O Substituto

 

Não era permitido pelo Ministério, mas Severus fez questão de assistir ao filme "Harry Potter e a Pedra Filosofal", em Londres, logo na primeira semana. Quem era aquele Muggle que ia fazer o seu papel? Alan Rickman. Atraente, mas velho e rechonchudo, pelo que Severus vira nos cartazes. O que esses Muggles estavam pensando? E como o Ministério da Magia dera autorização para aquela tal de J. K. Rowling contar sua história e, pior, para os Muggles passarem naqueles seus ridículos cinemas?

Tudo fazia parte da nova política do Ministério da Magia, que estava vendendo a imagem dos magos para o mundo Muggle e, ao mesmo tempo, continuava impedindo os magos de se aproximarem deles. Severus começava a se arrepender de ter ajudado a derrotar Voldemort. Talvez ele estivesse certo a respeito da impossibilidade de convivência entre os dois mundos.

O filme começou, e ele se deixou envolver pela atmosfera. Não que aquilo tivesse alguma coisa a ver com a Hogwarts real e seus personagens. Mas não era de todo ruim.

Quando Alan entrou em cena, contudo, Severus sentiu um frio no estômago. E quando sua voz grave e sedosa ressoou pelo cinema, Severus estremeceu. Havia sido fisgado.

Ao final do filme, Severus retornou a Hogwarts e suas masmorras. Mas nunca mais esqueceu aquela voz.

~* ~* ~

Um ano depois, Severus foi ver "Harry Potter e a Câmara dos Segredos". Odiou o filme. Haviam cortado todas as cenas em que ele aparecia. A cena do duelo, é verdade, estava fenomenal. E, apesar de Alan não parecer muito bem no filme, fisicamente, o coração de Severus batia mais forte cada vez que o via.

~* ~* ~

Alguns meses depois - Alan estava trabalhando na gravação de um filme com Emma Thompson - Severus recebeu uma notícia que o deixou um pouco apreensivo: Harry Potter abandonara sua carreira como Auror e viria dar aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas em Hogwarts, substituindo, no meio do período, o professor Alexius Asperon, que sofrera um acidente fatal com um Quintaped na ilha de Drear, nos feriados de fim de ano.

Durante a guerra, desenvolvera-se entre Severus e Potter uma relação distante, mas respeitosa. No entanto, algo naquela volta deixava Severus preocupado. Seria porque ele havia sido nomeado como professor de Defesa Contra as Artes das Trevas? A verdade era que há muito Severus não desejava esse cargo. Talvez fosse um golpe cruel demais que o cargo fosse dado justo ao filho de Potter. Mas não. Severus aprendera a conhecer o filho por seus próprios méritos e, se era verdade que havia muito de James em Harry, também o era que a vida que Harry levara o tornara uma pessoa muito mais madura do que o pai jamais fora.

No fim das contas, Severus não conseguia entender exatamente o que o deixava preocupado na volta de Potter.

~* ~* ~

Potter chegou, e o tratou com polidez, mantendo-se à distância. Nada que pudesse deixar Severus mais preocupado. Algo na presença do garoto... não, não era mais um garoto, mas Severus não conseguia deixar de pensar nele como se fosse... o perturbava.

~* ~* ~

Suas apreensões foram justificadas quando, em certo final de tarde, Severus foi apanhado em flagrante, justo por Harry Potter. Severus ergueu os olhos devagar da foto de Alan Rickman que tinha em suas mãos, sobre a mesa da sala dos professores, e confirmou que a presença que estava sentindo a seu lado era realmente de Potter. Oh, Salazar. Severus sentiu-se enrubescer, e cerrou os punhos.

- Er... Me desculpe. Eu... também sou fã de Alan Rickman.

De tudo o que poderia esperar vir da boca do garoto, aquilo era o mais improvável. Severus simplesmente não sabia o que dizer. Estreitou os olhos e tentou parecer ameaçador.

- Ele está tão alegre nessa foto - comentou Potter. - Esse sorriso travesso é demais!

- Potter, não tem nada melhor a fazer com o seu tempo além de me importunar?

- Er, para falar a verdade, não - respondeu o garoto, com um sorriso tímido. - Acabei minha última aula de hoje e, sabe como é, não há muito o que se fazer por aqui. Eu estava pensando, justamente, em assistir a um filme com Alan em meu... er... em um aparelho especial.

Muitos absurdos em apenas duas sentenças. Era um recorde mesmo para Potter. Severus não estava conseguindo digerir.

- Fale inglês, Potter.

Um longo silêncio se seguiu enquanto Potter parecia ponderar sobre o que iria dizer.

- Agora que sei que você é fã de Rickman, pensei que, talvez, você gostasse de... assistir a um filme com ele no meu aparelho. Eu acabo de baixar "Duro de Matar", mas se você preferir, podemos assistir a algum outro.

"Duro de Matar"! Severus nunca assistira a nenhum filme com Rickman anterior a "Harry Potter e a Pedra Filosofal", pois os aparelhos Muggle não funcionavam em Hogwarts. Sabia sua filmografia de cor, através de revistas, mas só pudera assistir aos filmes mais novos - o primeiro e o segundo da série Harry Potter.

- Que aparelho é esse? Isso parece... ilegal.

Potter se sentou a seu lado na mesa.

- Shh. E é. Sabe como é, trabalhando como Auror, a gente de vez em quando encontra objetos Muggle modificados magicamente. É o Departamento em que o sr. Weasley trabalha. Eu devia tê-lo avisado desse laptop mágico, mas... achei que ele ia acabar ficando com o aparelho e arranjando encrenca por causa disso.

- Ah, sei. Você quis salvá-lo de encrencas futuras. Não acha que eu vou acreditar nisso, acha?

Potter deu de ombros.

- Afinal, quer assistir ao filme ou não?

~* ~* ~

E assim começou aquela estranha parceria. Harry - sim, agora era "Harry" - chegava às masmorras todos os fins de tarde com seu laptop, e eles assistiam a filmes com Alan Rickman: "Duro de Matar", "Um Romance do Outro Mundo", "Robin Hood - o Príncipe dos Ladrões", "Dr. Mesmer - o Feiticeiro", "Dogma", "Heróis Fora de Órbita". A cena da dança de Rasputin os fazia delirar, mas o favorito deles, aquele que haviam visto três vezes nas duas primeiras semanas, era "Razão e Sensibilidade". A parte em que Colonel Brandon se apóia à porta de carvalho, em desespero ("Dê-me uma ocupação, srta. Dashwood, senão enlouquecerei"), e a cena em que ele declama The Faerie Queene, de Edmund Spenser, eram reprisadas várias vezes seguidas, sob suspiros.

Como a tela do laptop fosse pequena, eles a colocavam sobre uma mesa diante do sofá, sentando-se lado a lado. Nas primeiras noites, eles haviam se limitado a fazer comentários sobre a qualidade da atuação de Alan. Com o tempo, contudo, perderam todas as inibições e passaram a expressar sua apreciação por Alan em todos os aspectos: a voz, as mãos, os gestos, os cabelos, o nariz, o sorriso, a barriguinha, o volume que se destava entre as pernas...

- Ahhhh. Eu preciso baixar "Ilha do Medo", Severus. Mas não estou conseguindo encontrar no Kazaa.

- Você já assistiu?

- Não, só vi alguns screencaps com ele nu em pêlo. Oh, Merlin.

Severus olhou para Harry, não conseguindo conter o sorriso divertido.

- Quanto entusiasmo. Ele é velho demais para você, Harry. Tem idade para ser seu avô.

- Também não precisa exagerar!

- Mas é verdade! Quantos anos você tem, 22? Ele tem 57.

- E daí? Ele é demais. Ou vai me dizer que não?

Quanto a isso, Severus não podia discordar.

~* ~* ~

Finalmente, duas semanas depois, Harry conseguiu baixar "Ilha do Medo". Severus abriu uma garrafa de Ogden's Old especialmente para a ocasião, e eles se sentaram ao sofá.

Nenhum dos dois disse uma palavra durante todo o filme. Mas quando David Weinberg e o Jovem se beijam, ao final, Severus se voltou para Harry e, no mesmo momento, Harry havia se voltado para ele. E o olhar trocado por ambos parecia valer por mil palavras.

Harry vibrou, aplaudiu ao final. Eles voltaram o filme para rever a cena em que David tira a roupa e pula no rio, e deixaram rolar novamente até o beijo final.

Então Severus se recostou no sofá, e viu que Harry o estava observando.

- Severus... você já pensou em... Esquece.

- Fale.

- E se a gente... fingisse que... eles... somos nós? Afinal, Alan representa você no cinema.

O coração de Severus disparou.

- Qual é exatamente... a sua idéia?

- Eu... preparei uma poção Polissuco com um fio de cabelo de Alan, que consegui um mês atrás na festa de inauguração de uma boate em Londres - revelou Harry. - Você... aceitaria...

Severus se levantou, dando as costas a Harry. Aquilo era... estranho. Mas sedutor. Em um súbito impulso, voltou-se novamente a Harry.

- Está bem.

Oh, não! Por que diabos concordara? Sentiu-se perdido. Mas Harry já se erguera de um pulo e, tirando uma garrafa de um bolso em suas vestes, estendeu a ele.

Severus cheirou o produto. Era mesmo Polissuco. Respirou fundo antes de tomar a dose necessária para a transformação.

Imediatamente, a transformação se iniciou. Ele sentiu cada pedaço de seu corpo dilatar-se e esticar-se. Alan era bem maior do que ele, e mais alto. Seus ombros se alargaram, seu peito se expandiu. Por sorte, suas vestes eram folgadas e sua roupa de baixo era elástica, senão ele as teria rasgado. Sentiu-se pesado e menos ágil. Mais velho.

Olhou para suas mãos. Graciosas e flexíveis, mas não tão ágeis e afiladas quanto as suas.

A voz? Não... ele não queria testar a voz. Não agora.

Harry o fitava com assombro. Severus se aproximou e segurou-lhe os ombros. Severus fechou os olhos, e inclinou-se para colar os lábios aos de Harry.

Harry. Os lábios de Harry eram macios e doces. Severus descansou a mão por trás da cabeça do jovem, mergulhando os dedos por entre os cabelos revoltos. Ah, aquilo era a loucura. Seus próprios lábios tinham um sabor diferente, e só aos poucos ele aprendeu a controlá-los. Como que atraídas uma para a outra, as línguas se encontraram e entrelaçaram. Ouviu Harry gemer, e gemeu também - na voz grave de Alan, tão grave quanto a sua, mas em um timbre diferente. Severus passou o braço ao redor de sua cintura e puxou-o contra si; Harry roçou-se contra ele, espalhando ondas de desejo por todas as suas células.

Quando não tinha mais fôlego, Severus interrompeu o beijo. Fitou Harry intensamente, olhos nos olhos, e perdeu-se em suas próprias emoções. A voz de Harry o despertou de seu transe.

- Uau. Isso foi incrível, Alan.

Alan.

Severus se sentiu muito confuso e errado. Talvez com o tempo ele acostumasse. Inclinou-se para beijar o jovem mais uma vez.

~* ~* ~

Na segunda noite, Harry se ofereceu para tomar a poção no lugar dele, mas ele dissera que não, que preferia ele mesmo ser Alan. Não queria que Harry o visse como ele era, o corpo magro, cheio de cicatrizes...

À noite, em sua cama, sozinho, era divertido fantasiar ser Alan, mesmo sem Polissuco, e fazer amor com um Harry imaginário. Antes da volta de Harry, era só Alan, e se ele fosse ser sincero consigo mesmo, teria de admitir que já estava até perdendo a graça. Afinal, Alan era um objeto de desejo inatingível. Mas Harry, Harry estava ali, todos os dias, perto dele. Fantasiar com Harry acrescentava um elemento de desafio, de proibido e real ao mesmo tempo. Era maravilhoso. Sua libido aumentara vertiginosamente.

Mas não era só sexo o que o atraía em Harry. Severus estremecia só de pensar. Aquela estranha mistura de poder e inocência que Harry exalava o enlouquecia. Como alguém poderia ter visto o que Harry vira, aprendido o que aprendera, e ainda ter aquele brilho inocente nos olhos, aquela chama de vida que vibrava em cada pedaço de seu ser?

Todas as noites, os filmes de Alan passaram a ser apenas o prelúdio para os beijos e carícias trocados após a transformação de Severus em Alan.

- Alan... Me leve para a cama.

E Severus, pela primeira vez, possuiu Harry em sua cama nas masmorras. A emoção que sentia por estar com Harry se mesclava à culpa e à insatisfação de não o estar fazendo com seu próprio corpo. Mas Harry demonstrava tanto prazer a cada toque, e Severus estava tão apaixonado, que a culpa e a insatisfação consigo mesmo ficavam em segundo plano.

- Fale comigo, Alan. Você sabe o que a sua voz faz comigo...

- Eu estou todo dentro de você, Harry. Você é tão apertado, tão quente, tão gostoso. Eu quero ver você gozar e gritar meu nome.

- Ahhhh... Alan!

Foi estranho para Severus, ao final, gozar com o corpo de Alan. Abraçou Harry com força e tentou não pensar.

~* ~* ~

Cada vez mais, Severus gostava dos momentos antes da transformação, quando ele e Harry conversavam, não só sobre Alan e os filmes, mas às vezes sobre outros assuntos que derivavam das conversas sobre os filmes. Às vezes Severus até se esquecia de por que Harry estava ali e acreditava que era por ele mesmo, que era porque Harry gostava de sua companhia.

Embora fosse após a transformação que Severus podia tocá-lo, Severus agora não ansiava tanto por aquele momento.

E todas as noites, depois que eles transavam, Severus desejava que Harry ficasse com ele depois que ele se transformasse de volta. Mas isso nunca acontecia.

~* ~* ~

Certa noite, Harry chegou com "Harry Potter e a Pedra Filosofal". Eles riram muito comentando o filme a cada momento, reparando em como certas coisas não haviam acontecido como o filme mostrava.

Ao final, no entanto, Harry olhou para ele com seriedade.

- Há um clima entre Snape e Harry no filme, não há?

- Clima?

- É... como se Snape... quisesse pegar Harry e fazer coisas proibidas com ele. E Harry tem medo, mas ao mesmo tempo o desafia, como se quisesse provocar, ou descobrir o que Snape pode lhe fazer.

Severus deu um sorriso irônico.

- E isso nunca houve entre nós, não é?

- Não! De jeito nenhum. Bem, afinal, você não é Alan Rickman - disse Harry, em tom zombeteiro.

Algo dentro de Severus pareceu morrer. E seu desalento deve ter-se refletido em seu rosto, pois Harry logo se aproximou, sentando-se junto dele, e estendeu os braços para segurar-lhe os ombros. Severus se desvencilhou dele bruscamente e se levantou.

- Saia. O jogo acabou.

- Me desculpe, Severus! Você não entendeu o que eu quis dizer. Eu não...

- Saia. Não me obrigue a usar de força.

Harry arregalou os olhos, e baixou a cabeça. Ainda cabisbaixo, levantou-se e saiu.

Severus fechou a porta atrás dele, e enterrou o rosto nas mãos.

~* ~* ~

E aquela era a verdade, nua e crua. Ele não era Alan Rickman. Ele era feio, e repugnante. Ele era o morcego seboso. Como poderia haver algo entre ele e Harry Potter? Harry estava apenas usando-o para encenar suas tórridas fantasias com seu ídolo. No princípio, o jogo o satisfizera - não completamente, mas o que ele poderia esperar? Como ele mesmo, jamais teria Harry. Mas agora... doía demais.

Passou a evitar Harry Potter, a fugir dele como o diabo da cruz. E suas fantasias com Alan Rickman estavam para sempre sepultadas, porque não suportava relembrar o que vivera com Harry.

~* ~* ~

Harry estava batendo de novo à sua porta, como em todas as tardes. Severus não abria. Sabia que era Harry. Sempre sabia quando Harry estava por perto. A única vez em que se distraíra havia sido aquela, na sala dos professores, quando Harry o pegara olhando para a foto de Rickman.

Já fazia uma semana, e Severus conseguira evitá-lo. Não iria baixar a guarda agora.

De repente, no entanto, um ruído forte, como o estalido de um raio, se fez ouvir. Severus sabia o que aquilo significava: seus encantos protetores estavam sendo rompidos. Um segundo depois Harry Potter adentrou sua sala com a fúria de um trovão.

Severus havia se esquecido que estava lidando com o mago mais poderoso do universo.

- O que você quer, Potter?

- Você.

Severus estreitou os olhos para ele, em expressão de total perplexidade e desconfiança.

- Do que está falando?

- Eu quero você. Só isso. Você me entendeu mal. O que eu quis dizer é que você é... impossível. Alan Rickman é fácil, perto de você. Você é inatingível. Pelo menos era o que eu pensava. Eu... usei Rickman para me aproximar de você.

- O que está dizendo? Você enlouqueceu? Por acaso... está querendo dizer que você nunca foi fã de Alan Rickman?

- Oh, Alan é um dos homens mais sensuais do mundo, isso não há dúvida. Eu nunca menti a respeito disso. Mas, desde o começo, era você que eu queria. Eu voltei para Hogwarts por sua causa, se quer saber.

Harry agora estava tão próximo, e o calor de seu corpo começava a perturbar o raciocínio de Severus.

- Por quê? - conseguiu ainda perguntar.

- Por quê? Bem... quando eu era pequeno, eu queria coisas doces. Você era tudo o que eu não queria. Então veio a guerra, e cumpri a maldita profecia, me tornando um assassino. Provei o gosto do amargo até o fim, e achei que jamais conseguiria provar o doce novamente. Você estava lá, comigo. Foi quando comecei a prestar atenção em você. Vi que o que eu achava amargo em você, não era, realmente, amargo, perto de todo o horror que vi ao meu redor e, pior, dentro de mim mesmo.

- Você fez apenas o que precisava fazer.

- Eu sei, mas em vez de buscar reorganizar minha vida e procurar você, eu resolvi ser Auror para me punir. Levei cinco anos para perceber que não podia viver assim. E quando decidi que teria de mudar de vida, a sua imagem surgiu diante de mim, com uma força impressionante. Foi quando, enfim, aceitei o convite de Dumbledore. Er... Acho que não consegui responder a sua pergunta.

Severus tomou o rosto de Harry entre as mãos.

- Não importa. Eu nunca vou entender. E nem quero.

Não era bem verdade, mas também não era bem mentira.

- Agora me beije, Severus. Faz cinco anos que espero por esse momento.

- Mas nós nos beijamos várias vezes desde que...

- Eu sei, mas era sempre aquela história de Alan. Eu não agüentava mais aquilo.

- Você estava com ciúmes de Alan ou de mim?

- Oh, cada vez que você dizia como o achava sexy, eu queria esganar o cara com minhas próprias mãos. Cada vez que Hans Gruber despencava daquele prédio eu sentia como se tivesse sido eu que o tivesse jogado.

Severus roçou os lábios nos de Harry, em provocação.

- Esta noite, somos só você e eu. E é assim que será, daqui por diante. Não vou aceitar mais ninguém em nossa cama, nem mesmo "A Voz de Deus".

- Ah... Se você quer saber a verdade, Severus, a sua voz me excita muito mais do que a dele.

Talvez Harry fosse um péssimo juiz, mas e daí? Aquele fora o maior elogio que Severus já recebera em toda a sua vida.

Deixou que Harry o levasse para a cama, e começasse a abrir-lhe os botões.

- Harry, eu não...

- O que é? Fale.

- Eu não sou um homem atraente. Não sou como Alan.

- Você não disse que ele não viria para a nossa cama? Não quero nenhum Alan. Quero você.

- Eu sei, mas...

Mas Harry cobriu-lhe os lábios com os seus e continuou a remexer nos botões. Quando o beijo chegou ao fim, Severus já estava sem vestes, só de cuecas, e Harry o fitava com olhos ávidos, cheios de desejo. Logo, dedos hábeis começaram a acariciar o tórax de Severus, passando delicadamente por suas cicatrizes, e os lábios macios roçaram-lhe a pele, espalhando beijos por todo o seu corpo.

- Eu quero você, todinho - dizia Harry, por entre beijos e mordidas.

Só então Severus percebeu que estava segurando a respiração, e relaxou.

Harry passou a língua por seu umbigo, fazendo-o morder o lábio para não gemer, e baixou-lhe a cueca. Severus tirou os próprios sapatos com os pés, e estendeu as mãos para Harry.

- Espere um pouco.

Harry se ajoelhou a seu lado e começou a explorar as coxas de Severus com os lábios, de vez em quando roçando o membro ereto com a face. Por fim, cerrou os dedos ao redor do pênis de Severus.

Severus arquejou.

- Oh, Harry... Venha cá... Não assim... Eu quero tocar você também. Tire essas roupas.

Harry obedeceu, livrando-se rápido das roupas e depositando os óculos por sobre a mesinha de cabeceira antes de se deitar sobre o mago mais velho. Severus percorreu-lhe o corpo com as mãos, tocando-lhe as costelas salientes, o tórax, as costas, os ombros, cobrindo-lhe as nádegas firmes e apertando-as contra si.

- Todo esse tempo, Harry... eu queria tocar você sendo eu mesmo, e não ele. Foi uma tortura.

- Me desculpe. Eu não sabia. Pensei que você ficava excitado... sendo ele. Você se lembra que eu me ofereci para tomar a poção também, não é? E você disse que não queria porque achava mais excitante ser Alan do que estar com ele. Mas... será que a gente precisa mesmo ficar falando nele?

Harry roçou o membro ereto contra o de Severus.

- Severus... quero você em mim. Inteirinho.

Severus inverteu suas posições e comprimiu-o contra o colchão, beijando-o com fúria. Então estendeu a mão para a gaveta da mesinha de cabeceira e pegou a garrafinha de lubrificante. Abriu-a e retirou um pouco de óleo. Separou as pernas de Harry e, quase com reverência, tocou na pequena entrada com a ponta do dedo. Inclinando-se para beijá-lo, Severus introduziu o dedo devagar. Movia o dedo para dentro e para fora, ao mesmo tempo em que aprofundava o beijo, explorando a boca do mago mais jovem com a língua. Harry gemeu de prazer, e começou a brincar com os mamilos de Severus.

Sentindo seu próprio pênis pulsar, Severus introduziu outro dedo. Aos poucos, sentiu Harry relaxando. Curvou um dedo, só um pouquinho.

- Oh! - gemeu Harry. - Isso é bom. Tão bom.

Harry estava pronto. Severus retirou os dedos, passou lubrificante por toda a extensão do pênis e ergueu as pernas de Harry. Procurando o melhor ângulo, Severus encostou a ponta do pênis na estreita entrada de Harry.

- Severus, você vai me levar à loucura - reclamou o jovem, e Severus teve de sorrir ao ver como Harry se contorcia, a glande já molhada e reluzente.

- Tão impaciente. Eu poderia torturá-lo mais um pouco, se quisesse, mas vou ter piedade de você - murmurou, em voz rouca.

Era mentira. Severus não conseguiria resistir um minuto a mais: estava tão duro que chegava a doer. Pressionou o pênis contra a entrada de Harry e deu o impulso inicial.

Harry respondeu de imediato, lançando-se em sua direção. e quase fez Severus perder o controle ao passar as pernas ao redor de sua cintura. Severus tentou ir o mais devagar que pode, mas não era fácil. Pela primeira vez, ele estava dentro do homem a quem tanto desejara nas últimas semanas e que, até então, só pudera possuir com o corpo de um outro homem. Pela primeira vez sentia que aquele prazer era realmente seu. Estava completamente mergulhado no calor delicioso de Harry, que parecia totalmente entregue a ele - o rosto corado, os cabelos mais revoltos do que nunca, os lábios inchados dos beijos, o corpo suado e arfante. Severus se inclinou e o beijou com ternura, ao mesmo tempo em que tomava-lhe o pênis na mão. Harry gemeu e se projetou na sua direção. Severus acelerou o ritmo, bombeando-lhe o pênis e passando o polegar pela ponta, já molhada com o sêmen que escorria prematuramente.

- Severus - disse Harry, antes de gozar em sua mão, arqueando todo o corpo convulsivamente. Severus nunca vira nada tão bonito. Aquela visão era o que bastava para Severus ser tomado pelo êxtase, derramando sua semente dentro de Harry e tombando, exausto e saciado, sobre ele.

Alguns minutos depois, Severus rolou para o lado, sem soltar o jovem amante. Harry agarrou-se a ele e colou seus lábios quentes aos seus. Depois ficaram simplesmente abraçados, por um longo tempo.

- Er...

- O que foi?

- Eu expliquei, ou pelo menos tentei explicar, porque queria você. Mas você nunca me disse por que me queria - disse Harry, em tom queixoso.

- Porque você é o mais Slytherin de todos os Gryffindors? Porque você conseguiu destruir todas as minhas defesas? - Severus olhou para Harry, sondando-o. - Certo. Não era isso o que você queria ouvir. Infelizmente, não sei nada romântico para... Oh. - Severus teve uma súbita inspiração, e se inclinou para sussurrar no ouvido de Harry. - "De almas sinceras a união sincera / Nada há que impeça: amor não é amor / Se quando encontra obstáculos se altera, / Ou se vacila ao mínimo temor."

Harry parecia hipnotizado.

- Ninguém tem mesmo uma voz tão sensual quanto a sua!

Severus deu um sorrisinho orgulhoso. Precisava agradecer a Alan; se Severus não houvesse assistido tantas vezes a "Razão e Sensibilidade", jamais saberia de cor um soneto de Shakespeare.

 

~*~FIM~*~

 

Fanfiction (Índice das Histórias)
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Ptyx, Fevereiro/2005