Epílogo Tríptico

 

I

 

Diante das constantes reiterações de seu servo Severus Snape de que suas outras Horcruxes estavam todas muito bem protegidas, Lord Voldemort resolveu visitar sua Horcrux viva para verificar se ele estava em boas condições. Ao chegar ao Sítio da Nhandu, Severus o recebeu sem nenhum entusiasmo, mas Lord Voldemort não estranhou: Severus sempre fora um homem muito frio.

Ao perguntar sobre Harry Potter, Lord Voldemort foi informado de que ele estava "passeando pelo sítio", "provavelmente à beira do lago". Lord Voldemort repreendeu Snape por deixar seu Horcrux solto daquela forma, ao que Snape lhe respondeu, com um sorriso desagradável, que sua Horcrux estava se sentindo à vontade no local e não tencionava fugir.

Desconfiado, Lord Voldemort foi ao encontro de Harry Potter.

Avistou-o ao longe, sentado às margens do lago, tocando uma flauta. A bela melodia o surpreendeu.

Lord Voldemort aproximou-se e sentou-se ao lado de Harry Potter. Este, a princípio, pareceu assustar-se com sua presença, mas logo se recompôs e lhe disse, em Parselíngua:

- Olá, Tom.

Estranhamente, o nome 'Tom' em Parselíngua não irritava Lord Voldemort.

- Olá, Harry - respondeu Tom, também em Parselíngua.

Harry sorriu para ele, e uma emoção estranha tomou conta de Tom.

- Quer que eu lhe toque uma canção? - perguntou Harry.

Com um tremor percorrendo-lhe o corpo e a alma, Tom respondeu:

- Quero.

Harry iniciou uma canção ainda mais bonita do que a anterior. Era como se as notas penetrassem no sangue de Tom e o aquecessem. Tom entrou em uma espécie de transe.

Tom olhou para Harry, e viu que ele era bonito e cheio de vida. Uma tristeza insuportável e inexplicável o invadiu. Ele tentou despertar do transe, mas não conseguiu. Seu sangue borbulhava como se a ponto de estourar-lhe as veias. Ele baixou a cabeça. Harry parou de tocar a flauta e estendeu a mão para ele. Assim que Harry tocou-lhe o ombro, o corpo de Tom se desfez em cinzas.

~* ~* ~

 

II

 

Observando de certa distância, vejo Tom Riddle desaparecer nos ares e Harry se ajoelhar ao chão em desespero. Corro para ele, ajoelho-me diante dele e o tomo nos braços.

- Eu... não queria que ele morresse. Parecia que ele estava, pela primeira vez, se comunicando comigo, se comunicando realmente com alguém - diz Harry, em voz embargada.

- Ele se foi. Creio que ele reconheceu o pedaço dele mesmo que está em você, e não conseguiu suportar o sentimento de estar separado de você.

- Como Narciso.

Concordo com um gesto de cabeça.

- A minha marca também desapareceu, o que significa que você conseguiu neutralizar o pedaço de alma que estava em você. Você o absorveu completamente, e não é mais uma Horcrux.

- Ele agora está dentro de mim?

- Ele sempre esteve, Harry. Você só precisava aceitá-lo.

Recolhemos as cinzas de Tom Riddle e as jogamos nas águas do lago. Voltamos para casa em silêncio.

~* ~* ~

Agora Harry está livre. Digo-lhe que deve voltar à Grã-Bretanha e reconstruir sua vida. Ele concorda, mas parece amedrontado.

- Quando voltarmos, vai ser aquele corre-corre. O Profeta Diário vai querer me entrevistar, o Ministério vai querer prender você...

- Eu não posso voltar. Serei preso e condenado.

- Mas eu não vou voltar sem você!

Ah. Haverá bálsamo em Gileade para mim?

- Estamos num impasse, então - eu declaro, sentando-me em uma poltrona a noventa graus daquela onde ele está, na sala de estar.

- Eu volto e conto a todos que você é o verdadeiro herói por trás disso tudo.

- Não é bem verdade - reconheço humildemente.

Como sempre, ele nem presta atenção às minhas palavras.

- Eles vão ter de acreditar. Quando for seguro, você poderá voltar.

Estou prevendo o futuro. Ele volta para a casa dos Weasleys, atira-se nos braços da sua donzela Ginevra e eu fico esquecido no Sítio da Nhandu.

Ele me olha fixo. Ah! Legilimência. Eu me distraí.

- Severus... Então eu não vou. Fico aqui até eles me garantirem que você pode voltar em paz. Não sei quanto dinheiro Voldemort deixou com você, mas eu tenho milhares de galeões em Gringotts; posso ir lá e tirar. Vamos colocar a casa sob Fidelius. Ninguém vai conseguir nos tirar daqui, nem que eu precise me transformar no próximo Lord das Trevas.

Sou um homem egoísta e possessivo. Foi muito difícil apanhar Harry Potter em minha teia, e não quero, por nada neste mundo, deixá-lo escapar. Mesmo que para ficar comigo ele precise se transformar no próximo Lord das Trevas!

- Sabia que o mar não fica longe daqui? - pergunto, lançando-me, esperançoso, a uma louca tentativa de futuro. - Se descermos a montanha, em cerca de uma hora chegaremos à praia.

Ele sorri pela primeira vez desde a morte de Tom.

- Então vamos à praia amanhã.

~*~*~

 

III

 

A caminho da praia, pela manhã, Harry pegou-se olhando para seu amante e perguntando-se o que é que o fizera ficar Severus e renegar a tudo e a todos mais.

Lá estava Severus, de calção e camiseta, mas feio e insuportável como sempre. Ou não?

- Severus, acho que eu estou apaixonado por você.

Severus quase tropeçou numa pedra ao parar e se voltar para Harry.

- Oh? E o que será que inspirou tais sentimentos em você? Talvez a minha personalidade refinada e fascinante? Minhas façanhas heróicas? Meu nariz romano? Ou, quem sabe, o meu desempenho como amante?

Harry riu e deu-lhe um soco no ombro.

- Você é uma peste mesmo. Não sei como agüento você.

Severus fez cara de ofendido.

- Os sentimentos são mútuos.

- Que sentimentos?

- Também não sei como o agüento.

- Ah!

Harry fingiu estar desapontado, e Severus o puxou para um beijo apaixonado. Quando seus lábios se separaram, Severus sussurrou no ouvido de Harry:

- Talvez eu também esteja apaixonado por você, mas talvez eu só esteja meio tonto. Está quente demais aqui e meus neurônios estão derretendo. Não acho que tenha sido uma boa idéia ir a pé até a praia sob este sol. Por que não aparatamos lá diretamente?

- Ha. Você está amarelando!

- Não estou, não!

- Está, sim!

~* ~* ~

E eles viveram felizes para sempre. Ou, pelo menos, é o que diz a lenda...

 

Fim

Continuação: Muiraquitã

 

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Ptyx, Novembro/ 2005