Reconhecimento
Autora: Nym

 

"... no amor há uma espécie de antipatia, ou paixão oposta. Cada um luta para ser o outro,
e os dois juntos fazem um inteiro."
(Samuel T Coleridge)


O mundo estava celebrando.

Bem, talvez não todo o mundo, mas, com certeza, uma boa parte do mundo mágico. Batalhas, cicatrizes e perdas pareciam temporariamente esquecidas em uma explosão de júbilo e autocongratulação que fazia as paredes do velho castelo vibrarem com o som das altas vozes.

Snape resolvera abandonar a obrigatória festa da escola após umas poucas dentadas em pratos saturados de açúcar. A experiência lhe avisava que aqueles jovens demais para obter ou transfigurar vinho, hidromel ou outras bebidas inebriantes logo estariam tão eufóricos com a overdose de açúcar que seria difícil distingui-los dos mais velhos, bêbados e dando risadinhas. Quando Minerva McGonagall se inclinou para ele e engrolou algo solícito a respeito da "Copa de Quadribol", Snape pediu licença alegando uma dor de cabeça, cercou o que restara da população de Slytherin para fazê-los se encolherem com um olhar fulminante de aviso (para prevenir que qualquer um deles fosse procurá-lo mais tarde chorando devido aos efeitos dos excessos) e seguiu com dignidade rumo à sua boa e silenciosa masmorra.

Celebrar o fim do mês de exames era uma coisa; promover uma celebração ao momento histórico em que o mundo mágico escapara do fim por muito, muito pouco parecia, para Snape, sublinhar a própria complacência que os levara a toda aquela confusão. E nenhum dos que discursaram recordara a parte de Snape na prevenção à catástrofe. O corpo em putrefação de Sirius Black, seu débil lobisomem de estimação e o gato sem pulgas de Hermione Granger eram, obviamente, mais dignos de reconhecimento do que Severus Snape. Ele bateu a porta de seu laboratório atrás de si, bloqueando temporariamente o zumbido de sons alegres que penetrava até nos corredores de suas masmorras. Tirou as vestes de professor e o casaco sufocante, atraído por seu trabalho - a tarefa tediosa, interminável e esvaziadora da mente de repor os suprimentos de poção do castelo - com uma sensação de alívio maior do que nunca.

Às vezes, só às vezes, ele agradecia à memória de Albus Dumbledore por ter-lhe dado aquilo.

Pôs-se a trabalhar e depositou os ingredientes e equipamentos sobre o amplo e manchado balcão de madeira; pegou uma pesada tábua de cortar de mármore dos armários embaixo do balcão, procurou sua faca favorita e cortou de um só golpe preciso a cabeça de uma enguia que se revolvia em contorções.

O herói do momento, naturalmente, era Harry Potter, mas, depois dos discursos, ele havia caído fora junto com Longbottom, Weasley, Granger, Bones e as gêmeas Patil, deixando aqueles que ainda eram crianças se divertirem com bolos e doces e autocongratulações. O pequeno grupo de setimanistas provavelmente estava, e muito merecidamente, na opinião incomumente generosa de Snape, enchendo a cara em algum lugar. Um ano atrás ele teria ido atrás deles e arruinado-lhes a noite; garantido que ninguém iria vandalizar nada, copular com nada ou falar mal dele às suas costas. Naquela noite, Snape apenas se concentrou por um momento para reforçar seu velho bloqueio, às vezes eficaz, contra a mente insidiosa de Potter, e cortou a enguia em fatias finas como biscoitos. Analisar a tarefa à sua frente lhe trazia calma e, enfim, a leve dor de cabeça se atenuou e os ressentimentos mais prestes a se inflamarem se reduziram gradualmente a um fogo brando. Seu trabalho. Seu laboratório. Seu refúgio.

Não ficou satisfeito, portanto, quando alguém abriu a porta do laboratório sem bater, entrou e fechou a porta de novo, como se pretendesse ficar. Não se deu ao trabalho de virar.

- Se vai vomitar, pegue um balde e vá para a cama. Se está bêbado, pegue um balde e vá para a cama. Se está morrendo, vá falar com Madame Pomfrey. - Snape fechou a cara. Em seu tempo, os Slytherins não iam correndo para o seu Chefe de Casa para se queixar de sofrimentos auto-infligidos.

- Nenhuma das anteriores - respondeu uma voz calma e grave, e Snape parou no meio do corte, quase fazendo um corte em forma de cunha em sua enguia. Nunca que iria se virar, permitir contato visual ou qualquer outra coisa que...

A velha chave de bronze gemeu quando Potter a girou na fechadura.

- Meu laboratório é território proibido para alunos - disse Snape -, como você bem sabe.

Durante dois anos, aquele havia sido seu único refúgio do mundo. De Potter, em especial.

- Nunca vi você sem as suas vestes antes - disse Potter, atravessando a sala como se não houvesse escutado Snape lhe dizer que não era bem-vindo. - Sem todas aquelas camadas. Elas fazem você parecer um morcego gigante.

A franqueza se tornara um hábito entre eles nos últimos meses da guerra, ambos cansados demais para injetar muita hostilidade aberta dentro dela. Potter não costumava se dobrar diante de insultos não provocados, contudo, e deixara de usar os defeitos físicos de Snape como munição barata, por volta da época da morte de Sirius Black. Os insultos, provocados ou não, haviam se tornado mais sutis, mais incisivos e mais próximos de verdades mais significativas. No entanto, Snape não estava certo de que a observação a respeito do morcego havia sido um insulto. Não havia maldade na voz de Potter. Falava como se falasse com um amigo, comentando com uma calma familiaridade, e aproximando-se em passos suaves e decididos. Aproximando-se por trás, chegando perto demais, e observando-o até que sua nuca começasse a ficar arrepiada. Snape estava prestes a lembrar a Potter que o respeito para com os professores ainda era exigido, mesmo após os EFBEs, e que Gryffindor precisava manter todos os seus pontos se a Casa queria ficar com a taça ao final do período, quando Potter tocou nele.

Tocou nele.

Snape poderia ter respondido de diversas formas, muitas das quais teriam acabado com Potter limpando seu próprio sangue como castigo. Em vez disso, viu-se contendo a respiração quando a mão bastante quente de Potter percorreu-lhe o braço direito, indo direto ao pulso, depois se moveu para a cintura e foi seguida, à esquerda, pela outra mão. Quando Potter deu mais um passo em sua direção e... se aninhou... em suas costas, Snape já estava sentindo falta de ar. Respirou fundo, mas não alto o suficiente para bloquear o som de Potter farejando profunda e deliberadamente.

- Como pensei - disse Potter. - Cânfora. Levei anos para descobrir do que é o seu cheiro.

Snape largou a faca, devagar e com cuidado, certo de que aquilo que acabara de cutucar-lhe a parte superior da coxa não era a varinha de pena de fênix de Potter. Então Potter agarrou-lhe a cintura com mais força e se aproximou ainda mais, movendo o corpo contra a rígida coluna de Snape, e Snape teve certeza absoluta de que aquilo não era uma varinha. Ninguém tentara aquela abordagem com ele desde seus tempos de escola; não que houvesse ido muito longe, graças à pronta intervenção de outro rapaz chamado Potter...

- Vá embora - ordenou Snape, disposto a não pegar a lâmina de novo até que Potter estivesse a uma distância segura. Sentiu um calor entre seus ombros em resposta; hálito quente através de sua camisa no local em que Potter o beijara. Como se... Snape cerrou os punhos. Então Potter havia fisgado a lembrança, de alguma forma; viera atormentá-lo com o reflexo dela e do riso sorridente de seu pai. Só que ele não estava rindo; na verdade, estava se comprimindo contra Snape com algum entusiasmo. Fora bom, aos dezesseis anos. Era bom agora; mãos quentes agarrando-o e um pênis duro se fazendo sentir em roçadas bruscas, irregulares, contra a parte de trás de suas coxas. Talvez uma noite de prazer com alguma aparição enviada pelos céus fosse recompensa suficiente por todo o seu sacrifício e trabalho duro, em lugar de qualquer reconhecimento real, mas aquilo não era uma aparição. E tinha de ser o garoto, prole de Potter, a se comprimir contra seu traseiro com toda a paciência e finesse de alguém com idade o bastante apenas para aparatar, lembrando-o de... de...

Snape grunhiu em descrédito, baixinho, mas Potter pareceu tomar aquilo como um sinal de encorajamento. Comprimiu-se ainda mais, chocando-se contra as coxas de Snape com os quadris, segurando-lhe a cintura com mais força, aparentemente planejando gozar ali na hora.

- Nada disso. - Snape se virou, agarrando simultaneamente a mão direita de Potter (a mais perigosa, a mão da varinha e que vagueava por seu corpo) e invertendo as posições, colocando as costas de Potter contra o balcão e deixando livre o espaço entre si e a porta. Fuzilou-o com os olhos. Potter respondeu na mesma moeda. Cansativo. Estava pensando em acrescentar algo bem mordaz, possivelmente envolvendo a regressão evolutiva da linhagem de Potter, quando o garoto baixou os olhos. Mas não de vergonha; aquele olhar absorveu cada centímetro de carne e tecido de Snape, da linha dos olhos até a virilha, depois subiu de novo e pousou em seus lábios.

- Não vai me beijar?

- O quê?

Potter teve de ficar na ponta dos pés, mas fez uma demonstração, com inábil entusiasmo, puxando a cabeça de Snape para baixo e introduzindo a língua por entre lábios que se separaram com relutância, recebendo um novo grunhido. O pirralho, na verdade, tinha sabor de mel, e foi o ridículo clichê, e não o sabor agradável, que revoltou Snape a ponto de interromper o beijo.

- Isso não é sério, é?

- É sim, acho que é. - Um leve sorriso curvou os lábios do garoto para cima só por um instante, então o olhar de concentração retornou, desta vez enfocando o pescoço de Snape.

Dedos longos, mãos de Apanhador, se libertaram das suas e roçaram-lhe a frente da camisa em seu caminho para cima, e com certeza não foi por acidente que um mamilo foi massageado de passagem. Fascinado pelo ar de intensa concentração no rosto de Potter - pois Snape nunca vira tal expressão em qualquer aula de que pudesse se lembrar -, ele se manteve firme e permitiu. Era óbvio que Potter enlouquecera completamente, e Snape (que podia culpá-lo por qualquer outra coisa sem vacilar) não podia, na verdade, culpá-lo. Dariam um jeito de colocá-lo sigilosamente em São Mungo. Depois que...

- Acha que eu enlouqueci, não é? - perguntou Potter, seu sorriso furtivo crescendo outra vez, enquanto os dedos puxavam o botão na gola de Snape. Snape fuzilou-o com os olhos de novo, mas Potter não estava olhando. Estava se movendo, sempre devagar, rumo ao segundo botão. - Não estou louco. Só me decidi.

- Creio que tenho direito a voz na quesssss... - A mão esquerda de Potter desceu e beliscou um mamilo, com força o bastante para machucar, e Snape, Severus Snape, que não estivera ao mesmo tempo acordado e ereto nenhuma vez em quase sete anos, sentiu o sangue fluir para baixo. Achou que provavelmente seria necessário uma observação oportuna a respeito de uma recente tragédia, ou uma vigorosa resistência física para deter o garoto do assalto a seus botões. O segundo botão foi liberto e Potter prendeu o lábio inferior entre os dentes, em magnífica concentração. Parecia não notar que seu professor tentava fuzilá-lo com os olhos, ou que os dois se odiavam mutuamente, de corpo e alma. Outro botão se foi, e Potter desceu a ponta do dedo pela pele que acabara de expor, do pescoço de Snape à resistência do quarto botão da camisa. Após o quinto, aquilo ficaria indecente. Snape pôs os pensamentos em ordem, com algum esforço, e capturou ambos os pulsos de Potter, desta vez segurando as mãos a uma distância livre de risco. Potter ergueu os olhos para ele, seu sorriso se ampliando e banindo os traços mais familiares de tristeza. Parecia feliz. E ávido. Estava novamente olhando cheio de desejo e lascívia para o pedaço recém-revelado do tórax com tênues, insignificantes pêlos.

- É óbvio que você está drogado. - Snape não deixava de sentir empatia por um aluno que caíra vítima de uma brincadeira e tomara uma poção afrodisíaca, mesmo que a vítima fosse, ela própria, a imagem espelhada do canalha que proporcionara a Snape aquela humilhação em particular. - Vou lhe dar um antídoto e não falamos mais a respeito.

- Não seja burro.

- Perdão?

- Eu disse "não seja burro". Não tenho medo de você, e nunca tive, então não se preocupe - continuou Potter, quando Snape tomou fôlego para um ataque verbal que deixaria Gryffindor com pontos negativos pelas duas próximas gerações. - Eles estavam fazendo piadas sobre você, você sabe. No Salão Comunal.

Snape sentiu os ossos do pulso de Potter rangerem ao apertá-lo. Potter ofegou, mas a dor não o intimidou. Vivera com ela tempo o suficiente para saber enfrentá-la. Um fio minúsculo e relutante de admiração começou a se insinuar na mortalha de indignação e repugnância de Snape, iluminando tudo. E, maldição, ele estava ficando excitado, seu corpo e suas esperanças se alimentando da presença reverberante, infatigável do garoto. Potter havia sido um pirralho tolo, teimoso quando chegara à escola; sofrera e estudara, e pouco restara dele agora que não fosse de ferro. Uma vontade como nenhuma outra. E ele não tinha medo. Falava das zombarias dos Gryffindors sem um traço de prazer nos olhos.

Snape respirou lentamente, acalmando tanto a raiva quanto a excitação. Afrouxou um pouco a pressão sobre os magros pulsos de Potter; só uma fração.

- E o que, me diga, o orgulho de Hogwarts dizia sobre mim?

- Que você não tinha ninguém com quem celebrar e que devia estar arrependido de nunca ter sido legal com ninguém. Que, mesmo que você fosse legal, ninguém ia querer você, porque a sua cara é...

- Posso imaginar, obrigado. - Como se eles imaginassem por um instante que algo daquilo era original. Snape quase bocejou, mas algo o perturbou; por que ele não estava arrastando Harry Potter pelo cangote e jogando-o para fora da sala?

A cabeça de Potter se virou levemente na direção da porta.

- Você não quer que eu vá.

- Saia da minha cabeça ou vou matá-lo - respondeu Snape, simplesmente. - Este é o último aviso.

- Sim, senhor - disse Potter, com serenidade. Parecia deliciado. - Vai mesmo ficar feliz quando eu partir, não vai?

Snape estreitou os olhos, imaginando Hogwarts sem Harry Potter. Na verdade, a imagem não era muito melhor do que o presente; ainda haveria crianças por toda a parte, fazendo bobagens, tolas e teimosas e tão insuportavelmente cheias de vida e possibilidades que, às vezes, ele morria de vontade de jogar seus débeis cérebros contra a parede mais próxima. Potter, pelo menos - finalmente - fora além daquelas ilusões da infância, da perfeição do branco e preto, e de um mundo em que a justiça existia fora das histórias de ninar. A batalha o havia manchado e ensangüentado, e era óbvio que ele possuía um tipo de desejo de morte. Por que outra razão chegaria e contaria ao Chefe de Slytherin que Gryffindor estava zombando dele às suas costas?

- A sua partida ou não depende do resultado dos seus exames - observou Snape. Não chegava a ser um ponto vulnerável; a incompetência acadêmica dificilmente era uma carta que valesse a pena jogar com Potter, mas ele estava curioso. Que futuro Potter vislumbrava, vindo de um passado tão negro?

- Você está me machucando - disse o garoto, e torceu o braço, libertando-se como se Snape não tivesse nenhuma força. De repente, ele não tinha mesmo. - Pode me machucar, se quiser. Acho que prefiro que não faça isso.

- Você está delirando - acusou-o Snape, surpreso de se ver genuinamente perturbado. - De que diabos está falando? Já me viu erguer a mão para qualquer um de vocês, imbecis? - Oh, como ele desejara isso. Desejara puxar Malfoy para seus joelhos e incutir-lhe bom-senso dando palmadas naquele traseiro que abrigava o seu cérebro; desejara pegar Potter por aquele pescoço esguio e pálido e fazê-lo regurgitar lentamente a arrogância; desejara chicotear Granger nas faces e forçá-la a olhar para si própria, a tola criatura, mas nunca o fizera. Talvez a menos conhecida de suas pouco reconhecidas façanhas tivesse sido não matar cada uma daquelas crianças na esperança de ter um pouco de paz e quietude, - Machucar você - disse ele, colocando todo o sarcasmo que ainda possuía nas palavras. - Se isto é um pedido de ajuda, Potter...

- Não, não é. - As mãos de Potter cobriram-lhe os punhos cerrados e erguidos, e o toque era caloroso. - Mesmo. Eu só decidi, só isso. É isso que devemos fazer.

- Isso o quê?

- Isto! - A mão direita de Potter se afastou e abriu o próximo botão, depois o seguinte, antes que Snape pudesse se mover rápido o bastante para tomar-lhe as mãos de novo. As mãos, desta vez, não os pulsos; dedos quentes presos entre os seus frios. Havia marcas vermelho-escuras nos pulsos de Potter, na forma das mãos de Snape. Haveria marcas.

- Deixe-me ver se entendi bem, sr. Potter. - Snape se manteve firme diante da leve resistência, impedindo Potter de atacar qualquer botão mais abaixo e desejando, apesar do calor de junho, que tivesse ficado de casaco e com as vestes sobre aquela camisa subitamente inadequada. - Os ocupantes da Casa de Gryffindor, sob a falsa crença de que todos no mundo compartilham de suas prioridades fúteis, acham divertido e digno de atenção que eu esteja sozinho esta noite?

Devagar, sustentando seu olhar, Potter assentiu. Sua língua surgiu por entre os lábios, e ele exalou com um cuidado controlado, mas Snape não conseguiu ver nenhum outro sinal de que ele estivesse inquieto.

- E você, assumindo o seu complexo de mártir a um ponto de imbecilidade ainda não alcançado, decidiu se jogar nos meus braços, como a prostituta Squib mais barata no Beco Esquecido, porque sente pena de mim?

- N-não... - Potter pareceu notar, pela primeira vez, que seus motivos estavam menos do que claros. - Não! - Lutou com mais empenho contra as mãos de Snape; Snape apreciou o ato de resistir à luta mais do que deveria. Oh, o fogo tolo e insaciável do garoto... - Eles começaram a fazer piadas sobre... sobre ficar com você. Sobre como seria! - As faces de Potter estavam ganhando cor a cada palavra. - E, de repente, eu não achei mais que era assim tão engraçado, o que eles estavam dizendo. Você... você não é feio. - O riso abrupto de Snape quase pôs Potter a correr. - Eu sei o que é feio - disse o garoto, o pânico se esvaindo de sua voz, o corpo amolecendo sob as sólidas mãos de Snape. - Eles não vêem. Eles não sabem. Nenhum deles. Como o mundo é escuro.

Em vez de tentar libertar suas mãos, Potter as ergueu ainda mais, levando as mãos de Snape para cima de seus ombros, onde, aparentemente contra a vontade de Snape, elas permaneceram, enquanto as de Potter caíram para os lados de seu corpo.

- Você quer, não quer? Eu quero.

- Quer o quê? - conseguiu dizer Snape, embora o significado das palavras do garoto fosse claro o bastante. - Jogar fora toda a esperança de um futuro pacífico por um momento de prazer egoísta com um... com uma criança?

- Eu não sou criança desde que Voldemort usou meu sangue - insistiu Potter, o lábio se curvando com uma raiva que reverberava entre eles, de igual para igual. - Não tenho nem certeza se já fui humano alguma vez. E você é o único que sabe. Isto - disse ele, agarrando o antebraço esquerdo de Snape com uma força capaz de deixar marcas, enterrando unhas rudes na Marca até os ossos. Snape sibilou por entre os dentes, a Marca ardendo em reconhecimento, e viu Potter estremecer em resposta, cerrando os dentes. - Você sabe do que estou falando. - E, embora a negação estivesse em seus lábios, a vontade há muito tempo arraigada de provar que Potter estava errado em tudo, era verdade que Snape sabia. - Você se pergunta por que ainda está vivo - disse Potter, agora mais perto, as vestes quase lhe tocando o peito nu. - Eu sei. Eu me pergunto o mesmo. Talvez nós não devêssemos estar. Ou talvez haja uma razão para que estejamos.

Não, Potter definitivamente não estava em seu juízo perfeito. Era quase patético. Mas era de se esperar. Potter não era uma vítima da guerra; ele fora a arma, e fora marcado, em conseqüência.

- Você fez tantas coisas pelos motivos errados. Por que não fazer só mais uma? Por favor.

E Potter baixou os olhos, ergueu as mãos e abriu outro botão. Hesitou, a respiração mais rápida, então deixou os nós dos dedos arranharem a frente das calças de Snape antes de passarem para as suas próprias.

A oferta, a seu modo, era encantadoramente pura; o garoto não tinha mais ilusões a perder e, aparentemente, não desejava nenhuma. Abriu o zíper do jeans com a mão firme, sugerindo confiança, talvez experiência, ou talvez apenas a incapacidade de continuar se preocupando com insultos triviais. Snape teve inveja, pena, ódio e... pior. Um leve empurrão, um leve movimento com os quadris, e o jeans e as cuecas de Potter estavam aglomerados em seus joelhos, sua decência mal preservada pela larga camiseta branca sob as vestes de verão abertas. Ele tinha joelhos salientes.

- Você está desesperado, Potter. - Snape enfiou os polegares por baixo das vestes do garoto e afastou o tecido. - Isto é muito mais cativante do que qualquer outra coisa que já tenha tentado.

- Obrigado - respondeu Potter, sem rodeios. Deixou as vestes caírem e penderem-lhe dos pulsos, mantendo temporariamente as mãos ocupadas e não podendo fazer mais travessuras com elas. - Então vamos em frente.

- Que sedutor - disse Snape em voz arrastada, mas, na verdade, apreciava a franqueza. Nada de ilusões, nada de fingimentos. Nada de tolices. - Já pensou nas conseqüências? - Potter estremeceu diante daquelas palavras, faladas com suavidade e próximas ao ouvido. - Ou é por isso que está tão ansioso? Uma última regra que ainda não conseguiu quebrar?

- O que o faz pensar que nunca quebrei essa regra? - respondeu o garoto, empinando o queixo e fazendo com que seus rostos se aproximassem. - Pensei que já havia ultrapassado todos os limites. - Hálito junto a seu pescoço. - Segundo você. - Lábios se movendo pela clavícula. Potter estava pegando o ritmo, combinando aquela voz suave com beijos que mal se podiam sentir. Snape baixou a cabeça e tentou um beijo na boca, curioso para saber se a falta de jeito anterior se devera à pressa, e não à inexperiência. Seria bem fácil obter a informação de outra forma, mas, sem a adivinhação, sem o jogo, o que os mantinha ali?

O sabor de mel era agora mais difícil de perceber, mas um aprofundamento do beijo permitiu-lhe detectar hidromel no hálito de Potter. Então ele estava mesmo embriagado - mas qual dos alunos de EFBEs que haviam sobrevivido faria diferente, naquela noite, e manteria o respeito próprio? Potter não estava nem cambaleando nem arrastando as palavras, então Snape considerou-o um leve caso de celebração pós-exame e agarrou-o com vontade.

- Veio aqui para me seduzir, então? - Podia ouvir o desejo em sua própria voz; quase se esquecera da sensação, do ritmo da sedução, negociação e persuasão. O padrão em si era excitante; a realidade nua de um jovem em seus braços era ainda mais. - Apesar de tudo?

- Por causa de - arquejou Potter, contorcendo-se até que suas vestes caíssem ao chão e libertassem suas mãos. Então as estendeu até o pescoço de Snape, puxando-o para baixo de novo, insistente. - Por causa de tudo. Porque eu posso. Isso tem importância?

O próximo beijo teve sabor de paixão enquanto o ritmo era buscado e encontrado, agarrado e abraçado. Se o ódio mútuo pudesse se cancelar a si próprio, deixar um espaço em branco para algo novo crescer, então, com certeza, eles o haviam conseguido. Se ambos estavam igualmente preparados para sangrar, para sofrer e para morrer, então estavam preparados para aquilo também. Mereciam-no, quase; uma recompensa egoísta, particular. Sem falar que aquilo era fantástico, incrível.

Empurrou Potter novamente contra o balcão, fazendo garrafas e frascos vibrarem com a força do movimento.

- Está na hora de você aprender as conseqüências de suas ações - disse Snape comprimindo-o com o corpo e com vontade, provocando-o, só para senti-lo revidar. Quando em estado normal, Potter teria tido uma resposta pronta; no estado em que se encontrava, o garoto apenas grunhiu algo obsceno e apertou a ereção contra a coxa de Snape, agarrando-lhe os cotovelos em um convite para trazê-lo mais para perto. Aquilo, ao que parecia, era a idéia de êxtase para Harry Potter. As pessoas morriam em massa e aqueles que permaneciam buscavam o calor mais próximo e o corpo disponível para provar que ainda estavam vivos. Eram assim as coisas, e Snape pretendia dar a Potter algo inesquecível.

- Céus, você é muito lento - resmungou Potter, abrindo os olhos com evidente relutância, mas sem conseguir abrir os dentes. - Eu podia ter dormido com a metade da escola esta noite, não podia? - Forçou a mão direita entre seus corpos e começou a desabotoar a braguilha de Snape. - Estou aqui. Para você. Porque eu quero você. - Um botão rendia-se a cada som de esforço e rasgo e, quando Potter ficou sem palavras, estava com a mão cerrada um tanto firmemente demais em torno do pênis em rápida ereção de Snape. Aquilo teve o efeito claro de minar a anterior e no mínimo semi-sincera ameaça de Snape de matá-lo da próxima vez que se atrevesse. O aluno há muito superara o professor, mas estava, pelo menos, compensando isso com uma punheta extremamente desfrutável. Snape criou um pouco mais de espaço para movimento entre seus corpos e se inclinou, deixando Potter comprimir a face contra a sua e segurar-lhe a nuca. - Me mata, então - sussurrou Potter, entre leves carícias com a ponta do dedo e fortes apertos contra sua coxa.

- Depois - murmurou Snape. Potter passara todo o tempo de escola tomando liberdades extraordinárias; dificilmente algo, exceto estrangulá-lo até a morte, mudaria isso. Com as calças sendo empurradas coxas abaixo e mãos quentes segurando-lhe firmemente as nádegas, o tempo para a vingança parecia esgotado. Testando as águas com outro beijo, Potter emitiu um som de aprovação e imprimiu um ritmo firme; mãos e lábios e dentes e língua, todos dando e exigindo ao mesmo tempo. De modo geral, aquilo era bem melhor do que todos aqueles anos de celibato forçado.

Potter, por outro lado, parecia ter tido tudo menos celibato. Sem dúvida havia se envolvido com metade do Exército de Dumbledore - era fácil adivinhar qual metade; o jovem manobrava o corpo com cruel eficiência, fazendo só o bastante para desejo crescer, e muito pouco para satisfazer. Só quando Potter enfiou um dedo a seco em seu traseiro Snape se perguntou (com os olhos úmidos, o pênis ávido contra a pele quente da barriga de Potter) se ele estava falando sério quando dissera que já havia quebrado aquela regra antes. A série de palavrões ditos por Snape fizeram apenas com que Potter risse em seu ouvido. O dedo foi torcido cruelmente e então retirado.

- Você tem a sutileza de um bando de Trolls em debandada - grunhiu Snape. - Vire-se.

- Não posso. - Potter chocou-se de leve contra ele, com um ar sonhador. -As calças. Não consigo me mexer.

E, antes que Snape conseguisse analisar a logística da situação, Potter plantou ambas as mãos atrás dele, sobre o balcão, e saltou para se empoleirar na beirada. Mexeu os pés, possivelmente tentando atrair a atenção de Snape para a massa de brim que lhe prendia os tornozelos um ao outro, mas Snape estava mais inclinado a notar as coxas pálidas, firmes, o padrão bem ordenado dos negros pêlos púbicos e o pênis garboso, escurecido pelo sangue, de Potter. O estômago de Snape pareceu se contrair até o fundo e a boca secou; duas reações que ninguém extraía dele desde... desde... bem, desde que ele tinha a idade de Potter. Devia ser embaraçoso mas, na verdade, era excitante. Então Potter segurou o próprio pênis na mão, quase em um gesto distraído, expondo momentaneamente a carne brilhante sob o prepúcio, e Snape percebeu que esquecera as palavras de sua própria língua. Em silêncio, para o caso de Potter descobrir essa sua incapacidade, Snape se inclinou para cuidar dos sapatos esportivos Muggle extralargos que impediam o jeans de Potter de sair de cena. Assim que levou as mãos aos laços, contudo, Potter colocou uma das mãos sobre sua cabeça, tomou impulso, agarrou um punhado de cabelos e simplesmente tirou um dos sapatos com os dedos dos pés. Cruzou os pés e repetiu o gesto com o outro sapato. Remexeu os dedos em suas meias fedidas, depois chutou o jeans e a cueca para o chão.

- Melhor assim - falou.

E, em vez de deixar que Snape se aprumasse e o fuzilasse com os olhos, sussurrou:

- Gosto quando me chupam. - Snape se aprumou e fuzilou-o com os olhos, ignorando a mão que, em resultado, lhe puxava os cabelos. - E retribuo na mesma moeda. Esse sempre foi o meu lema. Você já devia saber. - O pequeno sorriso de Potter só podia ser descrito como perverso. Lambeu os lábios, primeiro o de cima, depois o de baixo, e segurou o pênis outra vez. Apertou uma vez, duas... O olhar de Snape parecia ser atraído para lá, como que por um Imperius. - Não? Com a mão, então.

Oh, sim. Isso ele estava disposto a fazer. Potter abriu as pernas e passou os braços ao redor do pescoço de Snape, acertando o ângulo para um beijo. Snape tomou o membro de Potter na mão, copiando o gesto que vira um instante atrás. O gemido em resposta fez com que o beijo congelasse por um momento e, depois, os lábios vibrassem. Potter o abraçou e o beijou com mais força, usando os pés para empurrar as calças de Snape ainda mais para baixo. Outro gemido quando as pernas nuas de Potter deslizaram sobre as coxas nuas de Snape, notou Snape, com uma leve surpresa. Nunca pensara ou sonhara que Potter pudesse ser do tipo que faz barulhos...

Rápido, antes que o pensamento chegasse sequer a se formar, Snape deu um jeito de distraí-lo.

- Ai! Isso não é a droga da sua varinha! - arquejou Potter, entre indignado e excitado, e Snape afrouxou o aperto, sorrindo de um jeito sinistro. Havia formas de manter o pirralho fora de seus pensamentos, então. Potter amoleceu, aliviado, assim que a pressão diminuiu, parecendo não ter percebido a auto-revelação abrupta, para não dizer perturbadora, do professor. Bom.

- Você disse que eu podia machucar você - lembrou-lhe Snape, usando de seu tom mais baixo e suave. Já vira aquele tom fazer Potter ficar arrepiado (ou estremecer, pelo menos) no passado e agora também não falhara. Era muito bom sentir o corpo de Potter tremer contra o seu. - Ou seria apenas pelo efeito dramático? - Apertou e puxou com um cuidado sensual, forçando Potter a conter a respiração e ofegar para se recuperar.

- Você fala... mais do que... Hermione - Potter conseguiu dizer, por entre carícias e respirações ofegantes. O lábio de Snape se curvou em leve desagrado diante da comparação, sem falar do contexto, mas ele estava ocupado demais para fazer alguma observação. Potter se projetou para a frente, usando braços e pernas, e deslizou perversamente pela frente de Snape antes de ficar em pé e dar-lhe um leve empurrão para trás. Meias e camiseta, faces reluzentes e olhos ainda mais reluzentes; o pênis esguio se projetando em uma saudação desavergonhada ao prazer. Parecia devasso, poderoso, tentador e ridiculamente baixo. - Posso me virar, agora.

Mas não o fez.

Os dedos de Snape se moveram em tentação, acariciando de leve a frente do membro de Potter, depois descendo pelo lado. Sua apreciação do calor e textura foi completamente obliterada pelo deleite de fazer Harry Potter gemer. Tombando contra o balcão, obviamente com os joelhos bambos, Potter lambeu os lábios de novo e fixou os olhos na mão de Snape, agora descansando na quase delicada curva de seus quadris. Estava ofegante, excitado, e isso fazia com que Snape se sentisse não muito diferente de um deus.

- Enfie os dedos em mim - murmurou Potter, despejando as palavras. Sua voz se elevara em uma oitava. - Com força.

- Comporte-se, Potter - disse Snape, encontrando sua voz mais sedosa e com um toque de ameaça. Os olhos verdes encontraram os seus, arregalados por um segundo, depois se escurecendo de desejo impotente.

- Por favor - disse Potter, em calma forçada. - Por favor, faça isso. E me chame de Harry.

- Não estamos no estágio de nos tratar pelo primeiro nome - informou-lhe Snape, mas não pôde evitar que um leve sorriso arruinasse o escárnio. - Ainda.

Ofegando em busca de ar, Potter conseguiu dar um riso contido.

- Vou ter de perguntar a Draco sobre isso.

- Draco teve a honra de ter a minha companhia no momento de seu batismo - informou-lhe Snape, com desenvoltura. - Com certeza não fui convidado para o seu.

Desencorajou uma resposta com um leve e agudo tapa na parte externa da coxa do garoto. Para seu profundo deleite, Potter quase gozou. Snape segurou-o pela cintura e o virou para o balcão, as prateleiras de frascos, a enguia semicortada sobre a tábua de mármore. Credite-se a seu favor que Potter nem sequer estremeceu; apenas fincou os pés no chão e agarrou a borda do balcão, esperando.

- Admiro o aspecto prático, sr. Potter - disse Snape, descendo a ponta do dedo pela espinha de Potter e vendo suas nádegas se comprimirem em resposta. - Vamos como você se sai nesse aspecto. Encontre-me uma substância adequada.

- Uma o quê? - resmungou Potter, em voz fraca, mas com os olhos já se erguendo para a prateleira de ingredientes, antídotos e remédios. Snape insinuou um dedo por entre as nádegas e o sentiu ficar tenso, depois relaxar quando, enfim, compreendeu.

- Eu não vim para ter nenhuma maldita aula, senhor - acrescentou Potter, com atraso, enquanto a unha de Snape atingia a pele delicada com um pouco de força demais.

Snape inclinou-se às suas costas, quase se deixando tocar o calor do garoto.

- Não? - perguntou ele, os lábios junto ao ouvido direito de Potter, e Potter tremeu. - Parece que você veio sem os meios para atingir o objetivo. Despreparado. Isso não é do seu feitio, Potter.

- Daqui a pouco você vai me dar nota - disse o garoto, por entre dentes cerrados. - Eu estava pensando com o meu pau. Se quer alguém preparado, fique com Hermione. Ela é Muggle a esse ponto. Você quer alguém sensato ou um idiota implorando para você entrar com tudo lá dentro? - Os dedos dele estavam ficando brancos no local onde agarrava o balcão, o corpo tremendo agora com uma mistura de raiva e desejo. Não era uma visão inédita; Snape se perguntava há quanto tempo Potter cultivara aquela fantasia tola e lisonjeira, e por que, mesmo quando suas tentativas rancorosas para dominar a mente um do outro haviam atingido níveis perigosos, ele jamais notara aquele desejo inflamado no lado extremo da raiva.

Tão brilhante que nos cega.

Fora Potter quem primeiro dominara o truque de tecer um novo pensamento mútuo. O poder não era apenas dele, não de todo, mas o domínio pertencia inteiramente a Potter. Ele jamais demonstrara o menor respeito pelas regras; nem da escola, nem da magia, nem do próprio universo. Tempo, mentes e a própria morte; ele trapaceara com todos eles para seguir seu próprio caminho. Arrogante. Arrogante. Brilhante, de uma forma oblíqua. Snape enfiou a ponta do dedo entre suas nádegas só para quebrar-lhe a concentração. Funcionou melhor do que um feitiço.

- Ai! Oh, au, ohhhh... - Potter ofegou, contorcendo-se, virando os quadris para o lado dos armários, mas tomando muito cuidado para não desalojar o dedo. Suas peripécias no Quadribol pareciam tê-lo deixado flexível. - Oh, assim...

Absorto em seu próprio prazer, Potter com certeza não se lembrava de como soletrar "Legilimência", quanto mais de quebrar as suas regras e atormentar o professor sem a varinha, um esforço visível ou mesmo um "com licença". Razão suficiente, sentiu Snape, para mantê-lo naquela condição pelo maior tempo possível. Moveu o dedo de leve, como no gesto de chamar alguém, e Potter se ergueu na ponta dos pés, sibilando por entre os dentes.

- Pare de embromar - ele conseguiu dizer, após um instante e, devagar, afundou outra vez. Ele era mesmo impressionantemente apertado, segundo a experiência bastante limitada de Snape; cerrava-se ao redor do dedo de Snape com um vigor perverso. Snape encontrou seu sorriso mais sórdido e sentiu pena de que Potter não o pudesse ver. - Você deixou marcas no meu braço, da primeira vez que tocou em mim - disse Potter, em voz baixa, e Snape sentiu algo ceder. Em si ou em Potter, era difícil dizer. - Vou poder sentir você durante dias.

Potter soltou a beirada do balcão e se inclinou sobre ele, dobrando os braços à sua frente, então aninhando a cabeça ali. Faces coradas e cabelos negros revoltos. Suspirou profundamente quando Snape retirou o dedo e desceu pela espinha de Potter com a parte de trás da mão. Snape enfiou a mesma mão por baixo da camiseta colada ao corpo e a distendeu completamente lá dentro, pressionando, sentindo o martelar do coração de Potter.

- Accio Bálsamo Tranqüilizante - disse Snape em voz baixa, e uma garrafa fina, de vidro azul, pôs-se a caminho vinda dos fundos da mais distante prateleira, chegando depois à sua mão estendida. - O que eu estou segurando, Potter?

- Uma base - respondeu Potter, em tom distante - usada para fazer um bálsamo para ajudar a curar machucados não-mágicos.

- Tais como?

- Torções. Contusões. Câimbras musculares. Dores nas costas. - Um sorrisinho irônico substituiu a careta de desejo de Potter. - Vou ganhar um "Ótimo", desse jeito.

Desta vez Snape não mordeu a isca. Encheu a palma com Bálsamo Tranqüilizante e cheirou-o profundamente. Os ingredientes mágicos acrescentados à base para tratar os vários ferimentos tendiam a estragar a leve fragrância de ervas e acrescentar uma viscosidade menos agradável ao bálsamo. Em sua forma pura, todavia, o Bálsamo Tranqüilizante auxiliara o prazer de gerações de alunos de EFBEs. Era perfeito. Era também gelado, e Potter deu um gritinho quando Snape tascou um punhado sobre sua fenda e começou a espalhá-lo por dentro. Logo Potter estava se contorcendo nos ares outra vez, e Snape pôde ver seus punhos se cerrando cada vez mais forte, acompanhando as contorções das coxas e do traseiro.

Negligenciado e, no entanto aparentemente impressionado com a atuação de Potter, o pênis de Snape permanecia preguiçosamente a meio mastro; uma lenta carícia com o bálsamo remanescente trouxe uma nova onda de prazer, e Snape se acariciou outra vez, sem pressa, enquanto atormentava Potter com uma firme massagem entre as nádegas. As sensações duplas,escorregadias, eram altamente complementares, descobriu ele; prazer na mão, prazer na virilha e a satisfação de ver, ainda que brevemente, Potter sendo totalmente submisso.

- Quero sentir você durante dias - sussurrou Potter, impelindo-se contra os longos dedos de Snape. Vendo seu rosto, Snape não pôde deixar de notar uma certa falta de convicção por trás da declaração. A descuidada, melhor ainda, irrefletida bravura de Gryffindor.

- A não ser que deseje reviver seus gritos a cada vez que se senta durante a próxima semana - disse Snape em voz arrastada, dando a Potter duas pontas de dedo lubrificadas quando ele parou para respirar -, sugiro que se contente com a memória.

Potter empalideceu levemente e virou a cabeça, ocultando o rosto nos braços dobrados, e não restara nenhum sinal de lânguida submissão nele. Snape empurrou os dedos mais fundo, a outra mão indo para os quadris de Potter para mantê-lo imóvel, seu pênis roçando na parte de trás de uma coxa firme, e foi recompensado com um longo e ruidoso estremecimento. Meio em prazer, meio em terror.

- Você é virgem, Potter. - Potter apenas cerrou os punhos de novo, provavelmente com força o bastante para se fazer sangrar com as unhas, e emitiu um som indecoroso, próximo a um guincho. - Então vai achar isto muito, muito interessante. - A ênfase na última palavra provocou outro estremecimento sob suas mãos. Gratificante. - Talvez você aprenda a ser mais cuidadoso com o que deseja. - Dizendo isso, Snape soltou-o e inclinou-se para remover os seus próprios sapatos e calças emaranhados, deixando Potter com o traseiro no ar e os ombros se erguendo a cada respiração. Snape não tirou a camisa desabotoada; parecia justo, já que a camiseta de Potter ocultava o pior de seu corpo magro. Cutucando os pés de Potter com os seus para separá-los mais, Snape comprimiu-se firmemente contra o traseiro do garoto e, com um movimento vagaroso dos quadris, deixou que Potter sentisse o que o esperava. Escorregadio e duro, contra a junção interna da coxa. Potter arquejou, erguendo a cabeça e movendo as mãos de leve, preparando-se. Snape despejou mais Bálsamo entre eles, desfrutando das gotas frias e escorregadias sobre a pele e a antecipação da pele escorregando sobre a de Potter. - Eu o avisei várias vezes sobre contato visual e proximidade - falou Snape, posicionando-se, uma das mãos comprimindo a cabeça de seu pênis, guiando; a outra agarrando o balcão com firmeza. - O que você acha que conseguirá fazer desse ângulo? - E, quando Potter exalou para dar lugar para mais um arquejo, ele o penetrou.

A inicial falta de resistência consciente ajudou a suavizar a transição, mas Potter deu um grito de dor, ainda assim. Enquanto protegia sua mente, Snape penetrou uma fração mais fundo; quando ele resistiu àquela intrusão, Snape testou as barreiras menos tangíveis de sua mente. Em combinação, aquilo transformou Potter em uma massa de gemidos e contorções, que logo perdeu o ritmo da batalha e acabou entregue às mãos de Snape. Seu corpo relaxou enquanto processava a intrusão em seus pensamentos; os pensamentos relaxaram enquanto o corpo sucumbia aos primeiros sinais desse novo prazer por baixo da dor e da pressão. Potter riu, soluçou e xingou; Snape sorriu, desfrutando de cada momento de contração sufocante e resistência instintiva até que Potter relaxou para juntar-se a ele, destruindo-lhe a concentração com a mais forte onda de prazer até então. Ele havia esquecido... Como podia ter esquecido...? Moveu-se, abandonando o ataque à mente de Potter para se concentrar em seu próprio corpo; no prazer e em fazê-lo durar. Ele havia esquecido - havia se convencido de que o desejo por aquilo era mera fraqueza, algo muito inferior a ele próprio - agora Potter, embaixo dele, os joelhos batendo ruidosamente contra os armários a cada estocada por trás... Uma escuridão nebulosa começou a se insinuar na visão de Snape e ele fechou os olhos, sem querer se render tão cedo, justo quando Potter começara a tremer com o esforço de suportar seu peso sobre o topo do balcão; justo quando os grunhidos e arfadas de desconforto haviam começado a se transformar em profundos, sinceros gemidos de prazer, a camiseta aderindo ao corpo suado e tenso de Potter... Snape agarrou a coxa direita de Potter, forçando-o a ficar imóvel para um profundo mergulho, as unhas cravando-se na carne. A sensação perfeita durou por um instante que pareceu se prolongar indefinidamente, então ele penetrou com mais força ainda, esmagando Potter contra o balcão, e gozou. Sentiu como se fosse o primeiro momento de verdadeiro prazer em toda a vida.

Em toda a vida de Harry Potter.

Ficou de joelhos bambos, irradiando calor úmido e triunfo por cada poro e ofegando junto à nuca e os cabelos negros de Potter. Potter emitiu um som de frustração, quase um rosnado, e tirou a mão direita do balcão, envolvendo o pênis e bombeando, ao acaso; Snape abriu os olhos, só o bastante para ver o ombro de Potter se mover, e deu um jeito de retirar o pênis flácido do traseiro de Potter e roçar-se provocantemente contra ele, enquanto os movimentos se aceleravam. Com o quase universal talento de um garoto de dormitório escolar, Potter conseguiu não fazer ruídos muito altos ao gozar; apenas inspirou o ar profunda e entrecortadamente, segurou-o com os lábios pressionados com firmeza contra qualquer explosão de som, e soltou a respiração de novo quando seus discretos espasmos se aquietaram. Snape se perguntou quanto barulho ele seria capaz de fazer, uma vez que aquele hábito fosse quebrado, e como isso seria excitante.

- Não se mexa - murmurou Potter, segurando, com a mão pegajosa de sêmen, os dedos de Snape, que ainda lhe agarravam a coxa. - Só por um minuto.

- Logo você vai se sentir desconfortável, Potter. Sugiro que se recomponha. - Snape sorriu, mas não teve forças para acrescentar nada sarcástico. Sentia-se bem. Vibrante. Vivo. E como se houvesse dado a volta por cima no outro Potter, que iria se virar no túmulo se soubesse que seu filho e herdeiro gostava de dar. Exatamente como o velho 'Ranhoso' Snape.

- Nada de nos tratarmos pelo primeiro nome ainda, então? - Potter ficou em pé, deixando uma encantadora mão de sêmen frio impressa na mesa de trabalho outrora estéril de Snape. Parecia zonzo e fraco, e relaxado como Snape jamais o vira. Na verdade, ele parecia exatamente como alguém que havia dado uma boa trepada. Ficava bem nele, de verdade.

- Quando descobriu minha lembrança de seu pai interrompendo... - a voz de Snape se esvaiu quando Potter se virou, sua expressão estranhamente inocente. Vulnerável. Que Deus os ajudasse; Potter, na verdade, não sabia de que pensamento enterrado em sua memória ele estava falando.

- Interrompendo o quê? - perguntou Potter, movendo-se com cautela e, a se julgar pelo leve estremecimento, sentindo as primeiras pontadas do prometido desconforto ao se inclinar para se vestir. - Ainda acha que estou só jogando, querendo zonear com a sua cabeça? Ainda acha isso agora? - Ele parecia querer soar zangado; em vez disso, apenas soava atônito. E jovem. Enfiou as pernas dentro das cuecas e as puxou para cima, deixando Snape se sentindo absurdo em sua relativa nudez. -Você não existe, Snape. Era com ele que você estava trepando então, e não comigo? Porque eu senti que você estava gostando. - Potter pareceu surpreso com seu próprio veneno, por um segundo. Snape também, aliás. Então Potter deu-lhe as costas, puxou o jeans para cima e fechou o zíper rápido o bastante para correr o risco de um desastre. Não se preocupou em fechar o botão; enfiou os pés nos sapatos e as meias nos bolsos. Deu dois passos na direção de suas vestes e parou, estremecendo de novo. - Eu sou um idiota.

- Não vou contradizê-lo - disse Snape, cobrindo a si próprio com suas vestes e dobrando os braços para mantê-las fechadas junto a seu corpo. - Entretanto, eu... - A garganta cerrou-se àquelas palavras, como em um Feitiço Estrangulante. Potter voltou-se para ele, como que lhe enviando uma espécie de aviso com os olhos. Snape se aprumou, postando-se com toda a dignidade de que era capaz, vestido como estava. - Peço desculpas por ter mencionado seu pai.

- Por que fez isso? - retrucou Potter, não abrandado pelo mais raro dos pedidos de desculpas. Snape não se lembrava de ter pedido desculpas sinceramente desde... Bem, fazia quase tanto tempo quanto a última vez que tivera uma boa trepada. O garoto devia estar lisonjeado.

- Se você voltar depois que os alunos estiverem todos na cama, eu lhe conto.

Um interesse desconfiado substituiu o duro olhar de suspeita no rosto de Potter.

- Voltar?

- Se desejar. - Snape olhou para seu trabalho sobre o balcão, cuidando de parecer indiferente e se perguntando se a enguia havia se estragado. Potter, Harry Potter, dificilmente poderia ser forçado a fazer qualquer coisa. Mas quando ele fazia uma escolha, no seu próprio tempo e do seu próprio jeito...

- Eu... ai. - Harry respirou fundo, em parte devido à surpresa e provavelmente em parte devido à dor, e Snape deu um sorriso irônico. - Você tem razão. É melhor eu ir. - Snape assentiu, recusando-se a olhar para trás para ver quão bem o garoto ainda conseguia andar. - Vejo você depois, então - disse Harry, com um tom de esperança surpresa.

E enquanto Harry se arrastava com cuidado rumo à porta e fazia a chave de bronze ranger na fechadura, Snape sorriu

 

Fim


O original desta história, em inglês, Recognition, pode ser lido aqui.