Fantasia Gótica VI

 

Algo estranho está acontecendo. Há uma força nos ares que eu não consigo identificar. Saio de meus aposentos para tentar descobrir o que é que me perturba. Os corredores das masmorras parecem vibrar. Começo a subir as escadas. Inesperadamente, ainda no meio do primeiro lance, a escada se contorce toda. Subo os últimos degraus aos pulos, e chego a um patamar - que não reconheço. Pego minha varinha. O silêncio é sepulcral.

O corredor em que me vejo - tenho certeza de que jamais o havia visto em Hogwarts. E as paredes parecem se contorcer também, como se fossem feitas de argila e alguém invisível as estivesse moldando.

De repente, o corredor se abre em um salão - se é que se pode isso de salão. Há... coisas neste salão. Objetos entrelaçados. Uma mesa em forma de U com cavidades circulares nos extremos. Mais adiante, um V feito de espelhos perde-se em meio às trevas.

Nada é reconhecível, nada faz sentido. Sinto-me um intruso no caos.

Penso em voltar por onde vim, mas, ao me voltar, tudo está transformado, e vejo um outro corredor que eu jamais vira.

Oprimido pelo absurdo do que me cerca, lanço-me pelo corredor, ainda de varinha em punho.

Um ruído quebra o silêncio opressor. Talvez o eco de meus próprios passos? Não. Esses passos... não são os meus. Mal consigo enxergar o caminho, de tão escuro que está.

- Lumos! - murmuro, e tenho de conter um grito quando a luz criada por minha varinha ilumina um corpo esguio à minha frente.

- Er...

- Potter! O que está fazendo aqui? - eu digo, irritado pelo susto que ele me deu e por não ter o menor controle ou compreensão sobre o que ocorre ao meu redor.

- Professor... Tudo está... tão estranho!

- De onde você está vindo, Potter?

- Eu estava no dormitório, sozinho. Ouvi um ruído horrível, como se as paredes estivessem se deslocando. Quando saí do dormitório, eu estava em um corredor estranho, e tudo parecia estar... torto. E esse cheiro...

Tive de concordar com ele.

- Um vapor pestilento. Como se estivéssemos cercados de árvores podres.

O traidorzinho não retribui à minha boa vontade, e discorda.

- Er. Mais ou menos. Para mim parece que o ar está cheio de cinzas.

- Isso não importa agora - declaro.

Mas a verdade é que eu não sei o que fazer, o que propor a ele.

- Vamos, Potter. Vamos até o fim desse corredor.

- Mas professor, eu vim de lá.

- O que me sugere, então? Do outro lado a situação era a mesma. Ou, no mínimo, tão absurda quanto.

Ele dá de ombros. Passo por ele e, em seguida, ouço seus passos me seguindo. Passamos por uma espécie de arco gótico. Os objetos que nos rodeiam - os entalhes dos tetos, os assoalhos negros como ébano, as tapeçarias sinistras - são, para dizer o mínimo, insólitos. Uma janela comprida, ogival, surge à nossa esquerda, a tal distância do assoalho que nos é inacessível. No entanto, mal a ultrapassamos, ela retorna, desta vez em um nível mais baixo. Ou será que é outra janela?

Potter se aproxima dela, e eu o sigo.

Lá fora, o lago está coberto por uma atmosfera cor de chumbo, e os troncos das árvores se retorcem lugubremente.

Potter vira-se para fitar-me, e sua expressão é de desolação.

- Calma, Potter. É apenas uma tempestade que se aproxima. O vento está soprando forte e deformando os troncos das árvores.

Ele me olha com profunda descrença, e eu não posso culpá-lo.

Continuamos percorrendo corredores que findam em outros corredores. Não encontramos mais ninguém, e nenhum cômodo ou objeto que pareça... normal. Tudo é disforme e sinistro.

Cansados, não temos onde sentar. Minha garganta está seca, mas não sei onde encontrar água.

Extenuado, Potter escorrega lentamente para o chão. Eu me mantenho em pé, heroicamente. Sem saber o que fazer. Pensando bem, não adianta tentar manter a dignidade diante do meu aluno se eu desmaiar em seguida. Não confio em nenhum dos objetos a meu redor a ponto de me sentar sobre um deles. Assim, tento sentar ao chão da forma menos deselegante possível, ajeitando minhas vestes para que não fiquem muito amassadas.

- Accio copo d'água! - invoco, mas o cálice que vem às minhas mãos tem o formato em U de uma anfisbena: uma serpente com duas bocas. Quando eu o viro, a água escorre pela outra extremidade, quase molhando minhas vestes.

Uma anfisbena. Tento raciocinar.

- Potter, a única explicação que eu encontro para o que está acontecendo é que estamos tendo o mesmo pesadelo.

- Isso... er... é possível?

- O poder do Lord das Trevas de possuir mentes é inigualável.

- Então acha que é ele que está nos fazendo ter esse pesadelo? Por que ele estaria fazendo isso?

- Posso apenas especular. Talvez esteja querendo nos enlouquecer. Ou talvez esteja querendo nos fazer perder a concentração para nos possuir, ou nos colocar sob Imperius.

- Então se usarmos Oclumência poderemos impedi-lo?

- Acha que consegue se concentrar de forma adequada? Consegue se desligar da realidade do pesadelo que o cerca e manter-se tranqüilo a ponto de bloquear sua mente?

- N-não. O senhor sabe que eu não sou bom nisso.

- Você nunca se esforçou para ser bom.

- E o senhor nunca me ensinou direito - retruca ele.

Desvio os olhos dele para não lhe lançar um Imperdoável. Respiro fundo. Espero longos segundos até me acalmar. Ele não merece meu esforço, mas nós dependemos um do outro agora.

- Tente pensar em algo que o faça se desligar do que está a seu redor. Algo que o absorva completamente. Quadribol, talvez?

Ele fecha os olhos e faz cara de quem tenta se concentrar. Ele é tão legível... Nem é preciso legilimência para saber o que está sentindo. Ele precisa aprender a esconder o que sente, ou não terá a menor chance diante do Lord das Trevas.

Como eu também preciso fazer o mesmo exercício, fecho os olhos e me concentro no preparo de uma das poções mais difíceis de todas: o Elixir de Elseneur.

É inútil. A curiosidade, talvez preocupação, me faz abrir os olhos para observá-lo. E ele está de olhos abertos, me observando!

- E então? - pergunto.

Ele suspira.

- Não consigo. Acho que é esse cheiro, ou esse silêncio horrível. Não consigo me desligar.

- Tem de haver alguma coisa que o faça esquecer de tudo o mais - insisto.

Ele franze o cenho; depois seu rosto fica vermelho, e ele baixa os olhos.

Ahá.

Mas... isso não seria nada adequado.

- Potter, nós estamos em uma situação de emergência. Não sabemos o que pode acontecer se não conseguirmos sair desse pesadelo.

- Er... O senhor poderia ficar de costas para mim?

Ah, sim. Entendo. Mas eu não confio nele o bastante para lhe dar as costas nessa situação. Além disso, eu mesmo não consegui ainda descobrir nada tão fascinante a ponto de me arrancar desse pesadelo. Uma reles punheta não seria o bastante para mim, com certeza.

- Não, Potter. Não vou fazer isso.

Ele suspira de novo. Ficamos mais alguns minutos em silêncio. Em vão, eu tento me concentrar em poções, em lembranças, até em momentos de horror.

Estou de olhos fechados quando sinto um calor se aproximar. Abro os olhos no exato instante em que Potter aterriza em meu colo, de frente para mim, e cola seus lábios aos meus. Tento desviar o rosto, mas ele me segura com firmeza. Seus lábios desajeitados se comprimem aos meus, e a língua tenta forçar passagem.

A princípio, é a curiosidade que me leva a não resistir. Até onde ele vai? O que está tramando? Separo os lábios um pouco, e ele se ajeita melhor no meu colo. Passo os braços ao redor de sua cintura.

Ele não sabe muito bem o que fazer com a língua dentro de minha boca, por isso eu o guio com minha própria língua. Nós dois relaxamos nos braços um do outro e... a situação começa a ficar interessante. Ele geme baixinho, e eu sinto algo brotar dentro de mim, algo quente e possessivo. Eu devia estar horrorizado comigo, mas não. Nem mesmo ouvir meus próprios gemidos guturais me assusta. Tudo o que eu quero é que aquilo não termine ali. Quero mais.

Nesse momento compreendo, no entanto, que o truque deu certo e que, no momento em que eu o largar, estarei em minha cama, no meu quarto nas masmorras, sozinho. O truque deu certo, mas eu não quero abrir os olhos. Seguro-o com firmeza, ajeito-o em meu colo e cubro-lhe o pênis ereto por sobre as vestes. Ele faz o mesmo comigo. Meu pênis pulsa e fica totalmente ereto. Eu acaricio a ponta do dele com o polegar. Ele arqueja. Não vou parar de beijá-lo nunca mais, não vou largá-lo. Este é um pesadelo do qual não quero acordar.

- Não abra os olhos, Potter. Não pense.

- Ahã - ele murmura.

Tateando, arranco-lhe as vestes, e ele faz o mesmo com as minhas. Depois de vários minutos de roupas presas em várias partes do corpo e protestos de ambas as partes, estamos nus, sentados ao chão - que, na verdade, é tão macio como o colchão de minha cama.

Não. Não devo pensar em minha cama. Ainda bem que sou um bom Oclumente.

Potter não é. Preciso mantê-lo ocupado.

Passo os dedos por toda a extensão da espinha dele até chegar à suave curva de suas nádegas. Ele estremece ao meu toque, e se contorce. Senta-se de novo no meu colo, de frente para mim, levando-me à loucura.

- Você... já teve fantasias comigo? - pergunto, em uma voz rouca que já não reconheço como minha.

- Já. Na aula de poções, vendo você... manusear aquele pilão, pra cima e pra baixo. A sua mão... Eu fiquei tão duro que ficava me esfregando contra a carteira... Ah...

Merlin.

Lambo meus próprios dedos, enchendo-os de saliva. Não posso arriscar invocar um lubrificante - o desfecho seria totalmente imprevisível. Massageio-lhe a região ao redor de sua entrada, espalhando a saliva.

Ele pára de respirar por um instante.

- Você... Alguma vez você já... Com alguém?

- N-não. Só com meus próprios dedos.

- Bom. Pelo menos você já está acostumado com a sensação, então - digo, inserindo o primeiro dedo. Ele é tão estreito, tão apertado. Eu o distendo com cuidado até poder introduzir dois dedos com facilidade. Quando dobro meus dedos, penetrando mais fundo, ele geme.

- Oh. Se eu soubesse que era tão bom, tinha arranjado uma Detenção com você há mais tempo e...

Ele começa a se mover para frente e para trás.

- Você me atacaria sexualmente? - murmuro em seu ouvido.

- Ahã.

Retiro meus dedos. Ele protesta. Selo meus lábios aos dele, para que ele não quebre o encanto e não despertemos.

Conduzo a mão dele até meu pênis ereto, depois seguro-lhe os quadris, posicionando-o.

- Acha que... consegue? - eu pergunto, sem coragem de ser mais explícito.

E ele, sem sequer responder, senta sobre a ponta de meu pênis, que pulsa avidamente, e começa a descer sobre mim. Ele geme, provavelmente de dor e desconforto, quando seus músculos cedem para me acomodar, e eu mordo o lábio inferior para me controlar. Ele toma fôlego e mergulha até o fundo, até se sentar novamente em meu colo. Eu estou completamente dentro dele, e luto para não me perder nas sensações.

Ele se ergue um pouco, e eu dou um grunhido. Ele desce de novo sobre mim e eu cravo minhas unhas em seus quadris, em busca de algo em que me segurar. Mordo-lhe o ombro, também.

Agora ele sobe de novo e começa a descer devagar. Eu seguro a respiração.

- Oh, Merlin - eu digo.

- Não sou Merlin. Pode me chamar de Harry, se quiser - diz ele, ofegante.

Ele pensa que vai se safar impunemente de suas gracinhas. Engana-se redondamente. Da próxima vez que ele sobe, levanto-o e deito-o ao chão, invertendo as posições. Passo suas pernas por sobre meus ombros e o penetro, sem mais preâmbulos.

Ele acha que eu vou atacá-lo com tudo, mas não. Começo a imprimir um ritmo muito, muito lento. Ele balança para cima e para baixo, acompanhando meus movimentos, mas tentando acelerá-los. Eu não deixo que ele imprima o ritmo que quer.

- Por favor - ele suplica.

É doce ouvir Harry Potter suplicar a mim.

- Por favor o quê?

Ele segura minha mão e a leva até seu pênis, de onde já escorre uma gota prematura de sêmen.

- Quer que eu o toque?

- Quero.

Circulo seu pênis com meus dedos. Ele é tão macio, e pulsa...

Continuo a possuí-lo como se tivesse todo o tempo do mundo, e não o bombeio. Ele se projeta contra mim, arqueando-se todo, e protesta.

- Seu...

- Meu nome é Severus - eu lhe digo. Era só uma tentativa de ser irônico, mas quando ele repete meu nome, em voz rouca e ofegante, um arrepio me percorre o corpo

Entro nele até o fundo fazendo-o sentir cada centímetro, e ele grita quando toco-lhe o ponto certo. Atinjo-o outra vez, e ele grita de novo. Agora eu mesmo já não consigo manter o controle, e me sinto fundir ao seu calor e umidade. Movemo-nos, agora, como se fôssemos um só. Os gemidos que ouço, não sei mais se são dele ou meus.

Acabo gozando antes dele, e sinto-o cerrar-se em torno de mim para que eu não o deixe. Ainda estou sentindo os espasmos do gozo quando o penetro mais uma vez até o fundo e, enfim, passo a bombear-lhe o pênis já pulsante. Ele começa a gozar, e eu ainda nem acabei. Uma última estocada e caio sobre ele, extenuado e saciado.

A horrível idéia de acordar do sonho me invade, e agarro-o com todas as forças.

- Fique comigo, Harry. Por favor. Não vá embora.

Fim

 

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Ptyx, Dezembro de 2004