Não Tão Ruim

 

Harry Potter estava estúpida e perdidamente apaixonado por Severus Snape.

Em seu sétimo ano, lutando contra Voldemort, Harry finalmente entendera que Snape era seu aliado, e que podia confiar nele.

Na batalha final, todos os amigos de Harry haviam sido importantes, mas Snape fora fundamental. Fora ele que, na hora H, lançara sobre Voldemort um encanto que desviara o Avada Kedavra lançado sobre Harry. A seguir, Harry, concentrando em um encanto a energia de todos os seus amigos, derrotara Voldemort para sempre.

Os dias que se seguiram à derrota de Voldemort haviam sido bastante estranhos para Harry. De repente, ter o futuro livre de ameaças o deixara paralisado. E a pressão da fama era cada vez mais intensa.

Não ajudava nada o fato de que, enfim, ele se definira sexualmente, descobrindo que se sentia mais atraído por membros do seu próprio sexo. Harry se envolvera em vários relacionamentos, mas o peso da fama acabara influindo e destruindo o que ele tentava construir. Não era fácil, para nenhum parceiro, conviver com a aura de poder que cercava o Garoto de Ouro.

Em meio a tudo isso, criou-se entre Harry e Snape um relacionamento amistoso. Como Snape nunca fora um de seus fãs, depois que o ódio mútuo dera lugar ao respeito, Harry passara a se sentir bem na companhia do Professor de Poções. Snape era uma das poucas pessoas que o via como ele realmente era.

Harry passava muitas horas de folga nas masmorras, ajudando Snape em suas poções. Em geral, eles ficavam em silêncio. Snape nunca fora dado a jogar conversa fora. Mas às vezes até chegavam a conversar longamente.

A ponto de Snape saber detalhes íntimos da vida de Harry que ninguém mais sabia.

A ponto de Snape, tendo-o encontrado bêbado em Hogsmeade após levar um fora de seu último namorado, levá-lo para o castelo e deixá-lo dormir em suas masmorras.

E agora, ao final do sétimo ano, Harry iria deixar Hogwarts. Não conseguia suportar a idéia de ficar longe de Snape. Tentara, várias vezes, seduzi-lo, mas Snape fingia-se de desentendido. A uma semana do final das aulas, logo após os exames de EFBEs, Harry sabia que era agora ou nunca, e desceu, uma vez mais, às masmorras.

Snape o convidou a sentar-se no sofá de sua sala particular.

- E então? Há algo que queira conversar comigo especificamente? - perguntou Snape.

- Er... Severus, há alguém em sua vida?

- Você quer dizer... sentimentalmente?

- É.

- Não.

- Por quê?

- Que pergunta idiota. Por que não.

Aquilo não parecia estar dando certo.

- Severus, eu... gosto de você.

Snape arregalou os olhos, e empalideceu.

- Você... Quer dizer... Com o tempo, desenvolveu-se entre nós um relacionamento de amizade. É a isso que você se refere?

- Não. Eu gosto de você... não só como amigo.

- Ah. Isso é algum tipo de brincadeira sua?

- Não! Estou falando sério. Eu queria... que você me desse uma chance.

- Mas... eu não sou homossexual.

- Bem, eu nunca vi você com nenhuma mulher.

- Também não saio com mulheres. A minha vida sexual é absolutamente nula.

- Mas como assim? Como é que você...

- Potter! Cuide de sua vida!

Arrasado, Harry baixou a cabeça. Percebendo, enfim, que o garoto estava falando sério, Snape se aproximou e sentou-se a seu lado. Levou a mão ao ombro de Harry. Este ergueu a cabeça, e se lançou na direção de Snape, abraçando-o. A princípio, Snape recuou, mas logo relaxou e enlaçou-o com os braços.

- Harry, eu não tive boas experiências sexuais na minha adolescência e, desde então, fechei essa porta em minha vida. Não gosto de sexo. Para mim, é algo sujo, repugnante. Íntimo demais, se é que você entende.

- Mas Severus, você agora está me abraçando. Acha repugnante?

- N-não - respondeu Snape, titubeante.

Não conseguindo se conter, Harry aproximou os lábios dos de Snape, mas este virou o rosto.

- Harry, não. Isso não vai dar em nada.

E Snape se levantou. Sentindo-se rejeitado, Harry saiu dos aposentos de Snape.

~* ~* ~

Fazia uma semana que as aulas haviam terminado. Snape resolvera permanecer em Hogwarts, pesquisando poções - a sua atividade preferida, e à qual nunca pudera se devotar, pois todo o seu tempo extra antes era dedicado a espionar Voldemort e ajudar na segurança de Hogwarts. Entretanto, algo não saíra como ele pensava. Um profundo desânimo pesava sobre ele.

Perguntava-se o que estava acontecendo com ele. E a imagem de Harry vinha-lhe a mente. Harry e seu jeito tímido, Harry e seu sorriso, Harry e seus olhos verdes brilhantes.

Tentava afastar aquela imagem da mente, mas era inútil. A verdade é que estava ficando doente de saudades do garoto, e não conseguia suportar a idéia de nunca mais vê-lo.

~* ~* ~

Havia picado o asfódelo em pedaços pequenos demais, e a poção não estava saindo como deveria. Há anos não cometia um erro tão primário. Distraíra-se, mais uma vez, pensando em Potter. Aquilo estava ficando ridículo.

De repente, alguém bateu à porta. Resmungando por entre os dentes, o Mestre de Poções foi abrir a porta do laboratório.

Não estava preparado para ter aquela visão: Harry Potter, em roupas Muggle (jeans índigo e camiseta branca), iluminando as masmorras com seu sorriso. Algo pareceu se derreter dentro de Snape.

- Harry!

Os dois, ao mesmo tempo, se aproximaram para o abraço. Harry, um pouco mais baixo que Snape, encaixou a cabeça sob o pescoço do mago mais velho.

- Severus, eu não consegui agüentar de saudade!

Snape o puxou para dentro e fechou a porta. Harry o abraçou de novo, e não parecia querer largá-lo. Snape acariciou-lhe os cabelos revoltos.

- Você tem de me dar uma chance, Severus.

O coração de Snape bateu mais forte. Sabia, agora, que queria ter Harry junto a si. Mas não queria nada que se relacionasse a sexo. Era um problema insolúvel, pois sabia também que Harry jamais se conformaria em ser apenas seu amigo. Não queria, de jeito nenhum, perder a companhia do garoto.

- Está bem - disse ele, a contragosto. - Se você quer sexo, eu... acho que posso agüentar. Afinal, já sobrevivi a vários Cruciatus. Não pode ser pior - tentou brincar.

Harry afastou o rosto e o fitou com estranheza.

- Er...

- Como é que você quer? Quer que eu me apóie contra a escrivaninha?

Harry sacudiu a cabeça.

- N-não. Quero poder olhar nos seus olhos, ver o que você está sentindo. Podemos ir para a sua cama?

- Como você quiser. Mas já vou avisando, eu não tenho nenhuma experiência com essas coisas e vou ser um péssimo parceiro.

- Tudo bem, Severus, a primeira vez sempre é complicada - disse Harry, trêmulo, mas esperançoso.

~* ~* ~

O quarto de Snape era todo em estilo vitoriano, austero. Mas, pelo menos, a cama era bem grande e confortável.

Vamos acabar logo com isso, pensava Snape, tirando as vestes. Harry o olhava entre confuso e embaraçado.

- Bem, o que está esperando? - perguntou Snape, agora só de cuecas.

Harry devorava-lhe o corpo com os olhos, fazendo-o corar.

- Você é... demais.

Snape bufou e, não querendo prolongar aquele instante, tirou a cueca também, revelando o membro inerte, adormecido.

- Não precisa fingir para mim, Harry.

Com os olhos turvos, Harry balançou a cabeça.

- Você não sabe, não acredita em mim. Mas eu vou fazer com que acredite - disse, em tom decidido, e começou a tirar o jeans.

Snape se sentou na cama, tenso. Ao ver Harry nu, com o membro ereto, a tensão aumentou ainda mais.

- O que você quer que eu faça?

- Calma. Espere um pouco.

Harry se ajoelhou na cama e se aproximou de Snape. Enlaçou-o com os braços e parecia prestes a beijá-lo. Snape recuou.

- Ahn, vamos cortar as preliminares, certo? Eu não gosto mesmo disso. Vamos direto ao ponto.

- Mas Severus, eu não quero estuprar você, quero fazer amor com você!

Snape deu de ombros.

- Para mim, quanto mais rápido, melhor. Não gosto de beijos, é muito... úmido. Nojento.

Harry deu um riso nervoso.

- Você tem que, pelo menos, me deixar prepará-lo. Eu trouxe um lubrificante...

- Otimista, você, não? - disse Snape, com um sorriso irônico. - Deixe-me ver que produto é esse.

Harry suspirou, e pegou a bisnaga no bolso de seu jeans, que largara em uma cadeira. Snape pegou-o nas mãos, abriu a tampa e cheirou o produto.

- Até que não é mau, para um produto Muggle.

- Da próxima vez, se você quiser preparar uma poção...

- Se houver uma próxima vez - disse Snape, mal-humorado.

Harry fingiu que não ouviu.

- Deite aqui. Isso. Abra as pernas.

Snape obedeceu. Harry encheu os dedos com o lubrificante e massageou-lhe a abertura com delicadeza. Snape reagiu ao primeiro toque, encolhendo-se um pouco. Quando relaxou, Harry insinuou um dedo, devagar. Ai. Aquilo doía, e era bastante desagradável.

- Não precisa fazer isso. Prefiro que...

- Severus, fique quieto e relaxe.

Hmpf, era fácil mandar, pensou Snape. Tentou se concentrar em não sentir a dor, como quando precisava suportar as torturas do Lorde das Trevas. Quando Harry insinuou um segundo dedo, tudo ficou pior ainda.

E quando, enfim, Harry o penetrou, foi como se o estivessem rasgando por dentro. Só os vários anos de treinamento puderam fazer com que ele contivesse o gemido de dor.

Aos poucos, a dor se estabilizou, e Snape pôde se concentrar em Harry, em seus movimentos, em sua expressão. Harry era todo concentração e emoção. O ritmo do garoto era cada vez mais frenético, e ele arquejava.

Por fim, todo o corpo do garoto se retesou, e violentos espasmos o percorreram.

- Sev... - disse ele, em seu clímax, inundando-o com seu sêmen cálido e tombando sobre o corpo do amante.

Aquele líquido quente e viscoso era repugnante, mas também amenizava um pouco a intensa dor de Snape. E o garoto em seus braços parecia no Paraíso. Snape o enlaçou com os braços, e alisou-lhe os cabelos ainda mais revoltos.

Não era tão ruim assim, se Harry sentia tanto prazer. Doía, e era desagradável, mas... talvez valesse a pena. O coração de Snape batia em ritmo irregular. Ele mesmo não conseguia entender suas emoções.

Harry levantou a cabeça, e sorriu. Snape derreteu completamente. Então Harry tocou-lhe em seu membro, semi-ereto.

- Agora é sua vez, Sev.

Snape ia protestar que não, que não precisava, mas a surpresa o invadiu ao ver-se ficar totalmente ereto, e pulsando dentro da mão de Harry. E quando Harry baixou a cabeça e tomou-o em sua boca, ele gemeu... de prazer.

- Oh... Não, Harry. Não faça isso. É nojento. Não é higiênico.

Harry não lhe deu ouvidos. Lambeu-lhe o membro em toda a extensão, dedicando-se, depois, especialmente à ponta. Segurou-lhe a base com uma das mãos e começou a chupá-lo ritmicamente. Snape não conseguia mais se conter: arqueava os quadris contra Harry e gemia alto.

- Harry, pare. Eu vou... Oh!

O clímax tomou-o completamente de surpresa. Nunca sentira uma onda de prazer tão intenso. Mas o prazer se mesclava à vergonha. Havia perdido completamente o controle, e quase sufocara Harry.

- Desculpe. Eu perdi o controle - disse ele, envergonhado, assim que conseguiu recuperar o fôlego.

Mas Harry deitou-se sobre ele, e o beijou, com os lábios ainda molhados em seu sêmen. Não era tão desagradável assim. Na verdade, era até suportável.

- Severus... Com o tempo, vai ficar melhor, eu prometo.

Exausto, Harry adormeceu em seus braços. Snape ficou brincando com os cabelos do garoto por um longo tempo.

Não era mesmo tão ruim. Ele conseguiria sobreviver. Se Harry o quisesse... ah, sim. Se Harry o quisesse, Snape não iria reclamar.

 

Fim

Continuação: Cada Vez Melhor

 

Fanfiction (Índice das Histórias)
HOME

 

Ptyx, Novembro/2004