Schola Obscura

 

Capítulo V

 

Como choveu durante a tarde, eles continuaram treinando comunicação mental dentro do quarto. Harry achava cada vez mais difícil ignorar a crescente tensão sexual entre eles. Apesar das distrações, ao final do dia eles já conseguiam ler a mente um do outro sem precisar lançar Legilimens.

O jantar transcorreu em silêncio. O solomillo (lombo de vaca) estava soberbo. As alcachofras ao caldo de cordeiro, estupendas. O vinho, um Sierra Cantabria, era um acompanhamento perfeito - Harry estava começando a se apaixonar pelos vinhos da Espanha.

Na hora da sobremesa, Harry pediu um chocolate en texturas. Mas quando o prato chegou, Harry viu que era muito, mesmo para ele, e convenceu Snape a dividir com ele. Pediram a Consuelo para trazer outro pratinho. Quando Consuelo se aproximou, Harry fuzilou-a com os olhos.

Aquela sobremesa era um delírio. Havia uma parte em mousse, outra em brownie, outra em flan, tudo coberto com sorvete de chocolate e caramelo crocante.

Cada vez que seus olhares se encontravam, Harry temia ver seus desejos espelhados na mente de Snape. Desviava os olhos antes que pudesse ser tragado para tórridas imagens de seus dois corpos se movendo juntos, febrilmente...

Harry tomou mais um gole de vinho, driblou mais uma vez o olhar de Snape, que parecia persegui-lo, e mordeu o lábio inferior quando notou que nem era preciso ler a mente de Snape, que a mera presença do outro mago era o bastante para deixar todo o seu corpo elétrico. O clima entre eles era tão forte que nem Consuelo ousava se insinuar com Snape.

Harry se perguntava se os olhares fulminantes que havia dirigido a ela é que a haviam amedrontado...

Voltaram para o quarto depois do jantar e foram dormir - sem barreiras mágicas, mas também sem nenhum contato. Harry estava louco de desejo, e sabia que Snape também o queria. Ainda assim, parecia haver uma barreira invisível entre eles.

Harry sonhou que Snape resolvera ficar para sempre na Cueva, com o falso Harry. Acordou em agonia e tocou o peito de Snape só para sentir que ele estava realmente ali. Sentiu o bater do coração do outro e se acalmou.

Quando despertou de novo, já estava amanhecendo. Ficou vermelho ao perceber que metade do seu corpo estava sobre o de Snape, e recuou de imediato. Mas Snape, como uma cobra dando o bote, lançou-se sobre ele, comprimindo-o contra o colchão.

- Você conseguiu me tirar do sério de novo. Espero que queira mesmo isso que vai acontecer agora, porque tensão sexual não resolvida tem limites, e eu já estou muito além deles.

Harry gemeu e abriu as pernas para que Snape se alojasse melhor entre elas.

- Não agüentava mais esperar que você se decidisse.

- Não entende que isso tinha de partir de você, e não de mim?

Harry entendia porque Snape achava isso. Primeiro, porque Snape se sentira humilhado e rejeitado pela reação de Harry ao saber que teriam de dividir uma cama. Depois, porque Snape se sentira totalmente exposto na cena que Harry presenciara na Cueva, e desde então esperara uma espécie de resposta de Harry. Uma resposta que nem agora Harry se sentia habilitado a dar.

- Você complica tudo demais - foi tudo o que Harry conseguiu dizer. - Além disso, você disse que era o líder. Eu estava esperando que você tomasse a iniciativa.

Snape aproximou os lábios. Harry entreabriu os seus, à espera do beijo. Snape passou a língua devagar por sobre eles, provocando, e Harry segurou-o pela nuca, forçando aquela língua esquiva a penetrar-lhe a boca.

Harry deu um gemido apreciativo ao primeiro encontro de línguas e sentiu a respiração de Severus parar por um instante. Harry mergulhou ainda mais fundo, embriagado pelo sabor doce e amargo de Snape.

Snape interrompeu o beijo e ergueu o rosto, fitando Harry olhos nos olhos.

- Diga-me o que quer.

- O mesmo que você - respondeu Harry, sem fôlego.

Severus emitiu um som abafado e beijou Harry outra vez, devagar e arrebatadamente, enquanto insinuava uma das mãos por baixo da camisa do seu pijama. Dedos frios tocaram um mamilo, enviando um arrepio de prazer por todo o corpo de Harry.

- Harry - sussurrou Severus, em voz rouca, rolando o mamilo entre o polegar e o indicador.

Nada poderia ser mais sensual do que ouvir Snape dizer seu nome enquanto o tocava.

- Severus - disse Harry, saboreando a palavra como se fosse, em si, preciosa.

Severus afastou os cobertores, puxou a camisa do pijama de Harry para cima e abocanhou um dos mamilos, fazendo Harry se contorcer todo de prazer.

Harry revidou apertando o traseiro de Severus por sobre a camisola.

- Por favor... Quero sentir sua pele contra a minha.

Severus não pensou duas vezes: começou a tirar as roupas de Harry, acariciando cada pedacinho que desvelava. Quando Harry estava só de cuecas, Severus parou e o devorou com os olhos, da cabeça aos pés. O desejo nos olhos de Severus conectou-se diretamente ao pênis de Harry, que já estava ereto.

Severus engoliu em seco e tirou a camisola. Dentro da cueca branca, o pênis de Severus estava clara e totalmente ereto. Harry estendeu a mão e tocou-o com suavidade por sobre o tecido.

Sem tirar os olhos dos de Harry, Severus tirou a própria cueca. Depois, devagar e saboreando cada momento, tirou a cueca de Harry. Por um instante, Harry sentiu-se frágil e exposto, mas a visão do pênis de Severus, tão firme e desejável, ajudou-o a vencer a timidez. Sem agüentar mais esperar, Harry puxou Severus para baixo. Seus corpos nus se colaram, e eles rolaram de lado.

- Ah, que tesão - murmurou Harry, mordendo de leve o pescoço de Severus e depois espalhando lambidas pela pele macia daquela região.

Severus respondeu enlaçando-o pela cintura e roçando o pênis no dele.

- Eu quero você - sussurrou Severus em voz rouca.

- E eu quero ser seu - respondeu Harry.

Severus gemeu e desceu a mão pelas costas de Harry, puxando Harry contra si.

- Vou entoar um mantra e você vai repetir comigo.

- O quê... ?

- Faça o que lhe digo. Não tenho lubrificante, mas isso não é problema. Nossos corpos estão repletos de fluídos. É só entoarmos as palavras certas e esses fluídos irão fazer o que queremos que façam.

Severus insinuou um dedo por entre as nádegas de Harry.

- Oh... Eu faço o que você quiser, mas enfie logo esse dedo em mim.

Severus deu um sorriso torto e começou a entoar o mantra. Harry não entendia uma só palavra, mas tentou imitá-lo. Sentiu seu corpo relaxar e tornar-se mais desperto ao mesmo tempo.

- Esse mantra facilitará nossos movimentos. Os seus músculos se tornarão mais elásticos e nossos fluídos agirão como lubrificantes naturais - explicou Severus, em seu tom professoral.

- Se você ensinasse essas coisas na aula, eu teria prestado atenção.

Severus parou de traçar aqueles pequenos círculos torturantes e penetrou-o com o dedo. Os músculos de Harry cerraram-se ao redor dele com firmeza.

Era bom demais. Severus inseriu um segundo dedo e começou a mover os dedos para dentro e para fora, cada vez mais rápido e mais forte. Aquele mantra era fantástico. Harry nunca tivera uma preparação tão gostosa. Impeliu os quadris contra a mão de Severus, tentando fazer aqueles dedos hábeis entrarem mais fundo. Logo, Harry estava plenamente à vontade, movendo-se de encontro aos dedos de Severus em uma deliciosa dança.

- Agora chega. Você já se divertiu demais - disse Severus, removendo os dedos com cuidado.

- Que amante cruel você é!

- A paciência é a maior das virtudes. - Severus se ajoelhou entre as pernas de Harry e posicionou-se para a penetração. Harry arquejou quando o pênis de Severus deslizou para dentro dele, em um só movimento ágil. Soltou a respiração em golfadas e impeliu-se contra Severus. Com o pênis alojado dentro de Harry, Severus girou os quadris e recuou, apenas para mergulhar outra vez.

Severus dobrou-se por sobre o peito de Harry. Harry se agarrou a ele, braços e pernas envolvendo-o possessivamente. Severus penetrou e recuou, segurando Harry, preenchendo-o com firmeza até o fundo.

Eles se encaixavam perfeitamente. O pênis de Severus preencheu cada centímetro de Harry. O suor cobria seus corpos ofegantes e seu ritmo se tornou quase frenético. Harry gostaria que eles pudessem continuar unidos daquela forma para sempre, mas o prazer crescia dentro dele quase rápido demais para controlar.

- Harry - murmurou Severus, em um som rouco, enquanto curvava os dedos ao redor do pênis de Harry. Para Harry, foi o que bastou: o toque dos dedos de Severus fez seu corpo crispar-se, e ele gozou com um grito abafado.

Severus mordeu o pescoço de Harry num rosnado gutural, aumentando a força de suas estocadas. Harry o abraçou com força, mexendo os quadris para acompanhar-lhe os movimentos. Severus penetrou-o uma, duas vezes, e soltou um longo gemido junto ao pescoço de Harry quando o orgasmo o arrebatou. Severus preencheu Harry com seu sêmen e tombou, esgotado, sobre ele.

Harry continuou abraçado a Severus enquanto suas respirações voltavam ao normal. Severus rolou para o lado. Seus olhos se encontraram. Severus parecia triste.

- O que foi? - perguntou Harry, temendo que Severus estivesse desapontado com ele. Mas quando olhou dentro dos olhos de Severus, ele entendeu. - O quê, você acha que eu não gostei?

- Não minta para mim.

- Olhe dentro dos meus olhos, Severus, e concentre-se no que eu estou pensando, em vez de ficar lutando contra fantasmas que existem só na sua mente.

Severus penetrou em sua mente, e sua expressão de preocupação se dissipou de imediato, dando lugar a um sorriso orgulhoso.

- Também não pode ter sido tão maravilhoso assim. Eu posso fazer muito melhor do que isso.

- Você nunca se satisfaz, não é?

- Não posso me queixar. Foi uma trepada e tanto. Eu queria que tivesse sido mais lenta, mas eu estava louco de tesão.

- Não tão louco quanto eu!

Severus fitou-o intensamente.

- Se me der outra chance, mais tarde, eu posso fazê-lo gozar duas, três vezes seguidas.

- Como fazia com a sua amiga indiana?

- Maldição. Eu me esqueço de que você sabe todos os meus segredos agora!

- Sexo tântrico, não é? Foi ela que ensinou a você?

- Foi. Ela se chamava Amita.

- O que aconteceu com ela?

- Voltou para a Índia assim que percebeu que Voldemort era uma ameaça à paz do Mundo Mágico. Ela dizia que queria se casar e ter filhos, e que aquele ambiente não era o ideal para seus filhos.

- Você a amava?

- Estava loucamente apaixonado.

- Por que não foi com ela?

- Eu era muito jovem e ambicioso. Achava que o futuro junto ao Lord das Trevas me traria a glória e o respeito do mundo.

Harry suspirou.

- Amita parece ter sido mesmo muito sábia. Mas qual é a graça, ficar transando e não gozar nunca?

- É um ritual de reverência pelo parceiro, uma forma de culto.

O queixo de Harry só não caiu ao chão porque ele estava deitado.

- Você me surpreende muito, Severus.

- Quer dizer que vai me dar outra oportunidade.

Harry abriu um sorriso irônico.

- Você notou que eu não sou uma garota, não?

Severus franziu as sobrancelhas, depois deu um meio sorriso.

- Ah, entendo. Você não acredita que eu possa fazê-lo gozar três vezes seguidas. Deixe-me esclarecer-lhe certos fatos da vida: há uma garota dentro de cada um de nós. Só precisamos ativar os hormônios certos.

Harry suspirou.

- Mas eu não quero um parceiro tão controlado que nunca goze. Eu prefiro você como foi hoje.

Severus descansou a mão sobre o peito de Harry, num gesto possessivo.

- Veremos...

Harry cobriu-lhe a mão com a sua.

- Queria que tivéssemos feito isso antes. Eu queria muito, mas tinha medo.

- Oh, eu também não queria me envolver com você. Mas quando tive aquela visão na Cueva, foi como acender um fósforo em um salão cheio de pólvora: o tesão que eu estava sentindo por você se encontrou com o meu desejo de redenção. De repente, percebi que queria você, a única pessoa no mundo que poderia me dar, não a redenção, mas ao menos o perdão.

Harry sentiu um nó na garganta.

- Desculpe, eu...

- Eu sei. Eu não espero que me perdoe. Eu mesmo não me perdoarei jamais, então não posso esperar isso de ninguém, muito menos de você.

- Não, Severus, por favor. Não desista. Eu quero ser capaz de perdoar você.

Severus sacudiu a cabeça.

- Não posso desistir. É meu maior desejo. E é inatingível. Aí talvez você tenha razão: o meu maior desejo é realmente inatingível. - Severus entrelaçou os dedos aos de Harry e apertou-lhe a mão com firmeza. - Quanto ao resto, você estava errado.

- Que resto?

- Você disse que eu só o queria porque não podia tê-lo. Agora posso dizer que isso não é verdade.

Os raciocínios de Severus eram sinuosos, mas Harry estava começando a entendê-los.

- Porque você ainda me quer - deduziu Harry.

Severus capturou-lhe os lábios em um longo beijo, que foi seguido outro, e mais outro...

Longos minutos depois, eles foram interrompidos por ruídos vindos de fora.

- Feliz Lunes de Aguas - disse Severus.

- Oh, é verdade, é hoje. Então é por isso que estão fazendo tanto barulho. Ahn... Está me chamando de puta?

- Nunca. Você é meu. Só meu.

Harry sorriu.

- É um belo símbolo. Nunca vou esquecer que nossa primeira vez foi no Lunes de Aguas. Eu sei que estamos aqui só há três dias, mas parece que tivemos de esperar um longo tempo até, você sabe...

- Trepar.

Harry caiu na gargalhada, e viu que Severus ria também.

- O que eu quis dizer é que, finalmente, encontramos o que estávamos procurando - disse Harry, e colou os lábios nos de Severus outra vez.

~*~*~

Passaram a tarde de Lunes de Aguas fazendo piquenique junto ao Tormes, comendo hornazos e bebendo vinho tinto como todos em Salamanca.

Conseguiam comunicar-se mentalmente com bastante facilidade - era só estarem próximos um ao outro e em contato visual. À tardinha, quando voltaram para a pousada, Severus disse que não sabia se o plano de Harry daria certo, mas que, se dependesse de comunicação mental, eles estavam prontos.

Harry gostaria de ficar mais tempo com Severus, mas sabia que o Ministério não iria sustentá-los ali indefinidamente sem nenhum resultado prático. Os dois conversaram a respeito do que deveriam fazer e concordaram em voltar à Cueva naquela noite.

Poucos minutos antes da meia-noite, Severus passou o braço em torno da cintura de Harry.

- Vamos. Quero que fique o tempo todo junto a mim. Não podemos perder o contato visual. No te pierdas de mi vista.

 

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Ptyx, Julho/ 2006