Antifantasia
Entro no meu escritório e o vejo espiando minha penseira. Não! Outra vez, não. E... oh Merlin. Desta vez, todas as minhas fantasias com ele estão lá dentro. Eu o arranco dali com fúria e o jogo para fora do meu escritório. E agora? Só me resta o suicídio. Não vou suportar olhar para a cara dele outra vez. Não. Tenho de apagar-lhe a memória. Era o que devia ter feito de imediato, mas estava chocado demais para raciocinar. Essas fantasias, eu as construí, uma a uma. Ninguém senão eu as entenderia; a gramática do sonho não é a mesma das outras linguagens que conhecemos. Moldei-as com carinho. Eram a minha única distração, todas as noites. Era a única forma de suportar um desejo proibido. Nelas, eu lancei todos os contos de horror que já vivi, ou que me contaram, transformados para abrigar a presença dele dentro deles. Ele deve achar que sou um verme. ~* ~* ~ Ele vem a meu escritório de novo. Eu o recebo, com a única intenção, já planejada, de lançar-lhe um Feitiço do Esquecimento quando ele se distrair. - Eu... er... - inicia ele, com sua eloqüência habitual. No entanto, de repente ele adquire um ar decidido. - Eu também quero você. É como se um abismo se houvesse aberto diante dos meus pés. Tenho de me segurar à escrivaninha, para não desmoronar. Os segundos passam, marcados pelo bater acelerado de meu coração. Respiro fundo, tentando recuperar o controle. - Sr. Potter, retire-se imediatamente de meus aposentos. - Ma-mas... - O senhor me julgou errado. Eu tenho uma consciência e uma moral, e ela não permite que eu sequer pense seriamente em concretizar... Eu não sou um monstro. Esse assunto nunca mais será mencionado entre nós. Cabisbaixo, ele segue na direção da porta.
Fim |
Ptyx, Dezembro de 2004
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