Capítulo VII

 

Acordo sentindo-o novamente abraçado a mim. Meu pênis está decididamente ereto, e Harry não parece embaraçado por isso. Desço uma das mãos pelas costas dele até chegar-lhe aos quadris e puxá-lo contra mim.

Ele aproxima o rosto, roça orelha contra orelha, depois traça uma trilha úmida com os lábios pela minha face até encontrar os meus. Lábios sedosos roçam os meus e uma língua ousada penetra em minha boca.

Oh, ele sabe beijar muito bem! Deve ter treinado bastante com sua donzela arturiana, Ginevra - que Deus a abençoe e a mantenha longe de nós! O ciúme acrescenta um toque de desespero à mistura enlouquecedora de sentimentos que me assaltam. Sinto-me frágil diante dele. Eu o quero, e quero que ele me queira. Se ele me rejeitar de novo, será o fim.

Mergulho no calor úmido e doce de sua boca, e as mãos dele percorrem meu corpo, despertando uma urgência que não consigo controlar. Meu coração dispara, e um gemido profundo sai de minha garganta. Ergo-lhe a camisola e encontro-o rígido sob ela - ele dormiu sem cuecas, como eu. Curvo meus dedos ao redor de seu pênis e sinto-o arquejar. Ele ergue minha camisola pela barra e, imitando meu gesto, segura-me em sua mão. Puxo-o novamente contra mim e roço pênis contra pênis.

É gostoso fazer amor com ele assim. É a melhor posição para continuar beijando-o enquanto o prazer vai tomando conta de nossos corpos. Posso também baixar um pouco a cabeça e ir à procura de seus mamilos. Faço isso, distribuindo mordidas em uma espiral que se aproxima devagar do centro, até tomá-lo entre meus lábios e rolar minha língua ao seu redor, roçando os dentes de leve sobre a carne rígida antes de sugá-lo. Ele grita de prazer e investe contra mim, querendo aumentar o ritmo.

- Shh. Calma. Mais devagar. Isso... Assim, nesse ritmo...

- Ah, Severus, é gostoso.

Ouvi-lo dizer meu nome é um prazer inesperado. Passo a língua pelos lábios dele, pedindo passagem outra vez, e ele se abre com entusiasmo. Logo, sinto-o pulsar em minha mão. Ele enterra o rosto na curva do meu pescoço e, como um vampiro, me morde ao mesmo tempo em que goza. A dor da mordida se soma à tensão, que atinge o ponto máximo. Aperto meu pênis contra o dele mais uma vez e o mundo se estilhaça em êxtase.

Os minutos passam. Ele está em meus braços, ainda. Seguro-o contra mim e pego minha varinha, que deixei em uma prateleira sobre a cabeceira da cama, para pronunciar um feitiço de limpeza.

- Hora de levantar e salvar o mundo - eu lhe digo.

- Hmmm - ele murmura.

Ele ergue o rosto para mim e eu não resisto. Beijo-o outra vez. Parece que não me canso de beijá-lo.

- Você tem uma missão a cumprir hoje. Vamos tomar café - consigo, enfim, dizer-lhe, mas a verdade é que não tenho vontade de sair da cama.

~*~*~

Estamos na mesa da cozinha, tomando o café. Ele come um pedaço do bolo de aipim e me diz que gostou mais do bolo de anteontem.

- Você se refere ao bolo de fubá.

- Sei lá. Deve ser. Aquele bem amarelo.

- Eu lhe compro outro, quando você sair.

- Onde você compra comida?

- É só descer a colina até chegar a estrada. A menos de três quilômetros, há uma padaria. Normalmente eu aparato, mas às vezes gosto de caminhar. O restaurante que nos envia as refeições também fica lá. - Dou um gole no meu chá. - Aliás, hoje a sua tarefa não deve demorar. Espero-o para o almoço.

- Mas como é que eu vou conseguir cumprir essa tarefa? - pergunta ele, agoniado.

- Simples. - Tiro um pergaminho do bolso e estendo a ele. - Esta é a localização do esconderijo onde estou mantendo Draco. O Lord das Trevas resolveu puni-lo por não ter matado Dumbledore como ele ordenara, e eu o ajudei a fugir. Sou o Fiel do Segredo dele. Você vai propor a Narcissa a troca desse mapa pelo medalhão. Mas não faça disso uma reles barganha. Seja amável com ela e diga-lhe que vai fazer o possível para proteger sua família. Diga também que eu não vou deixar que nada de mau aconteça a Draco.

Ele parece espantado.

- Você está se arriscando muito - ele diz.

- Eu sou um homem morto, não sou?

- Como assim?

- Não se lembra mais do nosso acordo? Quando tudo acabar, eu lhe entregarei minha varinha e estarei à sua mercê.

Ele franze o cenho.

- Eu não entendo que jogo você está jogando. - Ele fica pensativo. - Você está me ajudando só para que eu poupe sua vida?

Não consigo conter a gargalhada.

- Não prezo tanto assim minha vida.

- É, eu sei que o que eu falei foi idiota. Você está, ainda, seguindo as instruções de Dumbledore; eu sei disso, agora. Mas por que você é assim comigo, tão... tão...

Ele parece tão perdido. Tomo-lhe o rosto entre as mãos e dou-lhe um beijo de tirar o fôlego.

- Tolo Gryffindor. Eu estou tentando seduzir você.

Ele fica ainda mais confuso, e eu o mando embora antes que a tentação de beijá-lo outra vez seja forte demais.

~*~*~

Ele chega dos Malfoys, vitorioso outra vez, e se aloja entre meus braços. Passa longos minutos contando-me como convenceu Narcissa a aceitar o acordo que lhe oferecia e a entregar-lhe a Horcrux, e não posso deixar de pensar que ele deve ter nascido dentro de um caldeirão de Felix Felicis. De outro modo, ele não teria obtido sucesso. Ele não tem a menor sutileza!

A verdade é que o acordo era conveniente para Narcissa também e, surpreendentemente, ela deve ter percebido que era. Ela demonstrou também sua confiança em mim. Sinceramente, espero não desapontá-la.

A terceira Horcrux foi destruída pelo próprio Harry; a marca de Slytherin, o S em forma de serpente, era uma serpente mágica e contou-lhe, em Parseltongue, qual era o feitiço que destruiria o medalhão e libertaria a serpente.

Narcissa está com Draco agora.

~*~*~

O almoço é dobradinha. Harry adora. Faz cara de nojo quando lhe digo que é feita de tripas de boi, mas repete o prato.

Como o dia está nublado, o sol não é muito forte. Convido-o a passear pelo sítio. Vamos até o lago e ficamos observando as garças que voam sobre nós, as asas brancas cintilando sob a luz intermitente do sol, e depois mergulham em busca de peixes.

À tarde, tomamos chá com bolo de fubá, e eu me preparo para a revelação mais difícil que terei de lhe fazer.

Nunca imaginei que eu fosse me sentir tão temeroso. Por mais que eu queira passar outra noite com ele, não acho justo levá-lo para a cama para lhe contar o que tenho de lhe contar. Não. Devo contar agora mesmo.

Levo-o para a varanda do quintal e nos sentamos nas cadeiras preguiçosas; eu com meu copo de Firewhisky, ele com um suco de abacaxi.

- Bem - ele diz -, a última Horcrux é Nagini, não é?

Um arrepio me percorre a espinha.

- Não.

- Não? Então é algum objeto de Gryffindor? Mas Dumbledore me disse que a única relíquia de Gryffindor...

- Harry... Quando o Lord das Trevas foi a Godric's Hollow, ele estava disposto a fazer uma Horcrux com a sua morte.

- É, Dumbledore me disse isso. Mas aí a minha mãe morreu para me defender, e por isso o Avada Kedavra que ele lançou sobre mim voltou para ele.

- Exato, só que há um detalhe. - Largo o copo no banquinho que levei para me servir de mesa, junto à cadeira. Minhas mãos estão trêmulas. Respiro fundo. - O Lord das Trevas lançou o feitiço para fazer uma Horcrux com a sua morte primeiro. Quando ele lançou o Feitiço Mortal sobre você e sua mãe se colocou à sua frente, a alma dele se partiu, porque ele matou sua mãe, e o feitiço de Horcrux atingiu você.

Ele empalidece de súbito.

- Então... eu sou a sétima Horcrux de Voldemort?

Ele se levanta e anda em passos trôpegos até o gramado. Ele se dobra em dois e começa a vomitar. Eu me aproximo por trás e o seguro. Mas ele não quer consolo. Solta-se de mim e sai andando por entre as árvores.

Acho que ele merece um momento de solidão, por mais que eu fique preocupado. Esvazio o copo e volto para a sala para encher outro.

~*~*~

Espero-o na varanda, tomando um copo atrás do outro. O sol já se pôs quando vejo uma forte luz verde ao longe.

Meu coração dispara. Conheço muito bem esse brilho. Corro em sua direção, com medo do que irei encontrar.

Será que o Lord das Trevas veio até aqui, ou enviou alguém? Não quero nem pensar no que possa ter acontecido a Harry. Mas ele não iria querer matar Harry, iria? Ele tentou matar Harry, mesmo sabendo que Harry era uma de suas Horcruxes, mas isso foi antes de ele perceber que suas outras Horcruxes estavam em perigo.

O brilho veio de dentro do bosque, o que me força a embrenhar-me por ele. Só então me lembro de sacar minha varinha.

De repente, eu o vejo. Ele está cercado por uma aura verde e tem um brilho vermelho nos olhos.

- Harry!

- Lancei Avada Kedavra sobre mim mesmo - ele diz.

O chão debaixo dos meus pés parece ter-se aberto em um precipício.

- O quê? - Toco-lhe os braços, os ombros. - Você não pode estar falando sério.

Mas sei que é verdade. Sei que ele não mentiria sobre isso. Olho dentro dos olhos dele e tento lê-lo. Ele me deixa, mas o que vejo é confuso, uma descarga de emoções de uma intensidade insuportável.

- Eu pensei bastante sobre tudo, caminhando por entre as árvores e vi, com clareza, que eu não tinha outra saída além do Avada Kedavra.

Eu devia ficar furioso com ele, mas não consigo.

- E você sobreviveu outra vez! - exclamo, maravilhado.

A idéia de que eu poderia tê-lo perdido me abala demais. Queria abraçá-lo e nunca mais largá-lo, mas ele parece distante.

- Não sei se graças à proteção de minha mãe, ou ao Amor, ou se porque não lancei o feitiço com a intenção ou a potência necessária, seja como for, não adiantou nada. Encontrei uma cobra ali atrás, e conversei com ela. Continuo sendo um ofidioglota.

O brilho vermelho de seus olhos está se atenuando.

- Nós sabemos muito pouco sobre como funciona uma Horcrux viva, Harry. Você está bem?

- Estou.

- Vamos para casa. Já entregaram o jantar. Se você quiser, eu esquento.

- Vou tomar banho primeiro.

- Prometa-me que não irá cometer nenhum outro desatino.

- Você iria acreditar, se eu prometesse? - pergunta ele, sorrindo.

Eu o fuzilo com os olhos.

- Claro que não!

- Não se preocupe. Eu tenho planos fantásticos para esta noite - ele diz, e eu esqueço de respirar por alguns segundos.

~*~*~

Ele desce as escadas cheirando a sabonete de canela e trajando uma camisola verde, combinando com seus olhos. Comemos em silêncio o rosbife com salada russa. Ele toma vinho; eu não. Tomo apenas um copo d'água, pois já bebi Firewhisky demais.

Depois da sobremesa, uma torta de brigadeiro fenomenal, mostro a ele a flauta que terminei de fazer hoje de manhã.

- É uma flauta de embaúba. O nome latino da planta é Cecropia; vem de Kekrops, da mitologia grega: um ser metade humano e metade cobra.

Ele segura a flauta; os lábios cerram-se ao redor do bocal, os dedos tocam os furos delicadamente, e ele sopra. Ele não sabe tocar, mas estou fascinado. Não consigo tirar os olhos dele.

- É um presente?

Dou de ombros.

- Desde que você só treine bem longe de mim...

Ele ri. Depois fica sério outra vez.

- O que está tentando fazer?

- Dumbledore dizia que você venceria o Lord das Trevas pelo amor. Talvez você precise aceitar esse pedaço dele que está em você.

- Você acha... que eu poderia possuir a mente de Voldemort e destruí-lo com o meu... amor?

- Talvez, Harry. Eu não sou especialista em amor.

Ele me olha de um jeito estranho, e meu coração bate em um ritmo irregular.

- Mas mesmo que eu o destrua com o meu amor - ele sempre pronuncia a palavra com ironia -, continuarei tendo um pedaço da alma dele dentro de mim, e ele não morrerá. Então de que adianta esse amor?

- Vamos dormir, Harry. Talvez amanhã tenhamos alguma outra idéia.

 

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Ptyx, Novembro/ 2005