BAPHOMET
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BAPHOMET I - O Leão, a Serpente e o Graal

Até que o vilão deixou as sendas do conforto
E caminhando por perigosas sendas, conduziu
O justo a regiões estéreis.

Agora a furtiva serpente se esgueira
Em mansa humildade,
E o justo vocifera nos ermos
Onde vagueiam leões.

(William Blake, O Matrimônio do Céu e do Inferno)

 

CAPÍTULO 1 - O Slytherin e o Parselmouth

 

Era o primeiro dia de aula em Hogwarts, e Dumbledore mandara-o chamar ao seu escritório. Provavelmente queria agendar as malditas aulas de Oclumência. Harry não sabia o que seria pior, se Dumbledore quisesse que ele voltasse a ter aulas com Snape ou se resolvesse ele mesmo lhe ensinar. Àquela altura, Harry odiava profundamente aos dois.

Ao chegar junto à entrada, avistou a silhueta negra do mestre de poções, duas vezes mais feio que a gárgula.

— Potter! O que está fazendo aqui?

— O Diretor mandou me chamar.

Snape encarou o odiado aluno com olhos desconfiados antes de dizer:

— Frapê de framboesa!

A gárgula se afastou, a parede se abriu e a escada giratória os alçou até a porta do escritório, que se abriu de imediato.

— Severus, Harry, entrem! — disse o Diretor, com aquele característico brilho nos olhos. — Sentem-se e tomem um chá comigo.

Harry não acreditou. Depois de tudo o que acontecera no ano anterior — em que o Diretor simplesmente o abandonara à própria sorte para, ao final do ano, após um dos momentos mais terríveis de sua vida, em que presenciara a morte de seu padrinho, revelar-lhe o que já devia ter revelado há muitos anos e fazer-lhe um sermão terrivelmente hipócrita — o Diretor voltava a assumir a sua figura de Papai Noel. Aquilo era insuportável.

Professor e aluno se sentaram, encarando-se com profundo ódio, enquanto Dumbledore lhes servia o chá.

— Diretor, não sei o que está planejando, mas é melhor que fale de uma vez. Madame Pomfrey me pediu que preparasse uma poção e...

— Tenho certeza de que o trabalho renderá muito mais se agora você relaxar um pouco e tomar seu chá com calma — disse Dumbledore. — Pois bem, meus meninos. Eu os chamei aqui para lhes pedir um favor.

Harry quase engasgou com o chá. Snape fez uma careta medonha.

— Um dos espiões da Ordem — o Diretor deu uma piscadela a Snape — me trouxe recentemente algo que estava em poder de um Death Eater e que pode ter um valor inestimável em nossa guerra contra Voldemort: um manuscrito de Salazar Slytherin. No entanto, esse manuscrito está redigido em um código incompreensível, ao menos para mim... Pois bem. Tenho quase certeza de que esse código misterioso é uma versão escrita do Parseltongue. E, como vocês estão cansados de saber, só conhecemos hoje dois Parselmouth. Um deles, obviamente, não irá nos ajudar. — Snape balançou a cabeça, num gesto de impaciência. — Mas o outro está aqui diante de nós, e poderia auxiliar o nosso prezado Chefe de Slytherin, que é um grande conhecedor das idéias de Salazar, na tarefa de decifrar esse importantíssimo documento. — O Diretor olhou de Harry para Snape, e deste para Harry outra vez. — Então, meus meninos, o que me dizem?

Snape estreitou os olhos, depois respirou fundo. Harry ficou esperando que ele dissesse alguma coisa, que rosnasse que não iria aceitar trabalhar com aquele pirralho arrogante. Mas, como Snape parecia em estado de choque, Harry teve de se manifestar.

— Er, Diretor, é que... eu não sei Parselmouth escrito, só falado!

— Mais uma razão para vocês trabalharem em dupla. Além de conhecer várias línguas, Severus conhece também Lingüística Mágico-Generativa. Tenho certeza de que acabarão decifrando o código.

— Diretor, o senhor sabe que eu nunca lhe recusei um pedido. Mas esse aluno é extremamente irresponsável e traiu a minha confiança de maneira irreparável. Não tenho condições de trabalhar com ele.

— E eu não quero trabalhar com o responsável pela morte do meu padrinho!

— O quê? Enlouqueceu, Potter? Se eu não tivesse alertado a Ordem, provavelmente você estaria morto. Não tenho culpa se o seu padrinho destrambelhado...

— Severus, Harry, por favor. Acalmem-se — disse Dumbledore, em tom severo. — Eu sei que é difícil para vocês, mas é um trabalho muito importante para a Ordem, e só vocês podem fazê-lo.

— O Diretor há de convir que, como Chefe de Slytherin, Professor de Poções, Membro da Ordem da Fênix, Braço Esquerdo do Diretor e... O-Senhor-Sabe-Muito-Bem-O-Que-Mais, não sobram muitas janelas em meu horário para encaixar essa nova tarefa.

— Para não prejudicar suas outras tarefas, vocês poderiam reservar apenas uma noite por semana para isso. E podem trabalhar no escritório de Severus, ou na sala de poções, se preferirem. Harry dirá a todos que está tendo de cursar aulas de reforço em Poções...

— Outra vez? Ah, não!

— Potter, mais respeito com o Diretor!

Harry fez uma careta de repulsa.

— Está vendo, Diretor? Esse menino é muito arrogante, não respeita ninguém, é impossível trabalhar com ele.

— Severus... Harry... Vamos fazer um acordo. Se vocês fizerem isso por mim, eu os libero da aula de Oclumência. Eu mesmo me encarrego de ensinar Oclumência a Harry.

~*~*~

— Ahn. Potter. Entre e feche a porta.

Harry obedeceu, entrando no escritório do professor sem dizer palavra. Snape indicou-lhe a cadeira diante da escrivaninha de mogno atrás da qual ele próprio se sentava.

— Sente-se. Aqui está o Manuscrito de Slytherin.

Harry percorreu com os olhos as paredes sombrias, repletas de frascos de vidro de conteúdos abomináveis. Em um canto, um espelho de cristalomancia, semelhante a um que Harry vira em seu livro de Adivinhação. O que fazia Snape com um espelho daqueles? Harry sentou-se e pegou o volumoso rolo de pergaminho, coberto de garatujas incompreensíveis.

— Não entendo bulhufas.

Snape suspirou.

— Que linguagem... Potter, concentre-se. Sei que é pedir demais do seu cérebro oco, mas...

— Escute aqui, se vai ficar me ofendendo...

— Potter!

Harry baixou a cabeça. Aquilo não ia dar certo. Snape passou as mãos pelos cabelos oleosos.

— Tente ler o que está escrito em voz alta.

Harry ergueu a cabeça novamente e segurou o pergaminho diante de si.

— Mas eu não sei que sons tem esses rabiscos! Isso são letras?

— Pelo que verifiquei, é um código de dupla articulação, em que a um significado se atribui um significante correspondente, como nas línguas humanas.

— Ah, tá. Entendi tudo.

Snape olhou para o teto.

— Vou tentar descer ao seu nível, mesmo sabendo que não será nada fácil... Estou dizendo que a cada símbolo está associado um som. Só que nós não sabemos qual é o som associado a cada símbolo!

— Então como é que eu vou conseguir ler?

— Já disse, *esse* é o problema. Se fosse algo fácil, o Diretor não nos teria mandado fazer.

— Por que não pede a uma cobra para ler?

Snape ia dar uma de suas réplicas arrasadoras, mas algo o fez parar. Estreitou os olhos, como que em máxima concentração. Retirou a varinha de dentro do manto e apontou-a para seu outro braço.

— Serpensortia!

Uma cobrinha dourada, de cerca de 30 cm, surgiu, enroscada em seu pulso esquerdo.

— Que linda! — exclamou Harry. — É uma Boa constrictor.

Meio a contragosto, o professor estendeu a jibóia a Harry, que a segurou na palma da mão e começou a conversar ela. Snape os observava atentamente. Em seus olhos, um brilho de... inveja?

— O nome dela é Ceci.

— Pergunte a ela se consegue ler o que está escrito no Manuscrito.

Harry conversou longamente com Ceci, mostrou-lhe o Manuscrito e continuou conversando. Snape, sem entender nada, já estava começando a perder a paciência. Finalmente, Harry voltou-se para ele.

— Ela não sabe ler, e achou muito engraçado que o senhor pensasse que as cobras possam saber ler.

— Não vejo graça nenhuma. Pare de conversa fiada com essa cobra, já vi que isso é inútil.

— Ela está com medo de que o senhor queira se livrar dela, já que ela não pode ajudar.

Snape suspirou.

— Devolva-me a cobra e pare com essa conversa idiota — disse Snape, tomando a Boa constrictor do braço de Harry.

Então algo de muito curioso aconteceu. Snape acariciou a pele escamada da pequena jibóia, com uma expressão de... ternura?

Harry o encarou com aquela clássica expressão de "quem é você e o que fez com o professor Snape".

 

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