No entanto, ao chegar à porta, ele se vira novamente para mim.

- Você... pode me emprestar a penseira um pouco?

- O quê? Por quê? - pergunto, atônito. - Você não acredita realmente que eu tenha deixado lá... A penseira agora está vazia.

Ele dá um sorriso torto.

- É óbvio. Não sou assim tão ingênuo, professor. Mas não; eu é que quero tirar alguns pensamentos de minha memória. Por favor.

- Sr. Potter, isso não tem o menor propósito.

- Por favor, professor. O quanto antes me emprestar a penseira, mais cedo eu poderei sair e deixá-lo em paz.

O absurdo da situação me vence.

- Está bem - eu lhe digo, e vou pegar a bacia de pedra no armário.

Na verdade, a penseira já devia ter sido devolvida ao Diretor. Só a mantive comigo porque... queria, uma última vez, brincar com minhas próprias fantasias.

Entrego a penseira a ele.

Ele toca sua cabeça com a varinha e fios prateados saem dali, depositando-se dentro da bacia.

Então ele me estende a penseira, como que me oferecendo sua memória. Olho para a penseira com desconfiança, mas a curiosidade sempre foi um de meus traços mais irritantes e incontroláveis.

Seguro a penseira, e olho para o fio dos pensamentos de Harry.

Dois velhos magos andam por uma praia, abraçados. Seus cabelos são brancos, como os de Albus. Um deles tem os cabelos revoltos. Minha suspeita se confirma ao ver-lhe os olhos verde-esmeralda. O outro eu também reconheço - vejo-o no espelho há quase quarenta anos. Há nele, no entanto, uma expressão tranqüila que eu jamais havia visto antes. De repente eles param e olham nos olhos um do outro. A emoção naquele olhar, tanto no fundo dos olhos negros quanto nos olhos verdes, é indescritível. É como se ali estivessem resumidas duas vidas, e a síntese fosse uma simples palavra: "sim". Sim, valera a pena.

Eles se beijam, os corpos moldando-se um ao outro com perfeição, mas de repente eu não estou mais olhando para eles, e sim para o verdadeiro Harry, que agora me segura a mão. Volto-me para ele, e o abraço.

- Está bem. Você venceu.