PARTE 4 - De Perto Ninguém é Normal

 

Pier abre a porta para mim, como sempre, já a caráter e preparado. Eu é que estou diferente, hoje. Preciso descarregar a tensão, está se tornando insuportável. Pier é minha última esperança de uma válvula de escape que funcione. É terrível ter de depender de uma tal pantomima. Mas é isso ou afundar-me no álcool ou nas drogas. Ou em São Mungo.

Eu o abraço. Pier, não, Potter, passa seus braços ao redor de mim. Eu o empurro para a cama, com violência contida. Tiro-lhe os óculos, afastando-os para a mesa de cabeceira. Deito-me sobre ele, esmagando-o com meu peso, tomo-lhe os lábios em um beijo desesperado. Ele se contorce sob mim. O verde iridescente das cobertas sobre as quais estamos deitados ressaltam-lhe os olhos esmeralda. Ah. Rasgo-lhe o manto, arranco-lhe os sapatos, as meias, a cueca. Livro-me rápido de minhas próprias roupas. Ele me fita com assombro. Harry. Tão jovem, tão frágil, tão inexperiente. Lanço-me sobre ele outra vez. Nossos corpos se colam, agora sem roupas para bloquear o contato das peles. Mordo-lhe o lóbulo da orelha. Ele me abraça forte e se contorce ainda mais. Ele... geme. Isso é... novo. Tão sensível, tão receptivo? Assim ele me excita demais. Capturo-lhe os lábios outra vez, insinuo a língua por entre seus lábios e inicio a exploração de sua boca, centímetro a centímetro. Ele mergulha as mãos por entre meus cabelos. Ele sempre foi dócil, mas... nunca retribuiu assim. Sussurro-lhe ao ouvido:

- Harry... Você está me deixando louco. Eu não sei mais o que fazer quando estou perto de você.

Ele me fita com aqueles olhos impossivelmente verdes, cintilantes. Continuo sussurrando-lhe ao ouvido:

- E você... você também parece me desejar. - Acaricio-lhe o rosto com os nós dos dedos enquanto falo. - É isso o que faz ficar tão difícil eu me conter. Mas... é impossível, não é? Você não pode me querer. Você disse que não me odiava mais, mas isso não quer dizer... Eu acho que você vai sempre me desprezar, não é?

Ele sacode a cabeça, como que negando. Mas eu sei que a verdade é outra.

Prossigo falando-lhe baixinho, entremeando as palavras com beijos, mordidas e outros carinhos.

- Eu não quero perder você. Você é uma das poucas coisas boas de minha vida. Eu tenho também minhas poções, minhas masmorras, meus Slytherins. Mas isso tudo já faz parte de minha vida há 14 anos, é rotina. Você veio perturbar minha rotina, mas não só de um modo ruim. É estranho como, mesmo quando eu o odiava, eu queria protegê-lo. Claro, eu tenho uma dívida com você. Mas não era isso o que me movia. Você era uma criança, e ainda é. Eu sei que está se transformando em um mago poderoso... talvez agora mesmo já seja mais poderoso do que eu. Mas emocionalmente você é uma criança. É muito errado eu gostar de você assim.

- Não! - ele diz, baixinho, mas com uma ênfase que me deixa arrepiado.

Eu o fito com surpresa. Ele parece assustado, mas é como se algo mais forte dentro dele quisesse se manifestar. Há algo de estranho acontecendo. Eu fico tenso. Então, ouço-o dizer:

- Eu não sou mais criança. Eu sei o que quero, eu posso me defender. Não é errado, não é!

A compreensão me atinge como um raio. Sento-me rápido, e procuro minhas roupas. Nunca me senti tão nu. Nunca fui tão humilhado. Nem mesmo pelo pai dele, ou pelo padrinho. Aos poucos, uma outra emoção me domina, e eu me aferro a ela, pois é a minha última salvação: a fúria.

Ele está sentado na cama; eu o puxo pelo braço com força e o empurro contra a parede do lado oposto.

- Você, moleque traiçoeiro, o que fez com Pier? Qual é o seu plano? Queria me aviltar, me humilhar? Queria me ver fazer papel de palhaço? O que você ganha com isso? Fale!

Ele arqueja. Está apavorado.

- N-não é nada disso - diz, com toda a falsidade de que é capaz.

- O que é, então? Fale!

Ele se joga em meus braços, sem forças, como em um último impulso. Por um instante, fico paralisado, e ele consegue falar:

- Tudo o que você falou que sente por mim... eu também sinto por você. Não tem nada de humilhante nisso. Eu só quero ficar com você. Se você se sente melhor assim, pode apagar minha memória depois, como faz com Pier. Por favor. Eu bem que gostaria de me lembrar, porque... você me disse tudo o que eu queria ouvir de você. Foi perfeito. Mas eu também não quero que você se afaste de mim por se sentir humilhado. E não quero que se sinta mal.

Meus braços traiçoeiros cerram-se em torno dele, com força. Ainda tenho a presença de espírito para conter, a tempo, seja lá que som que parece querer sair pela minha garganta.

Severus Snape, pense. Com o cérebro.

Não é fácil. Minhas mãos fazem movimentos circulares pelas costas do garoto, que agora está mais relaxado em meus braços e aconchega a cabeça sob meu pescoço.

Pense.

O que tenho a perder, agora? Ele diz que é isso o que ele quer. E por que eu não acreditaria, se ele está disposto a passar por um Feitiço do Esquecimento? Foi ele que criou essa situação toda. Eu já passei pelo máximo de humilhação que poderia passar. De qualquer jeito, o Feitiço do Esquecimento é a minha única salvação. Por que... não atender ao desejo dele?

Quanta hipocrisia, Snape. O desejo "dele". Até parece que você não tem nada com isso. Ele é seu aluno.

Ah, mas ele não veio aqui como aluno. Repito: foi ele que criou essa situação absurda.

- Explique-me: o que você fez com Pier?

- Eu o convenci a ir para casa e me deixar aqui. Só isso. Deixei uma garantia com ele, para ele saber que eu não iria roubar nada dele, sabe como é. E paguei pela noite toda.

Salazar! Ele pagou uma fortuna para... Eu o empurro pelos ombros para poder encará-lo olhos nos olhos.

- Você enlouqueceu? E como descobriu... tudo?

- Não posso contar ainda - respondeu ele, e com um sorriso cínico nos lábios!

- E quando vai poder contar? - digo, por entre dentes cerrados.

- Depende... de como você se comportar.

Ah, essa é boa. Às vezes acho que Filch tem razão, e que os professores ainda deveriam ter a permissão para usar o chicote. "Professores". Melhor não pensar nesses termos, numa hora dessas, com o meu aluno, que pagou uma fortuna para dormir comigo, nu à minha frente e eu prestes a ceder às suas vontades.

- Dumbledore não vai vir procurá-lo, quando descobrir que não voltou para a sua caminha esta noite?

- Eu disse a Ron que... iria dormir com alguém em Hogsmeade.

- E você acha que Dumbledore vai se satisfazer com essa explicação?

- Acho que sim. Acho que ele sabe de tudo, no fundo.

Devo ter ficado mais branco do que o normal. Mais branco do que um cadáver.

- De tudo o quê?

- De tudo o que acontece no mundo.

Rá. Eu também tenho essa mesma impressão. Ele não está brincando, e eu também não, mas é melhor não pensar muito nisso.

- Potter, se no fim eu vou mesmo apagar a sua memória, por que não apago já e voltamos imediatamente a Hogwarts?

- Não. Eu não fiz tudo isso para voltar na mesma situação em que estava antes.

Mesmo que eu não quisesse, um sorriso irônico se estamparia em meus lábios em um momento como aquele.

- Você faz questão de não voltar virgem a Hogwarts, é isso?

Ele fica vermelho, e não me responde nada. Maldição. Isso foi um erro tático. Ele está cada mais se recolhendo à sua concha. E eu fico sem minhas respostas. Mas, afinal, por que querer saber o que vai na cabeça de um adolescente de dezesseis anos?

Insisto:

- Você não vai se lembrar. Qual a diferença?

Ele me olha com um brilho intenso nos olhos.

- Você vai.

Ele... está pagando uma fortuna para... se dar a mim. Sem querer nada em troca. Eu não estou acostumado a ganhar presentes. É difícil não me comover com isso. Eu o abraço de novo como se eu fosse um náufrago e ele fosse a única rocha firme à vista, e o levo de volta para a cama.

Pela primeira vez, olho para ele, nu, sabendo que ele é... ele. Fito-o longamente, saboreando aquele corpo que eu já conhecia, mas que me parece inteiramente novo. Ele fica vermelho outra vez.

- É estranho pensar - ele diz - que você já tinha me visto... assim.

- Não. Não era você. Era como... um boneco. Um boneco triste, sem vida.

Não ficava vermelho como você fica. Não vibrava a cada toque meu. Não se contorcia querendo mais contato com meu corpo. Não me olhava com essa expressão de puro desejo.

Posso me abrir com ele, como se houvesse mesmo um relacionamento entre nós, como se nos entendêssemos. Ser até meloso ou fazer drama. Depois ele não se lembrará de nada. Isso faz com que eu me sinta mais livre, mais à vontade. Mas é triste, também. Não é de verdade. Continua não sendo.

Já que ele está se dando a mim como um presente, eu quero retribuir à altura. Quero - não tornar a noite inesquecível para ele, pois essa possibilidade não existe, mas... dar a ele o que ele quer. Seja lá o que for. Ser o seu escravo.

O coração dele bate apressado.

- Potter...

- Me chame de Harry. Por favor.

- Harry, eu só vou fazer o que você quiser que eu faça. Se mudar de idéia, a qualquer momento, me diga, que eu paro.

Ele sorri, visivelmente mais tranqüilo. E provoca:

- A qualquer momento?

Ele nem sabe com o que está brincando. Ele não sabe nada. Só isso prova o quanto é corajoso. Ou temerário. Eu tenho de me mostrar à altura.

- A qualquer momento. Lembre-se disso. Você é que tem o controle aqui, esta noite.

- Mas... eu não sei o que fazer.

- Diga-me o que você quer. Para começar.

- Oh. Eu quero... um beijo.

Se eu já não estivesse ereto e rígido como pedra, teria ficado naquele instante, só de ouvir a inocência, a candura com que ele disse isso. Obediente, aproximo o rosto e de leve, bem de leve, roço os lábios nos dele. Sinto-lhe o hálito doce sobre o rosto antes que nossos lábios se unam. Quando toco seu lábio inferior com a língua, ele fecha os olhos, e procura minha língua com a sua, como que... tentando sentir meu sabor. Ele geme. Eu estou derretendo. Nossos corpos estão colados em toda a sua extensão, e Harry me agarra com força, como se tivesse medo de se perder em sensações.

Exploro-lhe o interior da boca com a língua e sugo a dele, provocando, chamando-a a sugar-me também. Inexperiente, ele retribui o beijo com entusiasmo e, me imitando ou dando asas à sua própria inspiração, aprende rápido.

Estou ficando sem fôlego. Descolo meus lábios dos dele por um instante. Ele segura meu rosto entre as mãos. Fecho os olhos, e sinto o seu calor. Ele está tão quente, e eu também.

Eu nunca dormi com alguém tão carinhoso e tão sensível aos meus carinhos. Também nunca dormi com alguém tão inexperiente, mas... isso faz parte do encanto da noite.

Abro os olhos e o observo. Ele é tão bonito. Com certeza eu já vira seu corpo muitas vezes antes, a pele firme e macia, o impetuoso membro despontando entre os ralos pêlos negros. Mas agora, agora é ele mesmo, e isso faz uma diferença enorme. Eu não consigo acreditar que ele está aqui... para ser meu.

Ele passa... ah... uma perna por sobre a minha, e me faz arquejar. Percorro-lhe o corpo com as mãos, explorando cada centímetro. Ele move os quadris contra os meus, quase inconscientemente.

Posto-me ajoelhado diante dele, tendo-o entre minhas pernas. Passo as mãos delicadamente por seu pescoço, tórax, barriga. Contorno-lhe o umbigo. Toco-lhe um mamilo, depois o outro. Ele me olha, em expectativa. Baixo minha cabeça. Roço-lhe o membro com o nariz, sinto o seu cheiro almiscarado. Provocando-o, lambo-lhe as coxas, os pêlos que o circundam; cubro-lhe os testículos com as mãos e os aperto de leve. Ergo o rosto para ver sua expressão. Ele me fita com absoluta concentração, como que hipnotizado. Baixo novamente meu rosto e, enfim, passo a língua devagar por seu membro, da base para cima. Saboreio cada centímetro dele, movendo a língua de um lado para o outro. Alterno as lambidas com beijos. Subo, então, até a ponta e... cubro-a com meus lábios. Harry geme alto de prazer. Seguro-lhe a base com a mão e começo a tomá-lo inteiro em minha boca, sugando-o. Continuo alternando esse movimento com o de língua.

Vou sugando-o em um ritmo cada vez mais forte, e ele se contorce sob mim. Sinto-o pulsar.

- Severus... Eu vou...

Eu sei, Harry. Logo, eu o sinto ficar totalmente rígido, cada músculo de seu corpo tenso por um momento interminável, até ele preencher minha boca com seu líqüido quente, todo o seu corpo pulsando incontrolavelmente.

Deito-me sobre ele, meu membro ainda totalmente rígido. Ele está me fitando com assombro, veneração. Ajeito-lhe as pernas para que meu membro se encaixe entre suas coxas. Beijo-o, a princípio com ternura, depois com fúria, enquanto me comprimo contra ele ritmicamente até que meu próprio sêmen se espalhe por suas pernas.

~* ~* ~

De repente, ele me olha com um sorriso estranho. Voltando à realidade, vejo o que eu mesmo estou fazendo: misturando o sêmen dele ao meu, sobre sua barriga, e escrevendo meu nome. É um gesto tão estranhamente íntimo e infantil, nunca poderia me imaginar fazendo isso. Ele me olha com... ternura.

- Você estava tão concentrado... Como quando mexe uma poção.

- Ha. Seria uma poção muito perigosa, para nós dois, se alguém se apoderasse dela. Melhor nem pensar.

Pronuncio um encanto de limpeza.

- Pronto. Podemos começar tudo de novo - aviso. - O que você quer agora?

- Nossa. Que energia! Quem tem dezesseis anos aqui sou eu, não você.

- É mesmo? Não parece - eu digo, só para humilhá-lo.

Na verdade, não creio que eu possa ter outra ereção assim tão cedo, mas se eu começar agora, poderei torturá-lo por mais tempo.

- E então, o que vai ser? - insisto.

- Eu... eu quero tudo.

Dou um sorriso malicioso.

- Exigente, não?

Começo a beijá-lo lentamente, mordendo-lhe o lábio inferior, depois o superior, provocando-o com minha língua, não o deixando apoderar-se dela. Ao mesmo tempo, introduzo minha mão entre suas coxas, e começo a brincar com a sua minúscula abertura. Sinto-o ficar tenso assim que o toco ali, mas eu só estou roçando-o, circulando-o. Concentro minha maior energia no beijo.

Quanto interrompo o beijo, continuo massageando-lhe o períneo. Harry agora não está mais tenso. Seus olhos começam a ficar turvos.

- Diga-me se quer mesmo isso - sussurro-lhe ao ouvido.

Ele finge uma decisão que seu corpo não acompanha.

- Quero.

- Espere um pouco.

Vou até a cadeira onde larguei meu manto e, de um dos bolsos, tiro o lubrificante. Ele me fita de olhos arregalados. Cubro meus dedos com o produto. Toco-lhe a região do períneo devagar, circulando-a, e volto a massagear-lhe a abertura. Ele fica tenso outra vez.

- Não se esqueça de que é você que está mandando aqui. Quer que eu pare?

Ele se enche de coragem outra vez, e engole em seco.

- Não!

Conheço seu corpo. É verdade que ele reage de modo bem diferente de Pier, mas há certas vantagens em já o conhecer intimamente. Vou circulando-lhe a entrada, lentamente, despertando-lhe novas sensações, estimulando-o. Quando, enfim, introduzo o primeiro dedo, sinto-o estremecer. A carne dele, quente, úmida, cerra-se em torno do meu dedo. Trêmulo, eu me inclino para beijá-lo. Ele fecha os olhos. Não acredito: eu estou ereto de novo. Ele está semi-ereto, o que é um bom sinal. Sinto-o relaxar em torno de meu dedo. Entro mais fundo. Seus quadris se arqueiam.

- Relaxe - eu lhe digo, e não reconheço minha voz.

Salazar, se ele me pedir para parar agora, vai ser o inferno. Vou ter de usar de alguns truques para distraí-lo. Desço a boca até um mamilo. Circulo-o com a língua, mordo-o de leve, assopro-o, passo a língua sobre o pico já enrijescido. Ele se contorce e já consigo dobrar o dedo levemente dentro dele.

- Isso - eu falo, para tranqüilizá-lo.

Recuo o dedo e, na volta, acrescento um segundo. Ele arqueja, mordendo o lábio inferior. Volto minha atenção ao outro mamilo, sugando-o, apertando-o, para distraí-lo da invasão. Penetro mais fundo, com a segurança de quem já percorreu antes esse caminho e sabe onde está indo, até que... oh. Ele arqueia o corpo todo, e diz alguma coisa incompreensível. Então me fita com assombro.

- O que... ?

- Ah. Isso é um órgão pequenino e mágico chamado próstata. É por isso que não é tão mau assim ficar, como as pessoas dizem, "por baixo". Mas não é todo mundo que sente isso que você sentiu. E não é sempre que acontece, também.

- Se... você fizer isso mais algumas vezes, eu vou gozar de novo.

- Isso seria terrível - brinco.

Agora ele já está totalmente ereto. E nós dois já estamos cobertos de suor.

Eu o distendo um pouco mais. Ele já tenta me sugar para dentro, imprimindo um ritmo... Retiro os dedos com cuidado. Ele me olha, a princípio decepcionado. Ao ver que estou pegando novamente o frasco e passando o lubrificante, em largas doses, sobre meu pênis ereto, seus olhos ganham um brilho de expectativa. Minhas mãos tremem loucamente. Não me lembro de tê-las visto tremerem tanto assim, nunca. Talvez sob algum Cruciatus do qual eu, Merlin seja louvado, não me lembro.

- Você... ainda pode recuar, Harry. De agora em diante, vai ser mais difícil me fazer parar. Pense bem.

- Dizem que a primeira vez sempre dói, não é? Mas não faz mal. Eu quero sentir você... dentro de mim.

Queria protegê-lo, queria dizer a ele que não vai doer, mas de que adianta mentir? Ele logo vai saber. Não dá para descrever ou explicar uma experiência como essa.

Beijo-o mais uma vez, quase com ternura. Então separo-lhe as pernas e ergo-lhe os quadris, procurando o melhor ângulo.

- Harry - eu murmuro, dobrando-me sobre ele e penetrando-o.

Ah! Eu não esperava que pudesse ser tão bom! Como é diferente de Pier. Será porque ele realmente me deseja como eu o desejo? Tão quente, tão apertado, e me recebe com tanta avidez. É perfeito. Preciso fazer um esforço sobrehumano para não me atirar com tudo e massacrá-lo. Ele estremece, e em seguida arqueia em minha direção. Ao mesmo tempo, segura-me com força, fincando as unhas em minha pele. Cubro-lhe o pênis com a mão, fazendo-o ofegar e gemer. Oh, cada gemido que ele dá parece ressoar até a medula dos meus ossos, e me excita de um modo quase insuportável. Baixo meu corpo sobre ele, apoiando-me nos dois cotovelos, um de cada lado de seu corpo. Ele me envolve com as pernas e com os braços, e eu me movo dentro dele, deslizando para dentro e para fora no ritmo mais lento que consigo imprimir.

- Oh! Severus - ele sussurra, acompanhando meu ritmo.

A fricção de nossos corpos se intensifica, eu o bombeio no mesmo passo em que entro e saio de dentro dele, agora. O ritmo acelera. Nossos corações batem mais rápido, nosso suor se mistura e escorre em nossas peles. Eu o sinto começar a pulsar, e aperto-lhe a cabeça do pênis, passando o polegar pela veia mais sensível. Enfim, Harry explode, inundando minha mão em seu cálido e denso líquido. Eu me agarro a ele com todas as forças e aumento a força de meus impulsos. Aos poucos, sinto-me arrastar para o mesmo vórtice de sensações.

- Harry - eu digo outra vez, lançando meu sêmen dentro dele. - Meu Harry.

~* ~* ~

Creio que dormi por uns bons minutos. Quando acordo, sinto o corpo dele junto ao meu, e o puxo contra mim. Ele abre os olhos.

- Ahn... Severus... Eu queria lhe pedir uma coisa.

- O que é? - pergunto, preocupado. Ele parece triste. Será que eu o machuquei?

- Por favor... Eu não quero que apague minha memória. Quero guardar essa lembrança comigo. E... não queria que esta fosse a última vez.

Eu ergo a cabeça e me apóio no cotovelo. O que é que ele está dizendo? Eu o olho, intrigado.

- Por quê?

Ele me fita, a princípio com espanto, depois com tristeza e decepção. Maldição. O que fiz de errado agora?

- Foi tão ruim assim? Você... não me quer mais? - ele me diz, tentando manter a voz firme, mas falhando completamente.

Oh, Merlin. Esse menino é um mago mais poderoso do que eu, mas, emocionalmente, é tão aleijado quanto eu mesmo. Eu o estou magoando? Mas preciso entender o que está acontecendo. Preciso perguntar.

- O que é que você quer de mim?

- O que eu quero? Por que você tem que ser tão impossível? Eu quero você. Sempre.

Eu não consigo acreditar.

- Você é louco. Por que outra razão iria querer uma criatura velha e feia, de nariz enorme, cabelos sebosos e pele amarelada, e que nunca vai lhe dar flores e bombons e recitar poesias em seu ouvido? Você é o Menino Que Sobreviveu e pode ter o amante que quiser. Devem existir mil amantes melhores do que eu. Capazes de lhe darem o carinho e o afeto de que você precisa.

- Eu não quero ninguém mais. Quero você.

Sacudo a cabeça, em desespero. As grandes palavras dos adolescentes. Nunca. Sempre. Tudo. Nada. Ninguém.

De alguma forma, a minha reação, ou não-reação, parece tê-lo acalmado. Ele faz cara de que está entendendo o meu jogo.

- Você achou - ele diz - que eu não ia mais querer você depois da primeira vez?

Não vou responder. O problema é que, se eu não fizer nada, ele vai continuar falando. Ou então vai querer transar de novo, e eu agora não tenho energia para isso. Preciso de uma manobra diversionista.

- Escute, vamos tomar um chá e comer umas bolachas ou coisa assim. - Pulo para fora da cama e vou até um guarda-roupas. - Sabe, este quarto de Pier é semelhante à Sala da Requisição: tudo o que a gente precisa, encontra.

Tiro dois roupões do guarda-roupa: jogo para ele o vermelho e dourado, com a estampa de um garboso leão, e visto o verde e prateado, com uma sinuosa serpente.

~* ~* ~

Uma xícara de Earl Grey, bolinhos ingleses e um amante de 16 anos. É melhor que a Sala da Requisição ou o Espelho de Ojesed. Severus Snape, esta é a sua noite. Se esta é a história da Bela e a Fera, talvez você tenha mesmo se transformado em um Príncipe. Será que tem um espelho normal por aqui, para eu ver se me transformei no Príncipe Encantado?

Ahem. Vamos tratar de assuntos mais sérios.

- Então? Agora já mereço que você me conte como descobriu meu segredo?

- Não sei... Promete que não vai apagar minha memória? E que vai me encontrar de novo aqui?

- Como é que é? Encontrar você de novo aqui?

- É. Por que não? Eu pago.

Exibo a minha expressão de ofensa profunda.

- Você está pensando que eu sou um prostituto?

- Er. N-não. Eu só vou pagar para Pier ceder o local. Nas noites de sexta.

- Você não vai fazer nada disso.

- Não?

- Não. Eu tenho uma casa, sabia?

- Oh! A mansão Snape?

- Rá rá rá. Essa é boa. A mansão Snape. Não senhor. Meu pai me deixou apenas péssimas recordações como herança. Essa casa eu comprei com o meu mirrado salário de Hogwarts. É um pequeno chalé, às margens de um bosque, longe da cidade mais próxima. Um quarto, uma sala de estar, uma sala de jantar, um escritório, um mini-laboratório de poções...

Ele olha para o teto. Depois me encara com um sorriso de orelha a orelha.

- Quer dizer que... está me convidando para...

- Vamos ver. Até o final desta noite talvez eu mude de idéia. - Ou talvez você mude. - Agora me conte a sua história. Minha paciência já chegou ao fim.

Harry Potter, o Menino Que Sobreviveu, talvez não sobreviva desta vez. Não depois de me contar a história escabrosa de como os Gêmeos Weasley mandaram o meu Capitão de Quadribol passear pelos esgotos. Não depois de eu saber que minha reputação está nas mãos desses mesmos Gêmeos Weasley. Não depois de eu descobrir que Harry Potter tem de ser descendente de Slytherin. Não pode haver outra explicação.

- O Chapéu queria me colocar em Slytherin - explica ele.

Ele é tão Slytherin que enganou o Chapéu obrigando-o a não colocá-lo em Slytherin. Só não é mais Slytherin que Albus, é verdade, mas a briga entre os dois não seria facilmente decidida.

- Quer dizer que nem os próprios delinqüentes sabem para onde mandaram Montague?

Comendo um bolinho, ele apenas faz que sim com a cabeça.

- Então voltamos à estaca zero - sentencio.

- Por que você não pede a Kai para fazer a Cerimônia de Cura com Montague?

- Sr. Potter, de vez em quando o seu cérebro parece funcionar. É raro mas acontece. Não é uma má idéia. Kai já havia me sugerido isso, mas eu estava esperando para ver se descobria algo mais concreto a respeito do que havia acontecido com Montague.

- Ron acha que Montague está melhor assim, porque ele era um grosseirão estúpido. Eu briguei com Ron por causa disso. Acha que Montague vai voltar a ser como era?

- Weasley disse isso? E você brigou com ele? - Tento não demonstrar que estou... lisonjeado por isso. Em nome de minha Casa. - Ninguém pode saber ao certo o que acontecerá com Montague, mas a idéia da Cerimônia de Cura é reintegrar a personalidade. Assim, creio que ele poderá recuperar o que perdeu com o "acidente", mas também não irá perder as novas experiências que teve nesses últimos meses.

Harry olha para o infinito, pensativo.

-Depois que Kai fez a Cerimônia de Cura comigo, eu comecei a sentir o Castelo de forma diferente, a ter uma ligação com o castelo. E sei que Dumbledore também tem essa mesma ligação.

Aha. Então é assim que Albus sempre sabe de tudo o que acontece lá dentro?

- Harry... Se vamos mesmo continuar nos encontrando, precisamos tomar cuidado em Hogwarts. Se é verdade isso, que Albus tem uma relação especial com o castelo, que ele pode sentir tudo o que acontece lá dentro, temos de nos comportar como dois ascetas. Enquanto estivermos lá dentro.

- Como a gente vinha fazendo até agora. Porque, senão, você vai para Azkaban.

- Verdade. A sua virgindade ainda tem um valor bastante alto no mercado, porque você não é maior de idade. No entanto, em alguns meses isso vai mudar... - Dou um sorriso irônico e ele me olha intrigado, sem saber se estou brincando ou não. - De qualquer forma, não quero perder meu emprego. Não é o melhor dos empregos, mas é o único que tenho. - Olho para o bule de chá. - Quer mais uma xícara?

- Quero.

- Não precisa me chamar de "senhor" aqui, mas um mínimo de polidez não viria mal.

Como eu esperava, ele olha para o teto.

- Sim, por favor. Senhor.

Sirvo uma xícara para ele e outra para mim. Ele pega outro bolinho.

- Seria bom, também, que você parasse de brigar com Ron Weasley.

- Ué? Por quê?

- Ele pode lhe causar problemas. É melhor que esteja do seu lado. Ele... só está com ciúmes de Granger e... de você também.

- Ciúmes de mim?

- Como amigo - explico. - Você não conversa mais com ele.

- Não consigo conversar com ele porque ele é preconceituoso e...

- Ah, disso eu não tenho dúvida. Ele é horrível.

Ele abre um sorriso irônico.

- Pobre Ron, você tem razão. Deve ser um pesadelo: ele está achando que perdeu seus dois melhores amigos para... Slytherins!

Ótimo. Já estamos conseguindo brincar com essas grandes palavras que nos separam. Brincar. Alguma vez em minha vida eu já havia usado essa palavra sem ser em um sentido negativo? Sinceramente, não me lembro.

Termino de comer um bolinho e esvazio minha xícara.

- Já que esta é a noite das revelações, eu também vou lhe contar uma história - digo-lhe.

Ele é todo atenção. Eu prossigo.

- É verdade que os pais de Kai estão trabalhando no Departamento de Mistérios, mas eles não estão desenvolvendo nenhum projeto secreto lá. Eles, na verdade, vieram apenas trazer Kai e passar a ele as informações necessárias para que eu pudesse desenvolver a Sandpotion.

- Nossa! Isso era só... uma cortina de fumaça?

- Precisamente. O Diretor viu logo que seria mais difícil me colocar em contato com os pais dele do que com ele, e teve essa idéia brilhante de matriculá-lo em Hogwarts. Não foi fácil convencer os pais dele a trazerem-no, por causa de suas tradições. Nem sei como o Diretor conseguiu. É claro que só me informou do plano uma semana depois de Kai ter sido colocado em Slytherin e tudo já ser praticamente fato consumado. E... espero que você não se decepcione em saber disso, mas também foi Dumbledore que... sugeriu que eu incluísse você no projeto.

- Então você me colocou em Recuperação porque...

- Não! Eu coloquei você em Recuperação porque você era e continua sendo um desastre em Poções! - Ele faz beicinho. - O que estou dizendo é que, por mim, você ficava só fazendo exercícios de Poções. O Diretor é que insistiu: "vai fazer muito bem a ele participar desse projeto, Severus" - imito a voz de Albus, fazendo Harry cair na risada. Outra experiência rara em minha vida. Não estou acostumado a fazer ninguém rir. Exceto, de vez em quando, minhas cobrinhas de Slytherin.

- Não se pode dizer que ele estivesse errado... - diz Harry, pensativo. - Me fez bem mesmo. E eu também contribuí para a poção, com a minha brilhante idéia do Chá Mórmon.

- A sua modéstia é impressionante. O Chá foi apenas um detalhe em todo o processo.

Harry fuzila-me com os olhos. Eu finjo que não presto atenção.

- A Sandpotion é poderosa - declaro. - Creio que, conforme a dosagem de ingredientes, podemos tirar dela várias sub-poções, com efeitos diferentes. Há muito ainda a ser estudado.

- Você... Posso saber em quem é que você está testando a poção?

- Ora, ora. Em quem você acha?

Ele ergue uma sobrancelha. Está começando a se parecer comigo?

- Nos Death Eaters?

- Na mosca. Os primeiros testes eu fui distribuindo entre vários Death Eaters de hierarquias inferiores. A princípio, em doses bem diluídas, depois aumentando aos poucos. Eu não podia correr o risco de ser descoberto. Mas agora, que estamos em fase final... Escolhi Mulciber como cobaia. - A expressão de horror do garoto me faz temer que esteja me abrindo demais, que ele não vá me entender. Tento me justicar. - Não me olhe assim. Ele é podre. É um verdadeiro monstro. Dolohov e os Lestrange são piores, é verdade, mas eles são próximos demais ao Lorde das Trevas para que eu testasse a poção neles. Mulciber não é assim tão íntimo, mas é um crápula. Eu não contei a Albus que ia fazer isso, porque... Não queria colocá-lo em outra situação moralmente difícil. Na verdade, é sempre assim. Eu procuro preservá-lo das escolhas moralmente duvidosas.

- Assumindo todas para você mesmo?

Dou de ombros.

- De qualquer jeito, eu não acreditava que a poção pudesse ter algum efeito negativo. Pois bem. Cerca de duas semanas atrás, eu dei a ele uma dose de uma versão modificada da Poção Mandala, uma versão mais forte, que eu chamo de "Poção Mandala B". Misturei no quinto ou sexto copo de Firewhisky que lhe servi. Ele ficou totalmente... como se diz mesmo? Chapado. Entrou em outra dimensão. Ficava olhando para o infinito, dizia alguma coisa que não tinha nada a ver com o contexto, ria como um idiota. Eu o mandei para a casa... disse a todos que ele havia bebido demais, o que não era raro... e ele nunca mais voltou! O Lorde das Trevas o chamou na semana passada, duas vezes, e ele não veio. Ontem à noite, mandaram-me ir procurá-lo na casa dele. Ele não estava, mas o irmão dele, que também mora lá, me contou que a Dark Mark de Mulciber desapareceu, e ele ficou com medo do que o Lorde das Trevas pudesse lhe fazer e resolveu desaparecer. O irmão disse também que Mulciber estava muito diferente e que não queria mais ser Death Eater.

- Cara, isso é muito louco! Será que a poção altera a personalidade das pessoas?

- Eu não sei. Mas não é incrível! Nós descobrirmos um jeito de apagar a influência do Lorde das Trevas sobre os Death Eaters!

- Você... pode se livrar da sua marca - me diz ele, esperançoso.

- A marca... incomoda você?

- Não! Mas você não gostaria de se ver livre de...

Eu o interrompo:

- Ah, não. Essa marca é o meu passaporte para junto dele. E eu preciso estar tão perto dele quanto possível.

- Argh! - Ele faz cara de nojo. Depois me fita com olhos sonhadores. - Acha que Kai pode estar certo? Que a gente poderia "converter" Voldemort? Com essa poção?

Sacudo a cabeça.

- Não quero cultivar esperanças vãs. E também não quero me arriscar, pelo menos por hora. Ele não toma nem come nada das mãos de ninguém. É preciso muito cuidado. Não quero queimar a possibilidade de continuar espionando-o.

- Sabe...

Ele parece indeciso, hesitante.

- O que é?

- Eu não sei se confio... - ele faz uma pausa, e meu sangue gela -... em Dumbledore.

Sinto, a um só tempo, alívio e preocupação.

- Por quê?

- Desde que passei pela mandala, eu tenho uma noção mais clara dos poderes dele. Dos poderes de todos. - Ele me encara com firmeza. - E eu sinto que ele é infinitamente mais poderoso do que Voldemort.

- Mas você não sabe quão poderoso é o Lorde das Trevas. Pensei que você havia dito que só consegue sentir o poder dos magos que estão em Hogwarts?

- Sim, mas eu sinto o poder de Voldemort em meus sonhos. E acho que, mesmo agora, Dumbledore poderia derrotá-lo. Até com facilidade.

- Não pode ser, Harry. Por que ele não o faria?

- É exatamente isso que eu não entendo. Será que ele acredita cegamente naquela profecia idiota?

- Você também acha que essa profecia é uma grande idiotice?

Os olhos dele brilham.

- Acho. Não consigo entender por que alguém da inteligência de Dumbledore acredita em uma besteira dessas.

- Eu também sempre achei isso estranho.

Como é bom poder conversar com alguém. Eu nem percebia como isso me fazia falta. Alguém tão cheio de dúvidas e incertezas como eu. Alguém que sente que essas dúvidas podem ser a sua morte, um dia. Alguém que também é vítima do Lorde das Trevas e de Dumbledore. Se bem que ele é uma vítima totalmente involuntária, ao passo que eu, eu me enterrei com minhas próprias mãos.

Por outro lado, é mais fácil aceitar o risco quando somos nós mesmos que o corremos. Saber do perigo que ele corre, é uma história bem diferente. Gostaria de protegê-lo, de levá-lo embora, para longe de todo esse pesadelo.

Mas, para nós, esse pesadelo é a própria vida, não é? E não estaríamos juntos se não estivéssemos nesse mesmo pesadelo. Não se pode passar a vida esperando um futuro ideal. O que nós temos como certo é apenas o aqui e o agora. O momento ideal talvez nunca venha a existir.

De certa forma, neste momento eu estou mudando de lado... outra vez. Porque proteger Harry passa a ser a minha prioridade, e não qualquer plano político de um dos dois lados envolvidos nessa maldita guerra. Não digo que não vá fazer o trabalho sujo para Dumbledore. Ele é infinitamente menos perigoso do que o Lorde das Trevas. Mas só vou fazer o jogo de Dumbledore enquanto isso for de interesse de Harry, enquanto isso não colocar sua vida em risco.

Nossas xícaras estão vazias e o bule também. Levanto-me e puxo-o de volta para a cama. Tiro o roupão dele, em seguida o meu. Entramos embaixo dos cobertores e lençóis verdes. Apóio meu rosto sobre o cotovelo. Estamos frente a frente, e eu deslizo a mão pela lateral de seu corpo, enlaçando-o depois pela cintura, com um só braço.

- Eu queria lhe perguntar uma coisa - ele diz.

- Fale.

- Pier me falou que... er... que você vem aqui há uns dez meses. E que sempre usou a poção polissuco.

Sinto um frio no estômago e meu corpo todo se enrijesce de tensão. Não é um assunto sobre o qual eu quisesse conversar com ele.

- E aí?

- Bom, eu... queria saber se... Pier sempre se fazia passar por mim, desde a primeira vez que você veio aqui.

Não podia ser pior. Se eu contar tudo isso a ele, vai ser difícil não ceder à tentação de usar o Feitiço do Esquecimento depois, porque... nunca mais vou ter coragem de encará-lo.

- Eu não queria contar isso a você, Harry. Sinceramente. Mas se você vai passar o tempo todo imaginando coisas nessa sua cabeça de vento, talvez seja melhor eu lhe contar de uma vez. Eu nunca lhe disse que era uma boa pessoa. Nunca. Não me diga depois que eu não o avisei.

Ele repousa a mão sobre meu peito, tão frágil. Tento sufocar meu instinto protetor. Tenho de ser impiedoso agora, se quero, realmente, protegê-lo.

- Comecei a vir aqui no final do ano letivo anterior. Queria descarregar todas as tensões de ser espião. Há muito tempo, também, eu não tinha um amante. Como eu arranjaria um amante? Em Hogwarts, não há a menor possibilidade. Entre os Death Eaters? Seria acrescentar mais um risco à minha vida. A poção polissuco foi só uma idéia... engraçada que eu tive, para realizar, de certa forma, uma fantasia. Não que as minhas fantasias sexuais fossem todas com você. Mas era mais prático eu escolher uma pessoa só. Talvez, se eu tivesse acesso a algum elemento do corpo de Sirius Black, eu o tivesse utilizado. Eu o odiava muito mais do que a você. Mas eu nunca ia conseguir chegar perto dele o bastante para pegar um fio de cabelo dele. Você... naquele mesmo dia em que o encontrei espionando a penseira com minhas memórias, você deixou vários fios de cabelo por ali. Eu só conseguia pensar em vingança naquela hora, por isso guardei-os em um envelope. Então, algumas semanas depois, quando tive a idéia de procurar alguém... como Pier... disposto a realizar essas minhas fantasias, eu me lembrei disso.

Ele me fita com atenção absoluta. Se prestasse atenção assim nas aulas de Poções, com certeza seria o meu melhor aluno. O clima tenso entre nós me dá enjôo. Melhor acabar com isso de uma vez.

- Enfim, Harry... Era uma fantasia, tola como todas as fantasias. Eu vinha aqui e fazia você se ajoelhar a meus pés, chupar meu pau, ficar de quatro diante de mim... Tudo isso e mais outras coisas que talvez eu nunca lhe conte. Era divertido.

- Mas hoje... o que você me disse quando chegou...

- Desde que você começou a se aproximar de mim, tudo mudou. Foi aos poucos, não é? Primeiro você me disse que não me odiava mais. Então Kai e o Diretor insistiam em me alertar que você estava deprimido, que era atraído pelas forças das trevas. Eu achava que eles estavam exagerando, até... até aquela noite, em que você tentou atravessar o véu. Talvez a Sra. Clauschee seja uma vidente de verdade. Não acredito que tenha sido uma coincidência que os Clauschees tenham me chamado exatamente naquela noite. Foi horrível. Só de pensar que eu podia ter perdido você para sempre, eu entrei em pânico. Foi aí que vi que o que eu sentia por você não era mais ódio. Até então eu podia me enganar, mas depois daquilo... Mesmo assim, eu tentei me proteger do que sentia. Durante algumas semanas, parei de vir ver Pier, achando que, assim, poderia... me afastar de você. Tentei afugentá-lo, mas... você voltou. Eu comecei a pensar que... você podia me querer. Então minhas fantasias mudaram. Todas as sextas-feiras que eu vinha aqui, eu passei a encenar a mesma história tola, em que você me desejava e eu era o primeiro em sua vida, e fazia você gozar loucamente e não querer nunca mais me deixar.

Eu o abraço e enterro meu rosto em seus cabelos, porque não agüento mais que ele me veja. Nesse momento, eu tenho a certeza de que vou ter de apagar a memória dele. Não há outro jeito.

No entanto, ele também esconde o rosto em meus cabelos, e diz, baixinho:

- Eu tinha essa mesma fantasia. Só que não tinha poção polissuco para me ajudar. Precisava me contentar com a minha imaginação e... as minhas mãos.

A imagem de Harry se masturbando pensando em mim exerce efeitos poderosos em todo o meu corpo e minha alma.

Então ele mergulha as duas mãos em meus cabelos e recua um pouco para me encarar.

- Você não está comigo para... se vingar do meu pai ou coisa assim, não é?

Ah! A mente humana tem várias camadas. Em uma delas, eu estou rindo da cara de James porque estou comendo o precioso filho dele. Mas nem eu seria capaz de me iludir tanto pensando que isso tem uma importância maior agora. De qualquer forma, eu não iria dizer algo desse tipo a ele em um momento tão vulnerável.

- Não estou vendo nenhum James Potter nesta cama - respondo. - Faça o favor de deixá-lo fora dela. Eu tenho muitas perversões, mas a necrofilia não está entre elas.

Ele sorri, e seus olhos brilham com tanta intensidade que me fazem piscar.

- Severus, essa noite... foi tão perfeita que, se eu contasse, ninguém acreditaria.

E tudo por causa do seu plano Slytherin. Você venceu, menino impossível. Não vou apagar a sua memória. Eu preciso que você se lembre. Agora você carrega uma parte de mim.

Minha mão procura o pênis dele, novamente ereto, e o segura com uma firmeza possessiva.

- Agora é você que vai ficar "por cima" - digo.

E, mais uma vez, ele me olha com todo o assombro do mundo.

 

Fim?

Na verdade, não. A história continua em "As Quase Mil e Uma Noites".

 

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Ptyx, Agosto/2004