4 - Convites e Revelações

 

Os dias em Grimmauld Place eram todos iguais e entediantes. Apesar de Lupin ser atencioso, eles não tinham muito o que conversar. Lupin era muito reservado, e Harry só se dirigia a ele quando era absolutamente necessário.

No segundo dia depois do ataque à Toca, Lupin levou Harry ao Ministério da Magia para prestar o exame de Aparição. Harry foi aprovado com louvores.

No terceiro dia, houve outra reunião da Ordem, em que Snape relatou o que descobrira junto a Lucius Malfoy.

O ataque fora planejado e executado por Dolohov e dois comparsas. Os demais Comensais da Morte não tinham conhecimento dele, e o Lorde das Trevas ficara irritadíssimo ao saber do desfecho não muito auspicioso. O próprio Lorde das Trevas se encarregara de castigar os infratores, mas acabara perdoando-os porque, afinal de contas, eles haviam feito a Ordem tremer nas bases.

Harry escutara o relato de Snape com a maior atenção. Snape não olhara para ele nem uma só vez. No entanto, ao final da reunião, antes de sair, Snape o fitara longamente.

~* ~* ~

No dia seguinte, Fred e George apareceram em Grimmauld Place, e pediram para falar a sós com Harry. Pareciam abatidos e nervosos. Harry os levou até seu quarto.

- Harry - disse Fred -, nós vamos partir para a luta. Estamos cansados de esperar pelo velho gagá. Ele não faz nada. A Ordem não faz nada.

- O quê? Como assim? O que vocês querem fazer?

- Vamos dar um jeito em Você-Sabe-Quem - respondeu George. - Queremos saber se você está conosco ou não. Estamos procurando aliados... você é o primeiro com quem estamos falando, porque é o mais importante.

- Escutem, do que vocês estão falando? O que pretendem fazer? Ir atrás de Voldemort agora e enfrentá-lo? Isso seria suicídio!

- Não, Harry. Nós vamos montar um grupo guerrilheiro. Chama-se apenas "A Clique", porque precisamos ser ultra-secretos.Vamos minar as forças dele, atacando pontualmente os Comensais da Morte até não restar mais nenhum. Enfim, não vamos fazer nada precipitado, não. Vamos fazer planos e tudo, mas não vamos ficar parados, vamos partir para a ação - explicou Fred. - Então? Está conosco ou não?

Mil coisas passaram pela cabeça de Harry naquela hora. Em primeiro lugar, a profecia. Os gêmeos não sabiam de nada. Não sabiam que, no fim, quem teria de enfrentar Voldemort seria ele, Harry. Se é que a profecia era verdadeira. Depois, Dumbledore e a Ordem. Dumbledore via a luta como uma luta política. Não aceitaria a iniciativa dos gêmeos. E Severus? Como ficaria naquilo tudo? Severus nunca desobedecia a Dumbledore. Bem, quase nunca. Oh, Merlin, que encrenca.

- Amigos, eu preciso pensar. Não posso responder agora. Vocês sabem, eu ainda estou preso a Hogwarts, e Dumbledore vigia cada um dos meus passos.

- É verdade. Está bem, Harry. Nós lhe damos uma semana para pensar, não é, George?

George assentiu.

~* ~* ~

Quando os gêmeos saíram, Lupin e Harry foram tomar um chá.

- Eles estão transtornados, não estão? - perguntou Lupin, terminando de servir o garoto e sentando-se à mesa da cozinha.

- É claro. Como não estariam?

Lupin serviu o chá para si mesmo. Harry pegou uma torrada e começou a passar geléia. O silêncio se prolongou.

- Harry... você está bem?

- Professor...

- Pode me chamar de Remus, Harry. Não sou mais seu professor.

Harry sorriu.

- Remus. Eu estou muito confuso. Não sei o que pensar, o que fazer.

- É natural, Harry. Muitas coisas estão acontecendo. E você está em uma idade complicada.

Harry olhou para o teto.

- Sempre isso de dizerem que estou em uma idade complicada. Não é a minha idade que é complicada, é a minha vida!

Remus riu.

- Tem razão, me desculpe.

- Não é sua culpa!

Remus deu uma mordida em sua torrada. Parecia refletir. Quando engoliu, tinha os olhos fixos em Harry.

- Eu vi o jeito como Snape olha para você... e como você olha para Snape.

Harry sentiu um frio na espinha e corou de imediato.

- Eu não...

Lupin ergueu a mão.

- Por favor, Harry, não me diga nada. Você teria de mentir, eu sei. Por isso, não diga nada. Só me escute.

Harry segurou a ponta da mesa com força, tentando se acalmar.

- Eu tenho instintos mais aguçados do que os magos normais - explicou Lupin. - Percebo coisas que os outros não percebem. Eu sei que vocês estão juntos. Ele olha para você como se você fosse... um pedaço dele. E como se ele não suportasse vê-lo longe, ou que alguém o toque, ou que você tenha pensamentos próprios... É típico de Snape.

Harry, cada vez mais vermelho, não dizia nada.

- E você parece hipnotizado por ele. Se eu não os conhecesse bem, poderia achar que ele colocou você sob Imperius...

- Não!

- Eu sei, Harry. Eu sei que não. Mas você está completamente fascinado por ele.

Harry suspirou. Agora não havia mais o que fazer, estava nas mãos de Lupin. A fatalidade de tudo o fez relaxar.

- Severus seria a última pessoa que eu desejaria para você. Quer dizer, não exatamente. Voldemort seria pior - Lupin deu um sorriso amargo. - Ainda assim, eu confio nele. Tanto que tomo a Wolfsbane que ele me traz, todos os meses.

- Por que você confia nele? - perguntou Harry.

Lupin deu de ombros.

- Confio nos meus instintos. Sirius jamais aceitou que eu confiasse em Severus, mas eu sempre confiei. Seria engraçado, se não fosse trágico.

Lupin desviou os olhos, e Harry baixou os seus. A lembrança de Sirius ainda era muito forte entre eles. Quando Harry ergueu novamente os olhos, viu Lupin, lentamente virar-se para ele outra vez.

- O passado de Severus é negro, e ele o carrega como uma sombra. Não vai ser fácil para você, Harry. E o relacionamento de vocês é proibido. Eu não quero saber nada a respeito... nem quando, nem onde, nada disso. Só quero saber se você está bem.

- Se não estou bem, não é por culpa dele - respondeu Harry, cauteloso.

- Entendo. Acredito em você. Eu sinto que o que há entre vocês dois está sendo bom para vocês. Não é de surpreender, porque imagino que vocês precisem muito de alguém. O que é estranho é que, contra tudo e contra todos, vocês tenham se encontrado.

Harry sorriu.

- Você disse que não queria saber. Mas foi mesmo uma história bem estranha. - Harry fitou-o com olhos ansiosos. - Remus... eu precisava muito falar com ele. Será que...

Lupin balançou a cabeça.

- Não, Harry. Eu não vou marcar nenhum encontro para vocês, nem fazer vistas grossas se vir vocês juntos. Você está sob minha responsabilidade.

- Eu só preciso conversar com ele. É importante. Por favor. Eu sei como chamá-lo. Você só precisa me dar autorização.

Lupin passou a mão nos cabelos.

- Está bem. Mas é só para uma conversa, nada mais. Aqui na cozinha.

 

 

 

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Ptyx, Outubro/2004