8 - Preocupações
Os boatos correram à solta durante todo o fim de semana. As teorias mais estapafúrdias sobre por que o Diretor mandara isolar uma área do quarto andar eram discutidas nos corredores. Na noite de segunda para terça-feira, Harry teve vários pesadelos. Acordou com uma sensação de vazio. Tentou sintonizar suas energias com a de Snape por meio do castelo, mas não conseguia encontrá-lo. Ao chegarem para a aula de Poções, os alunos do sétimo ano se surpreenderam ao ver Sprout na sala. Harry sentiu um frio no estômago. - O patife seboso não veio hoje. Espero que tenha caído no seu próprio caldeirão - cochichou Ron em seu ouvido. Harry se conteve para não esmurrar o seu melhor amigo. - O Professor Snape foi chamado para uma reunião importante, e eu vou substituí-lo hoje - anunciou Sprout. Uma reunião. Será que Voldemort o chamara? A uma hora daquelas? O que isso quereria dizer? ~* ~* ~ À tarde, as aulas foram suspensas, e um rumor começou a se espalhar pelos salões e corredores de Hogwarts: Snape e Akhmatov haviam desaparecido. Harry sentiu náuseas. Brigara com Severus por um motivo estúpido, uma mera guerra de vontades, e agora temia nunca mais vê-lo. O anel estava ali ainda, visível. Será que isso queria dizer que Severus estava vivo? Ou será que o anel poderia continuar existindo mesmo depois que um deles morresse? Teria de procurar a resposta no livro que Severus lhe dera. O problema era que só Severus conseguia entender a linguagem cifrada daquele livro! E tudo sempre voltava a Severus. A maioria dos Gryffindors estavam reunidos em sua Sala Comunal, na maior algazarra. Hermione resmungou que não era possível conversar ali, então os três foram para a biblioteca. - É claro que Akhmatov tinha de desaparecer - resmungou Ron, assim que se sentaram a uma mesa. - Essa disciplina é amaldiçoada mesmo! Mas por que Snape desapareceu também? Harry abaixou a cabeça sobre a mesa, apoiando-a sobre os braços cruzados. - O que foi, Harry? - perguntou Hermione. - Você... está preocupado com Snape? - Ora, Hermione, por que ele se preocuparia com aquele... Harry? - Ron, não seja tapado! Snape é membro da Ordem. Você sabe como Harry se sente responsável por todo mundo, não sabe? Ron deu de ombros, e ficou olhando para Harry com um ar preocupado. Enfim, Harry ergueu a cabeça. - Eu vou falar com Dumbledore. ~* ~* ~ Desta vez, contudo, "Caramelitos" não fez a gárgula se mover, e pior: Harry sentiu que o Diretor não estava no castelo. Teria de ir procurar a Chefe de sua Casa. Harry desceu as escadas e andou pelos escuros corredores, o coração batendo apressado, até chegar à sala da Vice-Diretora. - Professora McGonagall, eu preciso falar com o Diretor - disse Harry, à porta, quando McGonagall atendeu. - Potter, qual é o problema? - Preciso falar com ele, por favor. - Ele não está. Você está com algum problema? A frustração tomou conta de Harry. - Se eu estou com algum problema? É claro que eu estou com algum problema! Ninguém me conta nada! Estão todos dizendo que Snape e Akhmatov desapareceram, e... - Calma, menino! Professor Snape e Professor Akhmatov. E não adianta gritar comigo. Harry cerrou as mãos, furioso. - Eu preciso saber se... eles... estão bem. - Sinto muito, Potter, eu também não sei ao certo o que está acontecendo. Assim que puder, o Diretor irá nos informar. ~* ~* ~ Harry não voltou para a biblioteca. Saiu do castelo e seguiu na direção do lago. - Harry! Voltando-se, Harry avistou Kai correndo em sua direção. - Oi, Kai. Kai alcançou-o. Harry retomou a caminhada, acompanhado do menino Navajo. - Você está preocupado com Snape, não é? - Como é que você sempre sabe tudo, pirralho? - perguntou Harry, fingindo estar zangado. Na verdade, a presença de Kai lhe fazia bem agora. - Que nada. É que eu conheço bem você. - E você sabe onde ele está? - Não, mas não se preocupe, ele está bem. - Por que acha isso? - Porque eu também estava preocupado com ele, então mandei meu corvo perguntar a minha mãe se ele estava bem. A princípio, Harry ficou sem entender. Então se lembrou de que Kai usava um corvo para trocar mensagens, e que a mãe de Kai era uma vidente. - E ela respondeu que estava? Kai fez que sim com a cabeça. - Ela me escreveu que o Deus Negro ainda está protegendo ele, e que eu cuide de você para que não faça nenhuma bobagem. Harry suspirou. - Todo mundo está contra mim. - Harry, acho que você devia aprender uma canção que nós cantamos em uma de nossas cerimônias, "O Caminho da Caça". É uma prece que o caçador canta antes de ir atrás da caça. É muito útil quando temos de enfrentar inimigos, também. Vamos sentar ali nos degraus e eu vou lhe ensinar. Harry tentou protestar, mas o garoto era invencível. Nota a nota, palavra a palavra, Kai ensinou a canção a Harry.
No dia seguinte, ao café da manhã, a Vice-Diretora anunciou a todas as crianças que Hogwarts estava sob a ameaça de um ataque e que todos seriam encaminhados de volta às suas casas, até que o perigo fosse totalmente afastado. - O quê? Eu não quero voltar para a minha casa. De jeito nenhum - resmungou Ron. Pobre Ron, pensou Harry. Seria horrível ter de ir para A Toca naquelas circunstâncias. E ele, Harry, para onde iria? Para os Dursleys? E o que estava acontecendo? Onde estava Severus? A aproximação de McGonagall interrompeu o curso desesperado dos pensamentos de Harry. - Potter, Weasleys, vocês irão para... vocês sabem onde. Arthur Weasley também irá ficar lá. Hermione olhou para a Vice-Diretora com olhos súplices. - Por favor, Professora, eu não posso ficar com eles? Como da outra vez? McGonagall franziu as sobrancelhas, e olhou para o rosto de cada um deles. - Está bem, Srta. Granger. Se os seus pais a autorizarem. - Obrigada, Professora!
|
Ptyx, Outubro/2004
|