Fantasmas do Passado
Fevereiro de 2004
Severus estava preparando o jantar quando Julia entrou na cozinha, encarando-o com uma expressão preocupada. - O que foi, Julia? - É que... tinha duas mulheres na farmácia... Julia não parecia ter coragem de terminar. - Duas clientes? - perguntou Severus, para ver se a estimulava a falar. - É. Uma tava falando pra outra que elas deviam ir embora porque você é um Bruxo das Trevas. Ela falou que você matou um bruxo e que nunca devia ter saído da cadeia. Severus sentiu um frio no estômago. Sempre temera o momento em que tivesse de explicar aos filhos sobre seu passado. Severus estava tão abstraído que não notou que Harry havia se juntado a eles e estava agora se ajoelhando junto à afilhada. - Julia, escute o que vou lhe dizer. - Harry segurou a mão dela entre as suas. -Esse bruxo que morreu, Dumbledore, era sábio e poderoso, e Severus o respeitava muito. Dumbledore ia morrer, de qualquer forma; ele estava gravemente ferido. Então Dumbledore pediu a Severus que o matasse, porque esse era o único jeito de Severus poder me ajudar a derrotar um Bruxo das Trevas muito perigoso. Severus fez o que Dumbledore lhe pediu. Severus não é um assassino. Ele é um herói. Durante a explicação de Harry, Severus olhava para Harry e para Julia alternadamente. Harry tinha uma expressão calma e decidida; Julia foi relaxando à medida que Harry falava. - Esse Bruxo das Trevas era Você-Sabe-Quem? - perguntou Julia. - Era - disse Harry. - Quem foi que lhe contou? - Ah, todo mundo fala que você derrotou esse Você-Sabe-Quem - explicou Julia. Então ela olhou para Severus com olhos brilhantes. Devagar, Severus abriu os braços para ela, e ela correu em sua direção. Abraçaram-se sem dizer nada. Ginevra gritou do andar de cima, chamando Julia para ir tomar banho. Julia olhou bem dentro dos olhos de Severus. Ele ficou aliviado ao ver afeto e confiança nos olhos dela. - Já estou indo, mãe! - gritou ela, sorrindo, e saiu correndo da cozinha. Assim que ela saiu, Severus voltou-se para Harry, que fitava em expectativa. - Dessa vez você me salvou. Obrigado. Um dia, no entanto, terei de contar a meus filhos dos erros que cometi. - Eles são ainda muito pequenos - disse Harry. Severus sacudiu a cabeça. - Pequenos para quê? Para entender? Acha que espero isso deles? - O que quer dizer? - perguntou Harry. - Eles amam você. Eles vão entender. Severus engoliu em seco. - Só espero que não aconteça como hoje: que eles não venham a saber por outras pessoas. Como vou saber... o momento certo? - Não sei. Nem sempre podemos escolher o momento certo. Mas não se preocupe tanto, Severus. Eles vão entender. Severus não podia fazer nada além de esperar que Harry tivesse razão. Às vezes Severus achava que não merecia a feliz vida familiar de que desfrutava. Aquela tensão de não saber como os filhos reagiriam quando descobrissem sobre seu passado era talvez o preço que ele precisava pagar por sua felicidade. ~Fim~ |
Ptyx, Abril / 2007
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