13 - Hierosgamos: Primi Gradus

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena"
(Fernando Pessoa)

 

As corujas haviam chegado de manhã. Hedwig voltara da casa de Hermione com um manual de instruções sobre como aparatar; Pigwidgeon trouxera um bolo, uma torta de carne e toneladas de doces enviados pelos Weasleys; Hagrid lhe mandara uma bolsa de pele de Moke (Grawp matara um Moke e Hagrid, mortificado, resolvera utilizar a pele para um fim nobre).

Harry passara a tarde no mais completo tédio. Chegara, enfim, à maioridade. Grande coisa. Nada ia mudar em sua vida. Exceto que agora podia aprender a aparatar, e Severus não ia mais precisar pegá-lo no colo quando queriam passar de um quarto a outro no chalé. Só que eles nem faziam mais isso, há muito tempo. E era bom aparatar no colo de Severus.

Ah, Severus. Fazia quase uma semana que Severus não aparecia. E ele havia prometido ir pelo menos duas vezes por semana! Será que acontecera alguma coisa?

O tédio começara a se transformar em preocupação quando Snape aparatou em sua cama, bem em cima dele.

- Ai! Meu, que susto! E você acha que não pesa nada?

Snape nem se preocupou em fuzilá-lo com os olhos, ou em sair de cima dele. Ao contrário, já foi se deitando em cima de Harry.

- É assim que você me recebe? Quer que eu vá embora? - sussurrou-lhe ao ouvido.

Harry sorriu, a felicidade enfim se espelhando em seu rosto.

- Feliz aniversário, pirralho.

- Oh. Você se lembrou.

- Eu lhe trouxe um presente também.

- Mesmo? Eu não esperava.

- Não é todo o dia que se chega à maioridade - murmurou Snape, antes de tomar-lhe os lábios em um beijo apaixonado.

Depois de mais alguns beijos, quando Harry achava que eles já iam partir para os finalmente, Snape se sentou na cama, tirou um pacote do manto e o entregou a ele.

O embrulho era de um papel espelhado, e parecia carregado de fluidos mágicos. Harry o abriu com cuidado. Dentro, um livro antigo, amarelado: Hierosgamos, de Asklepios Arrheton.

Harry ergueu os olhos para Severus, intrigado.

- Eu marquei uma página para você ler. Leia agora.

Harry folheou o livro e encontrou um marcador bastante peculiar: era uma pequena serpente de pano verde. A página marcada era a do capítulo "Primi Gradus". Em uma linguagem rebuscada e hermética, a página descrevia uma cerimônia de... noivado.

- Er... Por que... O que...

- Não entendeu ainda?

- Você sabe, eu não sou lá muito inteligente.

Severus assumiu uma expressão de impaciência.

- Hoje você completa a maioridade. Isso não torna o nosso relacionamento legal, porque eu continuo a ser seu professor. Mas, simbolicamente, quer dizer que você agora, e só agora, está apto a consentir com o nosso relacionamento.

- Que monte de asneiras. Qual a diferença? Ontem eu não podia e hoje eu posso?

- Pois é, esses limites são todos arbitrários. Mas esse significado simbólico é importante também magicamente. Quer dizer, agora você está apto a... - Snape parecia mesmo embaraçado - assumir um compromisso.

A compreensão começou a raiar no cérebro de Harry.

- Compromisso... E esse livro... Você está me pedindo...

- É mais ou menos o que se chama hoje de noivado. Mas eu estou lhe propondo que façamos esse rito antigo de compromisso mútuo, que é o Primi Gradus do Hierogamos. Hierogamos significa "casamento sagrado".

- E como é isso?

- É bem simples. Nós só temos de unir as mãos, palma contra palma. E pronunciar a fórmula que está aí nessa página.

~* ~* ~

Com as palmas unidas, eles pronunciaran seus votos:

- Mih ot etoved i sgnileef eht ot lufhtiaf dna erecnis, layol yletulosba eb llahs i taht dna, rentrap ym fo tifeneb ni rewop ym ni gnihtyreve od llahs i taht ssentiw ot efil llac i.*

Assim que Snape pronunciou a última palavra, um anel se materializou no dedo anular da mão direita de ambos. Era um aliança de um material da cor da prata, mas mais etéreo, com uma pedra de obsidiana. Uma sensação de infinita alegria e união com o parceiro invadiu a alma de Harry. Snape sorriu, e afastou a mão. Como num transe, Harry o fitou com ar intrigado.

- Pronto. Os anéis, só nós conseguimos ver. Esse influxo de magia que você sentiu foi trocado apenas entre nós. Esse ritual não tem nenhum significado externo, a não ser pelo fato de que, indiretamente, ele intensifica a nossa magia. Os anéis permanecerão conosco enquanto mantivermos os votos. Se um de nós romper os votos, os anéis simplesmente desaparecerão, e a união mágica se desfará.

- Quer dizer que você não pode me trair sem que eu descubra?

- Entenda, Harry, que isso não significa que eu não possa fazer sexo com outra pessoa sem manter os votos.

- Como assim?

- Você sabe, às vezes, em certas situações, como espião, eu não posso escolher.

- Argh. Eu... entendi. Não precisa me contar.

- Foi o que pensei. Desculpe ter... estragado o clima. Eu só queria deixar bem claro. Porque... o voto que fizemos... implica essa honestidade.

Uma estranha paz tomou conta de Harry. Sentia-se seguro com Severus agora. Pela primeira vez, confiava totalmente em uma pessoa. E essa era uma sensação maravilhosa.

- Um dia, quando não formos mais professor e aluno, e quando nós dois estivermos livres dessas correntes que nos prendem a Lordes e profecias - disse Snape, em sua voz grave e profunda -, poderemos executar o ritual que nos unirá para todo o sempre. É um ritual bastante complexo. O livro que lhe dei explica em detalhes.

Fizeram amor mais uma vez na cama do pequeno quarto com grades. Aquele quarto que antes era como uma gaiola para Harry agora era como um campo de pouso de onde poderia alçar vôo e voar cada vez mais alto.

NOTAS:

* Tradução aproximada: "Invoco a Vida como testemunha de que farei tudo para tornar meu parceiro feliz, que serei sincero a ele e absolutamente fiel ao sentimento que lhe devoto."

 

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Ptyx, Setembro/2004