PARTE I - Primeiros Dias

 

1 - Expectativa

 

O chalé de madeira, do final do século XVI, situado idilicamente às margens de um bosque, ficava em uma região montanhosa no vale fértil do rio Severn, repleta de lagos e florestas. A vila mais próxima, a de Trefeglwys, ficava a mais de cinco quilômetros de distância.

Exceto pela sacada e pela varanda que Snape acrescentara, era um típico chalé do País de Gales. No primeiro andar, havia uma sala de jantar com mesa e bancos de madeira, uma sala de estar com mobília confortável, lareira e uma porta dando para o jardim, um lavabo e a cozinha, pela qual se chegava ao quintal. Na sala de estar, uma escada, também de madeira, levava ao segundo andar, onde um pequeno hall abria à esquerda para o quarto de Snape - uma suíte com um espaçoso banheiro e uma sacada -, e à direita, para o escritório. Nos fundos da casa, originalmente um depósito, agora transformado por Snape em um laboratório de Poções. E, no jardim cercado, por onde passava um pequeno riacho, ficava a varanda.

Já preparara o jantar, deixando-o pronto para ser aquecido quando chegasse a hora. Arrumara a casa, limpara a lareira. Estava tudo pronto. O relógio mágico erguia uma placa dizendo: "dez minutos para a chegada dele".

Foi à cozinha e serviu-se de um copo de Ogden's Old Firewhisky. Voltou à sala de estar, abriu a porta da frente e saiu à varanda. Sentou-se na cadeira preguiçosa. Pela porta aberta, ele podia ver a lareira.

Cinco minutos. Mas ele não viria, é claro. Fora tolo de pensar que viria. E era melhor assim. Seria muito perigoso.

Por que, então, sentia aquele frio por dentro ao pensar na possibilidade de ele não vir? Por que sentia o coração apertado? Por que seu cérebro não podia comandar plenamente todas as suas reações?

Ah, se ele não viesse, toda aquela esperança, aquela impossível luz que se acendera dentro dele e que o guiara durante a semana toda se extinguiria. E o mundo seria mais escuro do que nunca.

Nesse exato instante, avistou algumas fadas que brincavam em seu jardim, espalhando faíscas cintilantes. Eram bonitas. Harry iria gostar de vê-las. Harry... Melhor não pensar nele como Harry.

Faltavam dois minutos. Que ilusão. Como podia ter sido tão tolo de acreditar que ele viria? É claro que não viria. Por certo no dia seguinte, ao relembrar a noite anterior, o garoto se perguntara como pudera se entregar ao feio e velho morcegão. Provavelmente sentira vergonha e nojo. E agora estava com seus amigos, se divertindo, ou aprontando uma das suas. Claro que ele não viria. Lembrava-se de como se abrira com o adolescente, de como se mostrara vulnerável. Agora iria pagar por isso. Colocara-se nas mãos de um garoto inconseqüente e irresponsável.

As fadas insistiam em brilhar, quase ofuscando-o. Um gole de Firewhisky. Chegara a hora, e nada. Os tolos Muggles acreditavam que se podia fazer pedidos às fadas: "doce fadinha, traga meu menino para mim". Ha. Que idiotas. As fadas não passavam de insetos inoportunos.

Se ele soubesse amar, se tivesse mais prática, talvez tivesse conseguido gravar sua marca indelével no coração do menino. Mas se havia alguma coisa de que Severus Snape não entendia nada era de amor. Ah. Que ilusão, pensar que poderia ter tido uma chance! Ele, com seu nariz enorme, a pele esverdeada, os cabelos sebosos. Olhe-se no espelho, Snape.

Um minuto depois da hora marcada. Você é um idiota, Severus. Esvazie esse copo, entre e afogue as vãs esperanças no sabor áspero e amargo do Firewhisky.

Levou o copo aos lábios, mas não chegou a tomar. Um ruído estrondoso o fez levantar-se de pronto, reflexo de ex-Death Eater e atual espião.

Lá dentro, uma figura esguia sacudia as roupas onde não havia nem um traço de pó, pois Snape limpara a chaminé impecavelmente.

Os dois se viram frente a frente, e ficaram imóveis por mais de um segundo.

O coração de Snape batia acelerado.

No próximo segundo, o garoto se jogara em seus braços, e ele o apertava com força.

- Que bom que você está mesmo aqui! Eu estava com medo que você tivesse me dado um endereço falso ou coisa assim! - disse o garoto, em voz embargada.

- Harry... - foi tudo o que Snape conseguiu dizer. Então ele o pegou no colo e o carregou por uns dois metros até chegar ao sofá, onde o deitou. O jantar podia esperar. O mundo podia esperar.

 

 

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Ptyx, Agosto/2004