Depois de Chá e Bolos

"Teria eu, depois de chá, bolos e gelos,
Forças para levar o momento a uma crise?"

("The Love Song of J. Alfred Prufrock", T. S. Eliot)

 

Severus sentia-se inseguro quando chegou ao salão de chá, às nove horas em ponto. Ao vê-lo, no entanto, Harry tinha aquele brilho nos olhos capaz de fazer Severus acreditar no impossível.

A decoração do local era encantadora em seu mau gosto: papel de parede e toalhas de mesa floridos, quadros de cenas campestres, vasos com flores em todas as mesas. Severus, que conhecia o mundo Muggle bem demais, sempre ficara intrigado pelo modo como o Mundo Mágico parecia perpetuar os mais obsoletos e estereotípicos elementos da cultura e da subcultura Muggle.

O chá - servido em pequenos bules, acompanhado da jarrinha de leite e do açucareiro - era de boa qualidade. Harry escolheu Darjeeling. Não era o preferido de Severus, mas ele quis acompanhar Harry. Logo, eles estavam diante de bolos ingleses típicos (victoria sponge, cream cakes, toasted teacakes, scones), servidos com geléia e creme. O que Severus mais gostava era o victoria sponge, um bolinho bem simples, de baunilha, recheado com geléia, creme ou chocolate.

Entre um bolinho e outro, eles falaram dos velhos tempos e amigos. Harry contou, para o horror de Severus, que Hermione Granger e Ronald Weasley já tinham quatro filhos. Severus contra-atacou falando de Draco e Pansy, que tinham uma única filha, a bela Amaryllis.

De repente, Harry confessou-se surpreso ao ver como eles eram parecidos, Severus e ele, e Severus teve de concordar. Ambos haviam vivido à espera de um momento; aquele momento chegara e passara, e eles haviam sobrevivido. Não que sentissem saudade dos velhos tempos - agora eles eram mais sábios, calmos e felizes. Mas era como se já houvessem cumprido sua missão, e o futuro não lhes guardava mais nada de especial. Severus ousava esperar que ambos estivessem errados.

Terminaram o chá, pagaram a conta e foram passear no parque.

Uma fonte gótica assinalava o início de um amplo passeio gramado, ladeado por sebes recortadas e canteiros de malvas. Caminharam na direção do lago e se sentaram em um banco de pedra, à sombra de um salgueiro, para observar os patos e cisnes.

Quando seus olhos se encontraram, Harry reclamou:

- Como posso seduzir você, se fica lendo todos os meus pensamentos?

Aquelas palavras foram como uma chama encostando em lenha seca...

- Se é assim, prometo não usar Legilimência - disse Severus. - Não quero atrapalhar o seu progresso.

Harry sorriu, e Severus percebeu que não precisaria esperar muito mais. Harry descansou a mão sobre seu ombro; seus rostos se aproximaram. Severus fechou os olhos e sentiu lábios quentes e aveludados tocarem os seus. Severus levou uma das mãos à nuca de Harry para segurá-lo ali e nunca mais deixá-lo ir.

 

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Ptyx, Janeiro/ 2006