5 - Divergências

 

Harry subiu correndo as escadas até seu quarto, e pediu a Phineas que dissesse a Snape que o esperava em Grimmauld Place, pois precisava conversar com ele urgentemente.

Em menos de cinco minutos, Snape aparatava no salão principal de Grimmauld Place. Harry ainda estava descendo o último lance de escadas quando ele chegou.

- Severus.

Snape o encarou com uma expressão de terror.

- Calma. Vamos até a cozinha.

Snape deu o seu típico giro de calcanhar e deslizou rapidamente até o cômodo que a Ordem costumava usar para suas reuniões.

Mal entraram, Snape já foi despejando:

- O que é isso, Potter? Como é que me chama pelo meu primeiro nome? E por que me chamou aqui?

- Calma, Severus. Sente.

Snape estreitou os olhos, e permaneceu em pé. Harry suspirou.

- Rem... o professor Lupin já sabe... de nós.

- O quê? Você...

- Eu não contei nada. Ele... percebeu.

- E você não negou?

- Não tinha jeito, Severus. E ele não me proibiu de encontrar você. Quer dizer, ele até autorizou, se a gente só... conversar.

- Está me dizendo que Lupin não se importa se eu estou trepando com o filho de James Potter?

- Não diga palavrões, Severus. - Harry deu um sorriso torto. - Decepcionado? Queria que ele ficasse furioso e partisse para a vingança?

Snape deu de ombros.

- Pensei que ele se importasse com você.

Mal havia acabado de dizer isso, sua expressão se adquiriu um tom de profunda preocupação. Mas Harry aproximou-se e tomou uma de suas mãos entre as suas.

- Ele se importa, Severus. Ele confia em você.

Snape pareceu gelar ao toque, ou talvez àquelas palavras, e estreitou os olhos.

- Lupin, confia em mim? Escute...

- Severus, ele toma a poção que você lhe faz todos os meses!

- Isso é diferente. Eu não ousaria sabotar a poção dele, porque Albus não me perdoaria. E como iria ficar a minha reputação como Mestre de Poções? Não, não seja ingênuo. Lupin não tem nenhum motivo para confiar em mim.

Harry riu.

- Você se esforça ao máximo para que ele não confie, certo?

Snape apenas bufou.

- Sente, Severus. Preciso falar com você sobre outra coisa.

Com relutância, Snape ajeitou o manto, sentou-se e ajeitou o manto outra vez. Harry se sentou à sua frente na comprida mesa.

- Fale de uma vez.

- Você precisa me prometer não contar a ninguém o que vou lhe falar.

- E por que eu faria isso?

Harry o fuzilou com os olhos. Snape retribuiu na mesma moeda.

- Severus, por favor.

- Fale.

- Você ainda não prometeu.

- Fale logo.

- Você é mesmo impossível. - Harry deu um profundo suspiro. - É sobre os gêmeos. Eles perderam a paciência com a Ordem, e querem partir para o ataque.

- Ah ah. Eles pensam que é fácil.

- Eles são espertos, Severus, e estão falando sério. Querem criar um grupo, sei lá, terrorista, ou guerrilheiro. E me convidaram para fazer parte.

- E você recusou, espero.

- Eu disse que ia pensar.

- Não há o que pensar. Você vai dizer "não". É simples.

- Não sei - declarou Harry, com teimosia.

Snape estendeu o braço e segurou o de Harry com firmeza, um pouco abaixo do cotovelo.

- Que parte do que eu falei você não entendeu? Você não vai. Só isso. - Snape o largou de súbito, e se ergueu. Contornou a mesa e postou-se diante de Harry, intimidador. - Você é o alvo do Lorde das Trevas. Não pode se expor. Você é o nosso único trunfo.

- Você está agindo como todos os outros, vendo só o Menino-Que-Sobreviveu, e não quem eu sou de verdade. Você mesmo tinha dito que não acreditava na profecia.

- Não interessa o que eu ou você acreditamos. O Lorde das Trevas acredita, e não vai pensar duas vezes antes de reduzi-lo a pó. Não facilite as coisas para ele.

Harry empurrou a cadeira para trás bruscamente e se levantou, para conseguir encarar Snape de uma altura menos desfavorável.

- Severus, eu não vou esperar até ele reduzir a pó todos os meus amigos e as pessoas de quem eu gosto. Isso já foi longe demais. Eu tenho de fazer alguma coisa.

Snape o segurou pelos ombros com violência.

- Não, Harry, você não vai fazer nada. Eu não vou deixar.

E Snape o enlaçou em um abraço desesperado. Harry passou os braços ao redor de sua cintura e apoiou a cabeça em seu peito.

- Nem que eu tenha de acorrentar você.

Harry deu um riso sufocado.

- Oh, eu não vou reclamar se você quiser brincar de bondage.

- Harry, eu não estou brincando.

- Está bem, Severus. Vamos fazer um acordo. Eu aceito participar do grupo dos gêmeos, para ver o que eles estão planejando. Não podemos deixar eles soltos, sem nenhum controle, não é?

Snape afastou Harry de si, encarando-o com desconfiança.

- O que você está planejando?

- Não é verdade? Eles podem se meter em encrencas, ou até criar problemas... para a Ordem. E para você. E se eles decidirem atacar uma reunião dos Comensais da Morte para matar todo mundo? Acha que eles vão se importar se você está lá ou não?

- Eu corro esse tipo de risco o tempo todo. Se for me preocupar...

- Certo, mas você não concorda que os gêmeos podem ser um perigo para os planos da Ordem?

- Os gêmeos são um perigo para o Mundo Mágico só pelo fato de existirem!

- Eu prometo a você que não vou participar de nenhuma ação sem conversar antes com você. Concorda?

- Não.

- Então eu vou e não conto mais nada a você!

- Deixe de ser criança! Acha que isso é brincadeira?

- Ah, então eu sou criança. Está bem. Não tenho mais nada a conversar com você, nesse caso. Pode ir.

O olhar que Snape lançou a Harry era tão intenso e arrasador como o brilho verde do Avada Kedavra.

- Você... Seu pirralho inconseqüente!

Snape levou a mão ao anel em sua mão direita. Harry olhou para o seu anel, depois para o de Snape.

- Ahem.

Os dois voltaram-se de súbito para a porta, onde Lupin os encarava, com ar preocupado.

- Vocês dois ainda não jogaram nenhum Imperdoável um no outro?

Furioso, Snape deu as costas a Harry e, afastando Lupin para o lado, saiu da cozinha e desaparatou de Grimmauld Place.

 

 

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Ptyx, Outubro/2004