Sem Defesas

 

Como Severus tinha sono leve e não estava acostumado a dividir a cama com ninguém, acordou diversas vezes durante a noite.

Todas as vezes se surpreendia e maravilhava quando percebia que era mesmo verdade, que aquele cheiro agridoce vinha da pele suada do garoto. Que Harry estava mesmo a seu lado. Todas as vezes, Severus passava o braço ao redor do corpo de Harry, para ter certeza de que ele estaria ali na próxima vez que acordasse.

Será que poderia confiar no garoto? Harry dissera que o amava. Mas ele tinha só dezessete anos. Severus sabia bem como as emoções são volúveis nessa idade. Vira, aliás, como os sentimentos de Harry em relação a ele haviam mudado radicalmente em poucas semanas. Talvez naquele mês em que haviam estado separados Harry houvesse percebido o erro que estava cometendo. Ou talvez tivesse sido a iminência da morte de Severus.

Ter visto a morte olhos nos olhos mudara Severus também. Se não fosse por aquele momento em que achara que sua vida chegara ao fim, ele não teria aceito Harry novamente em sua cama.

Não iria durar. Mas Severus nunca achara que fosse. Afinal, não fora o puro desejo sexual que os aproximara? Que ironia! Da parte dele mesmo, era difícil dizer. A verdade é que seus sentimentos por aquele garoto sempre haviam sido intensos e inexplicáveis. E quando Harry começara a olhar para ele com olhos de desejo, fora como se as comportas de uma represa se abrissem, e Severus fora arrastado pela força de sentimentos ainda inexplicáveis e cada vez mais intensos.

A partir daí, quanto mais Harry o rejeitava, mais Severus queria conquistá-lo, provar-lhe que sexo podia não ser "apenas sexo". Aquilo se tornara uma obsessão para ele.

Houve um momento, no entanto, em que a humilhação fora tanta que Severus tivera de mandá-lo embora. Era isso ou a destruição completa de seu amor próprio.

Assim que a porta se fechara atrás do garoto, Severus se vira em um mundo ainda mais negro do que o habitual. Tentara se concentrar em sua rotina, mas a depressão o vencera. Tornara-se distraído - um defeito fatal em um espião. Fora aí que o Lord das Trevas captara algo em sua mente e tivera certeza de que era traído. Quando Severus se vira à mercê do Lord das Trevas, sabendo que não sairia vivo dali, fora a imagem de Harry que lhe viera à mente. Para protegê-lo, uma vez mais, Severus fechara sua mente.

Contra todas as expectativas, Severus acordara e lá estava Harry, ao lado de seu leito na ala hospitalar, confessando-lhe eterno amor. Severus sabia que era uma ilusão. Mas que aquele garoto em especial escolhesse a ele como alvo de suas ilusões, ah, isso fazia o coração de Severus disparar, e dava-lhe vertigens.

Severus sentiu-se como alguém a quem é dado uma nova chance de vida, e a última coisa que faria seria desperdiçá-la. Queria Harry, e iria lutar por ele.

A noite anterior havia sido algo além de tudo o que Severus esperara. Durante todas aquelas semanas em que haviam feito sexo, "apenas sexo", Severus havia desejado muito mostrar a Harry que podia ser diferente. Mas ele mesmo jamais havia experimentado algo como a noite anterior. Ele havia tido amantes. Alguns haviam até lhe dado prazer. Mas não com aquele ímpeto, aquela entrega de Harry. Agora Severus via que, aquilo que estava tentando mostrar a Harry, ele mesmo jamais experimentara, e só fora conhecê-lo junto ao próprio Harry.

Harry se mexeu em seus braços e abriu os olhos, fitando-o com espanto. Então sorriu, e seus braços cerraram-se ao redor de Severus.

- Severus... Faça amor comigo - disse Harry, pressionando a ereção contra suas coxas.

Severus enterrou o nariz no pescoço do garoto e começou a mordiscar-lhe o lóbulo da orelha. Ele também já estava duro. Já conhecia bem o corpo do garoto, o modo como respondia ao seu, mas agora era diferente. Os lábios de Severus traçaram padrões aleatórios ao longo do pescoço de Harry. O garoto gemeu e reclinou a cabeça para trás. Severus foi descendo pelo seu corpo, sentindo os músculos flexíveis ficarem tensos; deteve-se mais longamente para envolver um mamilo com a língua, depois chupá-lo, roçando os dentes sobre ele de leve enquanto os dedos da outra mão brincavam com o outro mamilo. Cada costela, cada centímetro de pele recebeu um beijo. Os olhos de Severus se fecharam ao depositar um trilho de beijos reverentes do umbigo aos pêlos púbicos. Erguendo o rosto, Severus viu o rubor subir ao rosto de Harry.

Tateando com a mão sobre a mesa de escrivaninha, pegou o lubrificante que ele mesmo preparara, alguns meses atrás, especialmente para aplicar em Harry. A idéia de que Harry jamais fizera amor de verdade fazia com que seu coração se contraísse de desejo. Preparou Harry com os dedos, devagar e com delicadeza, depois se alojou entre suas pernas. Viu Harry fechar os olhos e inalar profundamente quando o penetrou em um único movimento suave.

Pela primeira vez, eles fizeram amor frente a frente. Severus o penetrou e ficou parado dentro dele, túrgido e palpitante, até que Harry tomasse a iniciativa de se mover. Só então Severus respondeu, começando a ritmar os movimentos. Harry respondeu indo de encontro a Severus com a mesma paixão com que Severus o penetrava. Eles se uniam e separavam - ávidos, ofegantes - em uma dança cheia de sedução e posse. Ao mesmo tempo em que dava e recebia, uma parte de Severus parecia assistir ao que acontecia, surpreso e maravilhado. Harry gemia de prazer, e seu corpo estava coberto de suor. Ele era tão bonito, tão cheio de vida, e se entregava de modo tão completo. Severus estava agora todo dentro dele, e era o paraíso. Entremeou seus dedos aos de Harry, querendo buscar ainda mais pontos de contato entre seus corpos. Harry se contorcia e arqueava sob ele.

Severus gostaria de pensar que aquilo iria durar longos, intermináveis minutos, mas os dois estavam excitados demais para isso. Com o tempo talvez eles aprendessem a prolongar aqueles instantes, a se controlar, mas não agora que estavam, enfim, conhecendo um ao outro intimamente.

- Oh, Deus - murmurou Harry, com a voz rouca e densa de desejo. - Por favor.

Severus se inclinou para a frente e fez com que seus ventres roçassem um contra o outro. Quando Severus sentiu Harry estremecer, seu próprio pênis pulsou. Severus quis preencher Harry por completo, quis que gozassem juntos daquela vez. Severus continuou impulsionando-se contra Harry, segurando-lhe a mão com força, como que para manter-se ancorado a ele. Harry gemeu seu nome e arqueou o corpo, e um espasmo percorreu o corpo de Severus. Enquanto o clímax o sorvia inexoravelmente, Severus puxou todo o corpo de Harry contra si, querendo levá-lo consigo.

Quando os espasmos cessaram, Severus tocou o rosto de Harry com dedos trêmulos, como que para confirmar que não era uma ilusão.

Depois Severus rolou de cima de Harry e deitou-se a seu lado, um braço possessivo enlaçando-lhe a cintura.

- Você precisa ir. Se quiser tomar um banho antes...

- Não, já é tarde - disse Harry. - Um feitiço de limpeza vai ter que bastar até eu chegar à torre de Gryffindor com minha capa. Lá eu tomo banho antes que as aulas comecem. E você... descanse.

Severus deu um sorriso irônico.

- Obviamente. São as ordens do Diretor, e eu sempre obedeço ao Diretor. - Então Severus fixou seus olhos nos de Harry. - Esta noite...

- Eu venho para cá. Não se preocupe.

- Não prometa nada. Você não sabe o que pode acontecer. É preciso ter cuidado.

- Eu terei cuidado, Severus, e virei. Eu virei sempre.

Sempre. Severus puxou o incorrigível Gryffindor para um último beijo apaixonado. Se Harry era uma ilusão, ele iria ser a sua ruína, porque Severus não tinha defesas contra ele.

Fim

 

Fanfiction (Índice das Histórias)
HOME

 

Ptyx, Março/2005