Schola Obscura

 

Epílogo

 

Na sexta-feira à tardinha, Harry reviveu cada momento que havia compartilhado com Severus, desde que haviam aparatado no Huerto de Calixto y Melibea até seu último beijo na casa de Parejo. O desejo de rever Severus se mesclava ao medo de que o reencontro se revelasse uma decepção e que eles percebessem que o eles haviam vivido na semana anterior havia sido uma ilusão.

Mas assim que Harry aparatou no quarto de Severus na Pousada del Clavero, aquelas preocupações e medo se dissolveram em puro tesão. Com o desejo de uma semana acumulado, sua transa foi rápida e intensa.

Só depois Harry contou a Severus sua semana no Ministério, desde o momento em que contara a Robards sobre os Neo-Walpurgians e a reação absolutamente frenética de Robards até o ataque ao quartel-general do desprevenido grupo de Bruxos das Trevas. Os pobres Neo-Walpurgians não haviam tido a menor chance.

Não sem certos temores, Harry informou a Severus que eles dois iriam receber a Ordem de Merlin, Primeira Classe, por sua contribuição à captura do "perigoso grupo de Bruxos das Trevas".

Severus só faltou soltar fumaça pela boca.

- Você deve estar brincando. Isso é o mais completo absurdo. Não vou participar desse circo.

- Escute, Severus, eu concordo totalmente com você. Mas precisamos pensar na Schola Obscura. Você mesmo me disse que precisamos convencer a opinião pública de que a Schola Obscura não é uma ameaça. Bem, se você se recusar a receber a medalha, ou se for receber e cuspir nela, isso não vai ser bom para a sua imagem.

Severus meneou a cabeça e ficou em silêncio por um minuto. Então fez uma careta para Harry.

- Criei um monstro. Você costumava ser um Gryffindor tão amável e ingênuo... Agora está aprendendo a ser maquiavélico.

- Isso quer dizer que você irá receber a medalha?

- Eu tenho alguma alternativa?

Harry sacudiu a cabeça.

- Foi o que pensei - rosnou Severus.

Uma mudança de assunto era urgente.

- Você ainda não me contou nada da sua semana.

- Oh, alunos são iguais em toda a parte. O mesmo bando de imbecis.

Harry riu.

- Você vai ter de ir lá esta noite?

- Não. Dou aulas apenas na terça e na quinta. Clavero também espera que eu os ajude em suas pesquisas, e me autorizou a trabalhar em poções na Cueva. Como eu posso aparatar, Clavero me deu permissão para entrar na Cueva sempre que eu quiser. Diante disso, estabeleci um horário que me permite ter folga todas as sextas-feiras à noite, além do fim de semana. Temos quinze alunos. Eu vou ensinar-lhes todos os fundamentos de nossa magia.

- De todas as matérias?

- As mais importantes: Poções, Feitiços, Transfiguração e algumas noções de Defesa contra as Artes das Trevas. Eles, por sua vez, possuem uma habilidade notável em Adivinhação, Legilimência e Controle Mental.

Enquanto Severus falava de sua semana na Schola Obscura, Harry notou o seu entusiasmo com o que estava fazendo, e o fascínio com o contato que estava tendo com novas formas de magia. E por trás daquela fachada de cinismo, Harry via o desejo de Severus de ser respeitado e admirado.

Quando terminaram de contar tudo o que havia acontecido durante a semana, Harry deu um presente a Severus: uma capa com botões charros, que ele havia comprado em uma loja perto da pousada alguns minutos atrás. Severus repreendeu-o por ter comprado algo tão caro, mas quando Severus vestiu a capa e foi olhar-se no espelho, seu contentamento era evidente.

- Tenho um presente para você, também - disse Severus, surpreendendo Harry. - Não é um presente caro como o seu, mas acho que você vai gostar.

Severus levou-o para o banheiro, onde havia preparado um banho aromático. À luz de velas, Harry entrou na banheira, e Severus jogou pétalas de rosa na água e sobre ele. Severus abriu uma garrafa de vinho tinto e serviu um copo para Harry, depois outro para si mesmo. Então Severus pendurou cuidadosamente a capa nova em um gancho e entrou na banheira junto com Harry.

Eles ficaram apenas descansando, durante longos minutos, relaxando e tocando um ao outro, no rosto, ombros, cabelos. Ao saírem do banho, Severus secou-o e esfregou-lhe o corpo com óleo de âmbar. Harry quis fazer o mesmo com Severus, e ele o deixou.

Harry se deitou na cama, e Severus massageou-lhe os ombros e as costas em longos, lentos movimentos.

- Respire fundo - sussurrou Severus.

Severus deitou-se em frente a Harry, e penetrou em sua mente com suavidade. Harry entregou-lhe todos os seus pensamentos, e brincou com os de Severus, sem pressa nem nenhum tipo de tensão. Era tão bom estar com Severus daquela forma.

- Sem ansiedades, sem exigências, sem preocupações - murmurou Severus. - Apenas sintonize sua mente à minha.

Eles começaram a tocar um ao outro, dedos se movendo em sintonia, sentindo o calor da pele em lentas carícias.

Harry se perdeu na dança dos corpos se tocando. Não sabia dizer se minutos haviam-se passado. Quando seus corpos se uniram, foi em um movimento espontâneo, intuitivo, como que sabendo exatamente o momento certo e a forma adequada de se mover.

A roda do tempo parou para que eles se unissem. Severus estava todo dentro dele, e ele tinha as pernas ao redor da cintura de Severus. Harry não precisava de mais nada. Não havia mais objetivos, apenas uma pulsação de energia crescendo dentro dele. Os limites desapareceram. Severus e ele eram um só.

O mundo se dissolvia em puro prazer. Eles eram um e dois ao mesmo tempo, no jogo cósmico de esconde-esconde em que se perdiam e se encontravam sucessivamente, ao embalo do movimento dos corpos.

Harry sentia o universo pulsar no âmago de seu ser, e se entregava totalmente a isso, e a seu parceiro.

- O que você está fazendo comigo, Severus?

- Nossos corpos são como caldeirões: todas as poções de que necessitamos estão dentro de nós. Nós temos poder sobre elas, mas elas, com seu delicado poder que flui pelas nossas veias...

-... enfeitiçam nossa mente, confundindo os sentidos... Já sei. Mmm... Nunca pensei que pudesse ser tão bom ter um amante que é Mestre em Poções. Gosto de ser o seu caldeirão. Gosto do modo como você mexe a sua espátula bem dentro de mim.

Um sorriso entre divertido e orgulhoso estampou-se nos lábios de Severus.

- As suas metáforas são desastrosas, mas não posso negar a química que existe entre nós. Nossos corpos se ajustam com perfeição. Antes eu achava que sexo tântrico mágico era uma técnica para dominar os outros. Parecia uma idéia fantástica, dominar o parceiro, controlar suas reações. Eu era um idiota. Na verdade, não é assim que funciona. A prática afeta os dois parceiros. - Severus inclinou-se e mordiscou o lóbulo da orelha de Harry. - Quando quiser gozar, me avise - sussurrou-lhe ao ouvido.

- Está bem. Oh, isso é muito gostoso... Acho que vou querer ficar assim para sempre, só sentindo você dentro de mim, trocando carinhos, beijos...

~*~*~

Enquanto isso...

Na portaria do hotel, o sr. Clavero conversava com o retrato do Marquês de Villena - que, aparentemente, era um retrato mágico disfarçado em pintura Muggle, por mais surpreendente que isso possa parecer.

- Severus está se adaptando muito bem ao nosso estilo de vida - comentou Clavero.

- Pois é, você tinha razão. Eu achei que ele fosse perigoso.

- Ele carrega muita culpa dentro de si. Mas ele vai superar isso tudo, com a ajuda da Cueva... e de seu jovem amante.

- Alejandro, você é uma serpente. De onde você tirou essa idéia de dar uma cama de casal para eles?

O sr. Clavero deu um sorriso travesso.

- Na verdade, no começo o meu plano era só ficar criando pequenos problemas para eles, para atrapalhá-los. Mas logo percebi que havia mais mistérios entre os dois do que a minha vã filosofia imaginava...

O Marquês acariciou seus longos bigodes.

- Você acha que Potter irá perdoar Snape algum dia?

- Ora, ele já perdoou. Ele só precisa perceber isso! Harry é um jovem é meio confuso. E Severus é uma pessoa complicada. Mas vai dar tudo certo, Enrique. Não se preocupe.

 

~Finis~

Notas:
1)Logo após os acontecimentos desta história, a Cova de Salamanca passou por um processo de restauração, e agora está aberta diariamente à visitação pública. Será que a Schola Obscura continuou aberta, apesar de todo esse interesse e agitação dos Muggles em torno do lugar? Eu acho que sim. Eu acho que a Cueva sempre esteve sob um tipo de Feitiço Fidelius, e tenho certeza de que Snape ensinou a eles todos os feitiços que pudessem ajudá-los a se manter ocultos. Aposto que eles ainda estão lá, e que tudo o que você precisa fazer para ver a Cueva e encontrar o señor Clavero e convencê-lo a deixar você entrar...
2) Quando encontrei a epígrafe perfeita para o Capítulo 3, eu já o havia postado. Será que uma história pode ter... hipógrafes? Seja como for, aqui vai:

Amor, por ninguém mais além de ti
Eu deixaria um sonho tão feliz.

(O Sonho, John Donne)

 

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Ptyx, Julho/ 2006