreso. Espero que isso se reflita em seu comportamento de agora em diante. Por falar nisso, há algo que eu gostaria de lhe perguntar.

Aí vem bomba, pensou Harry. Primeiro Snape conversava com ele civilizadamente, depois lhe fazia um quase elogio. Ou a serpente estava preparando o bote ou aquele que estava diante dele não era o Professor Snape, e sim alguém usando a Poção Polissuco.

- Você disse que odiava a mim e a Dumbledore. Que você me odeia não é novidade - disse Snape, com um sorriso sarcástico. - Mas é verdade que se sente assim quanto a Dumbledore?

- Quando me deu aulas de Oclumência, bem, você viu a infância que eu tive - retrucou Harry. - Com os Dursleys...

- Dumbledore fez o que achava que era melhor para a sua segurança.

- Para a minha segurança, sim, mas não por mim, e sim para que ele pudesse me transformar em uma boa arma contra Voldemort. Assim como faz com você, obrigando-o a continuar sendo um Death Eater.

- Não fale assim, Potter. Você não sabe nem metade dessa história.

- Exatamente! Esse é mais um motivo para odiar vocês dois. Esperam que eu salve o mundo, mas nunca me contam a história toda.

- Ninguém espera que você salve o mundo sozinho. Mas isso é uma guerra. Nem tudo pode ser dito a todos. E Dumbledore está na posição mais difícil. Ele tem de saber tudo e controlar quem pode saber o quê. Tente se colocar no lugar dele. Não cometa os erros que eu cometi.

- Erros?

Snape não respondeu. Harry insistiu.

- Foi por causa de Dumbledore... porque ele não fez nada para defender você... que você se juntou a Voldemort?

- Eu estava muito revoltado, contra tudo e contra todos, mas especialmente contra Dumbledore - Uma expressão de profunda dor estampou-se no rosto de Snape. - Você... não teve o contato que eu tive com a Magia Negra. Dificilmente trilharia caminhos tão perigosos e equívocos quanto os meu. Mas talvez você reaja da forma como está reagindo agora, sendo dispersivo, descuidado. Não se importando com o que acontece. E isso não é bom.

- Não é bom para quem? Para a "causa"? Você está me dizendo essas coisas a mando de Dumbledore, não é?

Snape o fitou com um ar de surpresa e ressentimento. Então assumiu o clássico esgar.

- Isso é óbvio, não é, sr. Potter? Por que outra razão eu iria me preocupar com o seu comportamento!

Harry cruzou os braços diante do corpo, esforçando-se ao máximo para manter a calma e o controle.

- Escute o que vou lhe dizer - insistiu Snape. - Dumbledore não é aquele vovô bonzinho que você pensava que era a princípio, sempre lhe dando sapos de chocolate e um sorriso amigo. Você já percebeu que não é. Ele é, na verdade, um grande estrategista.

- Ah, uma maravilha de estrategista. Teve a inteligência suprema de colocar um bêbado e uma squib para tomar conta de mim. Acabei sendo atacado pelos Dementors. Depois passou o ano todo fugindo de mim, em vez de simplesmente chegar e me alertar que Voldemort estava tentando me possuir, e que eu não devia acreditar em tudo o que visse nos meus sonhos. E a Ordem da Fênix passou um ano todo defendendo uma profecia inútil, em vez de me pedir para ir ao Departamento de Mistérios e destruí-la. Meu padrinho morreu para defender aquela meleca inútil. Brilhante.

- Potter, essa sua mania de grandeza está ficando insuportável. Não respeita nem mesmo ao mago mais poderoso do universo. A verdade é que você não sabe de tudo, e não pode tirar conclusões sem ter todos os dados.

- Já cansei dessa ladainha. Por que não me contam as coisas, então? Como vou confiar em Dumbledore se ele sempre tem mais um coelho escondido na cartola?

- O Mundo Mágico está sob a ameaça do Dark Lord, e Dumbledore é o mago mais poderoso, hoje, que pode se contrapor a ele. Se vencermos sob seu comando, ele não irá tentar nos dominar ou destruir como o Dark Lord. Assim, o melhor que temos a fazer é confiarmos nele e seguirmos suas orientações.

- Eu pensava que você gostava dele. Que o admirava.

- É mais do que isso. Eu coloquei a minha vida nas mãos dele.

- Não entendo isso. Não entendo nada.

- Já ouviu falar de Dívida Mágica? Débito de Vida? Não é uma mera formalidade, ou uma questão de ética. É uma marca permanente na vida de um mago. Uma marca mais forte do que esta - Snape mostrou-lhe a Marca das Trevas. - É como estar acorrentado. Mas ser escravo de Dumbledore não é o pior que o destino poderia me reservar.

- Ah, sim. Você poderia estar em Azkaban. Por Merlin, você não é só escravo de Dumbledore, é também de Voldemort! Que destino poderia ser pior do que esse?

- Há algo que é pior do que o Cruciatus. Já ouviu falar de... consciência culpada? Creio que não. É um conceito bastante complexo, acima das suas possibilidades - acrescentou Snape, em tom defensivo.

Harry não tirava os olhos de Snape. Naquele estranho momento, quis abraçá-lo. Confortá-lo. Mas sabia que Snape iria considerar aquilo uma manifestação de pena, e a rejeitaria. Ou, mesmo que percebesse que não era pena o que o movia, ainda assim ele rejeitaria qualquer tentativa de aproximação. No entanto, Harry tinha uma última carta oculta na manga.

- Talvez esse negócio de "consciência" seja outra chantagem de Dumbledore para forçá-lo a fazer o servicinho sujo.

- Pirralho, você está se revelando um Slytherin de primeira! Acho que vou ter de mudar a minha tática em relação a você.

- Vai me ensinar Defesa contra as Artes das Trevas?

- Menos dez pontos para Gryffindor, sr. Potter, pela sua ousadia.

- Quero que Gryffindor, Slytherin, Ravenclaw e Hufflepuff vão todas para o inferno!

- Merlin me proteja, fomos nós que criamos esse monstro em que você se transformou?

- Você não quer mesmo que eu responda a essa pergunta, quer?

~* ~* ~

- Albus, o menino está saindo do nosso controle!

- Calma, Severus. Sente-se, vamos tomar um chá. Preparei o seu favorito: Earl Grey. Sem açúcar, como você prefere.

Snape sacudiu a cabeça, exasperado. Mas, como sempre, obedeceu.

- Entendo a sua preocupação - O Diretor fitou-o com um brilho nos olhos. - No entanto, nem tudo está perdido: ele confia em você.

O Professor de Poções ergueu os olhos para o teto, sem dizer nada. Dumbledore serviu as duas xícaras e ofereceu-lhe um brownie, que Snape, a ponto de explodir, recusou.

- É tudo muito simples, Severus. Você só tem de deixá-lo se aproximar mais de você.

- Albus! O que está dizendo? Não sabe o que está me pedindo...

- Acho que sei. - O velho mago abriu um amplo sorriso e se reclinou na cadeira toda estofada em roxo. - O menino gosta de você. E isso deixa você mais apavorado que a iminência de um Cruciatus de Voldemort, não é, Severus?

Snape se levantou abruptamente.

- Se me chamou aqui para se divertir às minhas custas, perdeu seu tempo. Não vou tolerar...

- Ora, ora. Não precisa ficar tão zangado. Sente aí, tome o seu chá e vamos conversar com calma.

Com um profundo suspiro, Snape afundou novamente na cadeira.

- Não, Severus, eu não estou lhe pedindo que o leve para a sua cama...

- Também era só o que faltava, não é? Um menino com idade para ser meu filho!

- Quando você tiver 150 anos, como eu, verá que a diferença é insignificante... Mas não se preocupe, eu entendo como se sente. Só o que estou lhe pedindo é que dê uma oportunidade de ele ficar mais perto, de se abrir com você, de compartilhar suas dúvidas e planos...

- Em outras palavras: vou ter de espioná-lo, também.

- Por trás de todo esse cinismo, meu menino, você sabe que também tem muito a ganhar com a companhia dele.

- Ah, sim. Muito a ganhar: cabelos brancos, rugas, dores de cabeça...

- Ele também está mudando você, não é? É isso o que o assusta tanto. Vai dar tudo certo, Severus. Vocês dois sairão fortalecidos dessa união.

Snape estremeceu.

- Albus, você está brincando com fogo.

- É o elemento que rege a minha Casa de origem, não é? - disse Dumbledore, com um sorriso zombeteiro.

 

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