3 - Perfeitos Cavalheiros

 

Harry se viu aterrizando, no colo de Snape, em um gramado, diante de um galpão. Snape o depositou sobre o gramado, levou-o até a porta maciça de carvalho e pronunciou algumas palavras incompreensíveis. Snape abriu uma fresta e espiou.

- Oh - exclamou, fechando a porta com cuidado.

- O que foi?

O mago mais velho pareceu refletir por um instante, então olhou para Harry com firmeza.

- Quero que você entre em silêncio absoluto, entendeu? Não vou acender as luzes, também. Quero lhe mostrar uma coisa. Você conhece aquele encanto que possibilita que enxerguemos no escuro? Não? O que Flitwick anda lhe ensinando? - Snape balançou a cabeça, depois fez um gesto com a varinha na direção dos olhos de Harry. - Noctividens!

Snape abriu a porta de novo e, em silêncio, eles entraram. Desviando-se de caldeirões, cadeiras e outros objetos estranhos, Snape o conduziu até um imenso retrato na parede dos fundos do laboratório.

No retrato, Godric Gryffindor e Salazar Sytherin, no chão de um salão medieval que poderia muito bem ser em Hogwarts, trepavam alucinadamente, Godric "em cima" e por trás, massacrando Salazar, comprimindo-o impiedosamente contra o tapete rústico. E Salazar se movendo no mesmo ritmo frenético, indo ao encontro do parceiro.

A princípio surpreso, Harry ficara quase paralisado. Snape o puxou por trás e, sentando-se em uma poltrona, sentou o garoto em seu colo, de frente para o retrato. Harry deixou-se recostar sobre o tórax de Snape, sem tirar os olhos do retrato, como que hipnotizado.

Por fim, quando o ritmo dos dois fundadores parecia a ponto de derrubar as paredes do salão onde estavam, os dois gozaram ao mesmo tempo, e caíram sobre o tapete, exaustos. Nos braços um do outro, Godric e Salazar adormeceram, sem sequer perceber que haviam sido observados durante quase todo o seu ato de amor.

- É tão bonito... Eu nunca tinha visto dois homens transando - comentou Harry, soltando a respiração que vinha prendendo inconscientemente.

Snape enterrou o nariz nos cabelos de Harry e o abraçou com força.

- Esse retrato estava em um dos corredores de Hogwarts. Um dia Salazar me pediu que o tirasse de lá e o levasse para um lugar isolado, porque, você sabe, eles queriam... e não podiam fazer isso na frente dos alunos, que ficavam passando por lá o tempo todo. Até mesmo à noite, você sabe, depois que o toque de recolher bate, alguns meninos insubordinados insistem em ficar andando pelos corredores...

- Assim como alguns professores perversos, que querem pegar os meninos em emboscadas - retrucou Harry.

Tenso, Snape segurou o rosto de Harry entre as mãos e franziu-lhe o cenho.

- Não fale assim.

- Eu só estava brincando.

- Eu sei. Mas as pessoas podem pensar... Eu nunca toquei em nenhum de meus alunos... Não dessa forma.

- Oh. Eu não quis dizer isso. Desculpe.

Snape relaxou e retomou a história que contava.

- Então, depois disso, eu trouxe o retrato para cá, e parece que eles se divertem bastante... Nas raras vezes em que estou aqui e venho trabalhar, no entanto, eles se comportam como perfeitos cavalheiros.

- Perfeitos cavalheiros não trepam? - Harry não esperou a resposta de Snape. - Sabe, esse retrato... me deixou inspirado: Griffyndor "por cima"...

- Ahem. Acho que posso satisfazer esse seu desejo... desta vez. Mas não aqui. Vamos transfigurar uma dessas cadeiras em uma cama grande, de quatro colunas, com cortina.

 

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Ptyx, Agosto/2004