Capítulo V
Acordo e fico decepcionado ao ver que ele não está ao meu lado. Pergunto-me se terá fugido. Seria muito estúpido da parte dele, tendo feito um Juramento Inquebrável Recíproco. Encontro-o na cozinha, onde a mesa está servida com café da manhã para dois. Meu péssimo humor matinal melhora um pouco. - Espero que goste de omelete com bacon - ele diz. Respondo com um grunhido, sento-me e começo a me servir. - Não coma esse patê de carne suína defumada se vai comer omelete com bacon. É gordura demais em uma só refeição - eu resmungo. - Mas eu adoro esse patê! Respondo, com outro grunhido, que ele sempre gosta do que não é saudável para ele. Ele fica furioso, claro, e eu me sinto mais disposto. Ele não se dá por vencido. Mudando de humor de repente, abre um sorriso de cortar a respiração. - Bem, eu adoro também aquele patê de pistache. É bem dele, resolver ficar feliz só para me irritar. Depois do café, explico a ele onde estamos, para que ele possa aparatar de volta. - Aqui é o "Sítio da Nhandu", no litoral do estado de São Paulo, Brasil. - Nhandu? - É "aranha" em tupi. - Ah. Aranha. Eu devia saber. Er... Não é perigoso aparatar a uma distância tão longa? - Perigoso não, mas impreciso. É por isso que estou lhe dando este mapa. - Entrego-lhe o pergaminho. - Para o caso de você se perder. - Uau! É como um Mapa Mundial dos Marotos? O mero som desse nome me tira do sério. - Não. Esse mapa mostra apenas em que país você está. Ele sai, e eu sinto um frio no estômago. Iria com ele, se não tivesse feito um Juramento Inquebrável com o Lord das Trevas, com Bellatrix como Elo, de que ficaria ali até segundas ordens, e que não deixaria Potter escapar. (Juramentos Inquebráveis estão na moda, hoje em dia, e não, não deixei Potter escapar. Ele prometeu voltar. Espero que volte. Se ele não voltar, estou em uma grande encrenca.) A casa fica tão vazia, sem ele! Simplesmente não tenho o que fazer. Resolvo sair e colher algumas ervas nativas para inventar novas poções. Eu trouxe um caldeirão pequeno comigo. As plantas ainda estão molhadas da tempestade da noite anterior. A flora desta região, a Mata Atlântica, é incrivelmente variada. Pena que os Muggles a estejam destruindo rapidamente. Embrenhando-me pela mata, colho alguns galhos de espinheira-santa, ginseng brasileiro, carqueja e chapéu-de-couro. De repente, trombo com uma árvore alta. Dezenas de formigas miúdas me assaltam e começam a me morder. Saco de minha varinha e lanço um Avada Kedavra sobre todas. Trata-se de um galho de embaúba, pau-de-formiga ou Cecropia pachystachya. Encontro uma embaúba ainda pequena e corto um pedaço de seu tronco oco. Tenho planos para ele. A coceira está me matando, Ainda bem que trouxe um antídoto contra picadas de insetos em minha maleta de emergência. Vou ter de voltar para casa.
Dez horas da noite e ele ainda não chegou. Eu não devia tê-lo mandado ir matar um Manticora. Mas o que mais eu podia fazer? Estava entre Cila e Caribdis. Minha única companhia é o copo de Firewhisky. A garrafa já está pela metade, e eu só trouxe uma. Um estalido. Olho ao redor e vejo-o aparatando, todo enlameado. Corro na direção dele e preciso me conter para não abraçá-lo. Minhas mãos estão trêmulas. Deve ser o Firewhisky. - Eu consegui. Destruí a Horcrux - ele diz. Vem aos meus braços, homenino meu! Oh dia fremular! Bravooh! Bravarte!* Seguro-lhe os braços e passo os olhos pelo corpo dele. - Vá tomar um banho. Enquanto isso eu esquento o jantar.
Hoje estamos jantando um Camarão na Moranga, prato típico da região. Durante o jantar, Potter me conta sua aventura. Arthur Weasley havia localizado os Smiths facilmente pela Rede de Flu; depois de muitas objeções e resmungos, Zacharias Smith concordara em ajudar Potter. Weasley e Potter haviam aparatado junto aos portões de Hogwarts, de onde Weasley enviara um Patronus para chamar Hagrid. O semigigante concordara pronta e animadamente em ajudar. Potter havia lado-aparatado Hagrid até Little Hangleton, onde haviam encontrado Smith. O peculiar trio havia entrado na velha igreja e encontrado a passagem para a cripta. Hagrid e o Manticora haviam se tornado amigos de imediato e travado longas conversas enquanto Potter e Smith passavam horas procurando pela taça. Haviam, finalmente, encontrado a relíquia enterrada no solo da cripta. Smith agira como um verdadeiro herói e segurara a taça para Potter. Houve um momento de inquietude quando eles tiveram de enfrentar a perturbadora verdade de que nenhum deles sabia como remover o feitiço da Horcrux. Mas então Hagrid perguntara ao Manticora o que deveriam fazer e, em resposta, o fantástico animal enchera a taça com o veneno de sua cauda. Assim que o veneno tocara a taça, esta começara a emitir uma luz verde e se dissolvera nos ares. Respiro fundo, aliviado. A profecia deve estar correta. Esse garoto tem de ser O Escolhido.
Na cama, como na noite anterior, nós dois recostados na cabeceira, sob os cobertores, eu conto a ele sobre a segunda Horcrux: a varinha de Rowena Ravenclaw. - A varinha de Rowena está flutuando nos ares, acima de Hogwarts. - Ora, eu sou um bom Seeker, acho que essa não vai ser difícil. - Otimista, não? Você nem sabe a que altitude está essa varinha! Além disso, o Lord das Trevas lançou um feitiço de invisibilidade sobre ela. - O quê? A varinha está invisível? - Exato. Regozijo-me com a sua compreensão das sutilezas de minha linguagem. - Er... Mas se a varinha é invisível, não vai ter jeito. - Por que não reúne seus amigos e pede ajuda a eles? Só você procurando, será mesmo muito difícil. Ele suspira, põe os óculos sobre a mesinha de cabeceira e escorrega para baixo das cobertas. Eu apago as luzes e faço o mesmo que ele. Fico vários minutos acordado, só me perguntando se ele estará acordado também ou não, e o que acharia se eu chegasse um pouco mais perto, se o tocasse... Mas ele não diz nem faz nada, e eu me preparo para outra noite de tensão sexual não resolvida.
Notas: |
Ptyx, Outubro/ 2005
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