Parte II - Exorcismos

 

6 - Marcas Indeléveis

 

I

Já vinham se encontrando há dois meses, todas as sextas-feiras, no pequeno chalé de Snape.

Não haviam brigado nem uma vez sequer. Cada vez que se encontravam, era quase como se fosse a primeira vez. Uma semana longe um do outro os deixava enlouquecidos. Depois do problemático incidente em que haviam se encontrado consigo mesmos, e todo o drama que se seguira, Snape passou a se recusar terminantemente a usar o Vira-Tempo para outras voltas além da "regulamentar". E a limitar o consumo de álcool em seus encontros.

Naquela noite, eles jantaram rosbife, batatas assadas, ervilhas e cenouras, pratos que Snape havia trazido das cozinhas de Hogwarts - não que ele não soubesse cozinhar, mas a verdade é que não tinha tempo para isso. Snape abriu um vinho tinto Muggle francês de boa safra. Harry estranhou o gosto do vinho a princípio, pois nunca havia bebido álcool Muggle, mas logo se acostumou. Depois de se esbaldarem na sobremesa, uma torta de creme, eles subiram para o quarto de Snape.

No entanto, quando se deitaram frente a frente na cama, sem cobertas, Harry com seu pijama de Hogwarts, Snape com seu camisolão - havia algo de novo no olhar que Harry lançava a Snape, e este não pôde deixar de perceber.

- O que foi?

- Er... Nada.

- Potter...

- Potter, de novo?

- Quando você me irrita, não posso deixar de chamá-lo de Potter. Acho que é força do hábito.

- Mas eu não fiz nada!

Snape limitou-se a encará-lo com seu olhar mais penetrante. Harry estremeceu.

- Está bem, eu sei. É que... eu queria saber. O que eu sou para você. E não vale dizer "aluno".

Foi a vez de Snape estremecer visivelmente.

- Tecnicamente, além de meu aluno, você é meu amante. Uma combinação altamente perigosa.

- "Tecnicamente". Mas, e de verdade... É só isso?

- Só isso?! - Snape o encarou com ar de perplexidade. Então, vendo a expressão de desalento no rosto do menino, suspirou. - Harry, você não quer que eu lhe faça uma declaração de amor, quer? Porque, se é isso, pode perder a esperança. Eu já passei da idade de acreditar em contos de fadas ... e em amor eterno.

- Mas... se é só sexo, qual a diferença se é comigo ou com Pier?

- Sexo não é "só sexo". Quer dizer, até pode ser. Mas entre nós não é. Está bem assim? Ou você quer continuar "discutindo o relacionamento"?

- Hmpf. Parece coisa de menina, não é? Mas é que... Bem, é a primeira vez que eu me apaixono mesmo por alguém.

Snape bufou.

- Então você está apaixonado por mim. Mas não me diga que nunca teve nenhuma paixão antes.

- Coisa de criança. Primeiro pela Cho.

- A Seeker de Ravenclaw?

- É.

- Então você não é irremediavelmente gay.

Harry deu de ombros.

- Bem, a minha segunda paixão foi... Sirius.

A expressão de Snape se fechou de imediato, assumindo tons tempestuosos, enquanto ele agarrava Harry pelos ombros com força.

- Black. Ele... ele não...

Harry arregalou os olhos. Snape o estava machucando, fincando as unhas em sua pele. Harry nem conseguia responder, de tão assustado. Snape o sacudiu com força.

- Harry, se me disser que ele encostou um dedo em você...

- Ai! Está me machucando! Pare com isso.

Voltando a si, Snape largou-o de supetão. Estarrecido, levantou-se e saiu à pequena sacada do quarto.

Uma brisa fria soprava-lhe a camisola. Snape enterrou o rosto entre as mãos.

- Severus...

- Vá embora - disse Snape, com voz embargada, com as mãos ainda sobre o rosto, sem se voltar para Harry que chegara às suas costas.

Harry tocou-lhe de leve o ombro, por trás. Snape tentou fingir que não percebia.

- Não fique assim. O que foi?

Snape deixou os braços tombarem de lado e se virou pesadamente. Olhou para o menino com uma expressão de dor.

- Venha para dentro, está muito frio aqui. Não vai lhe fazer bem.

Snape virou-o e empurrou-o delicadamente por trás. Harry se deixou conduzir. Assim que entraram, contudo, virou-se novamente e abraçou Snape.

- Ele nunca tocou em mim, Severus. Era só uma fantasia minha.

Snape acariciou-lhe os ombros de leve, no mesmo local por onde o agarrara com força antes.

- Eu o machuquei, Harry, e não tinha esse direito. Você... não devia estar aqui comigo. Eu não sou uma boa pessoa. Não vou fazer bem a você.

Harry o abraçou com mais força e enterrou o rosto em seu peito, sufocando um soluço.

- Não, Severus. Não fale assim. Você... só ficou assim porque... porque era ele, e... eu sei como se sente em relação a ele.

- Não é ele o problema, sou eu.

- Você... você só ficou com ciúmes, e...

- Nada desculpa o meu comportamento, você entende?

- Mas você não me machucou muito, quer ver? E mesmo que tivesse ficado uma marca, eu sou um mago e...

Snape o afastou de si abruptamente.

- Você não entende. É como um vício. Eu não consigo evitar. Eu gosto de causar a dor.

- Você não pareceu gostar, nem mesmo na hora.

- Não adianta, você não entende.

Harry tentou se aproximar de novo, mas Snape deu-lhe as costas. Harry o segurou pelo cotovelo.

- Tudo bem, então foi horrível, mas já passou. Eu o perdôo. Tente perdoar a si mesmo. Dê outra chance a você mesmo! Eu... eu não vou mais deixar você me machucar, está bem assim?

Snape se virou e tomou-o nos braços. Enterrou o nariz nos cabelos revoltos do garoto.

- Desculpe, Harry - disse ele, baixinho, com voz entrecortada. - Da próxima vez que eu o machucar, não hesite em lançar um Imperdoável em mim.

Então Snape o pegou no colo e o levou para a cama.

~*~*~

 

II

 

Naquela noite, ele fez amor comigo com mais ternura do que nunca. Beijou minhas pálpebras, alisou minhas sobrancelhas com a ponta dos dedos, roçou os nós dos dedos em minhas faces. Mordeu-me o lóbulo e me fez gemer lambendo todo o pavilhão de minha orelha.

Enterrou o nariz em meu pescoço apertando-me com força contra si. Mordeu-me o pescoço e o ombro. Contornou os mamilos de longe, descendo depois pelo centro até insinuar a língua em meu umbigo. Não acreditei quando ele pegou minha mão entre as suas e chupou meus dedos um a um. Depois se ajoelhou a meus pés e fez o mesmo com os dedos dos pés. Eu senti lágrimas brotando em meus olhos quando o vi sugando meus dedos daquele jeito. Eu estava plenamente ereto, e ele nem tinha tocado em nenhuma das partes que eu considerava eróticas.

Então ele me fez deitar de bruços, e massageou meus ombros com um óleo - uma de suas poções. Sempre que ele tocava em um determinado ponto de minha coluna, eu me arqueava todo. Passou aquele óleo em meus pés, pernas e em minhas coxas também. Por fim, massageou-me o traseiro, com firmeza, apertando cada uma de minhas nádegas, insinuando a mão por entre elas. Parei de respirar por uns segundos. Aí ele se deitou em cima de mim, e eu escutei seu coração batendo acelerado, tão acelerado quanto o meu. Eu me virei, e o choque de nossos corpos nus se encontrando frente a frente foi tão forte que nós dois gememos ao mesmo tempo.

Eu o envolvi com meus braços e pernas; ele ainda brincou com meus mamilos por longos instantes, mordendo-os, lambendo-os, chupando-os, beliscando-os. Então me preparou com seus dedos hábeis, enchendo-me com um lubrificante que disse ser especial.

Entrou em mim com suavidade, e eu estava tão excitado que gozei quase de imediato. Ele ficou imóvel dentro de mim por alguns minutos, e depois começou a fazer amor comigo, bem lentamente. O que posso dizer? Ele me fez derreter inteirinho. Me fez gozar mais duas vezes, e continuava ali, dentro de mim, firme e ereto.

Finalmente, eu perguntei a ele como conseguia aquilo. Ele deu aquele seu sorriso torto, e me disse que era uma poção especial, e que o impedia de gozar ao mesmo tempo que me estimulava. Eu tive de implorar a ele que gozasse também - porque senti-lo gozar dentro de mim é ainda melhor do que gozar. Ele cedeu, e pronunciou um encanto para anular o efeito da poção.

Então nós gozamos juntos. Eu tinha lágrimas nos olhos e ele, preocupado, me perguntou se me havia machucado. Eu o abracei com força e disse que agora sabia que ele me amava, pois, de outra forma, não conseguiria fazer amor comigo daquele jeito. Ele não disse nada, mas me abraçou como se nunca mais fosse me largar.

 

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Ptyx, Setembro/2004